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Novos Mutantes volume 1, 1-34 (1982-1985)

Marvel Graphic Novel 4 (1982)

A formação da equipe dos Novos Mutantes aconteceu lááá em 1982, no número 4 da revista Marvel Graphic Novel (série dedicada a histórias de personagens diversos da Marvel). Assim, essa edição funciona como um número zero da série. O roteiro é do grande Chris Claremont e desenho de Bob Mcleod. Esta dupla também inicia a revista seriada até que, na quarta edição de Novos Mutantes, Mcleod passa a fazer a arte final enquanto Sal Buscema assume os desenhos.

Nesta edição da Graphic Novel, um a um os poderes dos futuros membros da equipe são apresentados. A primeira a aparecer é Rahne, que na forma de loba foge de uma perseguição religiosa, já que os carolas acham que ela está possuída. A garota é salva por Moira e levada para a mansão Xavier. Na mansão ela encontra a vietnamita Karma que já estava em fase de recrutamento.

Depois vemos o Roberto da Costa no Brasil despertando seu poder de Mancha Solar no meio de uma partida de futebol. Sam, o Míssil, é um adolescente precoce trabalhando em minas de carvão para sustentar a família e manifesta seu poder durante um desabamento. A índia Danielle Moonstar estava numa boa na floresta, até que é perseguida por lacaios de Donald Pierce, do Clube do Inferno, mas salva por Xavier.

O tema do preconceito e racismo sempre foi frequente nas histórias dos X-Men e aqui não foi diferente. Primeiro vemos o brasileiro Roberto sendo insultado por ser negro e depois a índia Moonstar demonstrando aversão a Xavier por ele ser branco, o "inimigo". Ela é a que mais resiste a seguir Xavier no começo, mas acaba se tornando uma grande amiga dele e leal líder do grupo.

Roberto Dacosta by Bob Mcleod

Danielle Moonstar by Bob Mcleod

Na época os X-Men haviam sido raptados pela ninhada e eram dados como mortos. Xavier hesitava em formar outra equipe, então a trama foi a seguinte: Pierce raptou Xavier e atacou os garotos. Ingenuamente, Sam estava trabalhando para ele como lacaio, mas quando ele vê Pierce tentando matar Xavier e os demais, se dá conta que está no lado errado. Acontece uma batalha mental entre Xavier e Pierce, o careca obviamente vence e vão todos pra mansão vestir pela primeira vez seus uniformes.

A revista seriada, que começa em 1983, não economiza nos inimigos clássicos. Já nas primeiras dez edições temos aparições dos sentinelas, da ninhada, da Víbora e Samurai de Prata e do Clube do Inferno.

New Mutants by Bob Mcleod

Na edição 7 temos uma curiosa visita ao Brasil, com direito a todos os estereótipos que os gringos têm daqui: falam da selva amazônica, de São Paulo como lugar de negócios e o carnaval do Rio. O Brasil é a terra de Roberto Dacosta, o Mancha Solar, que, seguindo o estereótipo, tem um sobrenome hispânico.

New Mutants by Sal Buscema

New Mutants by Sal Buscema

Em seguida eles partem para a Amazônia e encontram uma civilização oculta que é uma mistura de antiga Roma com os incas, com direito a luta de gladiadores e tudo.

New Mutants by Sal Buscema

É nessa história bizarra no coração da Amazônia que surge uma nova personagem: Amara, que se torna Magma. Ela é, portanto, o membro de origem mais esquisita dessa equipe. Uma "brasileira" nascida em uma civilização romana milenar escondida na selva, que nem mesmo conhecia a eletricidade e outras coisas da era moderna e em meio a um ritual de sacrifício descobre seus poderes tectônicos.

Magma by Sal Buscema

E claro que o desenhista ia achar uma situação pra deixar as garotas de biquíni. Mas não estou reclamando.

Magma, Moonstar and Selene by Sal Buscema

Vez ou outra aparecem alguns membros dos X-Men nas histórias dos Novos Mutantes, como é o caso da Kitty Pride que na época era só uma garotinha que brincava de hacker por curiosidade. O conceito de hacker nos Estados Unidos nos anos 80 já era relativamente comum, naquela época em que os computadores só exibiam uma tela preta com letras verdes. Para os leitores aqui do Brasil, era uma ideia vaga de algo que só conhecíamos por causa dos filmes, afinal os brasileiros só começaram a acessar a internet lá pelo fim dos anos 90.

Um hacker amigo de Kitty é Doug Ramsey, linguista e poliglota, ele se tornará membro do grupo com o codinome Cifra. A princípio ele não possui uma presença muito marcante, já que não tem poderes extraordinários.

Kitty Pride and Cypher by Sal Buscema

Justo na edição 13, um número sinistro, aparece uma bruxa, Illyana Rasputin (Magia), irmã do Colossus. A história da garota é realmente macabra, foi raptada para o limbo infernal por um demônio e passou boa parte da infância lá. Quando conseguiu fugir, já adolescente, era uma poderosa portadora de poderes mágicos, cheia de demônios interiores. É, portanto, a personagem mais sombria desse grupo.

Illyana Rasputin by Sal Buscema

Illyana Rasputin by Sal Buscema

Illyana Rasputin by Sal Buscema

A Magia é uma personagem bem interessante e incomum no universo mutante, já que, apesar de ser mutante, seu maior poder tem origem mágica. Em 1984 uma minissérie chamada Magia, em 4 edições, foi lançada como spin-off dos Novos Mutantes. O roteiro é de Chris Claremont e a arte de John Buscema, Ron Frenz e Sal Buscema. Neste arco, Magia é treinada (e torturada) pelo chefão do Limbo infernal, Belasco, e encontra uma versão dos X-Men de outro universo. Ela acaba vencendo Belasco e se tornando a dona do Limbo. É uma minissérie excelente e que acrescenta profundidade à personagem, uma vez que ainda criança ela passa por uma verdadeira prova de fogo na luta contra Belasco.

Magik by Bret Blevins

Acontece um momento bem inusitado e cômico quando os Novos Mutantes precisam salvar a Kitty Pride do Clube do Inferno. Todos os supergrupos, incluindo os X-Men, estão ocupados na saga das Guerras Secretas e os jovens não têm nenhum meio de transporte. Resolvem ir... de ônibus. É por isso que toda equipe deve ter pelo menos a metade dos membros com poder de voar, porque aí podem dar carona para os demais.

New Mutants by Sal Buscema

Nessa invasão ao Clube do Inferno os Novos Mutantes se deparam com a poderosíssima Emma Frost, bem como seus pupilos, os Satânicos. Não são lá figuras muito conhecidas, mas entre eles estava o primeiro Pássaro Trovejante.

Hellfire Club by Sal Buscema

A partir da edição 18 o desenho passa para a mão de Bill Sienkiewicz. Enquanto Sal Buscema tinha um traço tradicional e típico dos quadrinhos até os anos 80, Sienkiewicz traz uma proposta diferente. Ele recorre a métodos incomuns nos quadrinhos, como fazer colagens e misturar lápis com pincel. Seu estilo marcante e único deu uma nova cara à revista dos Novos Mutantes. Ele não perde tempo e já em sua primeira participação cria um personagem novo, o alienígena Warlock.

New Mutants by Bill Sienkiewicz

Warlock by Bill Sienkiewicz

A edição especial Novos Mutantes Anual, número 1, é lançada em 1984 e, apesar de ter as capas assinadas por Bill Sienkiewicz, tem o desenho do miolo feito por Bob Mcleod, como que marcando a sua despedida definitiva da série.

A história se passa pouco depois da aparição de Warlock. É apresentada uma personagem nova, Lila Cheney, uma roqueira com um imenso poder de teleporte. Há todo um rolo de uma raça alienígena, os vrakanins, que quer teleportar a Terra e escravizar os humanos, mas o mais legal dessa história é a presença de uma esfera de Dyson, uma enorme estrutura que envolve uma estrela e é um conceito já clássico na ficção científica.

Dyson sphere by Bob Mcleod

E falando em mutantes cantoras, vale mencionar aqui uma revista que foi lançada em 1984, o número 12 da Marvel Graphic Novel, dedicada à Cristal (Dazzler), intitulada Cristal: o Filme. Com roteiro de James Shooter e desenho de Frank Springer, é uma história sensacional com um estilo meio telenovela, mostrando a complicada carreira cinematográfica da Cristal, uma mulher linda e de personalidade forte que é assediada por um ricaço, é alvo do preconceito da opinião pública por ser mutante e se envolve com um produtor de filmes meio babaca.

Vez ou outra ela usa os poderes mutantes, mas a narrativa evita qualquer elemento de fantasia. Cristal é humanizada e tem problemas e vilões humanos para enfrentar. Por um momento é vencida por vícios e o desleixo consigo mesma, mas consegue retomar as rédeas da própria vida e da sua auto estima. É uma história que daria mesmo um filme, com um roteiro muito bem escrito.

Dazzler by Frank Springer

O ano de 1985 começa com uma participação de Manto e Adaga. No caso, os dois perdem seus poderes e quem os adquire são a Lupina e o Mancha Solar.

Cloak and Dagger by Bill Sienkiewicz

Após essa breve história começa um arco realmente importante em toda a cronologia do universo X-Men: surge o Legião, o filho de Xavier, no número 26. Num primeiro encontro, Xavier e alguns outros entram na mente do garoto e rola uma batalha psíquica. É uma excelente história e bem incomum em se tratando de revistas de super heróis, já que a aventura acontece dentro da mente de David, um ambiente surreal e onírico.

Legion by Bill Sienkiewicz

Xavier and Legion by Bill Sienkiewicz

Xavier and Legion by Bill Sienkiewicz

Na edição 29 surge, numa discreta participação, mais uma criação da dupla Claremont e Sienkiewicz, o fortão Guido, que futuramente se tornaria membro da X-Force com o codinome Strong Guy. Aqui ele aparece como um segurança particular da roqueira Lila. A Cristal também aparece na revista e a partir daí passa a ter uma certa frequência.

Strong Guy by Bill Sienkiewicz

Dazzler by Bill Sienkiewicz

Neste ano de 1985 aconteceu a grande saga das Guerras Secretas II, envolvendo o retorno do poderosíssimo Beyonder. Este evento afetou a vida dos Novos Mutantes, de modo que a Illyana Rasputin se transformou na Filha das Trevas, possuída pelo seu mal interior. Também neste arco a Rachel Summers faz parte do grupo.

Beyonder by Bill Sienkiewicz

Mas a saga das Guerras Secretas e a presença do Beyonder ocupam apenas algumas cenas na revista dos Novos Mutantes. A história principal envolve uma luta contra um telepata que possui uma arena de gladiadores e escravizou Magma e Mancha Solar. Essa trama começou bem antes, quando a Karma foi possuída por uma entidade misteriosa. Era o Shadow King que a princípio fingiu ser outro telepata, o Alexander Flynn. Possuindo o corpo de Karma, esta ficou enorme de gorda e virou a magnata dessa máfia de lutas clandestinas. Que história Scooby Doo hein.

O Shadow King, aliás, se tornaria, trinta anos depois, o antagonista do Legião na série televisiva Legion (2017-2019).

Karma/Shadow King by Bill Sienkiewicz

Na edição 32 começa a transição de desenhistas e Steve Leialoha substitui Sienkiewicz. Em busca de Karma, os Novos Mutantes vão até a sinistra ilha de Madripoor, sendo esta, portanto, a primeira aparição desta cidade nas histórias dos X-Men e que se tornaria mais frequente em aventuras do Wolverine.

New Mutants by Steve Leialoha

No final de 1985 estava programado o lançamento de Novos Mutantes Anual 2 e teria cerca de 40 páginas como o NMA 1, mas como a história acabou crescendo até 64 páginas, resolveram nomear essa edição como Novos Mutantes Edição Especial, número 1 (não que tenham feito um número 2 posteriormente). O roteiro é de Chris Claremont e a arte de Arthur Adams.

A história dessa edição fez parte de uma saga chamada Guerras Asgardianas que se desenrolou em várias revistas (X-Men e Tropa Alfa 1 e 2, Novos Mutantes Especial 1, X-Men Anual 9). No caso dos Novos Mutantes, eles são raptados para Asgard por Encantor a pedido de Loki. Illyana tenta teleportar todos de volta, mas acaba espalhando o grupo e ao longo da revista cada um dos membros vai encontrando as criaturas místicas de Asgard e fazendo amizades ou enfrentando inimigos, até que se reagrupam e conseguem fugir.

Destaque para Karma que enfrenta uma jornada um tanto diferente. Ela é acidentalmente teleportada para um deserto no passado e enquanto vaga pelo ermo por meses, sobrevivendo caçando lagartos, vai perdendo a obesidade mórbida que adquirira enquanto esteve sob controle mental. Foi um verdadeiro Spa e ao final ela aparece toda saradona.

Karma by Arthur Adams
Karma by Arthur Adams
Karma by Arthur Adams

A próxima parte desta resenha dos Novos Mutantes abordará as edições 35-70 (aqui).

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