Bem, já falamos sobre os primeiros quatro anos dos Novos Mutantes (aqui), agora continuemos a partir de 1986:
O ano já começa com uma mudança radical: o professor Xavier passou a liderança da escola para ninguém menos que Magneto (uma consequência das Guerras Secretas), o cara que até então tinha sido o maior antagonista dos X-Men. O roteiro continua com Chris Claremont e a arte passa para Mary Wilshire, enquanto Bill Sienkiewicz, já em fase de despedida, fica na arte final.
Claro que a equipe no começo não gosta dele, mas certa noite a Danielle Moonstar é quase estuprada por uns caras e o próprio Magneto vai até eles tirar satisfação. Essa atitude firme e protetora dele faz com que os jovens comecem a mudar de opinião sobre o novo professor.
Detalhe que quando Danielle é atacada pelos homens, é salva por seu novo cavalo alado, Ventania (Brightwind), que ela ganhou lá na saga das Guerras Asgardianas, quando se tornou uma espécie de amazona.
E novamente há uma breve aparição do Beyonder, o ser transcendente que aterrorizou o universo Marvel nas Guerras Secretas II. Dessa vez ele resolveu "exorcizar" a Illyana, livrando-a de seu lado infernal e ela ficou muito grata por essa salvação, mas o efeito colateral foi que o Limbo saiu do controle, demônios apareceram na Terra e o poder mágico da Illyana passou pra Kitty, que não soube controlar essa bagunça toda. A solução foi Illyana retomar seu poder mágico.
Interessante a referência a Arthur Clark para explicar as intenções do Beyonder.
A capa desta edição 36 foi desenhada por ninguém menos que Barry Windsor-Smith, um artista com um estilo elegante e que ficou famoso desenhando nas revistas do Conan.
Na edição 37 há uma breve aparição da Mulher Hulk apenas pra ostentar sua força e beleza e finalmente acontece um "combate" entre os Novos Mutantes e o Beyonder. Claro que o ser que pode destruir o universo com um pensamento estava apenas brincando com eles.
A edição 38 teve como desenhista Rick Leonardi, um cara que me marcou enquanto leitor de quadrinhos porque foi um dos primeiros desenhistas que conheci lá por volta dos meus 11-12 anos, quando comecei a comprar revistinhas. Na época ele desenhava o Homem-Aranha 2099, que então acompanhei desde a primeira edição.
A apatia dos personagens como fruto do trauma pós-Beyonder foi uma ideia sensacional de Claremont. Tanto no desenho como nos diálogos dá pra ver como eles se tornaram pessoas sem vida, que dizem ok pra tudo com um olhar vazio. Só mesmo uma mente agressiva como a de Emma Frost pra acender de novo uma fagulha nessas almas apagadas. Também dá pra ver que, mesmo com toda sua vilania, a Emma Frost, assim como o Magneto, se preocupa com os jovens mutantes e cuida deles.
Na edição 40, com desenhos de Jackson Guice, os Vingadores simplesmente acreditam em um trote de telefone da Emma Frost e vão atrás do Magneto. Afinal, toda revista de super heróis que se preze promove umas pancadarias gratuitas que uma simples conversa resolveria. Magneto, mesmo evitando a luta, consegue se virar contra o Capitão, Hércules e aguenta até um sopapo do Namor.
Outro detalhe a se notar nessa luta é que o poder magnético de Magneto não tem efeito no escudo do Capitão, mas esse é o tipo de coisa que varia de história em história de acordo com o que convém ao roteirista.
Seguem dois fillers focados nos co-líderes da equipe. Uma edição é dedicada à Danielle, que visita sua família e tem um duelo com a própria Morte (pois como valquíria ela tem o poder de ver a Morte) para salvar um amigo. Na edição seguinte é Sam quem visita a família e salva Lila de um acidente. É legal esses fillers porque ajudam a desenvolver os aspectos afetivos dos personagens.
O desenho dessa edição foi de Steve Purcell, mas depois Jackson Guice retorna e continua até a edição 48. Quanto às capas, desde o número 36 estavam nas mãos do excelente Barry Windson-Smith que segue fazendo as capas até o número 48.
Então temos o retorno de Legião, que por um momento cede o controle de seu corpo para a sua personalidade sacana e lá vão os Novos Mutantes detê-lo. Nesse breve confronto se nota mais uma vez como a Illyana pode ser poderosa dentro de seu território, pois ao levar Legião para o Limbo, facilmente conseguiu dominá-lo.
A edição 45 traz uma história isolada e bem dramática focada em um rapaz que se descobre mutante e começa a sofrer bullying a ponto de cometer suicídio. Destaque para a capa que faz parte das comemorações de 25 anos da Marvel em 1986.
Nesse período é lançado o Novos Mutantes Anual, número 2, com roteiro de Claremont e desenho de Alan Davis. É a primeira aparição de Psylocke, que na ocasião é raptada por Mojo para participar de um de seus programas sádicos de TV. Parte dos Novos Mutantes também é raptada, e os demais, com ajuda do Capitão Britânia (irmão de Psylocke), vão salvá-los.
Na última edição de 1986, os X-Men e alguns Morlocks aparecem na escola bastante feridos por causa da batalha contra os Carrascos (saga Massacre dos Mutantes), ao mesmo tempo os Novos Mutantes se deparam com uma grande ameaça: o pai de Warlock, Magus.
Karma, Magma, Mancha Solar e Lupina vão parar em um futuro apocalíptico dominado pelos sentinelas, o mundo da saga Dias de um Futuro Esquecido (publicada na clássica Uncanny X-Men, números 141 e 142, em 1981). Como nada tem a perder e aquele mundo está tomado por Sentinelas, Magma aproveita a oportunidade pra usar seu poder ao máximo, criando um vulcão na ilha de Manhattan. Ela, de fato, é uma das mutantes mais poderosas, afinal, estando conectada ao planeta, em tese é capaz de destruí-lo por meio de tectonismo, pode despertar terremotos, vulcanismo, etc.
Míssil, Cifra, Miragem e Warlock vão para outro futuro que é o inverso daquele que o outro grupo conheceu. Aqui os mutantes dominam a humanidade. Se tornaram a elite vivendo na cidade alta, enquanto os humanos são marginalizados. Neste futuro encontram versões mais velhas de Sam e Danielle, que atuam na resistência contra a tirania, enquanto Roberto se tornou o próprio ditador, acompanhado por Magma. Também na resistência está Katye Power, que quando criança era parte do Quarteto Futuro e agora, já idosa, é a única que restou do grupo.
A edição 50 vem com tamanho duplo (40 páginas, com capa de Rick Leonardi) e encerra esse arco de maneira épica. De fato, foi o melhor arco da revista até então. Com o Limbo tomado pelo vírus do Magus, Illyana foge se teleportando e acaba em algum planeta alienígena, é vendida como escrava e coincidentemente seu caminho se cruza com o de Xavier, que na época estava exilado no espaço com Lilandra, a imperatriz Shiar, e os Piratas Siderais (é, parece uma versão da aliança rebelde de Star Wars, sendo Lilandra a princesa Leia).
Xavier então tem oportunidade de fazer o que faz de melhor. Apesar de seu poder telepático ter um grande potencial ofensivo e destrutivo, a melhor performance de Xavier é quando ele dá suporte aos outros mutantes. Primeiro ele telepaticamente orientou a mente de Illyana de modo que ela se teleportasse com precisão, podendo resgatar os Novos Mutantes desgarrados no futuro. Todos são reunidos em algum planeta distante, mas logo aparece Magus destruindo tudo. Warlock até tenta enfrentar o pai, mas sozinho não consegue.
Xavier orquestrou toda a batalha agindo nas mentes dos alunos. Despertou o poder de Magma pra que o planeta resistisse ao ataque de Magus, aumentou o poder de Karma que por um momento conseguiu dominar a mente do monstro e motivou o Cifra a usar seu poder linguístico. De fato, pela primeira vez o Cifra foi realmente útil, hackeando o código de Magus, fazendo-o regredir a um estágio infantil.
Finda a batalha, os Novos Mutantes se teleportam de volta à escola onde treinam na sala de perigo simulando uma luta contra os Carrascos. Illyana prefere ir para o Limbo onde continua tentando acabar com a rebelião de seus demônios que, liderados por Sym, tomaram o Limbo desde que Magus os transformou em seres tecnorgânicos. Magneto e Tempestade secretamente se tornam membros do Clube do Inferno.
Magneto continua mostrando o quanto se importa com seus alunos. Ele visita Illyana que está deprimida no quarto e ela o leva até o Limbo pra que ele veja o tamanho do problema. Ele então oferece ajuda e ela se sente motivada a continuar essa batalha pessoal.
Em uma pausa nas grandes aventuras, Magneto leva os Novos Mutantes para uma festa no Clube do Inferno. Pois é, obviamente a turma não se sente muito à vontade, mas é uma boa ocasião pra desenvolver os personagens e mostrar como lidam com aquele ambiente esnobe e maligno. Illyana parece bem à vontade, afinal foi criada por um demônio. Doug até aproveita pra jogar poker numa cena bem James Bond. Acabam aceitando um desafio dos Satânicos para caçar a Víbora e o Samurai de Prata. Karma abandona o grupo para procurar por seus irmãos.
Neste período é lançado o Novos Mutantes Anual 3, quando Warlock conhece o brincalhão Homem Impossível e ambos duelam amistosamente. O desenho é de Alan Davis e roteiro ainda de Claremont.
Vários desenhistas são convidados nas edições seguintes. Kevin Nowlan na 51, Rick Leonardi na 52 e 53 e na revista 54 Sal Buscema nostalgicamente retorna. Um dos primeiros desenhistas da série volta para uma última parceria com Chris Claremont, já que este também entregará a revista. A partir da edição 55, Louise Simonson assume o roteiro, com desenho de Bret Blevins.
Tem início um arco que para mim foi o pior da revista até então. Os Novos Mutantes ficaram literalmente brincando com uma criatura chamada Menino Pássaro, dando comida, provando roupas, levando em lanchonete, cinema, tentando se comunicar. Foi uma história bem bobinha que se arrastou da edição 55 até a 60. Além disso, acho o traço de Bret Blevins bem feinho.
Nesse tempo, Warlock e Beto estavam de férias, Karma procurando os irmãos e Magma resolveu se mudar pro Clube do Inferno. Com Magneto então ficaram Miragem, Míssil, Magia, Lupina e Cifra. Neste período estava acontecendo o evento A Queda dos Mutantes (Uncanny X-Men 225-227 e X-Factor 24-26).
Seguindo o tal Menino Pássaro, os Novos Mutantes vão parar em uma selva onde um cientista maluco, Animator, faz experimentos com animais. Em meio à luta, Cifra é morto. Conseguem salvar os animais e voltam pra escola. Magneto dá uma grande bronca neles e Illyana, furiosa com a morte de Doug e a possível morte de Colossus (durante a Queda dos Mutantes), por um momento entra em sua forma demoníaca. Uma bela forma, convenhamos.
A partir da edição 62 as histórias finalmente voltam a melhorar. Nesse número, Louise Simonson desenvolve um interessante momento entre Magma e Empata, que viajam para a Nova Roma e sofrem um acidente de avião. Enquanto tentam sobreviver na selva, vão se conhecendo melhor e temos oportunidade de entender mais o poder e a personalidade de Empata.
O seu jeito manipulador e sádico é apenas uma camada, pois ele também é inundado pela percepção dos sentimentos das outras pessoas, o que deve ser uma experiência bastante estressante e confusa. O desenho é de Jon J. Muth, que tem um estilo bem diferente, com traços limpos e uma anatomia mais realista.
Bret Blevins retorna ao lápis no número 64. Warlock, que nada entende das coisas dos humanos, ingenuamente rapta o cadáver de Doug e sai sustentando ele por aí como um fantoche morto-vivo, numa história meio Um Morto Muito Louco.
Nesse período é lançado o Novos Mutantes Anual 4, com roteiro de Louise Simonson e desenho de June Brigman (e arte-final de Bob McLeod, o co-criador dos Novos Mutantes). Magma é capturada pelo Alto Evolucionário, o mais poderoso geneticista da Terra. Os Novos Mutantes, com Magneto e o Clube do Inferno, vão resgatá-la. Na ocasião, Miragem aprende a moldar objetos sólidos com sua imaginação.
No número 65 Magia continua furiosa e vai atrás de Forge em busca de vingança, sendo seguida pelos Novos Mutantes. Acabam enfrentando a Irmandade dos Mutantes (Blob, Pyro, Spiral, Mística, Avalanche, etc.), que mudou de nome para Freedom Force.
Na edição de número 66, nada mais adequado que um confronto de bruxos. Magia ataca Forge com toda sua força de Filha do Inferno, mas desiste quando se depara com a imagem dela mesma tomada pelo mal. A vingança não vale o custo de se tornar um monstro. A vidente Sina, que estava com Mística, prevê que Magia trará o inferno à Terra. Isso de fato vai acontecer nas edições 71-73.
Então vem um arco espacial nas edições 67-70 (esta última com desenho de Terry Shoemaker). Lila é capturada por aliens mercadores de escravos e Sam convoca o grupo para resgatá-la. No espaço, conhecem Gosamyr, uma bela alienígena que tem poderes de manipulação e faz com que os Novos Mutantes discutam entre si, mas ela apenas queria ajuda para libertar sua família dos mercadores. Tudo se resolve quando Lila se sacrifica teleportando os aliens junto com ela para o sol.
Enquanto isso, Magia está cada vez mais problemática, se transformando muito na sua versão demoníaca, a Filha do Inferno, e o próprio Limbo está fora de controle, tomado por demônios. Isso vai desencadear o próximo arco: Inferno.
O número 70 encerra o ano de 1988. A seguir falaremos dos números 71 a 100 (aqui).
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