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Luke Cage, o rei do Harlem

Luke Cage (2016-2018)

A primeira aparição do Luke Cage nesse universo de séries da Marvel produzidas pela Netflix (o que chamo de demolidorverso) foi na série da Jessica Jones (2015). Em 2016 ele ganharia seu próprio show.

Na primeira temporada, a história de origem do herói é bem contada, mostrando todo seu sofrimento na prisão e a dolorosa transformação por meio de um experimento científico que lembra um pouco o mesmo trauma pelo qual passou Wolverine quando recebeu o adamantium numa piscina fervilhante. Também os efeitos do experimento foram parecidos: Wolverine ganhou um esqueleto invulnerável, Luke Cage ganhou uma pele invulnerável, além de uma força talvez do nível do Capitão América.

Luke Cage (2016-2018)
Uma referência ao uniforme dos quadrinhos.

Bom, apesar de ser forte como o Capitão e duro como o Wolverine, Luke Cage não é lá bom de briga porque lhe falta agilidade e técnica. Suas cenas de luta são bem estranhas porque ele pouco se move, resume-se a distribuir alguns tapas e empurrões. Não que isso seja uma falha da série, ao contrário, desenvolve um estilo de luta do personagem, a luta de um ser robusto e pesado, portanto lento. Há uma coerência na forma que ele faz isso, afinal um ser forte e invulnerável não se daria ao trabalho de aprender sequer a boxear como um profissional. De toda forma, plasticamente o resultado é entediante, as cenas de luta do Luke não têm graça nem emoção.

Quanto à sua personalidade, ele é o mais verdadeiramente heroico de todos os personagens dos Defensores. Jessica Jones é egoísta e tenta fugir da responsabilidade de ser heroica, só assumindo quando não há outro jeito. O Demolidor acha que é herói e que luta pela justiça, mas é narcisista a ponto de pensar que todo o peso o mundo deve ser levado só por ele, que "essa é minha luta e de mais ninguém". O Punho de Ferro, convenhamos, sofreu uma lavagem cerebral dos monges desde criança e simplesmente acredita que é algum tipo de messias semidivino.

Luke Cage, por sua vez, tem a humildade do herói. Ele sabe que é apenas um humano mortal, mesmo tendo poderes, e não se considera portador de nenhuma missão especial, como se fosse um escolhido ou messias, mas demonstra preocupação para com todos que estão à sua volta, para a comunidade do Harlem e até para com os vilões. Ele é o verdadeiro altruísta que nada espera em troca e está sempre se sacrificando pelos outros, mas não por egomania de se achar um messias e sim por se importar.

Luke Cage (2016-2018)
Boca de algodão (que nome hein).

Quanto aos vilões, teve vários. Essa é a série que mais teve vilões nesse demolidorverso. Começou com o Cottonmouth (Boca de Algodão), que já não causa uma boa impressão com um nome desses. A princípio pareceu uma grande aposta, já que foi interpretado por Maheshala Ali, o ator mais conhecido de todo o elenco da série (e que inclusive vai encarnar o Blade num futuro próximo). Cottonmouth poderia ter sido em Luke Cage o que o Rei do Crime foi no Demolidor, mas teve um fim precoce.

Luke Cage (2016-2018)
Lutinha tosca.

Aí apareceu outro vilão, o tosco Diamondback (que desde os antigos quadrinhos do Brasil era chamado de Cascavel e assim ficou também na tradução da série), que usava partes de um exoesqueleto para ampliar sua força e trocar uns socos com o Luke Cage numa luta bem feia e feia no mal sentido. Também esse vilão não durou muito.

Luke Cage (2016-2018)
Outra lutinha tosca.

Na segunda temporada apareceu um vilão jamaicano, o Bushmaster, que era basicamente a mesma coisa que o Cascavel, com a diferença que o Cascavel adquiriu superforça usando gadgets e o Bushmaster usava poções mágicas do misticismo jamaicano. E aí temos mais pancadaria tosca.

Iron Fist and Luke Cage, Luke Cage (2016-2018)
Bromance.

Falando em cenas de luta, teve um momento legal quando Luke se encontrou com o Punho de Ferro. Cercados por capangas, improvisaram um golpe combinado que o Luke chamou de "patty cake" (aquela brincadeira de criança de bater nas palmas umas das outras cantando alguma rima): consistia no Punho de Ferro dar um soco na mão do Luke, criando uma onda de choque. Foi um momento interessante de sinergia entre os dois, como parte do desenvolvimento de um bromance. De fato, há uma química entre ambos.

Além destes vilões primários, teve outros como o policial corrupto Scarfe, mafiosos e tanto policiais quanto presos no tempo em que ele esteve na prisão. No fim das contas, o grande vilão da série foi a dupla Shades e Mariah. Ah, esses sim foram vilões de respeito.

Eles começaram ali como sócios do Cottonmouth, aí a Mariah surpreende matando-o em um ataque de fúria e com Shades assume o negócio. Ao longo das duas temporadas eles vão evoluindo, se envolvendo na trama, manipulando os acontecimentos e os outros vilões. Eles se tornam a raiz profunda do mal.

Luke Cage (2016-2018)
Não se engane com essa carinha. Ela vai te matar ou te manipular ou manipular e depois matar.

A Mariah é a parte mais interessante dessa dupla. Com uma história traumática, abusada na infância, ela vai se transformando ao longo da série, despertando cada vez mais o seu lado vilão e também badass. Quando é presa pela primeira vez, por exemplo, a umas detentas jogam combustível nela a fim de atear fogo e ela não implora nem demonstra medo, ao contrário, grita com elas um "do it!", pronta a aceitar seu fim, mas diante de uma oportunidade mata a líder do bando, mostrando aí que se tornou uma verdadeira valentona. 

Diferente do Cottonmouth, que no começo parecia ser o fodão do pedaço e simplesmente morreu, Mariah parecia uma senhorinha indefesa, que participava da máfia, mas sem usar as próprias mãos, e com o tempo foi ficando mais cruel e mais forte, além de ter um gênio para a manipulação. Verdadeira vilã.

O final da série é interessante, pois após passar por toda a sua jornada de herói altruísta e sofredor, Luke Cage é coroado, se torna rei do Harlem, uma espécie de chefão do bem, herdando da própria Mariah o império.

Luke Cage (2016-2018)
O rei do Harlem.


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