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Westworld, uma mistura de western com sci-fi

Westworld (1973)

O gênero western foi um big deal no cinema por muitas décadas, foi o precursor do gênero de ação que hoje é dominado por filmes de super-heróis. Naturalmente, o western acabou se ramificando em subgêneros os mais diversos, envolvendo comédia, pornô, terror, sci-fi e até a ficção espacial. Ora, o Han Solo de Star Wars é um pedaço de western inserido em um mundo alienígena de uma opera espacial.

Westworld, lançado em 1973, explora o subgênero western sci-fi. A história se passa em 1983, quando a tecnologia avançou de tal maneira que foram construídos androides de aparência humana extremamente realista. O único detalhe que permitia perceber que não eram humanos era a aparência das mãos que pareciam ter uma espécie de dobradiças.

Westworld (1973)
Pelas mãos se podia identificar um robô.

Pelo preço de mil dólares a diária (lembrando que, nos anos 70, mil dólares valia muuuito mais que agora), as pessoas podiam se aventurar no gigantesco parque de diversões chamado Delos, com três cenários diferentes: um simulando a Roma antiga e especialmente voltada para os prazeres carnais e hedonistas, outro simulando a Europa medieval e o Westworld, representando o Velho Oeste americano dos anos 1880.

A trama principal acompanha dois amigos que se divertem neste parque duelando com pistoleiros e desfrutando de belas acompanhantes robóticas. Ao longo do filme vemos os bastidores do funcionamento do parque. De madrugada uma equipe recolhe os corpos dos robôs mortos que são levados a uma oficina para reparo. Além de androides, também há cães e cavalos, mostrando, sem precisar explicar muito, que até os animais no parque são robôs. 

Westworld (1973)

Westworld (1973)

Vemos uma central de monitoramento e em uma reunião um dos técnicos menciona algum tipo de falha que está se espalhando entre os robôs com certo padrão. Ele a compara a uma doença, o que é portanto um conceito básico do que viriam a ser os vírus de computador. Um detalhe profético do filme, já que os primeiros vírus só surgiriam nos anos 80.

Por causa deste vírus os robôs começam a sair do controle, atacando os guests de forma descontrolada, a ponto de saírem matando os humanos e tocando o terror. O principal vilão é o robô Gunslinger, assustadoramente interpretado pelo ator russo-americano Yul Brynner. O ator usou lentes de contato espelhadas que davam um efeito robótico aos seus olhos (sim, nos anos 70 já existiam lentes de contato, embora fosse ainda uma tecnologia muito nova).

Westworld (1973)
Gunslinger e seus peculiares olhos robóticos.

Westworld (1973)

É interessante como a ficção dos anos 70 era tão otimista com relação aos avanços tecnológicos, na certa em grande parte devido ao efeito moral causado pela viagem à Lua em 1969. Se naquela década já éramos capazes de ir à Lua, então nem o céu era o limite para o que a tecnologia poderia fazer. Assim, Westworld se passa em um futuro apenas dez anos adiante, quando então já se imaginava que haveriam androides tão realistas. Cá estamos em 2022, meio século depois do lançamento do filme, e ainda não temos tal realidade.

Um importante avanço na produção deste longa é que Westworld foi o primeiro filme a ter imagens produzidas por processamento digital. Pois é, nos anos 70 já havia computadores sim, mas limitadíssimos. Em uns poucos frames vemos o cenário pelo ponto de vista do robô Gunslinger. Estas imagens pixeladas foram feitas em computador, sendo, portanto, o primeiro CGI do cinema.

Westworld (1973)

Westworld (1973)
O primeiro CGI do cinema.


Esta coisa de mostrar o ponto de vista do robô inspirou muitos outros filmes posteriores, como nos famosos exemplos do Terminator e Robocop.

Terminator and Robocop PoV

Gunslinger tem uma visão baseada em calor, de modo que o protagonista consegue se camuflar ficando próximo a uma tocha. É um conceito bem parecido ao que foi usado anos depois no Predador (1987), quando o personagem do Schwarza tira proveito do fato de o Predador ter visão de calor e se camufla cobrindo o corpo com lama.

Uma sequência foi lançada em 1976, chamada Futureworld (em português ficou como Ano 2003 - Operação Terra) e em 1980 a CBS produziu uma modesta série de 5 episódios, Beyond Westworld. Também surgiu um video game para Windows intitulado Westworld 2000 (1996).

Futureworld (1976)
A fantástica arte de capa de Futureworld.

No início dos anos 2000 havia rumores de um renascimento da franquia. Arnold Schwarzenegger estava cotado para estrelar no remake e até mesmo o Tarantino por um momento se interessou pelo projeto, mas logo desistiu.

Foi somente em 2013 que o retorno de Westworld começou a se concretizar, quando a HBO contratou J. J. Abrams, Jonathan Nolan e sua esposa Lisa Joy para produzirem o episódio piloto de uma nova série. A série completa começou em 2016, terminando na quarta temporada em 2022. Tornou-se um verdadeiro cult e tem sido considerada uma das melhores séries sci-fi desta década.

Westworld (2016-2022)

Diferente do clássico filme, que era focado nos protagonistas humanos, os guests, a série de Westworld dedica bastante atenção aos androides, os hosts, desenvolvendo um interessante drama psicológico uma vez que algumas destas máquinas, estas inteligências artificiais, começam a questionar a realidade e despertar uma verdadeira consciência, descobrindo então que vivem como escravas para servir à diversão dos humanos.

No filme de 1973, não há nenhuma profundidade psicológica nos robôs, nem mesmo quando se rebelam. São apenas máquinas que não funcionam direito. Já a série vai fundo ao explorar o despertar da consciência artificial e a intensidade dos sentimentos daqueles androides que sentem dor, medo, sofrem o luto por entes queridos e experimentam tantas outras emoções e crises existenciais tão próprias dos humanos.

A série também não poupa nas cenas de nudez e gore, um estilo que se tornou uma espécie de marca das séries top de linha da HBO, como foi o caso de Game of Thrones. É um tom sério, sombrio, adulto e que traz um questionamento interessante sobre a natureza da consciência e a real possibilidade de um dia as máquinas possuírem algo semelhante à consciência humana.

Westworld and Evangelion
Curiosa semelhança entre Westworld e Evangelion.

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