Impérios vão e vêm e também mudam de forma. Há pelo menos cinco mil anos em nossa história conhecida, o mundo tem experimentado um ciclo perpétuo de impérios nascendo, morrendo, mudando de mãos ou mudando de forma.
Além do império de nações, como o antigo Egito, Babilônia, Grécia, Pérsia, Roma e mais recentemente os Estados Unidos, o mundo também conheceu impérios supranacionais, como o califado islâmico e a igreja católica na Idade Média.
Eis que agora estamos entrando na era de um novo tipo de império supranacional: as mega empresas. Este tema já é bem famoso na ficção cyberpunk: com a evolução do capitalismo, empresas grandes vão absorvendo as menores, de modo que chega a um ponto em que os negócios no mundo inteiro estão concentrados nas mãos de umas poucas empresas, ou melhor, conglomerados que agrupam várias ramificações.
O escritor Cixin Liu¹, em seu conto "O último capitalista", chegou a imaginar que este processo de aquisições chegaria a seu estágio final quando em algum momento um único homem se tornasse literalmente dono de tudo, dono de todas as empresas, todas as terras, mesmo do planeta. Este seria o último capitalista.
É uma visão assustadora, mas tenho minhas dúvidas se a civilização realmente chegaria a tal ponto, porque se tem algo que a história nos mostra é que mesmo os mais formidáveis impérios se degradam. No tectonismo da história, o terreno está sempre se modificando. O que hoje está no topo, amanhã pode ser absorvido e se torna uma fina camada, substituída por algo novo.
O fato é que hoje nós já nos deparamos com verdadeiros impérios empresariais. Quem nunca viu aqueles diagramas mostrando um pequeno número de empresas que são donas de diversas marcas e subsidiárias?
Diferente dos antigos impérios que venciam seus adversários pela guerra, os impérios empresariais vencem pela concorrência ou pela curiosa estratégia da aquisição. Quando o Instagram surgiu, rapidamente se tornou um concorrente que ameaçava o Facebook. O que o Facebook fez? Comprou o Instagram.
No mundo do entretenimento, quem melhor ilustra esta era dos gigantes e sua fagocitose corporativa é a Disney. Para manter sua relevância na indústria, a Disney foi além do seu próprio studio de desenhos animados e passou a adquirir outros studios, canais, franquias.
Assim comprou a nerdíssima franquia Star Wars, os studios Pixar com suas excelentes animações, comprou a Marvel e conseguiu o feito de criar um complexo universo cinematográfico de filmes e séries compartilhadas como nunca se viu antes. Mais recentemente, comprou nada menos que o grupo Fox.
Mas mesmo entre os gigantes existe concorrência. Como no filme O Hobbit (2012), em que vemos enormes gigantes de pedra lutando entre si, assim os colossos da indústria do entretenimento disputam a atenção do público. Mas qual gigante estaria à altura para concorrer com o ciclópico conglomerado da Disney?
Por décadas a Warner Bros. foi uma concorrente natural da Disney. Até nas animações, enquanto a Disney tinha Mickey e Pato Donald, a Warner tinha Pernalonga e Patolino. No cinema, houve um embate de grandes franquias de fantasia, com a Warner tendo Harry Potter como seu campeão, enquanto a Disney reagiu com Piratas do Caribe.
Estes dois rivais se assemelham até no fato de terem adquirido as duas maiores empresas de quadrinhos do mundo. A Disney adquiriu a Marvel, enquanto a Warner ficou com a DC. Nesta batalha, porém, a Disney saiu na frente no cinema, com seu bilionário MCU.
A Disney é a Disney desde seu surgimento em 1923, já a Warner passou por várias aquisições, fusões e reformulações.
A Warner Bros. Pictures surgiu também em 1923 (de fato, ela veio alguns meses antes da Disney). Nas décadas de 70 e 80 chegou a fazer parceria com a Columbia Pictures (que hoje pertence à Sony) e na década de 90 se tornou parte de um conglomerado ainda maior de mídia, a Time Warner. Nos anos 2000, a Time Warner se fundiu com a então gigante da internet America Online.
Em 2018, foi a vez da Time Warner ser canibalizada por outro peixe maior, a gigante de telecomunicações AT&T. Enquanto isto, a concorrente da AT&T, a Comcast, havia canibalizado a NBCUniversal, da qual faz parte a Universal Studios, uma empresa que também sempre aspirou a concorrer com a Disney, tanto que ela tem seu próprio mundo de parques temáticos que rivalizam com a Disneylândia.
Em 2022, a Warner saiu das mãos da AT&T para se fundir à Discovery, assim surgindo a Warner Bros. Discovery. Mas calma que não para por aí.
Agora já se fala em uma iniciativa da Comcast para adquirir a Warner Bros. Discovery, o que pode acontecer a partir de 2024. Caso isto aconteça, haveria uma fusão com a Universal Studios, formando este Cérbero composto pela Warner, Discovery e Universal.
Não é certo ainda se esta fusão acontecerá. De toda forma, parece claro que a Warner seguirá como um grande rival da Disney.
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