Qaligrafia
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Tom Cruise encontra Pablo Escobar em American Made

American Made (2017)

Tom Cruise alavancou sua carreira nos anos 80 como o piloto Maverick em Top Gun (1986) e a partir daí ele já fez de tudo, ação, comédia, romance, drama, sci-fi, etc. Em American Made (2017) ele retorna como um piloto e agora em um filme biográfico e com um certo tom de sátira.

Seu personagem, Barry Seal, realmente existiu. Foi um piloto que se envolveu com o cartel de drogas colombiano, tratando diretamente com Pablo Escobar, ao mesmo tempo em que também trabalhou para a CIA. Pois é, esse cara parece que não se importava de brincar com o perigo, desde que fosse bem pago, e quem melhor para interpretar esse maluco aventureiro senão o Tom Cruise?

Tom Cruise in American Made (2017)

Tom Cruise in American Made (2017)

Neste papel, Tom Cruise, mais conhecido como galã e o cara que faz cenas de ação sem dublê, ligou seu lado vida loka, encarnando um cara que ao mesmo tempo se preocupa em cuidar da sua família e se excita com a arriscada aventura de fazer muita grana negociando com gente nada confiável. Como diria o narrador da sessão da tarde: o carinha se meteu em altas confusões.

Tom Cruise in American Made (2017)

O filme é curiosamente divertido, com um leve humor satírico, mas também tem seu valor enquanto biografia e relato histórico, já que conta um pouco da situação política em que o mundo estava envolvido nos anos 80, no final da Guerra Fria, com a ascensão dos cartéis de drogas e a reação do governo de Ronald Reagan.

American Made (2017)

Legend of the Seeker, uma interessante série de fantasia medieval

Legend of the Seeker (2008-2010)

Esta série foi exibida na TV norte-americana entre 2008 e 2010, baseada no livro The Sword of Truth, de Terry Goodkind. A novela segue o estilo já consagrado de história fantástica com ambientação medieval e temas do folclore europeu como magos, dragões, espadas místicas e a busca por talismãs sagrados.

A história envolve um jovem, Richard Cypher, que é escolhido pelo destino para enfrentar o tirano Darken Rahl com ajuda do mestre mago Zedd e de Kahlan, que se torna seu par romântico. Com o tempo outros personagens unem-se à busca do herói.

Legend of the Seeker (2008-2010)

Até aí nada de novo. Todavia a série se torna bem interessante por sua mitologia própria. Além do mago e do herói espadachim dotado de talentos como bravura, bondade e um espírito forte e intuitivo, bem ao estilo dos nobres cavaleiros de contos medievais, há outras classes que dão novas cores a este universo.

As Confessoras são mulheres com o poder de dominar a vontade alheia mediante o toque e as Mord Sith, também mulheres, usam técnicas de tortura e um porrete mágico para fazer lavagem cerebral e igualmente dominar pessoas, embora de uma forma diferente da usada pelas Confessoras.

Legend of the Seeker (2008-2010)

Além disso, há um esquema estilo "pedra-papel-tesoura" entre as classes. Um mago é muito poderoso, mas a mord sith tem o poder de voltar o feitiço contra o feiticeiro. Por outro lado uma confessora é forte contra uma mord sith, mas fraca contra um mago. Este jogo de poderes torna as lutas bem interessantes.

Falando em lutas, há muito uso de cenas de lutas de espada, que há em praticamente todos os episódios. Esta repetição acaba tornando estas cenas maçantes, mas em compensação temos vez ou outra lutas mais atraentes quando envolvem as diferentes classes e seus poderes.

Legend of the Seeker (2008-2010)

Há pelo menos dois rostos bem conhecidos, o de Bruce Spence, o mago Zedd (que atuou em vários filmes da cultura nerd como O Senhor dos Anéis, Star Wars, Mad Max, Matrix e As Crônicas de Nárnia) e Craig Parker, o vilão Darken Rahl (que atuou como o elfo Haldir em O Senhor dos Anéis).

A série dedica bastante atenção ao romance entre o Seeker e a Confessora Kahlan e também assume um tom didático ao fazer críticas à corrupção política e ao fanatismo religioso, mas não faz discriminações: ora a religião aparece como benéfica, ora como inútil ou maléfica. 

Até mesmo o herói não é totalmente puro. Há nele elementos de luz e treva, guerra e paz, bondade e violência. De certa forma o autor consegue criar personagens que não são planos, mas complexos e humanizados. Talvez aí esteja o mais interessante tempero da série. 

O programa foi cancelado prematuramente, não sem antes ter formado um público fiel com direito a criação de wiki na internet, fóruns e sites sobre o assunto. Tornou-se uma série cult.

Bruce Spence in Legend of the Seeker (2008-2010)
"I took precautions. Magical precautions".


Extraction, o Thor aprendiz de John Wick

Extraction (2020)

Vamos começar falando deste título, Extraction (2020). Fazendo uma busca básica no IMDb, dá pra encontrar um punhado de filmes com o mesmo título que é um clichê de filmes de ação policial. Este único detalhe já contribui pra que o filme a longo prazo se torne uma produção genérica perdida em meio ao catálogo, misturada a vários outros com título semelhante.

Extraction movies

Falando em originalidade, tem também o problema da música tema. Intitulada Finale e composta por Henry Jackman e Alex Belcher, é uma bela e dramática melodia, pela qual eu teria muito mais simpatia se não percebesse o quão semelhante ela é a outra música bem conhecida: Time, de Hans Zimmer, que encantou em Inception (2010).

Chris Hemsworth in Extraction (2020)
Herói genérico e vítima genérica.

Chris Hemsworth in Extraction (2020)
Herói genérico e vilão genérico.

Pois é, exatamente dez anos depois, a música de Inception (que comentei aqui) foi descaradamente copiada. No vídeo abaixo você pode conferir as duas e notar a óbvia semelhança.


A comparação de Extraction com John Wick é inevitável. Como já falei no post do filme Atomic Blonde (aqui), John Wick criou um paradigma para filmes de ação, e Extraction segue este paradigma. O primeiro elemento da fórmula é o fato de ter como diretor um cara com experiência de dublê. 

Tanto John Wick (2014) quanto Atomic Blonde (2017) foram dirigidos por pessoas que fizeram uma longa carreira de dublê em Hollywood, no caso Chad Stahelski e David Leitch. Em Extraction, o diretor foi Sam Hargrave, que é conhecido por coordenar todo o trabalho de dublês no  MCU como os filmes do Capitão América e dos Vingadores.

Chris Hemsworth in Extraction (2020)
Sensualizando.

Este tipo de experiência realmente faz diferença, pois notamos em toda essa safra de filmes dirigidos por dublês uma qualidade maior nas cenas de ação. São caprichadas, recebem bastante atenção e cuidado. Extraction tem longas cenas de luta e perseguição que levaram meses para serem produzidas e a forma como a câmera acompanha o plano sequência é nada menos que impressionante.

Para mim, a melhor cena em termos técnicos foi essa abaixo, em que a câmera acompanha o percurso do carro em uma perseguição e de repente ela gira para acompanhar o cavalo-de-pau e entra no carro, "senta" no banco de trás e olha para trás e para o piloto. Como diabos eles fizeram isso?


No elenco, só temos um rosto conhecido, o Chris Hemsworth, o já consagrado Thor. É ele que carrega todo o filme, enquanto resgata uma criança genérica e luta contra um vilão genérico. O cara continua em ótima forma e performa maravilhosamente todas as cenas de luta e ação. Neste aspecto, sim, ele chega perto do nível do John Wick.

Em termos de habilidade, John Wick é mais versátil, misturando diversas técnicas marciais e dominando enorme variedade de armas. O personagem do Chris, Tyler (também um nome genérico de filme de ação) é mais limitado ao pacote básico rifle, pistola, faca, como um personagem de Counter Strike, e na luta corporal tem algo que John Wick não tem: ele é fisicamente mais forte e consegue performar movimentos de luta romana, como o chamado "balão" em que ele agarra o oponente, ergue seu corpo e o arremessa. É um troço que exige muita força e fica bonito de ver na tela.

Tirando, porém, este detalhe, o Tyler é ainda apenas um aprendiz de John Wick.

Chris Hemsworth and Sam Hargrave in Extraction (2020)

Besouro, um herói mítico brasileiro

Besouro (2009)

Heróis surgem para motivar os povos e estes heróis são retratados na arte do povo. Os gregos tinham deuses, que eram personagens de poemas, de peças de teatro, épicos. Os norte-americanos criaram heróis por meio do cinema e dos quadrinhos. Esta é a semelhança entre Zeus, Apolo, Diana e Homem Aranha, Rambo, Mulher Maravilha. São todos heróis, têm capacidades sobre-humanas, ganham vida na arte. 

Besouro foi um capoeirista, famoso na década de 1920, cuja habilidade fê-lo tornar-se um personagem folclórico. Dizia-se que era capaz de feitos fantásticos, como voar e ficar invisível na mata, e lutou para reduzir a discriminação contra os negros e contra as "coisas de negro", como a capoeira que era proibida mesmo após a abolição da escravatura.

Besouro (2009)

No filme, ele vivencia o percurso bem emblemático de um herói mítico. Encontra-se com deuses, as divindades do candomblé que o consagram, lhe dão poderes e guiam sua jornada. Tem experiências de morte e ressurreição, de transformação, até alcançar a transcendência, um estado extra-humano. Por fim, torna-se um ícone, uma inspiração para o seu povo.

As cenas de luta do filme foram trabalhadas pelo mesmo coreógrafo de Kill Bill, Huen Chiu Ku. O ambiente da época dos coronéis e a fala dos personagens, com certa distinção no modo de falar dos escravos, dos mestiços capatazes e dos homens da classe alta, parece bem natural, não forçada nem caricata. Entre as divindades que ele encontra, há um destaque para Exu, um orixá dionisíaco, mais próximo da natureza humana que todos os outros.

Também, como é comum em histórias heroicas, Besouro reflete um ideal transumanista. Ele é um modelo de evolução humana, de transcendência. Começou como um capoeirista comum, mas foi progredindo até estágios sobre-humanos, até a divindade.

Exu, Besouro (2009)

A viagem mística de Caótica Ana

Caótica Ana (2007)

Ana (Manuela Vellés) é uma garota hippie que vende suas pinturas e vive numa caverna à beira-mar com seu pai. Eles são bem felizes com esta vida simples, então Ana é descoberta por uma mecenas, uma patrocinadora de artistas, que a leva para a capital a fim de estudar arte e vender suas obras.

Descobre-se na garota um dom especial. Ela começa a apresentar visões em que experimenta outras vidas, de modo que a mecenas chama um hipnotizador para ajudar Ana a vasculhar todas as suas lembranças. O resultado é uma longa aventura por eras passadas em que ela relembra as vidas de várias mulheres, todas vitimadas pela opressão masculina em guerras e perseguições políticas ou religiosas.

Desta forma, Ana se torna uma espécie de símbolo da divindade feminina e de todas as mulheres, e sua existência é um protesto contra os abusos cometidos pelo patriarcalismo, pela violência dos homens. 

O diretor Julio Médem é um ativista político e neste filme aproveita para criticar a intervenção e opressão dos Estados Unidos sobre os povos árabes. Além disso, ele havia sofrido a morte de sua irmã, Ana, morta aos 20 anos, de modo que em sua homenagem batizou a protagonista com o mesmo nome. Inclusive as pinturas da personagem Ana foram originalmente feitas pela própria irmã de Médem.

A história é um pouco cansativa e o roteiro confuso, mas o tema é interessante, explorando a estrutura da mente, hipnose e o conceito de consciência como um organismo coletivo, formado pelas memórias de todas as pessoas, de qualquer lugar ou época.

La Science des Rêves, quase um novo Amélie Poulain

La Science des Rêves (2006)

Michel Gondry é mais conhecido por ter dirigido o Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (resenha aqui), mas La Science des Rêves (no Brasil, Sonhando Acordado, 2006) é uma obra belíssima e que merece um maior reconhecimento.

Assim como o Brilho Eterno..., o filme também aborda o mundo psicológico do personagem, Stéphane. Ele tem uma intimidade intensa com os próprios sonhos, de modo que constantemente mistura sonho e realidade como se vivesse num perpétuo sonho lúcido.

Muito inventivo, amante das artes e cheio de imaginação, ele vive sempre no mundo da lua até que conhece sua quase xará Stéphanie, desenvolvendo uma relação de empatia e amizade cada vez mais profunda. 

Ela se torna um elo que o mantém ligado ao mundo real, ao mesmo tempo em que ele, com sua forma encantada de ver a vida, leva ela para dentro de seu mundo imaginário. Ambos se complementam.

Stéphane é interpretado por Gael García Bernal, ator que interpretou Che Guevara no filme Diários de Motocicleta (2004). Stéphanie é interpretada por Charlotte Gainsbourg (Melancolia, 2011; Anticristo, 2009).

A personalidade introvertida de Stéphane identifica nele algum traço de autismo ou de asperger, como o protagonista do filme Adam (resenha aqui) ou a Amélie de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001). Inclusive a forma fantasiosa e delicada como se desenvolve o romance de Stéphane lembra de certa maneira o romance de Amélie.

A comparação com Amélie Poulain é inevitável porque este filme praticamente virou um gênero próprio. Os filmes "amelienescos", que tratam de personagens sonhadores, distraídos, imaginativos e fofos. É o caso também de This Beautiful Fantastic (resenha aqui) e Cashback (aqui), até mesmo o Brilho Eterno... e o também mencionado Adam. 

Se bem que Stéphane não é fofo como Amélie. Chega a ter uma imaginação mais surreal, porém em certos momentos ele se comporta de forma bem babaca até, como um crianção. Esse aspecto do protagonista é que quebra um pouco a aura de fofura da história.

Michel Gondry não usou chroma keys (a famosa tela verde) para fazer efeitos especiais. Recorreu a métodos mais artesanais, inclusive o uso de stop motion que dá ao filme um estilo peculiar e infantilizado.

Aliás, o fato de não recorrer a "tecnologia moderna" é também um ato simbólico do diretor Gondry. Ele demonstra intenção de combater a supremacia da tecnologia sobre a mente humana.

Fez isto em Brilho Eterno... no fato dos equipamentos não conseguirem apagar definitivamente as poderosas memórias do personagem. E aqui, a "ciência do sonho", um método desenvolvido por Stéphane pra controlar os próprios sonhos, não tem sucesso e a sua forma onírica de viver se mescla cada vez mais à realidade. O sonho vence.

La Science des Rêves (2006)


Melhor é Impossível, um clássico da comédia romântica

As Good as it Gets (1997)

Este filme foi muito bem recebido pela crítica em 1997-98, graças ao roteiro divertido e principalmente à atuação de Jack Nicholson e Helen Hunt. Ganhou o Globo de Ouro como melhor comédia e os dois atores ganharam tanto Globo de Ouro quanto Oscar.

Melvin (Jack Nicholson) é um escritor cinquentão, solteirão e cheio de manias de TOC. Não pisa em linhas ou rachaduras no chão, fecha a porta cinco vezes como um ritual, usa sabonetes apenas uma vez e joga fora.

Enfim, isto o tornaria apenas uma pessoa de manias estranhas e compulsivas, mas além disso é misantropo, odeia pessoas e não tem receios de tratá-las com grosseria ou sarcasmo, o que faz dele um vizinho insuportável, um cliente insuportável, um humano insuportável.

Helen Hunt in As Good as it Gets (1997)

O destino põe no caminho de Melvin a garçonete Carol (Helen Hunt), um artista plástico gay, Simon (Greg Kinnear), e seu empresário Frank (Cuba Goodin Jr.) e a convivência o vai aos poucos transformando.

Primeiro é o cãozinho de estimação de Simon que conquista a simpatia de Melvin, depois ele irá enfrentar os próprios preconceitos, sua homofobia, racismo, machismo e manias à medida que convive e desenvolve um afeto por estas pessoas, expondo um lado gentil e amistoso que nele parecia sequer existir. É uma história divertida de transformação.

O grande mérito do filme é com certeza de Jack Nicholson, que desenvolveu um personagem cativante, do tipo que amamos odiar. Merecidamente foi premiado com um Oscar. Bom lembrar que foi escrito e dirigido por James L. Brooks, que foi roteirista na série Os Simpsons.

Helen Hunt in As Good as it Gets (1997)

Borderlands, uma das melhores franquias de RPG FPS de todos os tempos

Borderlands

Já fiz uma resenha de Borderlands 2 (aqui), mas gostaria de voltar ao assunto, já que joguei o primeiro da série este mês.

Pois é, eu conheci a franquia através do segundo jogo (lançado em 2012) e lembro até qual foi o caminho para eu chegar nele: vi uma gameplay do Jovem Nerd no Youtube e de cara bateu a curiosidade. Para me convencer de vez, me deparei com uma boooa promoção na Steam e não hesitei em comprar.

Aliás, este pode ser mencionado como o primeiro ponto positivo dessa franquia. Borderlands tem promoções impressionantes, principalmente nas épocas de evento na Steam. Tem um bundle chamado Handsome Collection, por exemplo, em que eles fazem um pacotão com Borderlands 2 e um monte, um mooonte de DLCs, e vendem por, sei lá, 5 Reais. Para um jogo nível Triplo A, é uma promoção incomparável.

Enfim, é só ficar de olho, deixar na lista de desejos, e ocasionalmente você vai se deparar com estes descontos que podem chegar até 90%. Nessa mesma onda comprei depois o Pre-Sequel (lançado em 2014) e o primeiro jogo (que é de 2009, mas teve um relançamento remasterizado em 2019).

Dos três, Borderlands 2 segue sendo meu preferido, tanto que joguei por umas 200 horas, aproveitando cada DLC, rejogando  em dificuldades cada vez maiores. É um conteúdo com bastante rejogabilidade. E olha que estou falando só do singleplayer. O multiplayer existe e tem uma comunidade ativa que pode render outras centenas de horas se você quiser.

Um dos elementos que fazem de Borderlands tão jogável é o intenso RPG. A quantidade de quests e sidequests é gigantesca e, salvo uma ou outra mais enigmática e problemática, a maioria das quests pode ser realizada entre 5 e 20 minutos. 

Elas te permitem explorar o mapa, combater inimigos variados e avançar na história, o que por si só já é bem recompensador. Os pontos de experiência e itens que você ganha só aumentam a sensação de recompensa, de modo que você é tomado por aquele sentimento de "Ah vou fazer só mais uma questzinha" e acaba fazendo 5 em sequência.

Outro elemento fundamental é a oferta de itens. Nunca vi um FPS com tanta variedade de armas. Mesmo no primeiro jogo de 2009 já tinha bastante. No segundo então, a coisa é absurda. As armas dropam aos montes dos inimigos, você pode comprá-las em máquinas de venda e ganhar em quests e os maiores bosses literalmente fazem chover armas quando são derrotados.

Tem arma pra todo gosto e, mesmo que a oferta seja tão abundante, você não fica entediado ou menospreza as armas porque existem níveis de raridade e você sempre vai achar uma arma que vai considerar especial por certo tempo, até que suba de nível e encontre outra ainda melhor. Este jogo é puro loot porn.

O gameplay é fluido, com uma boa curva de aprendizado, seu personagem evolui satisfatoriamente, você nem se entedia com excesso de facilidade nem passa raiva com dificuldades impossíveis. Bom, a não ser que seja muito novato no gênero de FPS, aí pode apanhar um pouquinho, mas em geral é uma jogabilidade bem balanceada.

A construção do mundo é outra grande qualidade da franquia. São muitos mapas, muitos ecossistemas e histórias. É um universo que você vai desvendando e que se expande mais e mais a cada DLC e cada novo jogo.

Há uma variedade enorme de inimigos, monstros, NPCs e os personagens com os quais você se relaciona são tão interessantes e marcantes. Veja-se, por exemplo, a Moxxi e a Tiny Tina, até mesmo o chato Claptrap e o cafajeste Jack. Todos bem ricos em história, carisma e personalidade. Minha preferia é a Tannis, por seu aspecto nerd (é uma espécie de arqueóloga) e a personalidade autista com um humor frio e dado a digressões.

Dr. Tannis, Borderlands

Por fim, o humor. O sarcasmo e humor negro dessa série é algo raro. Os desenvolvedores não tiveram medo de fazer piada provocativa e criaram uma obra-prima da comédia. Borderlands é como se fosse uma mistura de Mad Max com elementos cyberpunk e a zoeira mais ácida dos Simpsons.

Em 2019 saiu o Borderlands 3 que obviamente está na minha listinha de desejos e estou esperando uma bela promoção. Tenho certeza que não vou me decepcionar.


Train to Busan, o apocalipse zumbi coreano

Train to Busan (Busanhaeng, 2016)

Quando vi o trailer de Train to Busan (Busanhaeng, 2016) lá em 2016, não pude deixar de pensar em como o título soa, em português, como "Trem pro busão". Anyway, a princípio achei que seria algum filme genérico de zumbis. Mas que nada.

Inspirado pelo momento atual em que só se fala em pandemia e quarentena, resolvi finalmente assistir e foi bem melhor do que eu esperava. O terror sul-coreano nunca decepciona.

Train to Busan (Busanhaeng, 2016)

Train to Busan (Busanhaeng, 2016)

Train to Busan (Busanhaeng, 2016)
Rusbé!

A trama é simples: em meio ao surto do apocalipse zumbi, um pai, que viaja com a filha em um trem, tenta sobreviver à viagem junto de outros passageiros. A trilha sonora é envolvente, variando entre músicas melancólicas e tensas; e o filme mantém um estado constante de tensão e correria naquele ambiente claustrofóbico do trem.

Os protagonistas são figuras estereotipadas, o que faz com que rapidamente criemos simpatias ou antipatias. Tem um mendigo com estilo de profeta do apocalipse, um cara fortão que sai no soco contra os zumbis, um investidor financeiro que o filme faz questão de repetir que ele é egoísta, e a pequena filha dele que é simplesmente a melhor atriz de toda a história.

Train to Busan (Busanhaeng, 2016)

Train to Busan (Busanhaeng, 2016)

Train to Busan (Busanhaeng, 2016)

Esse tema da solidariedade versus egoísmo é bastante explorado (algo na verdade bem comum em filmes de zumbis). Tem uns caras escrotos que só pensam em si e acabam levando outras pessoas à morte, mas também acabam morrendo para que a gente possa dizer "Bem feito!". Tem gente altruísta que se sacrifica pra salvar os outros e tem o pai da garotinha que passa por uma jornada de aprendizado, evoluindo do egoísmo para o heroísmo.

Train to Busan (Busanhaeng, 2016)

Train to Busan (Busanhaeng, 2016)
"Coma este livro, seu zumbi ignóbil!"

Spoiler: Train to Busan não tem dó dos personagens (o que é ótimo) e no fim da viagem só sobram duas sobreviventes: uma mulher grávida e a garotinha. Elas atravessam um túnel, finalmente chegando em Busan, que é dito ser ainda um lugar seguro. Protegendo a entrada da cidade, uns soldados avistam as duas ao longe e, na dúvida se são infectadas, recebem a ordem para atirar.

Train to Busan (Busanhaeng, 2016)
Esse é um dos personagens mais badass que já vi num filme de zumbi.

Train to Busan (Busanhaeng, 2016)
Essa guria foi simplesmente a melhor atriz do filme.

Isto lembra a cena final do clássico A Noite dos Mortos-Vivos (1968) em que o protagonista, após sobreviver a todo o terror, é inesperada e acidentalmente morto pelos militares, frustrando maravilhosamente a expectativa do público. Aqui, porém, optaram por manter uma pitada de esperança, e, ao ouvir a menina cantando, os militares sabem que ela não é zumbi e não atiram.

Train to Busan (Busanhaeng, 2016)

O Ghost Rider esquisitão do Nicolas Cage

Ghost Rider (2007)

Antes de descobrir a fórmula mágica do sucesso, com a criação do MCU a partir do primeiro filme do Homem de Ferro (2008), a Marvel passou por uma fase tosca e experimental que teve seus altos e baixos. 

O principal motivo para a tosqueira era a limitação da tecnologia de efeitos especiais até os anos 2000. Ainda assim, conseguiram produzir um filme de qualidade como Blade (1998). Mas o problema não era apenas o CGI e sim a falta de experiência e a escolha errada da equipe de produção, roteiro, etc. Aí tivemos fiascos como o Demolidor (2003) e até a DC, já na Era MCU, cometeu os mesmos erros com o Lanterna Verde (2011).

Nicolas Cage in Ghost Rider (2007)

Ghost Rider (2007)

O que pavimentou o caminho para o que viria a ser o MCU foram os filmes dos X-Men a partir de 2000 e do Homem Aranha a partir de 2002. Ambas as franquias também tiveram seus altos e baixos e representam o tempo em que a Marvel ainda não era Marvel.

A história é já bem conhecida: devido à falência dos anos 90, a Marvel vendeu os direitos cinematográficos de vários personagens, esfacelando o seu universo. A Fox se deu bem com os X-Men (e não muito bem com o Demolidor) e a Sony se deu melhor ainda com o Homem-Aranha e também ficou com ela o Motoqueiro Fantasma.

Nicolas Cage in Ghost Rider (2007)
"You talking to me?"

Sam Elliott in Ghost Rider (2007)
Sam Elliott como o coveiro misterioso e charmosão.

O último exemplar da Marvel pré-MCU é o Motoqueiro Fantasma, cujo primeiro filme fora lançado em 2007, um ano antes do Iron Man, e o segundo em 2011, mesmo ano em que foram lançados Thor e Capitão América. 

Os efeitos especiais dos filmes do Motoqueiro são toscos sim, mais por causa do baixo orçamento do que por uma limitação da época (afinal o Iron Man mostrou do que o CGI da época era capaz), mas ok, não é algo nível Spawn (ver resenha aqui) e é aceitável na tela o esqueleto em chamas e sua moto tunada.

Idris Elba in Ghost Rider 2 (2011)

Nicolas Cage and Idris Elba in Ghost Rider 2 (2011)

A tosqueira mesmo fica por conta do ator, ninguém menos que Nicolas Cage, um mestre da tosqueira. Não, Nicolas Cage não é mau ator. Ao contrário, ele é complexo, multifacetado. Ele tem várias gradações de nível dependendo do filme, do roteiro, do gênero. Pode parecer bem caricato, overacting, hilário, ou pode ser dramático, tenso, badass, romântico, etc, etc.

No Motoqueiro Fantasma ele escolheu ser esquisito, o que combinou com o papel. Fazendo caretas diante do espelho e mostrando os dentes enquanto se transforma no caveiroso, Cage deu estilo ao personagem.

Anos depois, na série Agents of S.H.I.E.L.D. (resenha aqui) tivemos outra versão do Ghost Rider, mais pé no chão e interessante de fato, mas, convenhamos, a versão bizarra do Nicolas Cage continua sendo mais legal.

Ghost Rider 2 (2011)

As mil faces da Tatiana Maslany em Orphan Black

Orphan Black (2013-2017)

Eddie Murphy é provavelmente o ator mais transformista de Hollywood. Em seus filmes clássicos, ele ficou conhecido por interpretar vários papéis usando muita maquiagem cinematográfica, mudando de idade, de peso, de sexo... Ninguém chegou perto dele neste quesito, até que surgiu a Tatiana Maslany.

Orphan Black (2013-2017) é uma série sobre clones, então é de se esperar que uma mesma pessoa interprete vários papéis. Só que ninguém esperava que alguém fosse fazer algo tão primoroso como o que a Tatiana Maslany fez. 

Tatiana Maslany and Tatiana Maslany in Orphan Black (2013-2017)

Tatiana Maslany and Tatiana Maslany in Orphan Black (2013-2017)

Tatiana Maslany and Tatiana Maslany in Orphan Black (2013-2017)

Ela começou devagarinho, quando sua personagem Sarah Manning se depara pela primeira vez com uma clone, e aos poucos vai descobrindo toda uma conspiração envolvendo clonagem e encontra outras da sua espécie. É aí que a coisa vai ficando interessante: o clube das clones.

Com ajuda de um constante trabalho de maquiagem, mudando roupas, cabelos, adereços, Maslany foi além da aparência e elaborou tons de voz, sotaques, trejeitos. De uma clone pra outra ela se transforma totalmente. Sua maneira de olhar, de sorrir, tudo muda. E a gente fica se perguntando: "Como diabos ela consegue fazer isso?".

Tatiana Maslany in Orphan Black (2013-2017)

Tatiana Maslany in Orphan Black (2013-2017)
A fofa nerdinha Cosima.

No clube das clones temos uma versão dela policial, outra que é uma dona de casa convencional, uma nerd com cabelo rastafári, uma sádica executiva, uma hacker, uma cabeleireira, mas pra mim a mais interessante foi a Helena, uma ucraniana que teve uma rígida e sofrida criação, sendo a mais esquisita, antissocial e agressiva das clones.

Algumas das melhores cenas da série foram protagonizadas pela Helena, como a sua briga de bar ou quando ela se tranca num galpão e massacra uns mafiosos, mostrando quão badass ela é. Além de ter um jeitão e aparência bem peculiares, ela tem o melhor arco dramático da série. 

Tatiana Maslany in Orphan Black (2013-2017)

Tatiana Maslany in Orphan Black (2013-2017)

Tatiana Maslany in Orphan Black (2013-2017)

Sua trama é mostrada desde sua infância perturbada, que desenvolveu nela hábitos de autoflagelação, até a problemática vida adulta, quando redescobre sua humanidade com a amizade das clones e chega ao auge da redenção ao engravidar e conceber duas crianças.

Ou seja, ela foi criada como um monstro de Frankenstein, uma assassina fria e animalesca, mas com o tempo se tornou capaz de conviver e se importar com outras pessoas e até de cuidar de frágeis e dependentes bebês.

Tatiana Maslany and Kristian Bruun in Orphan Black (2013-2017)

Tatiana Maslany and Kristian Bruun in Orphan Black (2013-2017)

Tatiana Maslany and Kristian Bruun in Orphan Black (2013-2017)

Além do excelente trabalho da atriz e da equipe de maquiagem, outra coisa que chama atenção é a produção dos efeitos especiais. Tá certo que hoje em dia qualquer pessoa com um software em casa pode editar cenas com sobreposições de imagens, mas a forma fluida e natural com que são feitas estas cenas realmente impressiona.

Tatiana Maslany and Kristian Bruun in Orphan Black (2013-2017)

Tatiana Maslany in Orphan Black (2013-2017)

Tatiana Maslany in Orphan Black (2013-2017)

Na década de 90, o Forest Gump impressionou a todos sobrepondo o Tom Hanks em cenas históricas, mas hoje isso já é algo trivial na tecnologia de edição de vídeo. De toda forma, em Orphan Black foi feito um trabalho impecável e que exigiu da equipe e especialmente da Maslany bastante dedicação para gravar a mesma cena de novo e de novo, trocando várias vezes de figurino, até montar tudo e de repente vemos 4, 5 clones interagindo simultaneamente na tela como se realmente fossem pessoas diferentes.

Tatiana Maslany (x4) in Orphan Black (2013-2017)
Clube das clones.