O gênero found footage (baseado em imagens encontradas nas câmeras usadas pelos próprios personagens da história) está cada vez mais popular e no caso de filmes de viagem espacial já houve um bom exemplo em Apollo 18 (2011). Europa Report é uma espécie de Apollo 18, só que em outra lua bem mais distante, não a Lua da Terra, mas a de Júpiter, Europa.
Europa é a sexta maior lua do sistema solar e a abundante presença de água, ainda que em forma de gelo na superfície, faz dela uma forte candidata a abrigar formas de vida primitivas. Neste filme, uma missão espacial envia seis astronautas numa longa e problemática viagem ao satélite, um passo além do que fora dado anteriormente com a ida de astronautas à Lua. Vemos então uma série de gravações feitas pela equipe mostrando desde momentos monótonos até problemas técnicos, vidas perdidas e a revolucionária descoberta de uma forma de vida bioluminescente no oceano de Europa.
Este formato de filmagem “caseira” e de baixo orçamento segue o caminho oposto das super produções da ficção científica, como Avatar (2009), que teve um orçamento de 240 milhões de dólares investido em muitos efeitos especiais e mostrou toda uma complexa civilização alienígena. Europa Report teve um orçamento de menos de 10 milhões e não tenta nos impressionar com muito espetáculo visual ou um roteiro de aventura.
O filme segue razoavelmente entediante e a equipe é tranquila. Não tem, por exemplo, aqueles personagens brigões ou ambiciosos que traem a missão e prejudicam a equipe, ou algum astronauta surtando e atacando os outros, que são coisas comuns em terror espacial com o objetivo de apimentar a trama. Não é, portanto, um filme para se esperar ação, terror e aventura. É, sim, uma ficção científica pura com um clima realista.
Na ciência da vida real, a simples descoberta de uma alga, um micróbio fora da Terra, já seria um fato grandioso e revolucionário. A ficção científica convencional costuma ser mais explícita e exagerada para não provocar tédio no público. Daí avançar a passos largos nas descobertas, como no filme Contato (1997) em que os cientistas não só têm contato com uma civilização alienígena, como recebem deles um bocado de informação e a protagonista até experimenta um encontro cósmico.
Em Europa Report, ao contrário, as informações são escassas e nebulosas e no fim só há uma breve captura de imagem da forma de vida alienígena. Nada mais. Foram dois anos de viagem para no fim enviarem à Terra um segundo ou dois de filmagem do bicho alien. É pouco para um filme de ficção, mas muito se imaginarmos que um evento desses poderia e pode num futuro próximo ser real. Esta é a proposta de um found footage: ficção com o ritmo do mundo real.
E a grande lição é o bom exemplo da equipe que possui um verdadeiro espírito científico, dispostos a se sacrificarem, pois entendem que há algo maior que as suas vidas e assim enobrecem a causa da humanidade em buscar avançar no conhecimento do mundo.
Claro que um bom filme cósmico recheado de efeitos visuais e encantamento, como Interstellar (2014), é sempre bem vindo, mas em se tratando de produções de baixo orçamento, Europa Report satisfaz.
Curiosidade: a primeira vez em que se avistou emissões de vapor de água nessa lua congelada foi em 2012, pelas lentes do telescópio Hubble. Desde então o interesse em explorar Europa aumentou, já que suspeita-se que por baixo de sua imensa cobertura de gelo existe água em estado líquido e em condições de abrigar formas de vida.
Por isto a NASA está desenvolvendo um projeto chamado Europa Clipper que de fato pretende enviar uma sonda por volta do ano 2020, que levará de seis a oito anos para chegar à lua de Júpiter e analisá-la de perto, inclusive buscando formas primitivas de vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário