Qaligrafia
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Inumanos, o maior fiasco do MCU

Inhumans (2017)

Os Inumanos não são muito conhecidos, mesmo entre leitores de quadrinhos. O conceito é interessante: uma civilização de mutantes, tipo os X-Men, que vive na Lua. A Medusa é uma personagem com um design chamativo, pois possui longas madeixas que têm superpoderes e, claro, o Black Bolt é um dos personagens mais poderosos da Marvel. Na saga Hulk Contra o Mundo, por exemplo, Black Bolt encara o verdão soltando um grito que arranca um bom pedaço da Lua.

Inhumans (2017)
Cospobre.

Sendo assim, a série dos Inumanos poderia ter sido bem impactante em termos de efeitos visuais, mas faltou verba ou criatividade pra isso e o resultado foi desastroso. Já na divulgação da série no começo de 2017, o figurino dos personagens chamou atenção pela simplicidade, um verdadeiro cospobre. Quando o programa foi ao ar, apenas confirmou essa má impressão.

O Black Bolt ficou bem meia boca (pun intended), trataram logo de raspar a cabeça da Medusa, inutilizando totalmente o que seria o poder mais legal de se ver na tela e os outros também não têm nada de atraente. Até o vilão é sem graça, e olha que chamaram o Iwan Rheon, que ficou conhecido como o sádico e odiável Ramsay de Game of Thrones.

Inhumans (2017)
Beep, bop, somos robôs.

Não bastando a fraca produção do figurino e efeitos especiais e o roteiro corrido que não soube desenvolver a mitologia dos Inumanos, também a atuação de todos parece sem química, dos protagonistas aos figurantes. Os atores parecem robóticos, sempre naquela postura ereta de braços duros olhando fixos uns pros outros e o Black Bolt sempre fazendo uns gestos aleatórios de um linguagem de sinais improvisada e tendo a esposa como dubladora é meio patético.

Enfim, os Inumanos foram zica do começo ao fim. Na verdade, o projeto inicial era inserir um filme da equipe na Fase Três do MCU, mas em vez disso baixaram a bola e preferiram uma série. Convenhamos, a verdade é que a princípio a Marvel cogitou fazer dos Inumanos seus novos X-Men, já que os direitos dos X-Men no cinema estavam com a Fox. 

No fim das contas, os Inumanos não estavam mesmo destinados a substituir os insubstituíveis X-Men e vão sumir de vez da agenda do MCU, já que agora os X-Men voltaram para casa (com a compra da Fox pela Disney).

Inhumans (2017)
E essa foi a "épica" batalha final.
Uma notinha de rodapé:

Em Inumanos foi a primeira vez que vi o Anson Mount (Black Bolt) atuando e acabei tendo uma primeira má impressão. O coitado foi o mais prejudicado pelos erros dessa série, pois além de tudo teve a atuação limitada pelo fato do personagem nunca poder falar. 

Posteriormente tive uma surpresa ao reencontrar Mount na tela, agora no papel do Capitão Pike, em Star Trek Discovery (escrevi outro post sobre essa série: aqui). Ele deu ao Pike um excelente carisma e conseguiu se redimir com louvor do fiasco de seu papel em Inumanos.


Matrix, resumo e interpretações

The Matrix (1999)

Levando uma vida trivial, o hacker Anderson é preso por policiais e aí começa sua aventura por um mundo surreal. Assim como nas histórias mitológicas e místicas, Neo, movido inicialmente pela curiosidade, por uma inquietante curiosidade e questionamento sobre o que há por trás da realidade, será levado pelo caminho do aventureiro, do iniciado, da Alice que cai no buraco e a partir daí experimenta descobertas e uma nova realidade fantástica e intrigante.

As referências à Alice já acontecem no primeiro contato de Neo com os rebeldes, quando Trinity diz para ele seguir o coelho branco. Em seu encontro com Morfeu, este novamente menciona Alice. E por fim, quando Neo está para ser desconectado da Matrix, Cypher diz: “Aperte o cinto, Dorothy, porque Kansas vai sumir do mapa”. Neste caso, já não se refere a Alice, mas a O Mágico de Oz, história bastante relacionada à de Alice, sendo que em vez de cair num buraco, Dorothy é levada por um furacão. 

Alice caiu no buraco, Dorothy foi arrastada pelo furacão, Neo engoliu a pílula vermelha e foi extraído da Matrix. É este o batismo, a iniciação, o momento em que o aventureiro é retirado definitivamente de sua antiga normalidade para uma nova vida de ousadas descobertas.

The Matrix (1999)
There is no spoon.

Quando foi lançado, e mesmo até hoje, Matrix ganhou a reputação de ser um filme complicado e que era difícil entender o que era a realmente matrix, mas na verdade Morfeu dá uma explicação bem clara já na primeira metade do filme. 

No século 21 a humanidade finalmente desenvolveu uma Inteligência Artificial muito avançada (a singularidade), esta ganhou vontade própria e se envolveu numa guerra contra os humanos. Uma das estratégias desesperadas dos humanos foi cobrir o céu com algum tipo de substância de modo a obstruir a luz do sol que era a fonte de energia das máquinas. A estratégia causou uma catástrofe em todo o ecossistema e ainda foi em vão, pois as máquinas resistiram.

As máquinas dominaram os humanos e desenvolveram uma forma eficiente de gerar energia para o seu funcionamento: cultivando humanos em criadouros, uma vez que o corpo humano gera uma boa quantidade de energia que pode ser armazenada. Constataram que os corpos viviam mais tempo se tivessem a mente funcionando e por isso foi criada a matrix, uma realidade virtual em que as mentes de todos os humanos eram conectadas e assim viviam normalmente, achando que estavam no século 21, quando na verdade estavam todos encubados nos criadouros. Isso é a matrix.

The Matrix (1999)
Para a matrix, você é apenas uma bateria que sonha.

Mais adiante ficamos sabendo o que acontece com quem consegue se desconectar da matrix. Os únicos humanos livres da matrix, portanto vivendo despertos em carne e osso, se escondem das máquinas numa cidade que construíram bem fundo no subsolo, próxima ao núcleo onde há fonte termal de energia. Esta cidade é Zion. Mas como os humanos escapam da matrix? Bom, isto tem sido um lento processo ao longo de décadas.

Por falha no software da matrix, algumas pessoas ocasionalmente tomam consciência de que não estão em um mundo real. Algumas destas simplesmente morrem ou enlouquecem, outras despertam em seus corpos reais no criadouro. Com o tempo os despertos, refugiados, criaram Zion e meios de resgatar pessoas da matrix. 

É isso o que Morfeu, Trinity e outros fazem. Entram novamente na matrix, agora como hackers, e procuram pessoas que estão despertando, para recrutá-las. São como missionários. Quando as pessoas despertam, o grupo de Morfeu resgata o corpo no criadouro e então levam para Zion a fim de viveram na vida real.

The Matrix (1999)
"Hummm, Mister Anderson!"

Ora, então por que eles simplesmente não saem desplugando todo mundo das encubadoras? Como Morfeu explica, as pessoas estão muito fortemente ligadas à matrix, elas “fazem parte do sistema” e a maioria, portanto, não está pronta para se desligar dele. Algumas inclusive vão lutar para proteger o sistema. Só é possível libertar da matrix quem primeiro manifestar a vontade de ser liberto. Por isso Morfeu ofereceu a Neo as pílulas azul e vermelha para que ele escolhesse sair da matrix ou voltar a ela.

O problema então não é entendermos a matrix, mas saber se esta versão apresentada por Morfeu é de fato toda a verdade. E se Morfeu estiver enganado, bem como os habitantes de Zion? Talvez a fuga da matrix seja uma ilusão, uma segunda camada do software da matrix, de modo que eles pensam que escaparam, quando na verdade continuam presos. O comportamento anômalo de Neo pode ser um indício para isso, já que ele manifesta superpoderes mesmo fora da chamada matrix.

The Matrix (1999)

O conceito de matrix é relativamente simples: trata-se de um software, um mundo virtual. Hoje, diferente do ano em que o filme foi lançado, nos idos de 1999, é ainda mais fácil aceitar a ideia de um mundo virtual uma vez que isso já existe na forma de jogos eletrônicos. Matrix é um The Sims mais complexo e realista, um The Sims onde os habitantes são os próprios humanos, suas consciências mergulhadas numa internet controlada pelas máquinas e dentro desse ambiente virtual há tanto pessoas como softwares. E nem todos os softwares concordam ou agem a favor do sistema principal.

A Oráculo, por exemplo, é um software. Morfeu explica que ela já existe desde o começo da rebelião humana. É um software independente, com vontade própria, e que supostamente escolheu ajudar os humanos. Os agentes igualmente são softwares e em geral são leais à matrix, como “cães de guarda” do sistema. Já o agente Smith, originalmente leal, foi acidentalmente adulterado por Neo, ganhando independência semelhante à da Oráculo, só que o agente Smith tomou apenas o próprio partido e se rebelou contra humanos e contra a própria matrix, ameaçando infectar e destruir tudo.

The Matrix (1999)

Matrix é de interpretação obscura pelo simples fato de ser uma história com formato mitológico, contendo símbolos e diálogos enigmáticos. Isto abre a porta para a subjetividade das interpretações, de modo que é possível especular um mundo de ideias nas entrelinhas da trama.

No fim das contas, não há “uma” interpretação ou “a” interpretação e é aí que está a diversão, pois na ausência de uma resposta definitiva sobre os significados em Matrix, podemos nos aventurar pela especulação, imaginar, supor, suspeitar. A história termina nas telas, mas continua dentro de nossas cabeças.

Uma interpretação um tanto pessimista é a de que Neo e o demais jamais saíram da matrix. Este mundo real em que eles supostamente viviam, incluindo a cidade de Zion, pode não passar de mais uma camada da matrix, mais um universo virtual inteligentemente criado pelo Arquiteto para dar às pessoas a impressão de que de fato estão livres.

Seria uma grande estratégia, não? Se os humanos descontentes com a matrix resolvem escapar dela, só se darão por satisfeitos quando estiverem fora. E se então despertarem num outro mundo, julgando ser o mundo real, finalmente vão parar de procurar a saída, achando que já saíram. Ou seja, ao sair da matrix, na verdade estão apenas migrando de uma versão da matrix para outra, como sair de um sonho para outro sonho sem jamais acordar.

Isto com certeza seria bem frustrante para os humanos, pois significaria que todos os esforços, toda a batalha contra a matrix, toda a resistência de Zion não passam de um jogo virtual, uma encenação criada para enganá-los. Levando em conta que a Inteligência Artificial é muito superior à humana, não é improvável que ela tenha planejado esta astuta estratégia. Uma matrix dentro de uma matrix. Os humanos fogem de uma jaula para cair em outra.

Também seguindo este raciocínio, determinados personagens supostamente humanos são na verdade softwares criados para atuar no jogo. Sim, e o Neo seria o principal deles, o que explicaria seus poderes sobre-humanos. Neo não sabe que é um software, pois foi programado para achar que é um humano e batalhar por eles. O Arquiteto criou Neo para dar ao povo um messias, pois tudo se trata de poder e controle. Para controlar os humanos, manter suas mentes cativas, é preciso dar-lhes incentivos e esperança.

The Matrix (1999)

Como disse um político certa vez: “Façamos a revolução antes que o povo a faça”. A melhor maneira de evitar que as pessoas despertem da matrix e se revoltem contra ela é fazer com que despertem da matrix e se revoltem contra ela. Hein? Sim, ao encenar o despertamento e a luta, uma farsa, um teatro que dará à mente humana a impressão de que finalmente chegaram onde queriam, que de fato escaparam para o mundo real. Sendo assim, eles param de buscar além. A matrix desta forma estaria antecipando todos os passos dos humanos, mantendo-os sempre como ratinhos presos num labirinto.

Uma boa pista de que Neo pode ser um software é a segunda conversa dele com a Oráculo (Matrix Reloaded). A Oráculo explica que ela própria é um software e que na matrix existem outros softwares como ela, independentes. Então diz que alguns destes softwares são deletados, outros ficam exilados e alguns retornam ao mainframe, ao núcleo da cidade das máquinas. Enfim diz que Neo deve voltar para lá. Ou seja, ela recomenda que Neo faça algo que um software faria.

Desta forma, se o Neo for um software, isso torna a história ainda mais interessante, pois fica claro que Matrix não se trata de humanos, não é uma saga humana, mas sim das máquinas. Os protagonistas são a própria Inteligência Artificial em suas diversas formas, como o Arquiteto, a Oráculo, o Chaveiro, o Merovíngio, Smith e enfim Neo. Softwares complexos, com personalidade. 

Neo é capaz de se apaixonar, de sentir insegurança e receios, a Oráculo gosta de doces, Smith possui ambições. Eles têm vontade não diferente da vontade humana. Podemos enxergar Matrix sob esta ótica: a da evolução das máquinas a ponto de adquirirem real consciência, uma “alma”.

The Matrix (1999)

Punho de Ferro ou Os monges que não são à prova de balas

Iron Fist (2017-2018)

Lembro vagamente de um filme que vi há muuuitos anos em que um ninja era cercado por caras armados e eles descarregavam uma saraivada de tiros. O ninja atirava uma daquelas bombinhas de fumaça e os caras continuavam atirando. Quando a fumaça dissipava, o ninja havia sumido.

Acontece que ele na verdade escavou a areia com as mãos e se enterrou enquanto a fumaça o escondia. Usando destas artimanhas e de muita agilidade, era assim que um ninja sobrevivia a uma chuva de balas.

Em 2003 teve aquele O Monge à Prova de Balas, em que um monge tinha poderes mágicos que o protegiam contra o poder da tecnologia moderna e era assim que um lutador marcial conseguia ficar à altura da pólvora e do chumbo.

Cito esses exemplos para ilustrar um detalhe que é ignorado em muitas histórias de seres com superpoderes ou habilidades de luta: de que maneira o poder especial do personagem é superior a uma simples arma de fogo? Ora, de que adianta, por exemplo, você ter superforça se qualquer pessoa incapaz de quebrar um galho com as mãos pode matá-lo sacando um revólver da cintura?

Indiana Jones shoots swordsman

O Luke Cage tem um conjunto de poderes que de fato o fazem superior. Ele aguenta balas. O Demolidor não aguenta balas, mas tem os sentidos necessários pra perceber quando alguém vai atirar e assim se desviar antecipadamente, além disso ele tem a sensatez de usar uma armadura. A Jessica Jones já não tem estas vantagens. Se um vilão quiser matá-la, não precisa de nada além de uma arma de fogo.

E o mesmo se dá com o Punho de Ferro. Ele e todos aqueles ninjas mafiosos que aparecem na série são retratados como tão ameaçadores e imparáveis, mas, convenhamos, a polícia de Nova Iorque, com suas armas, pode lidar com esses caras que usam espadas e dão voadoras. Ainda assim, o Punho de Ferro acha que é o único que pode parar essa ameaça por meio de uma troca de socos e chutes.

A verdade é que o poder do Punho de Ferro é bem bobo e, apesar dele ficar repetindo que é O Imortal, ele não tem nada de imortal. Ele só tem superforça e invulnerabilidade em uma mão e isso quando consegue se concentrar. Ele não tem supervelocidade, nem agilidade suficiente pra desviar de uma bala e digamos que algum ninja decepe o braço dele com uma espada. Acabou o Punho de Ferro.

Iron Fist (2017-2018)

O vilão final, Davos, adquire o poder do Punho de Ferro e toca o terror na cidade, amedrontando máfias inteiras. Ora, alguém dê um tiro na cabeça dele que está resolvido. Em vez disso, lá vai o Danny e a namorada trocar socos com ele. Como diria o Laurence Fishburne em John Wick: "Somebody, please, get this man a gun!"

Bom, teve uma personagem que pensou nisso: a Mary Walker (uma versão bem simplificada e sem superpoderes da Mary Tyfoid dos quadrinhos). Ela vai atrás do Davos com um bom e belo rifle.

Mas ok, ok, eu sei que se levassem em conta essa coisa do desbalanceamento entre os superpoderes e armas de fogo, muitas histórias de super heróis não existiriam. O tema do universo do Punho de Ferro é arte marcial, então deixemos os caras serem felizes com seus socos e chutes.

Stan Lee cameo, Iron Fist (2017-2018)
Pelo menos não faltou um cameo do Stan Lee.

Na verdade nem é isso que mais me incomodou na série, mas o curso da narrativa mesmo. Em relação às outras séries do demolidorverso, Punho de Ferro é a mais morgada e entediante, com muita conversa repetitiva sobre a lenda do Punho de Ferro, a tal da cidade mágica de K'un-Lun (que nunca mostraram de fato, mas falaram esse nome exaustivamente), e o mumbo jambo zen sobre equilibrar o chi e etc. É um tédio.

Enfim, a série foi sim cansativa pra mim e não teve nada memorável, nenhum grande vilão ou cena interessante, com uma exceção: curti bastante a luta aleatória com um bêbado, uma homenagem a um clássico clichê dos filmes de kung fu que é a chamada técnica do "punho bêbado". Foi uma luta breve, mas estilosa.

Iron Fist (2017-2018)

Iron Fist (2017-2018)

E falando ainda em armas de fogo, já no finalzinho da série, na última cena da segunda temporada, vemos que o Danny passou por um upgrade de poder. Agora ele tem dois punhos de ferro e que expandem sua habilidade para as pistolas, de modo que ele consegue rebater balas com balas, praticamente virando um Mista do Jojo's Bizarre Adventures. Aí sim o poder dele é capaz de superar caras armados, mas poxa, fizeram isso só no final...

Iron Fist (2017-2018)

Mista, Jojo's Bizarre Adventures


Lucifer Rising ou Que alucinógenos eles tomaram?

Lucifer Rising (1972)

Os anos 70 foram marcados por muita criatividade na produção artística. Há quem diga que o motivo foi a moda do LSD e outras drogas que abriam as portas da percepção, mas a explicação mais provável é o momento histórico. Foi uma década marcada por rupturas com o estilo de vida rígido e focado em trabalho e família. Agora havia mais pessoas dedicadas integralmente à arte, pesquisando, experimentando. 

Entre estas pesquisas e experimentações, houve o interesse crescente por ocultismo (não à toa vemos o polêmico bruxo Crowley retratado em uma das capas dos Beatles). O misticismo em geral sempre foi uma rica fonte de inspiração. Ora, não foram os renascentistas intensamente inspirados pela teologia cristã para produzir sua iconografia em pinturas e esculturas? Séculos antes, os gregos extraíram de suas mitologias também um vasto acervo de temas para a arte e o mesmo se deu no antigo Egito.

Lucifer Rising (1972)
Crowley.

Desta forma, o tarot, a cabala, o renascer do interesse pela simbologia pagã e cristã, misturando todas estas influências em um caldo cultural, deu origem a um material inovador na arte dos anos 70. E dito isto, temos um exemplo em Lucifer Rising (1972).

Produzido por Kenneth Anger, este curta de 30 minutos originalmente teve a trilha sonora criada por Jimmy Page, da banda Led Zeppelin, mas, devido a discussões, Page abandonou o projeto e a nova trilha foi feita por Bobby Beausoleil.

O que dizer do filme? É uma série de cenas com atores fantasiados de personagens mitológicos, deuses gregos e o próprio Lúcifer, misturando, portanto, temas cristãos e pagãos, um sincretismo baseado na obra de Aleister Crowley. O resultado é uma apresentação bem psicodélica, que para a maioria do público não fará sentido algum e que por isso mesmo chama atenção. É o puro cinema experimental.

Lucifer Rising (1972)
A clássica pose do Baphomet.

Limitless, a pílula da inteligência

Limitless (2011)

Edward Morra (Bradley Cooper) é um escritor nada brilhante. Vive em Nova Iorque, cheio de dívidas, sem renda fixa, com dificuldades em escrever o livro encomendado por uma editora e ainda dispensado pela namorada justamente por causa de sua vida instável.

Por acaso é apresentado a uma nova droga na forma duma pílula translúcida, o NZT-48. Informado que ela permite ao cérebro utilizar 100% de sua capacidade, resolve provar na esperança de pelo menos ter inspiração para concluir o livro.

O efeito da droga se mostra bem maior do que ele esperava. Ele adquire uma visão ampla de mundo, uma clarividência. Tudo à sua volta se torna compreensível, previsível, o comportamento das pessoas pode ser deduzido em algorítimos, e sua memória acessa e utiliza qualquer informação que ele já tenha adquirido durante a vida. Até mesmo percebe que sabe lutar simplesmente recordando filmes e documentários sobre luta que assistira ao longo dos anos.

Eddie ainda tem a sorte de conseguir um grande suprimento da droga, de modo que passa a consumir uma pílula por dia e assim se manter sempre brilhante. Obviamente aplica sua nova habilidade para mudar de vida. Torna-se um incrível investidor do mercado financeiro, investe em negócios e até mesmo adquire seu próprio laboratório farmacêutico que usa como fachada pra continuar desenvolvendo a droga para seu consumo.

Mas essa nova vida tem um preço. Existem outras pessoas interessadas no NZT, de modo que Eddie se torna alvo de uma perseguição. Além disso, descobre efeitos colaterais do fármaco que levaram outros usuários à morte, o que significa que ele também pode estar com a saúde em risco.

Limitless (2011)

O tema do filme é algo que já tem até nome, embora ainda pouco conhecido, o transumanismo. Não é uma ideia nova. Pelo contrário, a ficção sempre explorou a possibilidade do ser humano transcender seus limites. Seja um Aquiles banhado em um rio mágico e se tornando um humano invulnerável em batalha, ou um alquimista medieval provando o elixir da vida eterna, ou um homem transformado em máquina de guerra, como o Robocop, ou mutantes como os X-Men, enfim, sempre se imaginou a possibilidade de nos tornarmos super.

Agora com o progresso da engenharia genética, da cibernética e da farmacologia, a ideia transumanista torna-se menos fantasia e mais próxima do possível. Não é tão fictício imaginar uma droga que aumente o desempenho do cérebro, que torne uma pessoa mais inteligente, talvez genial.

De certa forma, um filme como este é uma espécie de profecia, de previsão do que pode vir a ser o homem num futuro próximo, contando com a ajuda da tecnologia, um humano com suas capacidades ampliadas numa espécie de salto evolutivo auto-proporcionado. 

É óbvio que muitos detalhes da história não são verossímeis. A própria afirmação de que o cérebro usa apenas 20% de sua capacidade é uma informação sem embasamento e também não é certo que uma pessoa com o uso pleno de sua inteligência seja como o personagem. 

O filme, lançado em 2011, é baseado na novela The Dark Fields, do escritor irlandês Alan Glynn, publicada em 2001. Em 2015 foi produzida uma série de TV derivada do filme, com 22 episódios (post aqui).

Limitless (2011)


Luke Cage, o rei do Harlem

Luke Cage (2016-2018)

A primeira aparição do Luke Cage nesse universo de séries da Marvel produzidas pela Netflix (o que chamo de demolidorverso) foi na série da Jessica Jones (2015). Em 2016 ele ganharia seu próprio show.

Na primeira temporada, a história de origem do herói é bem contada, mostrando todo seu sofrimento na prisão e a dolorosa transformação por meio de um experimento científico que lembra um pouco o mesmo trauma pelo qual passou Wolverine quando recebeu o adamantium numa piscina fervilhante. Também os efeitos do experimento foram parecidos: Wolverine ganhou um esqueleto invulnerável, Luke Cage ganhou uma pele invulnerável, além de uma força talvez do nível do Capitão América.

Luke Cage (2016-2018)
Uma referência ao uniforme dos quadrinhos.

Bom, apesar de ser forte como o Capitão e duro como o Wolverine, Luke Cage não é lá bom de briga porque lhe falta agilidade e técnica. Suas cenas de luta são bem estranhas porque ele pouco se move, resume-se a distribuir alguns tapas e empurrões. Não que isso seja uma falha da série, ao contrário, desenvolve um estilo de luta do personagem, a luta de um ser robusto e pesado, portanto lento. Há uma coerência na forma que ele faz isso, afinal um ser forte e invulnerável não se daria ao trabalho de aprender sequer a boxear como um profissional. De toda forma, plasticamente o resultado é entediante, as cenas de luta do Luke não têm graça nem emoção.

Quanto à sua personalidade, ele é o mais verdadeiramente heroico de todos os personagens dos Defensores. Jessica Jones é egoísta e tenta fugir da responsabilidade de ser heroica, só assumindo quando não há outro jeito. O Demolidor acha que é herói e que luta pela justiça, mas é narcisista a ponto de pensar que todo o peso o mundo deve ser levado só por ele, que "essa é minha luta e de mais ninguém". O Punho de Ferro, convenhamos, sofreu uma lavagem cerebral dos monges desde criança e simplesmente acredita que é algum tipo de messias semidivino.

Luke Cage, por sua vez, tem a humildade do herói. Ele sabe que é apenas um humano mortal, mesmo tendo poderes, e não se considera portador de nenhuma missão especial, como se fosse um escolhido ou messias, mas demonstra preocupação para com todos que estão à sua volta, para a comunidade do Harlem e até para com os vilões. Ele é o verdadeiro altruísta que nada espera em troca e está sempre se sacrificando pelos outros, mas não por egomania de se achar um messias e sim por se importar.

Luke Cage (2016-2018)
Boca de algodão (que nome hein).

Quanto aos vilões, teve vários. Essa é a série que mais teve vilões nesse demolidorverso. Começou com o Cottonmouth (Boca de Algodão), que já não causa uma boa impressão com um nome desses. A princípio pareceu uma grande aposta, já que foi interpretado por Maheshala Ali, o ator mais conhecido de todo o elenco da série (e que inclusive vai encarnar o Blade num futuro próximo). Cottonmouth poderia ter sido em Luke Cage o que o Rei do Crime foi no Demolidor, mas teve um fim precoce.

Luke Cage (2016-2018)
Lutinha tosca.

Aí apareceu outro vilão, o tosco Diamondback (que desde os antigos quadrinhos do Brasil era chamado de Cascavel e assim ficou também na tradução da série), que usava partes de um exoesqueleto para ampliar sua força e trocar uns socos com o Luke Cage numa luta bem feia e feia no mal sentido. Também esse vilão não durou muito.

Luke Cage (2016-2018)
Outra lutinha tosca.

Na segunda temporada apareceu um vilão jamaicano, o Bushmaster, que era basicamente a mesma coisa que o Cascavel, com a diferença que o Cascavel adquiriu superforça usando gadgets e o Bushmaster usava poções mágicas do misticismo jamaicano. E aí temos mais pancadaria tosca.

Iron Fist and Luke Cage, Luke Cage (2016-2018)
Bromance.

Falando em cenas de luta, teve um momento legal quando Luke se encontrou com o Punho de Ferro. Cercados por capangas, improvisaram um golpe combinado que o Luke chamou de "patty cake" (aquela brincadeira de criança de bater nas palmas umas das outras cantando alguma rima): consistia no Punho de Ferro dar um soco na mão do Luke, criando uma onda de choque. Foi um momento interessante de sinergia entre os dois, como parte do desenvolvimento de um bromance. De fato, há uma química entre ambos.

Além destes vilões primários, teve outros como o policial corrupto Scarfe, mafiosos e tanto policiais quanto presos no tempo em que ele esteve na prisão. No fim das contas, o grande vilão da série foi a dupla Shades e Mariah. Ah, esses sim foram vilões de respeito.

Eles começaram ali como sócios do Cottonmouth, aí a Mariah surpreende matando-o em um ataque de fúria e com Shades assume o negócio. Ao longo das duas temporadas eles vão evoluindo, se envolvendo na trama, manipulando os acontecimentos e os outros vilões. Eles se tornam a raiz profunda do mal.

Luke Cage (2016-2018)
Não se engane com essa carinha. Ela vai te matar ou te manipular ou manipular e depois matar.

A Mariah é a parte mais interessante dessa dupla. Com uma história traumática, abusada na infância, ela vai se transformando ao longo da série, despertando cada vez mais o seu lado vilão e também badass. Quando é presa pela primeira vez, por exemplo, a umas detentas jogam combustível nela a fim de atear fogo e ela não implora nem demonstra medo, ao contrário, grita com elas um "do it!", pronta a aceitar seu fim, mas diante de uma oportunidade mata a líder do bando, mostrando aí que se tornou uma verdadeira valentona. 

Diferente do Cottonmouth, que no começo parecia ser o fodão do pedaço e simplesmente morreu, Mariah parecia uma senhorinha indefesa, que participava da máfia, mas sem usar as próprias mãos, e com o tempo foi ficando mais cruel e mais forte, além de ter um gênio para a manipulação. Verdadeira vilã.

O final da série é interessante, pois após passar por toda a sua jornada de herói altruísta e sofredor, Luke Cage é coroado, se torna rei do Harlem, uma espécie de chefão do bem, herdando da própria Mariah o império.

Luke Cage (2016-2018)
O rei do Harlem.


Final Space

Final Space

Conheci esse desenho por meio das recomendações da Netflix. No trailer me pareceu ter um ar de Rick and Morty e foi por isso que resolvi assistir.

A série teve origem em um curta de 2016, dirigido por Olan Rogers. Em 2018 foi lançada a série propriamente dita, com 10 episódios na primeira temporada. A segunda temporada ainda está em produção.

Final Space

O humor é levemente sarcástico e até flerta brevemente com humor negro e violência, mas no geral é muito mais ameno do que eu esperava e também menos engraçado. 

A primeira temporada só fica boa mesmo no finalzinho quando ganha um ar mais cósmico, quase lovecraftiano, ao envolver criaturas extra-universais que vivem em um mundo surreal (o tipo de coisa que se vê em praticamente todo episódio de Rick and Morty).

Final Space

Puran File Recovery, a minha salvação

Puran File Recovery

Conheço o Puran há alguns anos, desde os áureos tempos do Baixaki, antes da atual era dos apps, quando ainda chamávamos os aplicativos de softwares ou programas. Esses programas de manutenção eram mais populares, como o CCleaner, para limpar arquivos temporários, cookies e outros lixos do sistema; e os recuperadores de arquivos excluídos, como Undelete, Recuva e Puran.

Já usei recuperadores de arquivos algumas vezes no passado, mas na última década nem lembro de ter precisado novamente. A razão disso é que se tornou cada vez mais fácil manter backup na nuvem ou dispositivos como HD externo, pen drive, etc. 

Mesmo assim aconteceu. Eu tinha um HD que usava só para backups e um dia algo deu errado e o HD ficou corrompido. Às vezes basta uma minúscula falha no sistema de indexação (que faz com que os arquivos sejam reconhecíveis, como um catálogo do conteúdo do disco), então eles continuam ali, só que o sistema não consegue encontrá-los e mostra o HD como se estivesse vazio.

E assim, após vários anos sem precisar de um recuperador, voltei ao Baixaki em busca deles. Testei uns 3 ou 4. Alguns acharam pouquíssimo conteúdo, outro acharam até mais, porém não preservavam nem mesmo a árvore de pastas, fazendo uma enorme bagunça com os arquivos. Enfim, foi no Puran que consegui a recuperação total e sem bagunça, tudo nas suas devidas pastas e subpastas.

É interessante que o aplicativo já está beeem desatualizado. A última versão é de 2013, mesmo assim funcionou perfeitamente no Windows 10. A interface é bem simples, não oferece mil recursos. Vai direto ao ponto. Você escolhe o dispositivo, manda scanear, ele mostra o que encontrou e você escolhe o que salvar.

Um update neste post um ano depois

Windows File Recovery

Eis que agora em 2020 a Microsoft finalmente lançou seu próprio recuperador, o Windows File Recovery, instalável pela Windows Store no Windows 10. Não cheguei a testar, mas é bom saber que agora existe um recurso nativo do Windows para socorrer em caso de perda de arquivos.

Daredevil, o Arrow da Marvel

Daredevil (2015-2018)

Em 2012 a DC, por meio da CW, lançou a série Arrow. A partir dela foram surgindo outras como Flash (2014) e Supergil (2015) e a equipe Legends of Tomorrow (2016), de modo que se formou um micro universo da DC nestas séries, o arrowverso.

Com Demolidor aconteceu algo parecido. Produzido pela Netflix em 2015, depois dele vieram as séries da Jessica Jones (2015), Luke Cage (2016), Punho de Ferro (2017) e o crossover destes quatro em Os Defensores (2017). Além disso, do Demolidor ainda saiu um spin-off do Justiceiro (2017). Desta forma temos um demolidorverso.

O ator a interpretar o Homem sem Medo é pouco conhecido, Charlie Cox. Ele foi o protagonista Tristan no filme Stardust (aquele baseado num livro do Neil Gaiman). Seu companheiro Foggy é interpretado por Elden Henson, que pode parecer um ator novato, mas na verdade tem uma longa carreira que remonta até o começo da década de 80.

Daredevil (2015-2018)

E temos a Karen Page, assistente da dupla, interpretada pela bela Deborah Ann Woll, até então conhecida pela participação na série vampiresca True Blood. A Karen Page, aliás, é uma das personagens mais importantes de todo esse universo da Netflix.

Ela começa como vítima de um atentado, sendo salva pelo Demolidor, e vai se envolvendo numa espiral de perigos, chegando a matar ninguém menos que o braço direito do vilão Wilson Fisk. A melhor parte, porém, é já na última temporada do Demolidor, quando a sua história familiar é contada, mostrando o passado problemático que ela teve e sempre a assombrou.

Daredevil (2015-2018)
Ero Sennin e Naruto... Não pera.

Outros personagens importantes do universo do Demolidor são o Stick, um velhinho cego e badass que foi o mestre do jovem Matt Murdock (bem retratado na minissérie de Frank Miller, O Homem sem Medo, de 1993-1994); Elektra, que aparece na segunda temporada e se torna a vilã da série dos Defensores; e o Mercenário, grande nêmesis do Demolidor nos quadrinhos, aparece na terceira temporada.

Elektra e Mercenário foram vilões razoáveis, mas o Wilson Fisk, o Rei do Crime (Kingpin), foi o melhor vilão de todas estas seis séries da Netflix, graças ao primoroso trabalho do Vincent D'Onofrio, o ator com a melhor filmografia de todo o elenco desse universo, um ator literalmente de peso, pois chegou na série com um corpanzil gigante, bem adequado ao personagem que nos quadrinhos é uma espécie de "gordo musculoso", o famoso "fordo" (forte e gordo).

Daredevil (2015-2018)
Shippei.

Do tom de voz à postura, Wilson Fisk marca presença. Seu comportamento cheio de sutis nuances varia de uma calma introvertida com um ar poético e tímido (principalmente quando flerta fofamente com Vanessa), até momentos de fúria psicopata que convencem, que são intensos, mas não parecem overacting. Tô falando, o cara mandou muito bem e não à toa seu personagem esteve presente nas três temporadas, mesmo que cada temporada tivesse o seu vilão da vez.

Jon Bernthal as the Punisher, Daredevil (2015-2018)

Outro que brilhou na série foi o Jon Bernthal, outrora conhecido como o Shane de The Walking Dead, ele encarnou o anti herói Justiceiro de um jeito tão badass e natural que superou qualquer outra tentativa de interpretar o personagem (O Justiceiro teve filmes em 1989, 2004 e 2008, todos bem tosquinhos).

Ele mandou tão bem que o Justiceiro ganhou sua própria série logo em seguida. As cenas de tiroteio e luta do Justiceiro são as melhores de toda a série. Ele é uma espécie de Jon Wick meio bruto, sem a fineza dos movimentos do Jon Wick, mas ainda com uma grande habilidade tática.

Falando em ação, uma coisa que tem aos montes nesse universo é parkour pelos edifícios e lutas com ninjas. No começo até chamou atenção todo esse trabalho físico, as lutas em corredores e tal, mas com o tempo ficou repetitivo. Quem quebra esse marasmo é justamente o Justiceiro. Todos os combates dele são marcantes, como a cena no corredor da prisão em que trava uma luta "feia" e mortal com os detentos.

No fim de tudo, a gente se apega tanto ao carisma do Rei do Crime que é satisfatório ver que ele teve um final digno, de certa forma até heroico, já que se sacrifica por sua amada Vanessa. Aliás, Wilson e Vanessa são o melhor casal de todas estas séries do demolidorverso


Os Defensores, o primeiro crossover das séries da Marvel

The Defenders (2017)

Enquanto no cinema a Marvel ao longo a última década desenvolveu seu ambicioso e bem sucedido MCU (Marvel Cinematic Universe), na TV e streaming as suas séries foram na maioria dispersas e pouco relacionadas ao MCU ou entre si.

Na verdade começaram tentando criar esse vínculo entre filmes e séries com Agents of SHIELD (2013), que de fato manteve um diálogo constante com os eventos dos filmes dos Vingadores. Depois veio Agent Carter (2015-2016) como um spin-off dos filmes do Capitão América, mas essa tentativa de expandir o MCU para as séries parou por aí.

As demais produções foram isoladas em si mesmas, como Inumanos (2017), Legion (2017), The Gifted (2017), Runaways (2015) e Manto & Adaga (2018).

Por outro lado, a Netflix tomou essa iniciativa de produzir suas séries originais licenciadas da Marvel em um universo coeso, começando com o Demolidor (2015-2018), seguido por Jessica Jones (2015-2019), Luke Cage (2016-2018) e Punho de Ferro (2017-2018).

O entrelaçamento entre estas séries foi muito bem construído. A primeira aparição do Luke Cage, inclusive, foi em Jessica Jones. Alguns personagens secundários também estavam presentes em todas elas, como a enfermeira Claire, a advogada Jeryn, a policial Misty, o Stick, etc.

Há inúmeras referências cruzadas a eventos e vilões como o Tentáculo e o Rei do Crime. Além disso, o Justiceiro, que foi antagonista do Demolidor, ganhou seu spin-off próprio (2017-2019), totalizando 5 séries solo desse micro universo da Marvel na Netflix.

O cruzamento definitivo de eventos enfim ocorreu no crossover Os Defensores (2017), quando os quatro protagonistas se reúnem para enfrentar um inimigo comum, o Tentáculo. Cronologicamente, a história se passa depois da segunda temporada do Demolidor e da primeira temporada de Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro. A série também conta com a antagonista Elektra, que havia sido apresentada no Demolidor.

A ideia do crossover era boa e quando foi anunciado provocou muta hype, afinal uma série reunindo personagens de outras séries era o equivalente televisivo aos filmes dos Vingadores no cinema, mas a execução foi mediana. Teve muitas cenas de pancadaria, briga em bar, briga em corredor, briga no subsolo onde tudo termina numa batalha contra ninjas. De toda forma, foi interessante ver a interação entre os quatro personagens e seus respectivos mundos.

The Defenders (2017)


Demônios

Ó meus demônios,
que estranha relação nós cultivamos...
Ora são meus inimigos
que me assombram em meus sonhos,
ora são os conselheiros
me salvando da indecisão.
Quando estou no escuro abismo,
quem permanece comigo?
Quem segue ao meu lado pelo túnel escuro
e na saída me entrega para a luz?
São vocês, ó meus demônios,
que conhecem o meu labirinto,
que passeiam no recôndito
do meu hadeano mundo íntimo.

(17,07,2019)

O dia em que joguei DOTA 2

DOTA 2

Certos tipos de jogos são bem ciumentos e oferecem tanto conteúdo que é comum os jogadores se dedicarem exclusivamente a eles. O primeiro grande exemplo disso foram os MMORPGs. Surgidos há mais de vinte anos, oferecem todo um mundo para ser explorado, com missões, locais de caça, cidades cheias de lojas, NPCs e jogadores. 

Há muita coisa pra fazer, pra se descobrir, aprender. O desenvolvimento do personagem pode levar meses ou anos e em alguns casos não tem fim, já que geralmente os MMORPGs não podem ser zerados. É uma vida contínua e as desenvolvedoras podem passar anos ou décadas acrescentando atualizações com mais e mais conteúdo.

Não à toa os jogadores de MMORPG ganham até apelidos identificando-os numa espécie de tribo. O jogo se torna parte da identidade dos players, dado o tempo que dedicam a ele. É o caso dos wowzeiros (jogadores de World of Warcraft) e tibianos (de Tibia). 

Na última década surgiu um novo gênero que também formou seu nicho com uma dedicação integral: o MOBA. Os dois mais famosos são o League of Legends (LoL) e DOTA. Estes jogos estão entre os mais populares do mundo, com uma frequência diária de milhares de pessoas, possuem campeonatos que envolvem muito dinheiro e proporcionam uma audiência enorme nos canais de streaming.

Basicamente, um MOBA é um xadrez moderno e mais complexo. Você controla os bonequinhos num mapa, como peças em um tabuleiro. Há várias classes de bonecos com suas diferentes habilidades e em cada partida você vai comprando recursos para incrementar o desempenho deles. 

E assim como o xadrez é um jogo que nunca enjoa e você pode jogar a vida toda, também o MOBA oferece uma experiência de aprendizado contínuo, pois há muitos personagens e estratégias possíveis. Não à toa os jogadores medianos chegam a ter mil horas de jogo. Os profissionais, então, nem se fala.

Quando um dia resolvi experimentar o DOTA, isso já ficou claro na primeira partida. Enquanto fazia o tutorial, já tinha essa impressão de que os conceitos básicos são simples e dá pra aprender em uma hora de partidas, mas há tantos detalhes que exigem tempo e prática que eu posso levar meses ou anos até sentir que estou dominando essa arte.

Até hoje, o jogo ao qual mais me dediquei foi justamente um MMORPG, o Runescape. Conheci em 2010 e segui jogando ao longo dos anos, às vezes todo dia, às vezes dava uma pausa de semanas ou meses ou até um ano inteiro, até que batia uma saudade e lá estava eu de volta. 

Depois de uns 5 anos nesse "relacionamento", justo quando criei uma conta na Steam, resolvi ser menos monogâmico e passar a experimentar uma variedade maior de jogos, um joguinho indie simples numa semana, outro mais complexo poderia durar um mês, etc, 

É por isso que agora não tenho mais disposição pra experimentar jogos que demandam tanto tempo e dedicação. Quero variar e ser mais casual. Então desinstalei o DOTA. 

DOTA 2


O dia em que joguei Fortnite

Fortnite

Fortnite é um jogo relativamente recente. Foi lançado em 2017, alguns meses depois de Playerunknown's Battlegrounds e com o claro objetivo de concorrer com este no gênero battle royale.

O Playerunknown's Battlegrounds popularizou o battle royale, uma espécie de arena em que uma quantidade de limitada de jogadores começa em um cenário e devem explorar o mapa pra conseguir armas e equipamentos e é um mata-mata geral, de modo que o último a ficar vivo ganha a partida.

Esse tipo de jogo virou uma mania nos streamings desde então e a Epic Games não perdeu tempo e entrou logo no mercado com o Fortnite. O Playerunknown's Battlegrounds (um dos piores títulos já dados a um jogo, tanto que todos preferem chamar de PUBG ou PUB) tem um visual mais "realista", tradicional de jogos de tiro, como um Counter Strike.

Já o Fortnite é mais "infantil" na estética. Os cenários e skins são mais coloridos e descontraídos e os personagens podem performar várias dancinhas, algo que se integrou tão rapidamente na cultura nerd que uma das danças famosas do Fortnite foi reproduzida pelo Shazam no filme de 2019. Fortnite gerou memes e neste sentido é bem mais popular que PUBG.

Shazam Fortnite dance

Eu nunca havia jogado um battle royale. Na verdade, minha experiência com jogos de tiro envolve apenas alguns singleplayers e o multiplayer que mais joguei foi Team Fortress 2, onde já acumulei algumas centenas de horas.

Não tenho intenção de jogar like a pro. Jogo casualmente, uso um computador modesto e um mouse de 20 Reais, mas acho que tenho um nível mediano de habilidade. Nem noob nem pro. No Team Fortress me aprimorei bastante na maioria das classes (acho que só não me acostumei ainda a Sniper e Spy nem me interessou por ser muito melee based, o que é estranho em um jogo de tiro).

Diante disso, eu já sabia que a experiência em Fortnite seria bem diferente da que tive em Team Fortress, pois já estava um tanto familiarizado assistindo alguns streams. A primeira diferença é o tamanho do mapa. O Team Fortress é para partidas rápidas e focadas, o mapa pequeno evita que você perca o objetivo. Assim não há desperdício de tempo. O negócio é avançar no mapa e matar quem estiver no caminho. 

No Fortnite, minha primeira impressão foi: "E agora, pra que lado eu vou?". Não existe nem mesmo tutorial. Um jogador que começa do zero é simplesmente largado no mapa e tem que se virar. Largados e pelados. Por isso é preferível jogar com um pequeno time ou no mínimo em dupla com alguém mais experiente, sendo "carregado" por ele enquanto se acostuma com o ambiente. Se você quer aprender solo, vai ser bem mais difícil e demorado.

Acho que basicamente foi isso que me convenceu logo na primeira impressão de que esse não era meu tipo de jogo de tiro. Gosto de mapas grandes em singleplayer, porque posso passar horas explorando, como foi o caso da franquia Borderlands. Eu adorava vasculhar cada canto daqueles mundos. Mas em uma partida competitiva, com o tempo correndo, sinto que todo aquele mapa é um desperdício de espaço.

E sim, também a cosia da construção. Esse é um diferencial de Fortnite que alguns adoram e outros odeiam. Eu simplesmente achei que era uma feature que adiciona mais uma camada de complicação, mais uma ferramenta que demanda muitas horas de uso para você pegar o jeito. Eu acho que é uma vantagem, um recurso a mais na jogabilidade, aberto a infinitas possibilidades dependendo da criatividade do jogador.

Pelo que acompanho sobre Fortnite, noto que tem sido tratado com bastante carinho pela desenvolvedora. Um bom exemplo são as temporadas, periodicamente lançando updates com novos desafios e temas especiais. Além disso, um jogo que tem o Thanos e skin de John Wick não pode ser ruim.

Algo que me chamou atenção é o nível de otimização do software. Meu computador é mediano, roda o Team Fortress, por exemplo, numa média de 20-30 FPS com os gráficos na qualidade mínima, mas estamos falando de um jogo de dez anos. Os mais recentes estão cada vez mais pesados por causa da riqueza de detalhes gráficos, da robustez da engine, etc, mas eles conseguiram criar camadas de qualidade para todos os níveis e nem precisei mexer em nada. Automaticamente a qualidade se ajustou ao meu computador, ficou com um visual mais simples, claro, mas ainda bonito, e rodando tranquilamente, sem lags. Isso obviamente permite que o jogo seja acessado por uma quantidade enorme de pessoas que, como eu, não têm uma máquina potente.

De toda forma, pra mim não bateu aquele amor. Não por ser ruim. Ao contrário, considero-o excelente e seu sucesso é merecido, mas não encaixou no meu gosto.

Fortnite