Qaligrafia
Séries, livros, games, filmes e eteceteras 🧙‍♂️

Comparando Team Fortress 2, Overwatch e Paladins

Team Fortress 2, Overwatch, Paladins

Os dois maiores clássicos de FPS competitivo são criação da Valve: Counter Strike (1999) e Team Fortress (1999). São dois estilos distintos. CS é mais realista, enquanto TF tem um ar cartunesco e de fantasia. Counter Strike teve várias versões, sendo o Counter-Strike: Global Offensive (2012), ou CS:GO, a mais popular. Team Fortress teve apenas duas e a segunda versão, TF2 (2007), continua viva e com uma comunidade fiel até hoje.

Steam statistics

Team Fortress 2 não chega aos pés de CS:GO em termos de popularidade. Para pegar um exemplo de hoje (23/04/2022), o CS:GO tem quase 1 milhão de jogadores diários e tem sido assim por anos. Já o TF2 se mantém com sua comunidade mais "modesta" de 87 mil.

Counter Strike é de longe o grande sucesso do FPS e o ancestral de outras variantes do gênero, como os battle royales. Já o Team Fortress 2 estabeleceu seu próprio subgênero, uma espécie de FPS com um visual mais de desenho e um lore e habilidades dos personagens mais estilo fantasia.

Há dois grandes jogos que claramente sofreram influência de Team Fortress 2: Overwatch (2016) e Paladins (2016). 

Overwatch

Paladins

A jogabilidade de Overwatch é basicamente um Team Fortress 2 com poderes especiais. Você tem uma arma primária, outra secundária e um ataque melee, ou seja, três ataques básicos, assim como Team Fortress 2. Aí vem o diferencial que são as habilidades especiais, que são geralmente dois comandos e um terceiro que é a habilidade suprema, com um cooldown mais longo.

Paladins segue a mesma fórmula: duas habilidades básicas, uma suprema e duas armas alternáveis, mas não tem o ataque melee como terceira opção (alguns personagens têm melee em seu kit, como o soco do Androxus, mas ocupa o slot da arma secundária, ou o Terminus, que tem o melee como ataque primário). Diferente, porém, de Overwatch, Paladins tem uma gama de modificadores de desempenho que fazem muuuita diferença.

No caso, os modificadores são cartas, itens e talentos. No começo de cada partida, você pode escolher um entre três talentos, que dá algum poder ativo ou passivo ao personagem. Depois pode escolher um deck de 5 cartas que igualmente fornecem benefícios diversos. Cada personagem tem três decks pré-configurados, mas você pode montar três decks personalizados, escolhendo combinações de cartas, bem como a quantidade de pontos em cada carta, somando 15 pontos no total.

Como se não bastassem todos estes modificadores (que podem dar bônus de cura, roubo de vida, ataque, defesa, cooldown, velocidade na recarga da arma, velocidade de movimento, pontos de vida, escudo, etc, etc.), ainda existem os itens, que funcionam de forma semelhante aos Mobas: ao longo do jogo você vai acumulando pontos de acordo com o tempo e seu desempenho e estes pontos servem para comprar itens numa loja, de modo que no endgame você está bem mais forte do que no início. 

Os itens dão bônus de defesa, ataque, cura ou outras utilidades. Você tem uma lista de 16 itens para escolher, mas só pode ocupar 4 slots do seu personagem com itens de funções diferentes e pode upar os itens que já tem, melhorando o bônus que fornecem.

Enfim, tudo isto torna a jogabilidade de Paladins muito mais complexa que a de Overwatch ou Team Fortress 2. É preciso muito tempo e até estudo para você aprender a escolher os melhores itens, cartas e talentos de acordo com cada personagem, cada mapa e até cada estilo de jogo você quer adotar, pois dependendo da combinação destes modificadores você pode tornar seu personagem mais adequado a ataque, defesa, flanco, etc.

Desta forma, Paladins parece ser o jogo que mais recompensa jogadores com experiência e dedicação para aprender, pois não basta ter boa mira, antes é preciso pegar as "manhas", dominar a arte de fazer as builds com os modificadores. Dependendo destas builds, um mesmo personagem pode ficar bem buffado ou bem nerfado.

Por um lado, toda esta complexidade pode fazer de Paladins um jogo menos amigável para iniciantes e jogadores casuais, enquanto Overwatch não exige tanto aprendizado assim. Além disso, Paladins é conhecido em sua comunidade pelo excesso de bugs nos mapas ou por uma jogabilidade quebrada nos personagens, com habilidades que têm glitches ou foram mal projetadas. Neste aspecto, Overwatch é mais estável e os jogadores passam menos raiva com bugs.

Team Fortress 2, por ser um jogo já bem velho, é bastante polido, mas curiosamente possui alguns bugs tradicionais que nunca foram consertados e que de certa forma se tornaram parte da cultura do jogo, pois é divertido tirar proveito deles.

Evie; Paladins

Ainda tem mais um detalhe que diferencia Paladins dos outros: montarias. Por padrão você tem um cavalinho que pode usar sempre que sai da base, de modo que o tempo para chegar no objetivo é bastante reduzido, sem contar que você pode comprar itens durante a partida que aumentam ainda mais a velocidade da montaria. Há diversas skins para a montaria, que você pode comprar ou ganhar na sorte ao abrir baús. 

Se, em termos de build, Paladins oferece a customização das cartas, em Team Fortress 2 você pode forjar suas armas usando itens e sucatas que adquire à medida em que joga. Além disso, no TF2 você tem todo um inventário de itens que podem até mesmo ser comercializados na Steam.

Uma coisa em que Paladins difere bastante de Team Fortress 2 e Overwatch é a ausência de kits de cura no mapa. Os kits de cura são importantes pelo self sustain que oferecem, o que é uma mão na roda para flancos. 

No TF2, por exemplo, o Scout é um grande consumidor de kits, pois ele tem pouca vida, mas tem muita velocidade, de modo que está sempre avançado na partida, longe do healer, tendo que se virar sozinho pra se curar. Por isso no Paladins os que mais reclamam de cura são os flancos, pois eles atuam bem adiantados no mapa, enquanto o healer costuma fazer o contrário e ficar recuado, focando no tank e nos danos. 

Obviamente os kits são úteis para todas as classes e o mais importante é que eles diminuem a pressão sobre o healer. Todos sabem que o healer é a classe que mais recebe cobranças e que precisa de muita paciência pra aturar os outros players a todo momento exigindo cura. Quando o time perde, é comum culparem o healer injustamente, como se ele fosse obrigado a fazer milagres curando todos ao mesmo tempo.

Assim, os kits de cura no mapa funcionam como complementos ao trabalho do healer, tornando o jogo dele menos estressante. No Paladins, o jogo optou pela feature da cura fora de combate, ou seja, se você passa um tempo sem entrar em combate, sua vida vai se recuperar por conta própria. 

Na prática é bem difícil depender deste recurso, pois você tem que ficar se escondendo, se tornando um a menos numa partida em que cada segundo de combate é importante para o resultado final. Além disso, se você está sendo perseguido, simplesmente não tem como contar com a cura automática. É uma experiência frustrante jogar uma partida sem healer e tendo que ficar se escondendo a todo momento pra recuperar vida.

Na verdade, no Paladins há mais self sustain do que nos outros jogos. Muitos personagens têm habilidades de autocura, além disso há itens e cartas que dão life steal, em que você ganha um pouco de vida de acordo com o dano que causa ou um pouco mais quando elimina um adversário. Desta forma, o jogo recompensa com cura aqueles que são mais habilidosos, pois não basta passar por cima de um kit no chão do mapa, é preciso ser bom de dano.

Como, porém, só jogadores habilidosos conseguem se virar sem um healer, os jogadores novatos ou pouco hábeis são os que mais costumam cobrar a ajuda do healer, pois não conseguem desenvolver o self sustain e, não tendo kits médicos no mapa, chegam à conclusão que a única maneira deles se curarem é por meio do healer, que se torna extremamente requisitado.

Até neste aspecto o Paladins é mais complexo e difícil que Overwatch. Paladins requer muito mais dedicação para que você domine a jogabilidade. Quanto ao Team Fortress 2, a princípio parece ter uma jogabilidade mais simples e fácil, pois basicamente um iniciante só precisa se preocupar em apertar o M1 do mouse, mas há um mundo de truques e manhas que só com muito treino você consegue dominar, como os super saltos do Soldier e Demoman, o domínio da curva de alguns projéteis, a intuição para perceber quando tem um Spy invisível atrás de você, etc.

Hoovy; Team Fortress 2

Team Fortress 2

Em termos de visual, Team Fortress 2 é o mais divertido. A estética do jogo é cômica, a aparência dos personagens e seus trejeitos são engraçados. TF2 é um FPS que se leva menos a sério, que tem espaço pra brincadeira. Inclusive é comum certas partidas contarem com a presença dos chamados friendly, jogadores casuais que simplesmente se recusam a combater e ficam brincando no mapa e performando emotes e dancinhas. Um tipo particular de friendly tem até apelido, o hoovy, que é um Heavy que fica andando amigavelmente no mapa, sem combater, e até dando sanduíches para os players.

Paladins tem um visual decente, com skins e mapas que elaboram todo um mundo de fantasia, o Realm. Todavia, acho o Overwatch mais bonito. Tanto os mapas quanto as skins parecem mais polidos, com uma textura melhor trabalhada e um belo jogo de cores. No aspecto gráfico, Overwatch realmente supera. 

Team Fortress 2

Overwatch heroes

Paladins champions

Quanto à variedade de personagens, TF2 é o mais limitado, com uma galeria de 9 classes e os bonecos são todos homens. Pois é, TF2 é do tempo que FPS era coisa de clube do Bolinha e não se esperava encontrar meninas jogando. 

Overwatch até o momento tem 32 heróis. O ritmo de lançamento de novos personagens tem sido bem lento e agora mais alguns virão no lançamento do Overwatch 2. Paladins, por sua vez, não economiza nas novidades. Praticamente toda temporada aparece um personagem novo ("campeão", na terminologia do jogo), o que significa uns 3 a cada ano. Até o momento, Paladins já tem nada menos que 54 campeões!

Esta quantidade imensa de personagens é mais um elemento que torna Paladins um jogo mais difícil e complexo, com uma longa curva de aprendizado, pois é preciso muita dedicação para estudar cada um dos 54 campeões e a cada nova temporada estudar um novo personagem, além de se readaptar aos constantes nerfs e buffs de todos eles. 

Claro que você não precisa experimentar todos os personagens, mas com certeza conhecer como eles funcionam vai ser útil quando você estiver enfrentando os mesmos em uma partida. Se você nunca testou um personagem e ele aparece em uma partida como adversário, os ataques dele serão uma surpresa, você não saberá suas forças e fraquezas e como counterar suas habilidades. Então no fim das contas é importante para o bom desempenho da jogabilidade experimentar todos os personagens ao menos para conhecer suas mecânicas básicas.

Toda esta abundância de Paladins resulta em personagens menos polidos, mais quebrados, o que pode ser uma experiência frustrante para muitos jogadores. Por outro lado, quem gosta de variedade irá ficar menos entediado com Paladins do que com Overwatch ou TF2.

Grover and Groot
Grover, o Groot de Paladins.

Paladins e Overwatch surgiram no mesmo ano, em 2016, e coincidentemente há muitas semelhanças entre seus personagens. Muuuitas. Por ter surgido alguns meses depois e ser menos popular, Paladins costuma receber acusações de ter copiado Overwatch, tanto na aparência de alguns personagens, quando nas habilidades. Curiosamente, também parece haver uma inspiração em filmes da Marvel, como o Grover, que é claramente uma cópia do Groot e o Pip que parece o Rocket Racoon.

Global Agenda

Que Paladins copiou a Marvel em certos casos é algo evidente. Já a semelhança com Overwatch é controversa. Overwatch foi lançado em maio de 2016 e Paladins em setembro de 2016, já os betas fechados foram respectivamente em outubro e novembro de 2015. Segundo a Hi-Rez, a maioria das habilidades dos personagens de Paladins foi herdada de outro jogo mais antigo do mesmo studio, o Global Agenda (2010).

O fato é que há semelhanças demais entre os dois jogos. Assim como no caso clássico da Marvel e DC, talvez tenha havido uma retroalimentação, uma cópia mútua entre os desenvolvedores. É possível que os profissionais que trabalharam em ambos studios tenham trocado figurinhas ou se inspirado em uma fonte comum.

Barik and Torbjörn

O que nenhum dos dois pode negar é a influência de Team Fortress 2 e o maior exemplo disso é o personagem que instala uma torreta: Torbjörn em Overwatch e Barik em Paladins, ambos inspirados no Engineer de TF2. Inclusive o Barik tem uma skin que é homenagem ao Engineer e você ganha quando tem na sua conta da Steam tanto o Paladins quanto o TF2.

No fim das contas, apesar das semelhanças, são três jogos com suas próprias peculiaridades, três diferentes sabores de um mesmo gênero de FPS.

Semelhanças e diferenças à parte, há um elemento que acho fundamental para definir se um multiplayer é divertido ou não: o sistema de match. Até comentei sobre isto em outro post¹.

Paladins me parece ter o pior match. Ele simplesmente junta 5 players e estes podem escolher livremente seus personagens. Desta forma, não há garantia de que o seu time terá uma distribuição balanceada de funções, pois isto vai depender da boa vontade de cada jogador. Se todos os 5 decidirem pegar um personagem de dano, assim será. Se ninguém quiser pegar healer ou tank, o time vai jogar sem isto. 

A formação de times só funciona direitinho no Paladins em partidas competitivas, porque há mais pressão por parte da equipe para que todas as classes sejam preenchidas. No modo casual é um caos.

Outro problema é que você está preso ao grupo em que o match te colocou. Se o grupo tiver sérios problemas de relacionamento, se a partida se tornar tóxica ou por qualquer outro motivo você não está achando divertido jogar com aquelas pessoas e resolver quitar, um bot vai ocupar o seu lugar só pra quebrar o galho. 

Para quem continua jogando, é frustrante estar em um time em que players quitaram e foram substituídos por bots, pois os bots são ajustados de maneira a ter um desempenho inferior ao de um humano.

No TF2 e no Overwatch há uma solução melhor. Quando um player quita de uma partida, a vaga fica aberta para ser ocupada por outro player que estava na fila em busca de um match. Ou seja, você pode entrar no meio de uma partida. 

Esta liberdade para entrar e sair evita o crescimento de um clima de tensão e aborrecimentos. No Paladins, como você está preso a um time a partida inteira, se acontecer uma antipatia entre os players, a tendência é que cresça e no fim da partida estão todos putos da vida.

É inevitável que em sua experiência com multiplayer você encontre algumas pessoas tão desagradáveis que você gostaria de nunca mais entrar em um time com as mesmas. O Overwatch oferece um bom recurso para lidar com isto. No seu histórico de jogadas, você pode ver todos os players com quem já jogou e, além das opções básicas de bloquear e reportar (no Paladins você só tem a opção de reportar), também tem o "avoid as teammate", ou seja, você avisa ao jogo para nunca mais colocar você em um match com aquela pessoa. 

Por fim, Overwatch também tem um recurso que ajuda bastante na formação de times. Antes mesmo de começar um match, você tem que escolher previamente sua classe, de modo que o sistema do jogo sempre garante a formação de um time balanceado, que terá 2 tanks, 2 danos e 2 healers. 

Para estimular os players a escolher as classes, existem até recompensar e obstáculos. Por exemplo, o jogo te presenteia com moedas e até baús se você escolhe jogar de tank ou healer, além de ter um tempo de espera menor. Dano é de longe a classe que a maioria dos players prefere, então não há nenhuma recompensa caso você escolha jogar de dano e ainda terá que esperar uns minutos a mais na sua fila.

O fato de cada classe ter sempre dois jogadores também diminui a pressão da equipe, principalmente sobre os healers. Quando há apenas um healer, a cobrança sobre ele será imensa, o que acontece muitas vezes no Paladins. Em um time com dois healers garantidos, um pode complementar o outro na tarefa de manter a equipe inteira em boa saúde. A responsabilidade e a cobrança ficam diluídas.

Overwatch 2 vai reduzir a equipe de 6 para 5, mas mantendo a presença de 2 healers, o que de fato é importante. Haverá apenas 1 tank, o que é razoável, já que o tank é uma espécie de líder do grupo e, havendo apenas 1, a call do time será mais organizada.

Enfim, no quesito match, Overwatch realmente sabe o que está fazendo.

Notas:


Palavras-chave:


Nenhum comentário:

Postar um comentário