Cartas para Julieta (2010) se baseia no fenômero turístico real das "Secretárias de Julieta", um grupo de voluntárias que respondem, na medida do possível, às milhares de cartas deixadas por mulheres em um mural na cidade de Verona, na Itália. É como as cartas para o Papai Noel, só que escritas por adultas, relatando geralmente seus dramas amorosos para a figura abstrata de Julieta.
Aí a protagonista Sophie, interpretada pela Amanda Seyfried, é uma jornalista que conhece as secretárias e até as ajuda com as cartas, de modo que acaba encontrando uma carta escondida no muro há décadas e resolve encontrar a pessoa que escreveu.
Eis que ela consegue entrar em contato com a autora da carta, chamada Claire, que vai até a Itália com o neto pra, com a ajuda de Sophie, tentarem encontrar o cara pra quem ela escreveu a carta no século passado, um tal de Lorenzo Bartolini.
Aí o trio simplesmente sai pela cidade visitando todos os Lorenzo Bartolini, até finalmente acharem o crush da adolescência de Claire (ela tinha 15 anos).
O curioso é que, entre todos os Lorenzo que elas encontraram, o verdadeiro era de longe o melhor. Tinha Lorenzo padre, Lorenzo banguela, Lorenzo mulherengo, feio, gagá... Já O Lorenzo crush dela é um coroa enxuto que chega literalmente cavalgando, vive em uma rica fazenda e é um cara intenso e gente boa, enfim, o príncipe encantado (interpretado por Franco Nero, clássico galã do cinema italiano, que foi, por exemplo, o Django, no filme de 1966).
Apesar de parecer um daqueles romances bobinhos e novelescos, o roteiro do filme não é ruim. Há várias histórias bem encadeadas. De um lado tem essa história da busca pelo velho namorado de Claire; tem a aventura pessoal de Sophie, que além de estar fazendo uma matéria interessante para sua carreira e tendo uma oportunidade de se tornar escritora, passa por essa fase de repensar o relacionamento, pois está namorando um cara, Victor, mas acaba se apaixonando pelo neto de Claire, sabe-se lá por quê.
Victor acaba tendo também uma espécie de história de fundo. Ele é muito apaixonado pela culinária, a ponto de acabar dando pouca atenção a Sophie e vive ocupado em suas aventuras gastronômicas.
Aí esse romance de Sophie com o cara, nem lembro o nome dele e prefiro chamar de neto da Claire, é bem besta, mas tinha que acontecer, afinal é um filme de romance e a protagonista tem que terminar beijando o novo boy. Rola até um lance clichê dela ver o cara com uma garota e pensar que é namorada dele, mas depois descobre que é só uma prima e, ufa, então eles podem ficar juntos. Meh.
Há, porém, um breve momento nessa história toda que teve real profundidade. É contado que a Sophie foi abandonada pelos pais muito cedo, o que obviamente deixou nela um grande vácuo. Em certa ocasião, Claire vai conversar com Sophie e começa a pentear o cabelo dela e Sophie cai no choro.
Esta cena tem um grande significado, pois o ato de pentear o cabelo claramente remonta a um momento de mãe e filha, momento que Sophie nunca teve, já que foi desprezada pela própria mãe. Claire se tornou para ela esta figura maternal (e ainda vai ser também a sogra-avó).
Ou seja, apesar de ser um filme de romance, o mais importante não foi Sophie ter conhecido um cara por quem se apaixonou (esse cara é bem chato, inclusive), mas sim a amizade que desenvolveu com Claire.
Mantém-se aqui a teoria das almas gêmeas que sempre existe em histórias românticas. Duas pessoas estavam destinadas a se encontrarem e as circunstâncias as levaram a isso. Só que aqui as almas não são um casal de namorados e sim uma garota e uma senhora que se torna a mãe que ela nunca teve.
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