O que mantém o poder em um sistema totalitário é a síndrome do micropoder. O sistema opressor continua funcionando graças ao trabalho dos guardas que espancam e prendem pessoas em protestos não porque são devotos da ordem social, mas porque gostam de espancar e subjugar. Os fiscais do governo gostam da sensação de medo das pessoas, do suborno, da posição de submissão que o fiscalizado fica diante de um deus do julgamento. O fiscal é o juiz das ruas, ele condena com uma canetada em um formulário. O porteiro que pede documentos para permitir ou negar a entrada de pessoas deleita-se no seu status de Caronte, de barqueiro do inferno, ou de cérbero a vigiar as portas do Hades e decidir quem pode passar. Os agentes de propaganda gostam de se sentir os manipuladores da opinião pública, um poder diabólico de entrar na mente das pessoas, de ditar o que deve ser dito e não dito. Os vizinhos que denunciam outros vizinhos sentem o prazer sádico de ver o próximo sendo entregue aos leões. Os agentes do estado totalitário são pessoas comuns, pessoas pequenas, mas que se deliciam com o pequeno pedaço de poder que recebem ao representar a força opressora do estado, com o bônus de isentarem-se da responsabilidade pelos abusos que cometem, pois neste caso dirão que estavam apenas cumprindo ordens.
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