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Italianos no cinema, de mafiosos ao grande herói Rocky

Sylvester Stallone; Rocky IV (1986)

Na história das civilizações, a rejeição a estrangeiros é um fenômeno relativamente comum. Isto se deve ao instinto básico de autopreservação de um grupo que o leva a desconfiar de estranhos. Convenhamos que é um sentimento útil na sobrevivência humana, a começar no nível individual. É importante, por exemplo, ensinar as crianças a desconfiar de estranhos, desconfiança esta que evita muitas encrencas.

Toda socialização começa assim, com uma dose de estranheza, de desconfiança. As pessoas se examinam e leva um tempo e alguns esforços de ambas as partes até que se desenvolva uma relação mais amistosa. Estrangeiros que entram em uma comunidade com a intenção de se estabelecer são examinados pela comunidade nativa com sentimentos de cautela. 

Naturalmente, com o passar do tempo estes visitantes podem conquistar a simpatia local, podem se aculturar, se acomodar tão bem que passam a fazer parte da comunidade, tão bem aceitos quanto os nativos. Há, porém, certos obstáculos que acabam alimentando a rejeição dos nativos, como a criminalidade.

Como uma terra próspera e promissora, os Estados Unidos por séculos foram atrativos para imigrantes. Pessoas do mundo todo ali se estabeleceram a fim de construir uma vida, um negócio, uma fortuna. Também refugiados ali buscaram a paz que não tinham em sua terra natal. Infelizmente, também criminosos e máfias viram nos Estados Unidos uma oportunidade de negócio.

Uma das famosas máfias a se estabelecer na terra do Tio Sam foi a italiana, o que acabou prejudicando a boa convivência dos italianos em geral, da maioria que nada tinha a ver com a máfia e que só queria ter uma vida honesta. É aquela coisa: o mal feito por uma minoria ganha mais notoriedade que o bem da maioria.

Marlon Brando; The Godfather (1972)

Assim, a máfia italiana se tornou um tema bem comum no cinema americano, o que rendeu um belo acervo de ótimos filmes. Máfia italiana é praticamente um subgênero do cinema policial. O maior exemplo foi a trilogia O Poderoso Chefão (1972-1990).

Ou seja, italianos no cinema eram mais conhecidos em papéis assim, de criminosos, mafiosos, vilões. Até que veio o Stallone. 

Obviamente, Hollywood celebrou artistas italianos ou descendentes de italianos como Sophia Loren, Frederico Fellini, Francis Ford Coppola, Frank Sinatra, Leonardo DiCaprio, John Travolta, Nicolas Cage, etc, mas o estereótipo do italiano criminoso prevaleceu por um bom tempo na ficção sem que houvesse um contraponto à altura.

Sylvester Stallone, de mãe americana e pai italiano, realizou enfim este feito de trazer para a filmografia americana, para a cultura pop, um herói ítalo americano, o Rocky.

Rocky é um personagem humilde, pacato, um membro da sofrida classe trabalhadora pobre e que segue o sonho americano de prosperidade e de provar o seu valor pela dedicação. Ao longo dos filmes, acompanhamos sua ascensão e ele vai se tornando mais que um cara querendo vencer na vida. Ele se torna um herói americano, o mais memorável herói ítalo americano no cinema.

Sylvester Stallone; Italian Stallion (1970)

Apollo Creed, um lutador tão americano que usa as cores da bandeira no short, é quem reconhece este papel de Rocky ao apelidá-lo de The Italian Stallion (O Garanhão Italiano, também uma espécie de trocadilho com o nome Stallone e talvez até uma referência ao filme pornô de mesmo nome em que Stallone atuou em 1970¹). 

O auge do heroísmo patriota de Rocky acontece quando ele luta contra o gigante russo Ivan Drago, em Rocky IV (1986). Ali temos um personagem ítalo americano representando a América em um combate de importância simbólica para o ambiente político da Guerra Fria. Ele foi o campeão americano, provando que italianos no cinema também podiam ser grandes heróis e até mesmo representantes da América.

Notas:

1: Pois é, o Stallone já fez um filme pornô. De fato, Italian Stallion (título alternativo para The Party at Kitty and Stud's) foi o segundo filme de sua carreira, precedido por The Square Root (1969).

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