Esta é uma história com toda a beleza e teor de um conto de fantasia. Acontece em um mundo onde duas terras sobrepostas coexistem regidas por leis da gravidade bem peculiares e uma ordem social governada por uma poderosa corporação.
Este mundo é dividido em duas castas, a superior e a inferior. Elas não se misturam não apenas por força das leis, mas também da própria natureza, pois quem pertence a um planeta se mantém fixo nele, de modo que temos uma espécie de planetas espelhados, onde as pessoas literalmente andam de cabeça pra baixo em relação às do mundo paralelo.
O resultado é um cenário impressionante, produzido com uma linda fotografia. O mundo superior é moderno, cheio de arranha-céus, próspero. O mundo inferior é decadente, suburbano, sombrio. Acontece então um encontro entre Adam (Jim Sturgess) e Eden (Kirsten Dunst), que mantêm um primeiro contato à distância, cada um vendo o outro de ponta cabeça.
Separados pelo tempo, pelos planetas, por acidentes, pelas vicissitudes da vida e o obstáculo social (uma vez que Eden é do mundo superior e Adam do inferior), vão se envolver numa saga para se reencontrarem, desafiando toda a ordem estabelecida. Um amor estilo Romeu e Julieta ou A Dama e o Vagabundo, enfrentando preconceitos e costumes.
Não bastando a beleza estética do filme, a história muito criativa e fantástica de mundos paralelos que quase se tocam e o amor transcendente entre duas almas gêmeas de mundos opostos, existe um elemento mitológico, retirado dos mitos bíblicos e gnósticos.
Os nomes dos personagens já deixam isto claro. Adam é o Adão, o ser da terra de baixo (a palavra hebraica adamah significa terra), enquanto Eden é o Éden, o jardim sagrado, superior. A união de Adam e Eden é o símbolo do casamento do paraíso com o mundo caído, do céu e do inferno. Assim na terra como no céu.
A corporação que impõe seu reinado opressor é como o deus maligno do gnosticismo, o demiurgo, um deus que moldou um mundo de dores. A saga romântica de Adam e Eden é também uma luta mitológica sobre a queda da humanidade. Segundo o mito bíblico e gnóstico, a humanidade já viveu dias de glória, mas caiu e agora precisa se lembrar de seu antigo estado de beleza e alegria e buscá-lo novamente.
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