A Krysten Ritter fez umas pontinhas em várias séries como Veronica Mars (2006), Gossip Girl (2009) e até Breaking Bad (2009-2010). Em Breaking Bad, inclusive, ela já estava gerando o que seria seu typecast, o seu tipo de personagem: uma garota vida louca, irresponsável e drogada. O amoral Walter White deixou ela morrer sufocada no próprio vômito por considerá-la uma má influência para seu pupilo Jesse Pinkman.
Então ela finalmente ganhou sua primeira série própria, a divertida e incorreta Apartment 23 (2012-2013) que consolidou de vez sua imagem da garota que está sempre bebendo e se drogando e caindo na farra.
Dito isto, é engraçado pensar que a Krysten Ritter em Jessica Jones (2015-2019) é como se fosse uma versão super heroica da Chloe de Apartment 23. Desde o começo vemos a personagem entornando um copão de uísque, seu eterno companheiro. Diferente, porém, da Chloe, a Jessica não é festeira e sempre animada, mas irritada, triste e densa, como um bom personagem de uma história noir.
É isso, Jessica Jones é meio noir, uma série policial, ou de detetive, que no intervalo entre suas missões é vista no bar narrando a história em seus pensamentos. Esse estilo diferenciado para uma série de super herói, somado à presença de um bom vilão, o Kilgrave (interpretado por um ator de peso e charme, o David Tennant), fez de Jessica Jones uma das séries da Netflix mais comentadas no seu primeiro ano.
A primeira temporada desenvolve um arco bem legal envolvendo Jessica e Kilgrave, uma dupla clássica de adversários: ela a heroína fortona, ele o vilão com poder mental. É como Lex Luthor e Superman; Batman e Coringa. Fizeram até um jogo de cores na ambientação dos cenários. Quando Jessica está sozinha, predominam tons azuis, que é a cor típica dela, com sua calça jeans surrada; quando o cenário é dominado pela influência demoníaca do Kilgrave, aparecem mais tons roxos.
Esse jogo de cores também se tornou uma marca de todas as séries do "micro-MCU" ou poderia chamar de "Universo Marvel da Netflix", um universo compartilhado de personagens que envolveu as séries do Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro e culminou no crossover dos Defensores. No caso, o Demolidor era marcado pela cor vermelha, amarela e marrom em Luke Cage, amarela e verde em Punho de Ferro e na Jessica, como dito, predominavam azul e roxo.
Na série da Jessica apareceram alguns personagens das outras. Luke Cage teve sua primeira aparição na primeira temporada de Jessica Jones, só depois ganhando uma série solo. A enfermeira Claire, que começou no Demolidor, se tornou a socorrista oficial deste universo, atuando em todas as séries.
Apesar do sucesso da primeira temporada em 2015-2016, Jessica Jones só retornaria em 2018 com uma temporada mais fraquinha, com uma vilã de pouco carisma e a última temporada, em 2019, teve um vilão igualmente insosso, o tal Sallinger. De toda forma, os vilões não importam muito no arco geral da série, pois existe uma trama paralela que pode-se considerar a mais significativa: os conflitos familiares.
Desde a primeira temporada, os maiores problemas de Jessica não são alguma conspiração de uma máfia (como é o caso do Demolidor), mas o seu drama familiar, seu passado traumático quando se tornou órfã e a relação complicada com a irmã adotiva Trish.
O Kilgrave aparece em meio a isso como um "namorado" abusivo, que veio pra somar ainda mais drama à vida afetiva da Jessica. Na segunda temporada, a vilã é ninguém menos que sua própria mãe, que voltou dos mortos como uma versão louca e turbinada da Jessica. Na terceira temporada, Jessica irá enfrentar a Trish, uma batalha entre irmãs.
Todo esse conflito familiar foi bem desenvolvido ao longo das temporadas. Jessica Jones e sua família disfuncional. Sua amargura é fruto de sua história familiar e a busca por redenção e reconciliação também envolve lidar com estes nêmesis que são a mãe e a irmã.
O elenco contou com algumas participações especiais que não decepcionaram. O primeiro foi o David Tennant, que encarnou essa odiosa e encantadora figura do Kilgrave, mas a melhor personagem secundária foi interpretada pela Carrie-Anne Moss, a eterna Trinity de Matrix, que aqui é a inescrupulosa advogada Jeri.
A cafajeste Jeri e o merdão carente Malcolm. |
Jeri tem todo um arco próprio, mostrando sua personalidade dominadora e egoísta, seu trabalho feito com frieza e amoralidade e sua tragédia pessoal com suas namoradas, que acabam sempre destruídas por ela ou se afastam decepcionadas, além de finalmente ter a sua carapaça do orgulho quebrada quando descobre que tem uma doença degenerativa. Foi uma personagem muito bem desenvolvida e uma das mais presentes neste universo. Ela também aparece ou é mencionada em todas as outras quatro séries.
Nenhum comentário:
Postar um comentário