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Black Adam e a despedida do velho DCU

Black Adam (2022)

A primeira coisa que chama atenção em Black Adam (2022) é a presença do The Rock. Ele é naturalmente um cara de presença, tanto a presença física de 1,96 m, quanto o carisma. Ele já tem sua própria assinatura no cinema, de modo que sabemos o que esperar de um filme com a qualidade The Rock: a testosterona de um legítimo brucutu, cenas de ação, uma pitada de humor e sua atuação modesta que não impressiona, mas também não decepciona. Enfim, para quem procura um filme de ação bem Sessão da Tarde, o The Rock entrega este produto.

Não é diferente então com Black Adam. Só que tem outro detalhe: o filme foi dirigido por Jaume Collet-Serra, um cara que tem um histórico no gênero de terror, tendo no currículo obras como Orphan (2009) e um de meus favoritos do gênero, House of Wax (2005).

Por isso Black Adam acaba sendo o mais gore de todos os longas do DCU e provavelmente o que tem mais mortes. Os figurantes morrem como moscas, o que é propositalmente algo cômico e também uma forma de construir o protagonista, de mostrar que o Adão Negro não é um herói convencional, que ele trafega no limbo que separa um verdadeiro herói de um anti-herói. Definitivamente ele não é vilão, mas tem a indiferença ética de um vilão em termos de matar pessoas. 

The Rock; Black Adam (2022)
O cara tem as costas tão largas que mal cabe na tela.

Curiosamente, o filme conseguiu ter uma classificação PG-13, ou seja, não é recomendado para crianças, mas pré-adolescentes já podem assistir, apesar da violência. É uma violência bem maquiada com um ar caricato e meio cômico, como quando ele frita pessoas com seus raios, transformando-as em esqueletos carbonizados. Em uma cena ele arremessa um cara com tanta força que arranca o braço, mas realmente não parece um gore pesado. São cenas que fazem o público rir.

Pierce Brosnan; Black Adam (2022)
Coroa enxuto.

A parte técnica, os efeitos especiais, a caracterização dos personagens, as cenas de ação, tudo está satisfatório. Dá gosto ver as cenas de ação e o The Rock trocando sopapos com os heróis. A Sociedade da Justiça, que pela primeira vez aparece em um filme do DCU, está bem aparentada. Cyclone, Atom Smasher e o Hawkman têm uma aparência legal, mas o melhor de todos é o Dr. Fate, tanto em sua forma mística, que está bastante fiel aos quadrinhos, quanto na forma humana, encarnada pelo elegante sexagenário Pierce Brosnan. O véio já está pertinho dos 70 anos e continua um galã.

O vilão Sabbac é que acaba sendo meio desnecessário, aparecendo só para preencher o último ato numa luta rápida. Ele não tem nenhuma construção de identidade, de modo que pouco nos importamos com ele. De toda forma, ele proporciona mais uma cena de ação que é o que a gente espera desse tipo de filme.

E é isso. Black Adam é um filme de super-heróis nível Sessão da Tarde, no bom sentido. A famosa cena pós-crédito, que todos agora já sabem que se trata de um breve encontro dele com o Superman, é que plantou uma semente de expectativa quanto a uma continuação do velho DCU, com o retorno do Henry Cavill. Bom, provavelmente vai ser só um fan service mesmo, como foi o final do Snyder Cut em que vimos um universo alternativo em que o Jared Joker (o Coringa do Jared Leto) se alia ao que restou da Liga da Justiça para enfrentar Darkseid. Lembram disso?¹

Pois é, até o momento o DCU foi isso, muitas sementes plantadas, mas que não cresceram. O Snyder Cut deixou muitos ganchos para futuras histórias que nunca vão acontecer. Assim também deve ser com Black Adam e os outros filmes já lançados ou ainda por lançar, como o complicado The Flash (2023).

2023 deve ser o ano do encerramento definitivo deste DCU. Além de The Flash teremos mais um filme do Aquaman e do Shazam. Alguns projetos já foram cancelados, como a Batgirl, Wonder Woman 3, Man of Steel 2. A longeva série do The Flash termina em 2023, mais um passo para o fim do arrowverso.

A era James Gunn deve começar a partir de 2024 ou talvez em 2025, quando finalmente virá uma nova leva de filmes inaugurando um novo DCU. Sinceramente, acho que é a melhor coisa a ser feita e podiam já ter feito bem antes, desde o semifracasso da Liga da Justiça (ok, não foi um fracasso, mas convenhamos que um filme da Liga merecia no mínimo fazer um bilhão e fez apenas 660 milhões).

Pela vontade do The Rock, que tanto repetiu que "a hierarquia de poder do DCU está prestes a mudar", Black Adam daria um novo rumo ao DCU, mas continuando o que já foi feito. Em vez disso, porém, Black Adam é mais um epílogo do velho DCU. 

Quero confiar no projeto do James Gunn que realmente parece interessado em planejar algo a longo prazo, para pelo menos uma década. Então que venha o novo DCU. 

Black Adam movie vs comics

Notas:


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