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La Science des Rêves, quase um novo Amélie Poulain

La Science des Rêves (2006)

Michel Gondry é mais conhecido por ter dirigido o Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (resenha aqui), mas La Science des Rêves (no Brasil, Sonhando Acordado, 2006) é uma obra belíssima e que merece um maior reconhecimento.

Assim como o Brilho Eterno..., o filme também aborda o mundo psicológico do personagem, Stéphane. Ele tem uma intimidade intensa com os próprios sonhos, de modo que constantemente mistura sonho e realidade como se vivesse num perpétuo sonho lúcido.

Muito inventivo, amante das artes e cheio de imaginação, ele vive sempre no mundo da lua até que conhece sua quase xará Stéphanie, desenvolvendo uma relação de empatia e amizade cada vez mais profunda. 

Ela se torna um elo que o mantém ligado ao mundo real, ao mesmo tempo em que ele, com sua forma encantada de ver a vida, leva ela para dentro de seu mundo imaginário. Ambos se complementam.

Stéphane é interpretado por Gael García Bernal, ator que interpretou Che Guevara no filme Diários de Motocicleta (2004). Stéphanie é interpretada por Charlotte Gainsbourg (Melancolia, 2011; Anticristo, 2009).

A personalidade introvertida de Stéphane identifica nele algum traço de autismo ou de asperger, como o protagonista do filme Adam (resenha aqui) ou a Amélie de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001). Inclusive a forma fantasiosa e delicada como se desenvolve o romance de Stéphane lembra de certa maneira o romance de Amélie.

A comparação com Amélie Poulain é inevitável porque este filme praticamente virou um gênero próprio. Os filmes "amelienescos", que tratam de personagens sonhadores, distraídos, imaginativos e fofos. É o caso também de This Beautiful Fantastic (resenha aqui) e Cashback (aqui), até mesmo o Brilho Eterno... e o também mencionado Adam. 

Se bem que Stéphane não é fofo como Amélie. Chega a ter uma imaginação mais surreal, porém em certos momentos ele se comporta de forma bem babaca até, como um crianção. Esse aspecto do protagonista é que quebra um pouco a aura de fofura da história.

Michel Gondry não usou chroma keys (a famosa tela verde) para fazer efeitos especiais. Recorreu a métodos mais artesanais, inclusive o uso de stop motion que dá ao filme um estilo peculiar e infantilizado.

Aliás, o fato de não recorrer a "tecnologia moderna" é também um ato simbólico do diretor Gondry. Ele demonstra intenção de combater a supremacia da tecnologia sobre a mente humana.

Fez isto em Brilho Eterno... no fato dos equipamentos não conseguirem apagar definitivamente as poderosas memórias do personagem. E aqui, a "ciência do sonho", um método desenvolvido por Stéphane pra controlar os próprios sonhos, não tem sucesso e a sua forma onírica de viver se mescla cada vez mais à realidade. O sonho vence.

La Science des Rêves (2006)


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