Em 2044 a população humana já está reduzida a apenas 21 milhões de habitantes, devido ao aumento das tempestades solares que espalhou desertos radioativos pelo mundo e prejudicou o funcionamento de boa parte da tecnologia eletrônica. Temos um cenário distópico de uma civilização em colapso, sucateada, com os humanos vivendo numa cidade sombria e poluída, separada do caos exterior e do deserto por uma imensa muralha.
O melhor em termos de tecnologia está nas mãos da empresa ROC, que produz os robôs Pilgrin 7000, que servem como auxiliares dos humanos. Estes robôs obedecem a dois protocolos básicos de segurança, programados com uma hermética criptografia que torna quase impossível a adulteração destas regras que são: 1. Um robô não pode machucar nenhuma forma de vida e 2. Um robô não pode alterar a si mesmo ou a outros.
Estes protocolos, criados para evitar que os robôs se envolvam em alguma rebelião contra os humanos ou mesmo que evoluam demais, superando seus criadores, são uma óbvia homenagem às famosas 3 Leis da Robótica formuladas por Isaac Asimov em seu livro Eu, Robô (1950), que são:
“1. Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal. 2. Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei. 3. Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e Segunda Leis.”
Os Pilgrin são aparentemente frágeis, lentos, delicados, facilmente se quebram, bem diferente dos robôs típicos de distopias, como os da adaptação para o cinema do livro Eu, Robô (2004) ou os androides de Blade Runner (1982) que são fortes, ágeis, resistentes e mortíferos. Temos em Automata uma abordagem bem diferente quanto a isto, pois o que se observa é que os seres perigosos e agressivos são sempre apenas os humanos.
Em momento algum um Pilgrin comete um ato de violência contra seres vivos, sempre respeitando, portanto, o primeiro protocolo. Todavia, acontece um estranho fenômeno em que alguns robôs começam a realizar reparos e melhorias em si mesmos e em outros, contrariando o segundo protocolo, e Jacq (Antonio Banderas) irá investigar o caso, chegando à fonte, à origem da consciência dos robôs.
A cidade, exibindo um contraste entre modernidade e decadência, com seus arranha-céus, dirigíveis e muita fumaça, lembra o cenário do primordial filme Metropolis (1927). O diretor Ibáñez, aliás, faz muitas referências e homenagens aos clássicos da ficção científica distópica, como a chuva ácida que lembra Blade Runner e as óbvias referências a Eu, Robô.
Ainda falando em referências, também se nota uma alusão a Metropolis na robô Cleo, que aparece a princípio como uma espécie de robô prostituta e irá crescer na história, tomando a frente da revolução, como que assumindo o papel da mãe de uma nova raça, assim como a androide Maria, de Metropolis, que é chamada (numa referência ao livro do Apocalipse) de Grande Prostituta, e que também lidera uma mudança na civilização.
Não é um filme épico, não tem explosões nem grandes cenas de ação e perseguição. O ambiente parece estagnado, tudo parece já um tanto morto, pois é assim que se encontra a humanidade, em seu estágio final. Subentende-se que os robôs serão a nova espécie a evoluir no planeta, deixando para trás o velho mundo.
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