Já sou um veterano na internet, um véio. Quando comecei, as pessoas ainda falavam em "surfar na internet". Acompanhei a evolução deste universo, as mudanças de paradigmas e as modas, mas tem uma coisa que não consigo aceitar: a nova tendência a chamar sites de "aplicativos" ou "apps".
É como se o conceito de hiperlink, algo que faz parte dos fundamentos mais profundos da internet, estivesse caindo no esquecimento. E a culpa disto é do smartphone.
O que acontece é o seguinte: diferente do PC, onde é fácil guardar sites nos favoritos do navegador, até organizando em pastas e subpastas, no celular isto não é tão prático. Então inventaram os aplicativos específicos para acessar sites. Assim surgiu o app do Facebook, do Twitter, do Instagram, etc.
O objetivo destes apps era, entre outros, garantir que o site adquira um formato adaptado para os celulares, pois certos recursos que funcionam num browser no PC (como plugins e javascript) podem não ser compatíveis no smartphone, aí o app já vem com todo o kit necessário para aquele site específico funcionar.
Além disso, tem a questão da facilidade de acesso. Não é prático para usuários de smartphone ficar salvando sites em favoritos. O app basicamente é um link embedado em uma figurinha clicável, um ícone de atalho que dá acesso a determinado site.
Assim surgiu a moda dos apps, pois muitos sites, mesmo que sejam capazes de rodar sem problemas num celular, acabam criando seus próprios apps pra oferecer ao público um íconezinho que possa ficar ali visível na tela de aplicativos, fácil de ser acessado.
E assim, o aplicativo, que nada mais é do que um navegador projetado para acessar um site específico, acabou virando sinônimo de site. O ícone do app, que nada mais é do que um hiperlink para o site, virou sinônimo de site.
Esta mania dos apps acabou também criando em alguns usuários a impressão de que só existe um site se existir um aplicativo para acessá-lo. O smartphone despreza o browser, como Chrome ou Firefox. Nos notebooks e PCs, os browsers continuam reinando como o software mais usado, enquanto nos mobiles as pessoas se acostumaram a só acessar sites por meio dos aplicativos.
Uma consequência curiosa disto é que no smartphone as pessoas acessam uma quantidade bem menor de sites do que no PC, pois se limitam a usar apenas os apps que instalam e não têm o hábito de "navegar", como se faz em um browser, em que você visita diversos sites, clicando nos links e fazendo buscas.
Não que no smartphone as pessoas não cliquem em links e não sejam direcionadas a um site via browser, mas este hábito é bem mais raro. O smartphone e os apps criam um mundinho internético mais restrito, e, para muitos usuários, este mundo consiste nas redes sociais e aplicativos de mensagem.
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