Tibia¹ é um jogo com muita personalidade. Seu estilo é inconfundível, mas como nada há de novo debaixo do Sol, também o Tibia teve sua inspiração, o Ultima Online (1997).
Em termos gráficos, o Tibia seguiu evoluindo ao longo de suas atualizações, de modo que hoje pode-se dizer que ele tem um visual bem mais bonito e caprichado do que o Ultima. Ironicamente, o Ultima sempre teve efeitos sonoros, enquanto o Tibia, andando na contramão da maioria dos jogos, foi um jogo mudo por duas décadas.
A ausência de som do Tibia foi sempre um motivo de piadas na comunidade gamer, de modo que, para surpresa de todos, a CipSoft resolveu inovar em pleno 2022, trazendo som ao jogo. Sim, agora Tibia tem som e fizeram um trabalho decente.
Agora quando você entra nas cidades se depara com uma música temática do local e com o som ambiente de pessoas andando, conversando, operários trabalhando. Na floresta você é recebido pelo som dos pássaros, sapos e outros bichos. Enfim, o jogo se tornou ainda mais imersivo e espera-se que com o passar dos anos a biblioteca de sons se torne mais rica e refinada. Ponto para o Tibia.
Um site agregador de OT servers. Tem versões para todos os gostos. |
A sobrevivência do Tibia ao longo de duas décadas é a clara evidência de seu sucesso. Outra prova de sua popularidade é o fato deste jogo ter inspirado tantas imitações. Já diz o ditado: "A imitação é uma forma de elogio". A partir do Tibia surgiu todo um ecossistema formidável de jogos "piratas" chamados de Open Tibia, para os íntimos, OT.
A comunidade de OTs já foi maior, mas ainda hoje existe vida neste mundo de versões alternativas ao Tibia. Geralmente, a motivação para pessoas jogarem OT é o fato de que podem desfrutar de uma experiência parecida com a do Tibia, porém sem ter que pagar uma fortuna em mensalidade, além do fato de que em OTs a taxa de ganho de experiência costuma ser maior, assim é como jogar Tibia, mas sem o grind insano que requer literalmente anos de dedicação para evoluir seu personagem.
Existem OT servers que são verdadeiros trabalhos de profissional, bastante customizados. Um exemplo curioso são os "poketibia", que são OTs customizados com base na temática Pokemon. Também há OTs beeem caseiros, alguns até hospedados no próprio PC do gamemaster, com sua internet caseira.
O Tibia também acabou inspirando outros jogos com uma produção mais autoral e profissional, como é o caso de Zezenia Online (2008) e Bloodstone The Ancient Curse (2019).
Um exemplo mais recente e que ainda está em fase de testes é o Ravendawn. Este mês o jogo abriu um servidor para testes em sua fase beta e a desenvolvedora já garantiu presença na Brasil Game Show em outubro.
Experimentei um pouquinho do Ravendawn. Visualmente, é inegável que o jogo é um "Tibia melhorado", pois investe mais em sprites animados, especialmente as criaturas, o que dá mais plasticidade e vida em comparação aos bichos quase estáticos do Tibia. Sem contar que os ataques são todos animados, há uma enorme variedade de classes de personagem que você pode construir, cada qual com um estilo personalizado de combate. Tem personagem para todos os gostos.
Uma das grande limitações do Tibia sempre foi o fato de ter se engessado nas quatro classes básicas e que na prática são apenas três: tank, arqueiro e mago (sorcerer e druid). No Ravendawn as classes são baseadas em 8 arquétipos que, combinados, podem resultar em 64 builds diferentes! É um modelo bem parecido com o do Ashes of Creation².
Aliás, parece que eles se inspiraram no Ashes também em outros aspectos, como no sistema de caravana, em que você poderá levar suprimentos em uma carrocinha através do mapa, a fim de vender no mercado.
O trabalho de ambientação do Ravendawn tem se mostrado bem detalhista. Quando seu boneco caminha pelo mapa, por exemplo, os passos produzem sons diferentes de acordo com o tipo de solo, seja madeira, terra, grama, etc. Nas cidades, existe uma grande população de NPCs que ocupam os espaços apenas para fins de ambientação.
Cada NPC tem falas próprias, de modo que há até certa poluição visual nos ambientes mais populosos, com tantos bonecos spamando balões de diálogo, mas o conceito é legal. Realmente dá uma vida ao cenário.
O jogo está quase pronto para lançamento e já possui uma grande quantidade de features. Tem árvore de skills, sistema de infusão, diversas habilidades de craft e coleta com suas própria árvores de evolução. Todavia, ainda falta polimento.
O chat, por exemplo, tem um texto muito pequeno e quando você fecha uma janela, como o inventário ou o próprio chat, o controle não passa imediatamente para o seu personagem, ou seja, as setas direcionais não funcionam a não ser que você clique na tela depois de fechar uma janela. Há janelas que poderiam fechar com um Esc, como os diálogos em missões, mas em vez disso tudo exige muitos cliques.
Achei a jogabilidade um pouco truncada. Não me pareceu agradável ou fluido caminhar e atacar com o personagem. A interação com o cenário é baseada na tecla F, mas em alguns casos seria bem mais prático se funcionasse com apenas um clique do mouse, como o ato de abrir portas ou coletar coisas. Parece que se preocuparam muito em criar um sistema de interação que dificultasse o uso de bots, mas acabou ficando maçante para o jogador ter que ficar dando F em tudo.
Enfim, este mundo de jogos Tibia-like está bastante vivo. O próprio Tibia ganhou agora novo fôlego com a atualização dos sons.
Já tive minha fase Tibia há muitos anos, bem como os momentos de nostalgia e retorno, às vezes só por curiosidade, só pra matar a saudade. Mesmo hoje, com a dominância dos jogos 3D e cada vez mais realistas, o Tibia se mantém firme em seu espaço. Confesso que hoje já não me dá prazer jogar seja o Tibia ou outro Tibia-like. Mesmo assim, ainda mantenho a curiosidade de continuar acompanhando este mundo e suas novidades.
Notas:
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