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Megalobox, o Ashita no Joe cyberpunk

Megalobox (2018)

Megalobox foi um dos animes mais premiados de 2018. Foi por causa dessa reputação que resolvi assistir. A primeira impressão é de que se trata de uma produção realmente caprichada. O desenho é bonito, o cenário bem detalhista e as lutas têm um aspecto realista.

Mas confesso que o anime em si não me interessou muito. O protagonista é plano, não tem uma profundidade. Basicamente é um underdog, como o Rocky, mas sem a profundidade e sabedoria do Rocky. É apenas um cara orgulhoso que é motivado pelo simples desejo de vencer as competições.

Quanto a seu desejo de participar da competição Megalonia, acontece por causa de uma mera ocasião em que se desentende com o campeão mundial, Yuri, e instantaneamente se tornam grandes rivais. É uma rivalidade que não tem base, não foi bem construída. São só dois caras orgulhosos que implicaram um com o outro.

Por outro lado, existem alguns personagens secundários bem construídos. É o caso de Aragaki, ex-discípulo de Nanbu. Ele era um lutador talentoso, mas interrompeu a carreira para servir em uma guerra onde sofreu um atentado a bomba, perdendo as pernas. Em flashbacks vamos acompanhando a história dele, como tentou suicídio e foi salvo por uma lembrança do velho amigo, ao mesmo tempo guardava rancor e quis se vingar no novo aluno de Nanbu, o Joe. 

Então durante a luta Aragaki vai se transformando, dá pra ver na sua expressão como ele começa cheio de ódio e frieza e vai abrindo a mente, até que alcança a redenção de sua mágoa e abandona a luta, se rende. Foi um gesto que o tornou muito mais nobre e grandioso que o Joe, cuja única motivação é lutar e vencer. Aragaki sabe perder, sabe recomeçar. Isso é um personagem profundo.

Megalobox (2018)
Aragaki. Isso sim é um grande personagem.

Existe um clichê que me irritou por ser bem repetitivo: em várias lutas acontece deles pararem o soco no ar bem no momento em que toca o sino de fim de round. Este tipo de gesto era pra ser uma coincidência que acontece raramente, mas ficou mesmo banal por se repetir demais. 

Megalobox (2018)
Saved by the bell.

Outra coisa repetitiva nas lutas é que o Joe sempre cai semiconsciente e levanta no último segundo. Esse recurso dramático em histórias de boxe é interessante se acontece uma vez ou outra, mas se se torna frequente perde a graça. Por fim, tem outro elemento que se repete muito que é a risadinha meio debochada e confiante do Joe. Ok que isso é uma forma de marcar a personalidade do cara, mas também é a mesma coisa, se repete demais vira uma forçação de barra na caracterização.

Megalobox (2018)
"Heh!"

Mas a grande forçação de barra é o fato de aceitarem o Joe competir sem o equipamento. Ora, o Megalonia não é uma competição para promover o equipamento megalobox (um exoesqueleto que aprimora a força e habilidade do corpo)? Aceitar um cara lutando de mãos vazias seria o mesmo que uma competição de ciclistas aceitar um cara correndo a pé.

E pra piorar, no final o Yuri também vai lutar sem equipamento. Será que a empresa não tinha um contrato que cobrasse uma bela multa por ele ter violado os termos? Ou por que a dona da empresa simplesmente não faz um acordo com Yuri pra que lutasse na competição com o equipamento e depois em uma luta privada podia desafiar o Joe desarmado? Todo mundo saia ganhando. Mas a moça nem ousou falar nada.

Enfim, além do Aragaki ser um bom personagem, também já no finalzinho a história vai ficando mais interessante, quando acontece a reviravolta na forma como Nanbu e Joe estão presos a seus acordos com a máfia. Não é um anime ruim (e vale lembrar que faz uma homenagem a um clássico do boxe, o Ashita no Joe), mas também não é tão impressionante quanto esperei que fosse, dado o fato de ter recebido tantos prêmios e elogios.

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