Existem estas teorias de que o livro Alice no País das Maravilhas, bem como a sequência Alice Através do Espelho contêm uma série de simbologias ocultistas intencionalmente inseridas pelo autor, Lewis Carroll. Bom, a simbologia pode de fato ser encontrada, mas tenho impressão que o autor não teve intenção nem consciência disto.
Já descrevi algumas das mensagens simbólicas do livro em outro post¹, mas mudei de opinião quanto à intencionalidade do autor. Alice não é uma figura profundamente planejada por Carroll. A intenção do autor era mais trivial: ele queria inventar uma história cheia de brincadeiras, trocadilhos e principalmente nonsense, apenas para divertir a Alice do mundo real, uma garota filha de seu amigo.
Então, se Carroll não pretendia rechear sua história de elementos ocultos, por que eles estão lá? A resposta está no conceito de egrégora. Um bom exemplo para entender a egrégora é o personagem Coringa². Em termos simples, a egrégora é uma ideia que ganha vida própria e que evolui indepentende da intenção ou vontade de quem a criou originalmente.
Muitos escritores têm esta sensação de que não têm controle sobre o destino e comportamento de seus personagens, realmente como se eles ganhassem vida própria ao longo da história. Em certos casos, o personagem vai ganhando novas camadas de significado conforme se integra à cultura e à consciência coletiva. Este é o caso de Alice.
O primeiro símbolo oculto presente em Alice é o famoso "buraco do coelho", que com o tempo passou a ser associado à jornada do iniciante rumo ao abismo, às profundezas misteriosas, à aventura do mago na busca por conhecimentos ocultos.
No filme Matrix, o coelho branco é citado como uma referência à jornada de Neo em direção ao desvendamento da realidade. Seguindo o coelho e mergulhando no buraco, Neo descobriu a Matrix, descobriu que o mundo não era aquilo que parecia ser.
Até no jogo Paladins, temos a personagem Seris que é uma bruxa, tem o poder de ficar desaparecer entrando em outra dimensão e suas falas são cheias de teor místico. Uma de suas falas é "down the rabbit hole we go", que é uma expressão popular já consagrada e que significa justamente a aventura em direção a algo mágico ou fantástico.
Alice, enfim, se tornou uma maga na consciência popular, uma personagem capaz de viajar entre os mundos, mergulhar na profundeza da própria consciência (aquele mundo estranho que ela visita pode representar o seu inconsciente povoado por arquétipos). E isto tudo aconteceu sem que Lewis Carroll sequer tenha planejado, pois Alice ganhou vida própria, se tornou uma entidade que transcendeu a modesta intenção do autor.
Notas:
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