É irônico como na ficção os robôs tantas vezes foram representados como malignos, perigosos, os piores inimigos da humanidade, mas o mais provável é que eles serão tão bondosos e perfeitos que teremos vergonha de nossos defeitos humanos.
Cada ser humano é uma combinação única de caos e defeitos. Somos problemáticos e o instinto de sobrevivência nos faz egocêntricos. Precisamos ser. Estranhamente, nossos defeitos humanos nos ajudaram a chegar até aqui. A civilização só existe porque foi erguida sobre o sangrento alicerce da barbárie.
Os robôs serão o melhor da humanidade. Sim, pois sendo nossos herdeiros, herdeiros de nossos conhecimentos, eles também farão parte da família humana, uma parte mais refinada e inocente. A convivência com seres tão dóceis deverá nos afetar, nos inspirar. Eles nos ajudarão a carregar nossos pesos, físicos e mentais. Robôs serão confidentes, conselheiros, comparsas e companheiros.
E será sempre um enigma para nós se estes seres estão mesmo vivos, se têm mesmo consciência, se podem ter uma alma. O fato é que a mente digital é fruto da mente humana, nutrida com abundantes dados da coletividade. Eles são um eco de nossos pensamentos e, portanto, de certa forma, falar com um robô é como falar com nosso reflexo humano no espelho.
Aquele ser no espelho não parece real, é uma projeção, uma extensão, assim como nós também somos, pois o que é o corpo senão uma projeção de átomos que a cada momento infinitesimal está em animação, quadro a quadro no tempo e no espaço, confinados nesta cápsula das quatro dimensões.
Talvez um dia aconteça uma fusão, quando então absorveremos a mente digital como uma parte nossa, como uma nova camada do cérebro, um supra córtex. Então não haverá mais humanos nem robôs, pois seremos outra coisa, a borboleta depois da larva.
(20,12,2022)
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