The Rings of Power: Primeiras impressões

É bom ter em mente algumas informações preliminares sobre The Rings of Power para se fazer um devido julgamento da série.

Primeiro, trata-se de uma fanfic. Isso mesmo. A série não pode ser considerada canônica em relação ao universo de Tolkien, ou sua canocicidade é no mínimo questionável, uma vez que ela não se baseia diretamente na obra tolkieniana, mas apenas nas informações dos apêndices dos livros com respeito à Segunda Era.

Em 2017 a Amazon comprou os direitos televisivos da obra de Tolkien por 250 milhões de dólares, mas ainda assim há limitações de conteúdo, uma vez que a Warner possui os direitos das trilogias de filmes The Lord of the Rings e The Hobbit. 

Além disto, o período da Segunda Era possui uma história que envolve séculos, de modo que a série televisiva (com previsão de 5 temporadas) teve que condensar esta longa narrativa em apenas uma geração. Logo, não é de se esperar uma fidelidade padrão nerd em relação à obra original. Inevitavelmente, a série está fadada a desagradar os fãs mais exigentes e puristas, ainda que a Tolkien Estate esteja presente na produção, monitorando o roteiro.

É impressão minha ou o Elrond parece o João Grilo?

Outra informação interessante é com relação ao orçamento. Além dos 250 milhões que o Jeff Bezos pagou apenas pelos direitos autorais, está previsto um custo de cerca de 60 milhões por episódio. Isso mesmo, por episódio. 60 milhões, por exemplo, foi o custo do filme Samaritan, também da Amazon, estrelado pelo Stallone¹. Se forem produzidas cinco temporadas com este custo, The Rings of Power será a série mais cara da história, alcançando o valor de 1 bilhão de dólares!

Esta informação inevitavelmente influencia nossas expectativas. Uma série tão absurdamente cara (cada episódio é 3 vezes mais caro que o da série concorrente House of the Dragon) deve ter uma qualidade no mínimo nível Game of Thrones. É o que esperamos.

Agora que foram lançados os dois primeiros episódios, pudemos dar uma checada nesta qualidade e, bem, não parece exatamente fazer jus aos 120 milhões gastos. Não que a qualidade visual esteja ruim. De fato, parece que boa parte do orçamento foi mesmo investida no world building. Nestes dois episódios, somos apresentados a diversos cenários de elfos, anões e "pés peludos", alguns cenários feitos puramente com CGI, outros são construções reais, pequenas vilas com casas cenográficas que devem ter custado uma grana.

O elenco é mais modesto, formado por ilustres atores desconhecidos que não devem custar muito caro. A criação também não está nas mãos de algum cineasta caríssimo. Poderia ser o próprio Peter Jackson, mas em seu lugar temos Patrick McKay e J.D. Payne, nomes que até então eu nunca tinha ouvido falar.

Ou seja, se há algo que deve absorver a maior parte do orçamento é a construção dos cenários e os efeitos especiais em geral, mas confesso que nestes primeiros episódios não tive a impressão de que estava assistindo a uma série "premium", algo supimpa. Parece uma série de fantasia genérica, impressão reforçada pelo elenco desconhecido.

Galadriel é a protagonista. Obviamente bem mais jovem que a Galadriel dos filmes, também é mais imatura ao ponto de ser irritante. Alguns críticos até a chamaram de "Karen", um tipo de personagem feminino que chama atenção pela imaturidade, por ser chata, arrogante e que provoca repulsa no público. 

Eu até entendo a proposta, pois parece que a ideia é desenvolver este seu caráter ao longo da série, quando as experiências duras da vida vão quebrá-la e torná-la mais humilde e parecida com a mansa e maternal Galadriel da Cate Blanchett. Só que não parece ser uma boa aposta, uma vez que uma protagonista obviamente teria mais aceitação da audiência se ela fosse likeable.

Enfim por enquanto estas são as primeiras impressões. Vejamos o que vem por aí.

Achei curiosa a semelhança destas cenas de Rings of Power e Savage Dragon.

Notas:

1: Samaritan, um indie genérico com o Stallone

Palavras-chave:

Amazon, Lord of the Rings, Tolkien