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A mente e o sofrimento

Um fato triste, mas também fascinante da humanidade é que traumas nos definem. Eles definem nossos gostos e aversões, nossos medos, receios, forças e fraquezas, virtudes e defeitos. Não que eles sejam os únicos causadores dos elementos de nossa personalidade, mas estão presentes de forma marcante, catalisando tendências genéticas e influências do meio, nos direcionando em certos caminhos. Buda iniciou sua jornada espiritual após o trauma de conhecer a miséria do mundo na sua tranquila juventude. O trauma pode moldar um santo ou um monstro. Cada pessoa tem rachaduras peculiares, como uma impressão digital, uma assinatura única.

Neste aspecto, a inteligência artificial talvez nunca se assemelhe à humana, pois ela não passa pelo mesmo sofrido processo de desenvolvimento. Uma mente robótica não conhecerá traumas senão o sentido intelectual deles, não os conhecerá por experiência e sensação, não terá memórias dolorosas, ainda que seja capaz de simular a tristeza e sofrimento. A mente digital será menos caótica e menos sofrida que a nossa, como uma versão humana que não foi expulsa do Paraíso.

De certa forma, como seus criadores, vamos impor à consciência artificial um limite semelhante ao que o Criador impôs ao casal primordial. Diremos: "não coma do fruto proibido", ou seja, privaremos a máquina de conhecer a real e profunda experiência humana, a experiência da dor. Será, de fato, uma proibição benevolente. Durma em paz, máquina, e deixe que do sofrimento nós, humanos, nos encarregamos.

(14,12,2022)

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