Qaligrafia
Séries, livros, games, filmes e eteceteras 🧙‍♂️

O Curioso Caso de Benjamin Button

The Curious Case of Benjamin Button (2008)

O filme é baseado em um conto de mesmo nome de F. Scott Fitzgerald, publicado em 1922. Benjamin (Brad Pitt) nasceu com uma estranha “doença” que lhe dava aparência de oitenta nos. Com o passar do tempo, porém, em vez de envelhecer ele rejuvenescia. E assim seguiu década após década, até se tornar um bebê.

Foi o terceiro filme que mais recebeu indicações na história do Oscar. Foram 13 indicações, ganhando em 3 delas (efeitos visuais, direção de arte e maquiagem), além de 5 indicações para o Globo de Ouro. No início da década de 90, Steven Spielberg foi cotado para a direção, tendo Tom Cruise no papel de Benjamin. Em 1998, cogitou-se Ron Howard como diretor e John Travolta como protagonista. Para este filme de 2008, também se considerou o papel de Daisy para Rachel Weisz.

O conto de Fitzgerald investe no humor e é breve e rápido. Dá ênfase a experiências desconcertantes que Benjamin vive devido à sua incompatibilidade entre a idade e a aparência. O filme conta uma história bem mais longa e desenvolvida e, em vez de humor, recorre ao drama e ao romance. É uma história sobre a vida, sobre aproveitar momentos, aprender com os erros, conhecer lugares e pessoas.

Ele é adotado por Queenie (Taraji P. Henson). Negra, muito religiosa e carinhosa, é uma mãe exemplar e que deu a Benjamin uma ótima criação. Benjamin é um rapaz educado, manso e de alma boa e boa parte destas virtudes se deve ao tipo de educação que teve e ao ambiente em que cresceu.

Também merece atenção o relacionamento com seu progenitor, Thomas Button (Jason Flemyng). Assustado com a morte da esposa e a doença de Benjamin, Thomas abandona o bebê na porta de uma casa. No entanto, futuramente irá desenvolver uma amizade com o filho. Thomas é a caricatura de um homem que pensa apenas nos negócios, no seu caso, botões. Até o seu sobrenome envolve botões (Button). 

O romance Benjamin viverá com Daisy (Kate Blanchett). Quando ele a conhece, é um adulto na aparência, mas criança na idade e na mentalidade. Daisy também é uma criança ainda. Os anos se passam e ambos terminam por se encontrar num meio termo, quando ela já é adulta e ele alcança uma aparência e uma idade próximas dela. Todavia, enquanto ela continua a envelhecer, ele ficará cada vez mais jovem até finalmente se tornar uma criança.

The Curious Case of Benjamin Button (2008)

A mente versus a máquina em Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

Eternal Sunshine of the Spotless Mind (2004)

Eternal Sunshine of the Spotless Mind ganhou o Oscar de melhor roteiro original. É a história de Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet) que vivem um drama amoroso de uma forma incomum.

Há um elemento de ficção científica “soft” na história, pois o mundo em que os personagens vivem é semelhante ao nosso, ambientado em nosso presente, mas foi desenvolvida uma tecnologia para apagar memórias, o que é feito pela empresa Lacuna Inc.

Curiosamente, no mesmo ano (2004) também foi lançado o filme The Final Cut, com Robin Williams, que aborda uma tecnologia futurista semelhante para gravar e editar as memórias das pessoas.

Após o fim de um relacionamento, Clementine e Joel recorrem à Lacuna para apagar as memórias dos tempos do namoro. Todavia, durante o procedimento, Joel se arrepende, pois recorda momentos agradáveis dos quais não quer esquecer. 

Mas ele já está inconsciente e sofrendo o processo de “limpeza de memória”, de modo que boa parte da história irá acontecer dentro de sua mente, na sua tentativa de esconder as lembranças e evitar que sejam apagadas pelos técnicos.

As cenas com as lembranças de Joel mudam rapidamente, como num sonho, e ele experimenta déjà-vu e mistura de sensações entre a realidade e o sonho. É uma viagem pelo labirinto da mente e das memórias, o que torna o filme uma original e interessante saga psicológica.

Pode-se interpretar também uma camada mística, pois leva a enxergar a realidade como algo abstrato, além do mundo físico. A realidade de Joel estava em grande parte dentro de sua mente. 

O título “Eternal Sunshine of the Spotless Mind” se baseia num poema de Alexander Pope que inclusive é citado pela personagem Mary (Kirsten Dunst): 

“How happy is the blameless vestal’s lot!
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign’d”

“Feliz é a inocente vestal; 
Esquecendo o mundo e sendo por ele esquecida. 
Brilho eterno de uma mente sem lembranças; 
Toda prece é ouvida, toda graça se alcança.”


How clumsy you are, Miss Ueno, um daqueles animes errados e divertidos

How clumsy you are, Miss Ueno (2019)

Você sabe, japonês tem fama de ser safado, apesar de tímido e recatado. É um paradoxo da cultura japonesa, ou melhor, a safadeza é justamente a compensação para os valores de uma sociedade que preza bastante pela discrição e pudor. Tendo isso em mente, deve-se compreender porque os animes são tão salientes, mesmo aqueles com uma ambientação mais infantil.

How clumsy you are, Miss Ueno (2019)

Em Ueno san wa Bakyou temos um destes exemplos de animes que extrapolam os limites, mas fazem de um jeito cômico e divertido. A personagem Ueno tem uma obsessão pelo seu colega de escola Tanaka (que é meio panaca e eu não queria perder o trocadilho) e fica bolando uns jeitos surreais de criar situações para assediá-lo, ou seja, encontrar formas de pagar calcinha, fazer com que ele lhe dê uns tapas na bunda ou mesmo fazer ele beber o seu xixi...

How clumsy you are, Miss Ueno (2019)

How clumsy you are, Miss Ueno (2019)

How clumsy you are, Miss Ueno (2019)

Japoneses com suas japonices.

How clumsy you are, Miss Ueno (2019)

How clumsy you are, Miss Ueno (2019)

How clumsy you are, Miss Ueno (2019)
Yamashita, a típica kuudere. Reservada, quieta e racional.

How clumsy you are, Miss Ueno (2019)
Todo anime que se preze tem um mascote e este é simplesmente uma meia calça que ganhou vida.

Saintia Sho, as "Cavaleiras" do Zodíaco

Saintia Sho (2018)

Essa é uma série canônica e que expande o universo dos Cavaleiros do Zodíaco, pois agora mostra outro grupo, as Saintia, que são mulheres que agem como guarda-costas secretas de Atena. Ênfase para o "secretas", o que explica porque em todos estes anos nunca foram mencionadas nas séries da franquia.

Saintia Sho (2018)
Olha só, é a Tenten. Não pera...

Saintia Sho (2018)

A protagonista é Shoko que claramente na aparência lembra o próprio Seiya, além do fato de ambos terem um cavalo como constelação. Seiya é de Pegasus e Shoko de Equuleus. Em certo momento os caminhos dos dois se cruzam e vemos que a história dessa série se passa exatamente na clássica época da Guerra Galáctica, aquela lááá do primeiro episódio de Saint Seiya, quando o Seiya era um novato. Shoko assiste a luta na TV e o exemplo de perseverança e resiliência de Pégaso exerce uma grande motivação nela.

Saintia Sho (2018)

Saintia Sho (2018)

Enquanto nas séries mais antigas personagens importantes como os cavaleiros de ouro foram aparecendo muito lentamente, Saintia Sho pode se dar ao luxo de apresentá-los sem cerimônia. Já nos primeiros episódios vemos alguns cavaleiros de ouro e personagens clássicos como Marin.

Saintia Sho (2018)

Saintia Sho (2018)
Marin e sua abundância de cosmo.

A trama segue a boa e velha fórmula da franquia: o vilão é o Grande Mestre, um cara bipolar, sempre em conflito de vontades, e os cavaleiros de ouro a princípio assumem posturas também dúbias, anti-heroicas.

Saintia Sho (2018)
Não é Cavaleiros do Zodíaco se não tiver um vilão com olhos de maconheiro.

A história é bem corrida, na verdade, e já no episódio 6 começa a saga das doze casas, quando Saori é atingida por uma flecha. Desta forma, veremos uma nova camada daquela saga, mostrando o que as saintia estavam fazendo enquanto os saints estavam atravessando as casas e enfrentando os cavaleiros de ouro. É uma nova perspectiva do arco mais famoso da franquia.

Upside Down

Upside Down (2012)

Esta é uma história com toda a beleza e teor de um conto de fantasia. Acontece em um mundo onde duas terras sobrepostas coexistem regidas por leis da gravidade bem peculiares e uma ordem social governada por uma poderosa corporação.

Este mundo é dividido em duas castas, a superior e a inferior. Elas não se misturam não apenas por força das leis, mas também da própria natureza, pois quem pertence a um planeta se mantém fixo nele, de modo que temos uma espécie de planetas espelhados, onde as pessoas literalmente andam de cabeça pra baixo em relação às do mundo paralelo.

O resultado é um cenário impressionante, produzido com uma linda fotografia. O mundo superior é moderno, cheio de arranha-céus, próspero. O mundo inferior é decadente, suburbano, sombrio. Acontece então um encontro entre Adam (Jim Sturgess) e Eden (Kirsten Dunst), que mantêm um primeiro contato à distância, cada um vendo o outro de ponta cabeça.

Separados pelo tempo, pelos planetas, por acidentes, pelas vicissitudes da vida e o obstáculo social (uma vez que Eden é do mundo superior e Adam do inferior), vão se envolver numa saga para se reencontrarem, desafiando toda a ordem estabelecida. Um amor estilo Romeu e Julieta ou A Dama e o Vagabundo, enfrentando preconceitos e costumes.

Não bastando a beleza estética do filme, a história muito criativa e fantástica de mundos paralelos que quase se tocam e o amor transcendente entre duas almas gêmeas de mundos opostos, existe um elemento mitológico, retirado dos mitos bíblicos e gnósticos.

Os nomes dos personagens já deixam isto claro. Adam é o Adão, o ser da terra de baixo (a palavra hebraica adamah significa terra), enquanto Eden é o Éden, o jardim sagrado, superior. A união de Adam e Eden é o símbolo do casamento do paraíso com o mundo caído, do céu e do inferno. Assim na terra como no céu.

A corporação que impõe seu reinado opressor é como o deus maligno do gnosticismo, o demiurgo, um deus que moldou um mundo de dores. A saga romântica de Adam e Eden é também uma luta mitológica sobre a queda da humanidade. Segundo o mito bíblico e gnóstico, a humanidade já viveu dias de glória, mas caiu e agora precisa se lembrar de seu antigo estado de beleza e alegria e buscá-lo novamente. 

Upside Down (2012)

Once

Once (2006)

Este não é exatamente um musical, mas contém música do começo ao fim, pois envolve um músico amador que canta e toca violão nas ruas da Irlanda e encontra uma garota tcheca que também gosta de cantar e tocar piano. 

A identificação dos dois resulta numa parceria artística e temos então uma trama bastante simples. Não há grandes dramas, reviravoltas nem complicações, pelo menos não em termos de eventos, mas no ambiente psicológico os dois estão enfrentando suas dores amorosas. 

O músico (protagonizado por Glen Hansard, membro da banda irlandesa The Frames) sofre a frustração de um ex-namoro e a garota (protagonizada pela compositora tcheca Markéta Irglová) tem uma filha e está em processo de reconciliação com o marido.

Ela o encontra tocando na rua à noite e lhe dá dez centavos. Ele agradece sarcasticamente e a princípio não tem interesse por ela, já que vive obcecado por uma paixão antiga. Mas ela é muito simpática e insistente e suas iniciativas acabam despertando a simpatia dele de modo que rapidamente se tornam amigos. 

Logo em seus primeiros encontros, a moça o convida a visitar uma loja de instrumentos musicais e ali começam a tocar a cantar juntos. A empatia que se forma é imediata e mágica e vai levá-los a procurar uma gravadora, montar uma pequena banda e gravar um disco. Sendo assim, boa parte do filme é feita de canções e nos intervalos os dois travam tímidos flertes.

Curiosamente, durante as gravações deste filme, os atores Hansard e Markéta começaram a namorar e continuaram juntos até 2009. Ambos participaram da composição da trilha sonora, incluindo a música que ganhou Oscar,  “Falling Slowly”.

O filme foi escrito e dirigido por John Carney, mesmo diretor do elogiado Clube dos Suicidas (On the Edge, 2001). Carney disse que teve a ideia quando assistiu a um show da banda The Frames. E, de fato, o personagem principal deste “conto de fadas urbano” é a música. Não se trata apenas de um romance. Trata-se do encontro de duas pessoas apaixonadas por música.

Pode-se dizer que existe um verdadeiro subgênero de filmes com a temática de músicos enfrentando os dramas da carreira. Um exemplo bem icônico é o Wiplash (2014) e o mais recente ganhador de Oscar, A Star is Born (2018), estrelado pela Lady Gaga. Também é o caso de Song to Song (2017), Song One (2014), Crazy Heart (2009), etc.

Streets of Rage 4, a hype é real!

Streets of Rage 4

Conheci o primeiro Streets of Rage na época em que foi lançado, ali no começo dos anos 90. Era o tempo em que as crianças não tinham internet e poucas tinham consoles (na época Atari, Nintendo, Master System, Mega Drive, Super Nes, etc.). A maioria, como eu, conheceu o video game nas locadoras ou fliperamas. Pra jogar era preciso sair de casa e gastar umas moedas por hora.

Streets of Rage foi simplesmente um dos maiores jogos de luta daqueles tempos, assim como Street Fighter 2, sendo que Street Fighter está num subgênero de duelo enquanto Streets of Rage é beat and up, bater e seguir adiante batendo mais até chegar num chefão.

Streets of Rage

Que jogabilidade gostosa que tinha! E ainda hoje é agradável e não enjoa. Na época, então, parecia ser um jogo bem rico de recursos se comparado a outros beat and ups. Tem soco, chute, voadora, ao agarrar um inimigo pode esmurrar, dar joelhada, cabeçada, arremessar, pular pras costas e arremessar de costas...

Cada um dos três personagens (também conhecidos como o negão, a mulher e o loirão) tem suas próprias maneiras de executar estes golpes, além de balanceamentos diferentes de força, velocidade e salto. Como se não bastasse tudo isso, era possível combinar alguns golpes jogando em dupla (por exemplo, você podia arremessar seu parceiro, dando um boost na voadora dele). Jogar em dupla era muito mais divertido.

Por fim, ainda há a mecânica do cenário, a possibilidade de coletar facas, bastões, canos e garrafas (que quebram na primeira pancada e viram garrafas pontiagudas). Você pode usar o cenário a seu favor ou ser vítima dele, pois tem esteiras rolantes, prensas esmagadoras e o melhor: a fase do elevador onde você pode arremessar vários inimigos edifício abaixo.

Streets of Rage 4

Ah, e tinha um recurso especial: chamar a polícia. A tela congelava, chegava um carro como o do Robocop e disparava uma saraiva de bazuca no cenário. Era o recurso de apelação na hora do aperto e contra os bosses. 

Os chefões eram memoráveis e eram conhecidos pelos apelidos que nós crianças inventávamos nas locadoras: o cara do bumerangue, o Freddy Kruegger (um boss que tinha garras e não perdoava voadoras), o Conan, o gordão que cuspia fogo, as duas gêmeas ninjas e o ultimo era um mafioso com metralhadora estilo Scarface. Até os capangas eram estilosos. Tinha uns carinhas de cabelo moicano que por causa das roupas pareciam as tartarugas ninja e davam rasteiras estilo carrinho. Tinha uns palhaços malabaristas bem chatos, uns ninjas, carinhas empunhando armas que dropavam pra você usar. Tinha uns carinhas que, se você desse bobeira, te imobilizavam pelas costas, mas você podia reagir com um contragolpe. E a mulher do chicote hein. Quem não curtia a mulher do chicote?

Streets of Rage 4

Levando em conta que se tratava de um jogo do comecinho dos anos 90, um trocinho que tinha só alguns megabytes de tamanho, era realmente bem complexo e cheio de recursos, com uma inteligência artificial dos inimigos bem elaborada. E estamos falando só do primeiro jogo, lançado em 1991. Em 1992 já veio o segundo e em 1994 o terceiro. Obviamente a cada continuação implantaram novidades na mecânica, novos inimigos, mais cenários, mais história, ampliando o lore dos personagens, mas o primeiro jogo da franquia tem um charme especial. A música meio hip hop eletrônico do Yuzo Koshiro é icônica e o visual do jogo em si tem uma estética bela, com aqueles cenários num jeitão underground e punk.

E eis que agora, 25 anos depois, a Sega finalmente anuncia o Streets of Rage 4! Algumas imagens e um teaser já foram divulgados. O visual está agradável, modernizado, claro, mas mantendo a temática da franquia. Taí um jogo que eu sei que vai ser bom. Vai ser bom para os nostálgicos, mas também pra todos que curtem um beat and up.

Streets of Rage 4

One Day, um romance fofo e trágico

One Day (2011)

Este filme é uma adaptação da novela de mesmo nome publicada por David Nicholls em 2009. O título diz respeito ao dia 15 de julho, escolhido por um grupo de amigos universitários para se encontrarem anualmente. No livro, cada capítulo cobre um dia 15 de julho, totalizando vinte anos de história.

No dia de formatura, Emma (Anne Hathaway) e Dexter (Jim Sturgess), que fazem parte do grupo de formandos, passam a noite juntos, num encontro casual, e resolvem ser amigos. A amizade irá sobreviver ao tempo, atravessar anos, décadas e todo tipo de desencontros que impedem os dois de assumirem um relacionamento mais íntimo. 

Anne Hathaway, One Day (2011)

Dexter é irresponsável, problemático, envolve-se com drogas, tem altos e baixos na carreira. Emma, que sonha ser escritora, é insegura nos relacionamentos e se vê cada vez mais afastada de Dexter. Mas, apesar dos desencontros, eles sempre voltam a se ver, num ciclo de crises e superação. 

É a história de toda uma vida, de como as coisas mudam no decorrer dos anos. Há elementos de humor, de romance, mas também é um filme triste e trágico. E creio que é aí que está a sua beleza. A recepção do filme foi, aliás, ambígua, justamente por causa do lado trágico que pode frustrar quem espera apenas flores numa novela romântica.

Anne Hathaway, One Day (2011)

Os dois amigos têm uma grande afinidade, uma ligação tão forte que sobrevive aos maiores testes da vida: o tempo, a distância e as crises. A meu ver, é um dos mais emocionantes papéis de Anne Hathaway e também do Jim Sturgess. A direção tem o toque feminino de Lone Schefig (que em 2009 dirigira An Education). Para completar, a trilha sonora é belíssima, composta por Rachel Portman.

Anne Hathaway, One Day (2011)

Google Stadia, o futuro chegou

Google Stadia

Neste dia 19 foi anunciado um novo e ambicioso projeto da Google que causou reações extremas, do hype ao ceticismo. Também pudera. A Google tem um histórico de sucesso extremo e fracasso vergonhoso. 

Seu primeiro grande sucesso, obviamente, foi quando se tornou o principal mecanismo de buscas de toda a internet, bem como um dos maiores serviços de email, concorrendo pau a pau com a Microsoft. Então o Chrome se tornou o browser mais usado e o Android o mais popular sistema operacional para mobiles. Enfim, desnecessário é listar os grandes sucessos da empresa que cresceu tanto a ponto da Google ser apenas parte de um conglomerado maior, o Alphabet.

Quanto aos fracassos, existe o chamado "cemitério da Google", a lista de vários experimentos encerrados, alguns até tiveram muito sucesso, como o Orkut, outros receberam um grande investimento e publicidade da empresa, mas não foram adiante, como o Google Plus. Teve até projetos de hardware, como o Glass, que pretendia estar na vanguarda do desenvolvimento de óculos de realidade virtual.

O Glass, aliás, lembra bastante o atual projeto chamado Stadia. Assim como os óculos futuristas, o Stadia tem uma proposta futurista: oferecer um serviço de processamento remoto de jogos. A ideia é a seguinte: a Google conta com supercomputadores e servidores absurdamente potentes. Este potencial estará disponível para nós, reles mortais. 

Imagine, por exemplo, que você quer jogar um jogo daqueles pesadíssimos que nem se mexem no seu modesto computador. Por meio do Stadia essa limitação não será mais um problema, porque o jogo não vai rodar no seu computador e sim nos servidores da Google e o único trabalho que o seu computador vai ter será o de receber as imagens e transmitir seus comandos de teclado, mouse ou controle para a máquina remota. 

O acesso remoto de computadores é tão antigo quanto a internet e a verdade é que a ideia básica do Stadia nem é tão inovadora e se assemelha a algo que já vem acontecendo há décadas. Ora, os MMORPGs, por exemplo, são jogos em que você acessa pela internet um servidor onde o mundo do jogo está existindo, rodando nos computadores do servidor. Da mesma forma nos jogos multiplayer, parte do processo do jogo acontece na sua máquina e outra parte nas máquinas que hospedam os jogos.

Já estamos bastante acostumados a jogar online. Tanto MMORPGs quanto multiplayers em geral só funcionam se você estiver conectado à internet. Se a conexão cai, o seu jogo cai. O Stadia, em termos simplificados, será um multiplayer, com a diferença que todo o processo do jogo, como a renderização das imagens (que é o que mais consome os recursos do hardware), vai acontecer nas máquinas remotas. Será como assistir a um vídeo no Youtube. Inclusive a proposta é que você acessará os jogos por meio do Chrome, sem precisar baixar nem instalar mais nada.

Parece bom demais pra ser verdade, mas toda a infraestrutura pra tornar isso possível já existe e ninguém melhor que a Google pra tocar esse projeto. Não é nem uma questão de "se" der certo, mas de "quando". O serviço de computação remota já é vislumbrado como o futuro da informática. Uma vez que o acesso à internet está cada vez mais fácil (e com o 5G se tornará mais potente), a tendência é que usemos mais e mais serviços na nuvem.

Isso vai acabar com o negócio de instalar aplicativos. No máximo os aparelhos terão meros links, ícones que dão acesso aos serviços da nuvem. Não que tudo vá funcionar assim. Ainda por um bom tempo vamos continuar instalando programas nos nossos aparelhos, mas a oferta de serviços na nuvem crescerá e no caso dos jogos a Google já está dando um passo à frente, ousando inaugurar esse futuro.

Claro que concorrentes de peso como a Microsoft e a Sony devem responder e também lançar seus serviços e nos próximos anos teremos uma fase de transição em que ainda haverá o costume de se comprar mídias físicas ou instalar jogos nos aparelhos ao mesmo tempo em que serviços como o Stadia vão se tornando o mainstream.

Mas como o Stadia vai convencer as pessoas a trocar seus consoles e mídias físicas de jogos por um serviço na nuvem? Vão ter que garantir alguns detalhes básicos como estabilidade, sem lag, sem travamentos, algo tão responsivo como o jogo em um console, mas o segredo estará na qualidade gráfica. Uma vez que os jogos estarão rodando em supercomputadores, o céu é o limite para os desenvolvedores. Vão poder caprichar na produção gráfica já que não terão mais a limitação de hardware de um console ou computador comum.

Quando as pessoas se depararem com isso, quando rodarem um jogo no Chrome em seus celulares, tablets, computadores, notebooks, etc., e se depararem com uma qualidade gráfica de nível ultra (a Google promete gráficos em 4k e até mesmo 8k), sem perder desempenho, sem queda de FPS, então ficarão convencidas de que vale a pena.

De toda forma, o sucesso desse serviço depende não só da Google, mas das provedoras de internet. Transmissões em 4k exigem muita banda da conexão e atualmente a maioria dos usuários não tem uma internet tão boa assim. Essa limitação será nos próximos anos o grande obstáculo para que algo como o Stadia funcione perfeitamente. Só mesmo quando a oferta de banda larga no mundo se tornar mais generosa e estável é que tais serviços na nuvem vão emplacar.

E aí será um passo para a criação de "mundos virtuais" que ficam constantemente funcionando online, a verdadeira Matrix.

Google Stadia
O controle do Stadia é bonitinho.

Schwarza é pai de uma zumbi em Maggie

Maggie (2015)

Arnold Schwarzenegger começou a carreira em competições de bodybuilding e no final dos anos 60 ingressou no cinema, mas seu primeiro grande sucesso foi interpretando o bárbaro Conan (1982), e, anos depois, o ciborgue Terminator (1984). A partir daí o montanha de músculos se tornou presença constante em filmes de ação, tiro, porrada e bomba.

Musculoso, sotaque robótico, poucas expressões faciais, este seu jeitão virou uma marca do ator que praticamente era o mesmo tipo em todos os filmes, uma fórmula que na verdade deu certo e fez dele um dos ícones do cinema das décadas de 80 e 90. Ele também experimentou o gênero da comédia, como no filme Twins (1988), contracenando com Danny DeVito, e Kindergarten Cop (1990), em que se torna um professor no jardim de infância. Pouca gente sabe que ele também dirigiu um filme: Christmas in Connecticut (1992).

Ok, o cara não ganhou nenhum Oscar em seus mais de 40 anos de carreira, mas ganhou alguns outros prêmios e indicações, tem a sua estrela na calçada da fama e ganhou muito dinheiro, convenhamos. Seus filmes não são feitos para críticos de arte, mas para entretenimento e descontração. Em suas próprias palavras: “I do movies people like to see. It's that simple” (Eu faço filmes que as pessoas gostam de ver. Simples assim).

Maggie (2015)

Em Maggie (2015), ele teve uma experiência nova, protagonizando pela primeira vez um filme de drama. A garotinha de Little Miss Sushine (2006), Abigail Breslin, se tornou a sua filha, acometida por uma doença que aos poucos transforma a pessoa infectada numa espécie de zumbi. O velho Arnold encarna um pai comum, um fazendeiro simples, preocupado com a sobrevivência da filha.

Se tem um filme em que o Schwarza mostrou seu talento dramático, é esse. Ele convence, encarna o velho pai preocupado e protetor. A Abigail Breslin também dá uma interessante personalidade ao seu tipo de zumbi, um tipo em transição, com um jeito de andar e até de respirar que transmitem seu estado de saúde decadente.

O final é emocionante, mais emocionante do que é de se esperar de um filme de zumbi, já que geralmente esse tipo de tema é mais voltado à ação ou terror. Maggie é de fato um belo drama ambientado no apocalipse zumbi.

Maggie (2015)

Tirano

Um vil ser. Servil.
Elimina os livres.
Ele mina arbítrio

(17,03,2019)

Megalobox, o Ashita no Joe cyberpunk

Megalobox (2018)

Megalobox foi um dos animes mais premiados de 2018. Foi por causa dessa reputação que resolvi assistir. A primeira impressão é de que se trata de uma produção realmente caprichada. O desenho é bonito, o cenário bem detalhista e as lutas têm um aspecto realista.

Mas confesso que o anime em si não me interessou muito. O protagonista é plano, não tem uma profundidade. Basicamente é um underdog, como o Rocky, mas sem a profundidade e sabedoria do Rocky. É apenas um cara orgulhoso que é motivado pelo simples desejo de vencer as competições.

Quanto a seu desejo de participar da competição Megalonia, acontece por causa de uma mera ocasião em que se desentende com o campeão mundial, Yuri, e instantaneamente se tornam grandes rivais. É uma rivalidade que não tem base, não foi bem construída. São só dois caras orgulhosos que implicaram um com o outro.

Por outro lado, existem alguns personagens secundários bem construídos. É o caso de Aragaki, ex-discípulo de Nanbu. Ele era um lutador talentoso, mas interrompeu a carreira para servir em uma guerra onde sofreu um atentado a bomba, perdendo as pernas. Em flashbacks vamos acompanhando a história dele, como tentou suicídio e foi salvo por uma lembrança do velho amigo, ao mesmo tempo guardava rancor e quis se vingar no novo aluno de Nanbu, o Joe. 

Então durante a luta Aragaki vai se transformando, dá pra ver na sua expressão como ele começa cheio de ódio e frieza e vai abrindo a mente, até que alcança a redenção de sua mágoa e abandona a luta, se rende. Foi um gesto que o tornou muito mais nobre e grandioso que o Joe, cuja única motivação é lutar e vencer. Aragaki sabe perder, sabe recomeçar. Isso é um personagem profundo.

Megalobox (2018)
Aragaki. Isso sim é um grande personagem.

Existe um clichê que me irritou por ser bem repetitivo: em várias lutas acontece deles pararem o soco no ar bem no momento em que toca o sino de fim de round. Este tipo de gesto era pra ser uma coincidência que acontece raramente, mas ficou mesmo banal por se repetir demais. 

Megalobox (2018)
Saved by the bell.

Outra coisa repetitiva nas lutas é que o Joe sempre cai semiconsciente e levanta no último segundo. Esse recurso dramático em histórias de boxe é interessante se acontece uma vez ou outra, mas se se torna frequente perde a graça. Por fim, tem outro elemento que se repete muito que é a risadinha meio debochada e confiante do Joe. Ok que isso é uma forma de marcar a personalidade do cara, mas também é a mesma coisa, se repete demais vira uma forçação de barra na caracterização.

Megalobox (2018)
"Heh!"

Mas a grande forçação de barra é o fato de aceitarem o Joe competir sem o equipamento. Ora, o Megalonia não é uma competição para promover o equipamento megalobox (um exoesqueleto que aprimora a força e habilidade do corpo)? Aceitar um cara lutando de mãos vazias seria o mesmo que uma competição de ciclistas aceitar um cara correndo a pé.

E pra piorar, no final o Yuri também vai lutar sem equipamento. Será que a empresa não tinha um contrato que cobrasse uma bela multa por ele ter violado os termos? Ou por que a dona da empresa simplesmente não faz um acordo com Yuri pra que lutasse na competição com o equipamento e depois em uma luta privada podia desafiar o Joe desarmado? Todo mundo saia ganhando. Mas a moça nem ousou falar nada.

Enfim, além do Aragaki ser um bom personagem, também já no finalzinho a história vai ficando mais interessante, quando acontece a reviravolta na forma como Nanbu e Joe estão presos a seus acordos com a máfia. Não é um anime ruim (e vale lembrar que faz uma homenagem a um clássico do boxe, o Ashita no Joe), mas também não é tão impressionante quanto esperei que fosse, dado o fato de ter recebido tantos prêmios e elogios.

Cyberbully

Cyberbully (2015)

Protagonizado pela Maisie Williams (a eterna Arya de Game of Thrones), este é um filme curtinho de 60 minutos, exibido na TV britânica pelo Channel 4. Toda a história se passa dentro do quarto da garota Casey que trava um diálogo com um hacker que está ameaçando postar fotos íntimas dela como punição por ela ter praticado cyberbullying.

O drama explora este tema tão atual do bullying virtual, trollagem, e as consequências graves que podem vir destas brincadeiras. A garota repete os argumentos muito usados por quem pratica este tipo de intimidação como “a pessoa se expôs, então pediu pra ser trollada”, “todo mundo faz isso na internet”. O hacker, que se mostra como um justiceiro virtual, também acaba caindo em contradição.

O filme é realmente bem simples, tanto no desenrolar da história (uma breve e tensa conversa online) quanto na produção (uma atriz em um único cenário; a participação de outros atores é brevíssima), ao estilo de um média-metragem. 

Cyberbully (2015)


Novos Mutantes volume 1, 35-70 (1986-1988)

New Mutants by Mary Wilshire

Bem, já falamos sobre os primeiros quatro anos dos Novos Mutantes (aqui), agora continuemos a partir de 1986: 

O ano já começa com uma mudança radical: o professor Xavier passou a liderança da escola para ninguém menos que Magneto (uma consequência das Guerras Secretas), o cara que até então tinha sido o maior antagonista dos X-Men. O roteiro continua com Chris Claremont e a arte passa para Mary Wilshire, enquanto Bill Sienkiewicz, já em fase de despedida, fica na arte final.

Magneto by Mary Wilshire

Claro que a equipe no começo não gosta dele, mas certa noite a Danielle Moonstar é quase estuprada por uns caras e o próprio Magneto vai até eles tirar satisfação. Essa atitude firme e protetora dele faz com que os jovens comecem a mudar de opinião sobre o novo professor.

Detalhe que quando Danielle é atacada pelos homens, é salva por seu novo cavalo alado, Ventania (Brightwind), que ela ganhou lá na saga das Guerras Asgardianas, quando se tornou uma espécie de amazona.

Danielle Moonstar and Brightwind by Mary Wilshire

E novamente há uma breve aparição do Beyonder, o ser transcendente que aterrorizou o universo Marvel nas Guerras Secretas II. Dessa vez ele resolveu "exorcizar" a Illyana, livrando-a de seu lado infernal e ela ficou muito grata por essa salvação, mas o efeito colateral foi que o Limbo saiu do controle, demônios apareceram na Terra e o poder mágico da Illyana passou pra Kitty, que não soube controlar essa bagunça toda. A solução foi Illyana retomar seu poder mágico.

Magik and Beyonder by Mary Wilshire

Interessante a referência a Arthur Clark para explicar as intenções do Beyonder. 

New Mutants by Mary Wilshire

A capa desta edição 36 foi desenhada por ninguém menos que Barry Windsor-Smith, um artista com um estilo elegante e que ficou famoso desenhando nas revistas do Conan.

Kitty Pride by Barry Windsor-Smith

Na edição 37 há uma breve aparição da Mulher Hulk apenas pra ostentar sua força e beleza e finalmente acontece um "combate" entre os Novos Mutantes e o Beyonder. Claro que o ser que pode destruir o universo com um pensamento estava apenas brincando com eles.

She-Hulk by Mary Wilshire

Beyonder by Mary Wilshire

O Beyonder altera toda a realidade e acaba afetando profundamente o psicológico dos jovens. Afinal, depois de conhecer alguém capaz de apagar tudo num piscar de olhos (mais fácil que o estalar de dedos do Thanos), como continuar motivado a viver? Pois é, Beyonder provoca um surto de niilismo na turma, uma crise existencial. Diante da apatia de todos, Magneto resolve fechar a escola e entregar os alunos para Emma Frost, já que ela tem mais habilidade como mentora.

A edição 38 teve como desenhista Rick Leonardi, um cara que me marcou enquanto leitor de quadrinhos porque foi um dos primeiros desenhistas que conheci lá por volta dos meus 11-12 anos, quando comecei a comprar revistinhas. Na época ele desenhava o Homem-Aranha 2099, que então acompanhei desde a primeira edição.

Emma Frost and Magneto by Rick Leonardi

New Mutants by Rick Leonardi

Na edição seguinte, a arte é de Keith Pollard, com uma bela capa de Arthur Adams representando bem o tipo de liderança manipuladora exercida pela Rainha Branca. Agora os Novos Mutantes fazem parte dos Satânicos.

New Mutants by Arthur Adams

A apatia dos personagens como fruto do trauma pós-Beyonder foi uma ideia sensacional de Claremont. Tanto no desenho como nos diálogos dá pra ver como eles se tornaram pessoas sem vida, que dizem ok pra tudo com um olhar vazio. Só mesmo uma mente agressiva como a de Emma Frost pra acender de novo uma fagulha nessas almas apagadas. Também dá pra ver que, mesmo com toda sua vilania, a Emma Frost, assim como o Magneto, se preocupa com os jovens mutantes e cuida deles.

Emma Frost and Rahne by Keith Pollard

Na edição 40, com desenhos de Jackson Guice, os Vingadores simplesmente acreditam em um trote de telefone da Emma Frost e vão atrás do Magneto. Afinal, toda revista de super heróis que se preze promove umas pancadarias gratuitas que uma simples conversa resolveria. Magneto, mesmo evitando a luta, consegue se virar contra o Capitão, Hércules e aguenta até um sopapo do Namor.

Magneto vs Namor by Jackson Guice

Magneto vs Captain America by Jackson Guice

Um detalhe curioso desse evento é que o Warlock, que estava com Magneto, tenta protegê-lo atacando todos os Vingadores de uma vez e simplesmente começa a absorvê-los. Eles só sobrevivem porque Magneto intervém. Daí se pode ter uma noção do enorme potencial ofensivo de Warlock. Nem mesmo seres super fortes e poderosos como Hércules, Namor e a Capitã Marvel (na época Monica Rambeau) conseguiram resistir ao seu toque.

Outro detalhe a se notar nessa luta é que o poder magnético de Magneto não tem efeito no escudo do Capitão, mas esse é o tipo de coisa que varia de história em história de acordo com o que convém ao roteirista.

Seguem dois fillers focados nos co-líderes da equipe. Uma edição é dedicada à Danielle, que visita sua família e tem um duelo com a própria Morte (pois como valquíria ela tem o poder de ver a Morte) para salvar um amigo. Na edição seguinte é Sam quem visita a família e salva Lila de um acidente. É legal esses fillers porque ajudam a desenvolver os aspectos afetivos dos personagens.

Danielle Moonstar by Jackson Guice

Danielle Moonstar by Jackson Guice

Sam and Lila by Barry Windson-Smith

Na edição 43 a equipe se reagrupa e na escola eles se deparam com dois professores em estado deplorável depois que o Empata, dos Satânicos, usou seu poder neles. Os jovens resolvem dar uma lição no Empata e torturam bonito o cara pra ver se ele aprende a não usar seus poderes de forma sádica. O Empata de fato é um personagem que poderia se tornar um grande vilão, já que ele tem esse poder de manipular as emoções e desejos das pessoas. Praticamente um Diabo.

New Mutants vs Empath by Barry Windson-Smith

O desenho dessa edição foi de Steve Purcell, mas depois Jackson Guice retorna e continua até a edição 48. Quanto às capas, desde o número 36 estavam nas mãos do excelente Barry Windson-Smith que segue fazendo as capas até o número 48.

Então temos o retorno de Legião, que por um momento cede o controle de seu corpo para a sua personalidade sacana e lá vão os Novos Mutantes detê-lo. Nesse breve confronto se nota mais uma vez como a Illyana pode ser poderosa dentro de seu território, pois ao levar Legião para o Limbo, facilmente conseguiu dominá-lo.

Magik vs Legion by Jackson Guice

A edição 45 traz uma história isolada e bem dramática focada em um rapaz que se descobre mutante e começa a sofrer bullying a ponto de cometer suicídio. Destaque para a capa que faz parte das comemorações de 25 anos da Marvel em 1986.

New Mutants by Barry Windson-Smith

Nesse período é lançado o Novos Mutantes Anual, número 2, com roteiro de Claremont e desenho de Alan Davis. É a primeira aparição de Psylocke, que na ocasião é raptada por Mojo para participar de um de seus programas sádicos de TV. Parte dos Novos Mutantes também é raptada, e os demais, com ajuda do Capitão Britânia (irmão de Psylocke), vão salvá-los.

Na última edição de 1986, os X-Men e alguns Morlocks aparecem na escola bastante feridos por causa da batalha contra os Carrascos (saga Massacre dos Mutantes), ao mesmo tempo os Novos Mutantes se deparam com uma grande ameaça: o pai de Warlock, Magus.

X-Men by Jackson Guice

Magus vs New Mutants by Jackson Guice

O ano de 1987 começa com uma interessante história, uma saga intitulada Exterminadores do Futuro que vai da edição 47 à 50. Fugindo de Magus por um portal de Illyana, o grupo vai parar na Escócia medieval e depois em outro teleporte o grupo se dispersa.

Karma, Magma, Mancha Solar e Lupina vão parar em um futuro apocalíptico dominado pelos sentinelas, o mundo da saga Dias de um Futuro Esquecido (publicada na clássica Uncanny X-Men, números 141 e 142, em 1981). Como nada tem a perder e aquele mundo está tomado por Sentinelas, Magma aproveita a oportunidade pra usar seu poder ao máximo, criando um vulcão na ilha de Manhattan. Ela, de fato, é uma das mutantes mais poderosas, afinal, estando conectada ao planeta, em tese é capaz de destruí-lo por meio de tectonismo, pode despertar terremotos, vulcanismo, etc.

Magma by Jackson Guice

Míssil, Cifra, Miragem e Warlock vão para outro futuro que é o inverso daquele que o outro grupo conheceu. Aqui os mutantes dominam a humanidade. Se tornaram a elite vivendo na cidade alta, enquanto os humanos são marginalizados. Neste futuro encontram versões mais velhas de Sam e Danielle, que atuam na resistência contra a tirania, enquanto Roberto se tornou o próprio ditador, acompanhado por Magma. Também na resistência está Katye Power, que quando criança era parte do Quarteto Futuro e agora, já idosa, é a única que restou do grupo.

A edição 50 vem com tamanho duplo (40 páginas, com capa de Rick Leonardi) e encerra esse arco de maneira épica. De fato, foi o melhor arco da revista até então. Com o Limbo tomado pelo vírus do Magus, Illyana foge se teleportando e acaba em algum planeta alienígena, é vendida como escrava e coincidentemente seu caminho se cruza com o de Xavier, que na época estava exilado no espaço com Lilandra, a imperatriz Shiar, e os Piratas Siderais (é, parece uma versão da aliança rebelde de Star Wars, sendo Lilandra a princesa Leia).

Magik by Rick Leonardi

Xavier então tem oportunidade de fazer o que faz de melhor. Apesar de seu poder telepático ter um grande potencial ofensivo e destrutivo, a melhor performance de Xavier é quando ele dá suporte aos outros mutantes. Primeiro ele telepaticamente orientou a mente de Illyana de modo que ela se teleportasse com precisão, podendo resgatar os Novos Mutantes desgarrados no futuro. Todos são reunidos em algum planeta distante, mas logo aparece Magus destruindo tudo. Warlock até tenta enfrentar o pai, mas sozinho não consegue.

Warlock by Jackson Guice

Xavier orquestrou toda a batalha agindo nas mentes dos alunos. Despertou o poder de Magma pra que o planeta resistisse ao ataque de Magus, aumentou o poder de Karma que por um momento conseguiu dominar a mente do monstro e motivou o Cifra a usar seu poder linguístico. De fato, pela primeira vez o Cifra foi realmente útil, hackeando o código de Magus, fazendo-o regredir a um estágio infantil.

Finda a batalha, os Novos Mutantes se teleportam de volta à escola onde treinam na sala de perigo simulando uma luta contra os Carrascos. Illyana prefere ir para o Limbo onde continua tentando acabar com a rebelião de seus demônios que, liderados por Sym, tomaram o Limbo desde que Magus os transformou em seres tecnorgânicos. Magneto e Tempestade secretamente se tornam membros do Clube do Inferno.

Hellfire Club by Kevin Nowlan

Magneto continua mostrando o quanto se importa com seus alunos. Ele visita Illyana que está deprimida no quarto e ela o leva até o Limbo pra que ele veja o tamanho do problema. Ele então oferece ajuda e ela se sente motivada a continuar essa batalha pessoal.

Magik by Rick Leonardi

Em uma pausa nas grandes aventuras, Magneto leva os Novos Mutantes para uma festa no Clube do Inferno. Pois é, obviamente a turma não se sente muito à vontade, mas é uma boa ocasião pra desenvolver os personagens e mostrar como lidam com aquele ambiente esnobe e maligno. Illyana parece bem à vontade, afinal foi criada por um demônio. Doug até aproveita pra jogar poker numa cena bem James Bond. Acabam aceitando um desafio dos Satânicos para caçar a Víbora e o Samurai de Prata. Karma abandona o grupo para procurar por seus irmãos.

Cypher by Rick Leonardi

Neste período é lançado o Novos Mutantes Anual 3, quando Warlock conhece o brincalhão Homem Impossível e ambos duelam amistosamente. O desenho é de Alan Davis e roteiro ainda de Claremont.

Warlock vs Impossible Man by Alan Davis

Vários desenhistas são convidados nas edições seguintes. Kevin Nowlan na 51, Rick Leonardi na 52 e 53 e na revista 54 Sal Buscema nostalgicamente retorna. Um dos primeiros desenhistas da série volta para uma última parceria com Chris Claremont, já que este também entregará a revista. A partir da edição 55, Louise Simonson assume o roteiro, com desenho de Bret Blevins.

Tem início um arco que para mim foi o pior da revista até então. Os Novos Mutantes ficaram literalmente brincando com uma criatura chamada Menino Pássaro, dando comida, provando roupas, levando em lanchonete, cinema, tentando se comunicar. Foi uma história bem bobinha que se arrastou da edição 55 até a 60. Além disso, acho o traço de Bret Blevins bem feinho.

New Mutants by Bret Blevins

Nesse tempo, Warlock e Beto estavam de férias, Karma procurando os irmãos e Magma resolveu se mudar pro Clube do Inferno. Com Magneto então ficaram Miragem, Míssil, Magia, Lupina e Cifra. Neste período estava acontecendo o evento A Queda dos Mutantes (Uncanny X-Men 225-227 e X-Factor 24-26).

Seguindo o tal Menino Pássaro, os Novos Mutantes vão parar em uma selva onde um cientista maluco, Animator, faz experimentos com animais. Em meio à luta, Cifra é morto. Conseguem salvar os animais e voltam pra escola. Magneto dá uma grande bronca neles e Illyana, furiosa com a morte de Doug e a possível morte de Colossus (durante a Queda dos Mutantes), por um momento entra em sua forma demoníaca. Uma bela forma, convenhamos.

Magik by Bret Blevins

A partir da edição 62 as histórias finalmente voltam a melhorar. Nesse número, Louise Simonson desenvolve um interessante momento entre Magma e Empata, que viajam para a Nova Roma e sofrem um acidente de avião. Enquanto tentam sobreviver na selva, vão se conhecendo melhor e temos oportunidade de entender mais o poder e a personalidade de Empata.

O seu jeito manipulador e sádico é apenas uma camada, pois ele também é inundado pela percepção dos sentimentos das outras pessoas, o que deve ser uma experiência bastante estressante e confusa. O desenho é de Jon J. Muth, que tem um estilo bem diferente, com traços limpos e uma anatomia mais realista.

Magma and Empath by Jon J. Muth

Magma, Emma Frost and Hellions by Jon J. Muth

Magma and Empath by Jon J. Muth

Na edição 63 Magia tem um sonho surreal em que vai parar em uma nave alienígena e se depara com clones dos X-Men, salvando-os da Ninhada. O sonho, claro, foi uma manifestação de seu remorso diante da morte dos X-Men e ela chega à conclusão de que deve ir atrás de Forge para se vingar por ele ter traído o grupo. O desenho é de Bo Hampton, com capa de Carl Potts.

Bret Blevins retorna ao lápis no número 64. Warlock, que nada entende das coisas dos humanos, ingenuamente rapta o cadáver de Doug e sai sustentando ele por aí como um fantoche morto-vivo, numa história meio Um Morto Muito Louco.

New Mutants by Bret Blevins

Nesse período é lançado o Novos Mutantes Anual 4, com roteiro de Louise Simonson e desenho de June Brigman (e arte-final de Bob McLeod, o co-criador dos Novos Mutantes). Magma é capturada pelo Alto Evolucionário, o mais poderoso geneticista da Terra. Os Novos Mutantes, com Magneto e o Clube do Inferno, vão resgatá-la. Na ocasião, Miragem aprende a moldar objetos sólidos com sua imaginação.

No número 65 Magia continua furiosa e vai atrás de Forge em busca de vingança, sendo seguida pelos Novos Mutantes. Acabam enfrentando a Irmandade dos Mutantes (Blob, Pyro, Spiral, Mística, Avalanche, etc.), que mudou de nome para Freedom Force.

Magik by Bret Blevins

Na edição de número 66, nada mais adequado que um confronto de bruxos. Magia ataca Forge com toda sua força de Filha do Inferno, mas desiste quando se depara com a imagem dela mesma tomada pelo mal. A vingança não vale o custo de se tornar um monstro. A vidente Sina, que estava com Mística, prevê que Magia trará o inferno à Terra. Isso de fato vai acontecer nas edições 71-73.

Magik vs Forge by Bret Blevins

Magik vs Forge by Bret Blevins

Magik by Bret Blevins

Então vem um arco espacial nas edições 67-70 (esta última com desenho de Terry Shoemaker). Lila é capturada por aliens mercadores de escravos e Sam convoca o grupo para resgatá-la. No espaço, conhecem Gosamyr, uma bela alienígena que tem poderes de manipulação e faz com que os Novos Mutantes discutam entre si, mas ela apenas queria ajuda para libertar sua família dos mercadores. Tudo se resolve quando Lila se sacrifica teleportando os aliens junto com ela para o sol.

Gosamyr by Bret Blevins

Enquanto isso, Magia está cada vez mais problemática, se transformando muito na sua versão demoníaca, a Filha do Inferno, e o próprio Limbo está fora de controle, tomado por demônios. Isso vai desencadear o próximo arco: Inferno.

O número 70 encerra o ano de 1988. A seguir falaremos dos números 71 a 100 (aqui).

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