Qaligrafia
Séries, livros, games, filmes e eteceteras 🧙‍♂️

Habemus HBO Max

HBO Max

Eu demorei pra aderir ao mundo do streaming. A Netflix já se tornou a nova TV para muitas famílias e já é um sucesso há quase uma década (mas a empresa existe desde 1997!). Só fui assinar pela primeira vez no segundo semestre de 2019 e desde então este site se tornou parte da minha rotina, algo que já não me imagino sem.

A Netflix já tem muuuita coisa pra eu assistir e de fato, mesmo após dois anos, ainda não vi metade do que marquei na minha lista de interesses. E obviamente esta lista vai crescendo com novos lançamentos. No entanto, mesmo tendo na Netflix conteúdo bastante pra uma vida, não resisti à tentação de assinar o Amazon Prime quando chegou ao Brasil no finalzinho de 2019.

A princípio assinei como um teste. Queria ver o que tinha lá que a Netflix não tinha. Além disso, o valor da assinatura é extremamente convidativo e o Prime inclui diversos benefícios além do streaming, como livros e games, frete grátis nas compras, etc. 

O resultado é que Netflix e Prime agora se tornaram  um pacote mensal do qual não abro mão. Ambos se complementam quanto ao catálogo e o valor final compensa, pois gasto pouco mais de trinta reais por mês. Ora, trinta reais hoje em dia é só uma entrada de cinema. Em vez de ir ao cinema (que não gosto mesmo), tenho em casa duas enormes locadoras de filmes.

Também tento de vez em quando assistir algum anime na Crunchyroll e lá nem preciso pagar nada, pois dá pra ver de graça, mas com alguns anúncios ao longo da animação.

Pois é, este mundo novo internético foi feito para os caseiros. Sempre fui bastante caseiro e agora então com todos estes streamings tenho o suficiente pra me entreter. Desenvolvi um hábito que hoje é bastante comum: assistir a algum streaming durante as refeições. É a nova TV. Se organizar direitinho, você pode todo dia ver a Crunchyroll no café da manhã, Netflix  no almoço e Amazon no jantar. Bom, na prática a coisa é mais aleatória que isso, claro.

Estes dias veio mais um grande serviço para competir neste nicho, o Disney Plus. A verdade é que não me interessou muito. Da Disney basicamente o que me interessa são os filmes e séries da Marvel, bem como o universo Star Wars, mas tenho acompanhado tudo isto na Netflix e Amazon, quando ficam disponíveis. 

Provavelmente vou em algum momento assinar a Disney pelo menos um mês pra ficar em dia com o material exclusivo, como estas novas séries do Loki, da Feiticeira Escarlate, o Mandaloriano, etc. Enfim, estou deixando que junte tudo pra eu assistir no montão no fim do ano, como diria o Seu Madruga.

Streaming hoje é o que não falta. A tendência é ficar nichado por studio ou por franquias. A franquia Star Trek, por exemplo, é da CBS e tem toda no streaming deste canal, mas ainda dá pra encontrar espalhada na Netflix e Amazon. 

Não creio que estes canais menores acabem. Vai se tornar algo normal que cada studio ou canal tenha seu streaming, até ao ponto de canais mais regionais e menores terem também. Só que também haverá agregadores, como é o caso do Prime, onde dá pra "sub-assinar" outros canais além da assinatura básica.

Anyway. Os grandes, os gigantes mesmo já estão definidos e provavelmente não haverá mais nada além deles neste Olimpo dos streamings: Netflix, Amazon e Disney. Ah e tem a Apple também, só que é bem mais nichada, voltada para os iPhone lovers.

Eis que chegou agora mais um serviço que promete ser grande, o HBO Max. Sendo um combo de HBO com Warner, ele é o concorrente direto do Disney Plus. Claramente Disney será mais para o nicho infantil e HBO para o adulto. Além disso, Disney tem Marvel e HBO, DC.

Dessa vez devo confessar que não resisti de novo e assinei no mesmo dia que ficou disponível no Brasil. No caso, hoje, 29 de Junho. O plano é ver alguns lançamentos exclusivos que eu realmente estava curioso para ver, a começar pelo tão falado Snyder Cut de 4 horas (já comecei a ver e devo terminar só amanhã ou depois de amanhã porque filme longo eu vejo em pedacinhos mesmo).

Aí fui listar outras coisas pra eu aproveitar nesse mês de assinatura e acabei percebendo que tem conteúdo pra alguns meses. É HBO, você me pegou.

Pra começar, tem o material da DC. Tem a quadrilogia clássica do Superman, bem como a do Batman, além da trilogia do Nolan; tem a trilogia Matrix, que já vi tantas vezes e de vez em quando volta pra Netflix, mas além disto tem Animatrix, que nunca achei nem na Netflix nem na Amazon. Já sei que vou acabar matatonando tudo novamente algum dia.

Tem umas séries bobinhas da DC que eu talvez nem goste muito, mas vou acabar vendo porque simplesmente não sou capaz de deixar passar qualquer conteúdo da Marvel/DC. Se fazem uma série da tia do Alfred, lá estou eu assistindo. Neste caso, tem a série do Doom Patrol, da Batwoman, da Stargirl e a já cancelada Swamp Thing que eu tenho curiosidade de ver desde quando foi anunciada lá em 2019. Aí tem os filmes novos da DC, o Aves de Rapina e a Wonder Woman 1984.

Na verdade eu esperava mais. Cadê todas as séries da CW? Cadê os outros filmes da DC, como o Shazam? Mas eu sei o que eles querem fazer. Vão lançando tudo isto aos poucos, pra assim ter novidades a oferecer aos assinantes todo mês. De toda forma, o que já encontrei dá pra preencher um mês inteiro. 

Tem também algumas séries renomadas da HBO que quero muito ver: Watchmen, Lovecraft Country, Crenobyl e Sopranos que há aaaanos eu tenho na minha listinha e ainda não vi. Big Bang Theory eu assisti umas 9 temporadas na Netflix, até que foi removida. Agora vou poder terminar. 

Também Game of Thrones eu acompanhei ano após ano por meio daquele download maneiro que todo mundo fazia na época, mas acabei dando um hiato após a penúltima temporada, de modo que até hoje eu não vi o final, mesmo já sabendo de todos os spoilers que a internet jogou na minha cara. Bom, agora tenho um motivo pra voltar e terminar essa série. O mesmo vale pra Westworld.

Enfim, HBO mal chegou e já calculo que terei de assinar uns dois meses pra ficar em dia com o conteúdo que me interessa. Meus cálculos na certa devem estar errados e vou precisar de uns três ou quatro meses e ao longo desse tempo outros lançamentos vão aparecer pra me manter assinando. Será que vou terminar ficando assim, assinando a trindade Netflix-Amazon-HBO eternamente? Vida longa aos caseiros, pois vamos precisar de tempo pra ver tudo isso.

Nota em 22,09,2021:

Após três meses experimentando o HBO Max, devo dizer que estou muito satisfeito. O catálogo tem aumentado semanalmente e minha lista de interesses já está lotada, pois tem chegado muito conteúdo da DC, até a finada série do Constantine está lá, bem como uma quantidade absurda de filmes e séries animadas do Batman. Já chegou a série animada inesquecível do Batman dos anos 90. Tem clássicos como Os Intocáveis, Dirty Harry, E o Vento Levou, Cantando na Chuva e tantos outros do século XX. Enfim, já tem muuuita coisa para um serviço tão novo. Netflix que se cuide.

Náufrago

Minha alma
soçobrou
e só sobrou
a lama.

(29,06,2021)

A arte de não ter opinião

Há diversos assuntos sobre os quais eu não tenho uma opinião, ou até tenho, mas tenho de uma forma descomprometida, sabendo que são pouco embasadas, que podem mudar. Há coisas que provavelmente nunca vou entender a fundo e há muitas questões que vou manter em aberto por toda a vida. E sinto um grande alívio por isso.

Já houve tempos em que eu era um cultivador de opiniões formadas e me orgulhava disso, do dogmatismo, da firmeza em afirmar as coisas. É algo que alimenta o ego, que nos faz sentir que estamos no caminho certo. Até que conheci o caos e o mundo das incertezas, o que foi incômodo, mas libertador.

A verdade é que me tornei mais preguiçoso. A preguiça pode ser uma forma de sabedoria. Ela consiste em calcular se as coisas valem o esforço. E assim concluí que há diversos temas, diversas opiniões que não valem o esforço que as pessoas empregam. Há tanta briga desnecessária, tanto sangue fervendo por causa de opiniões de pouca relevância. Tanto tempo gasto em se aprofundar no vazio... Tenho preguiça disso.

Logo, me tornei mais seletivo. Opiniões são como vícios. É bom que todo mundo tenha alguns, mas escolha bem quais, escolha aquilo que não te destrua nem destrua os demais. 

(27,06,2021)

As fórmulas da vida

Tantas pessoas estão vendendo fórmulas para a vida. Como ser feliz, como resolver seus problemas, como ser melhor... E se na verdade as fórmulas não funcionam? E se cada pessoa for um enigma e um mistério que só ela mesma pode investigar? E se o que deu certo para uma pessoa não sirva de nada para outra? E se os motivos para ser feliz sejam tão diferentes quanto as frutas e seus diversos sabores? Talvez o que me causa alegria te cause alergia. Talvez o teu prazer seja meu desprezo. Talvez tenhamos paladares diferentes para o mundo e nossos olhos sequer veem as mesmas cores igualmente. Fórmulas existem para situações e condições iguais, mas nós não somos iguais. Cada qual é um caos. Nossas engrenagens têm diferentes encaixes. É inútil tentar uniformizar o heterogêneo, tentar dissolver as diferenças e compactar as pessoas em moldes. Cada qual é peça única, artesanal. A natureza do mundo é a pluralidade, pois o mundo é um grande laboratório em constante experimentação. Viver é um experimento, logo, não há fórmula pronta. Viver é transformação, é uma constante mudança. 

(26,06,2021)

Torvald, um dos personagens mais subestimados de Paladins

Torvald; Paladins

O velho Torvald é um dos personagens menos pickados em Paladins. Primeiro porque a arma principal dele dá pouco dano em relação a outros tanks. Neste quesito só se compara à Inara que também bate pouco com aquelas pedrinhas dela. Logo, é um tank que, à primeira vista, não parece capaz de matar ninguém, diferente, por exemplo, de um Khan com sua chuva de balas. Tanks que batem pouco acabam reduzindo o DPS total da equipe, então ninguém quer usar um tank assim e o time também não gosta quando alguém escolhe ele.

Depois, apesar de Torvald já começar a partida envolto em um escudo e poder recarregar este escudo com frequência, a verdade é que ele não é tão bom quanto os escudos do Barik, Khan, Ash, Makoa e Atlas (no caso do Atlas, ainda tem uma vantagem que seu escudo não pode ser destruído com dano, ele simplesmente tem um tempo de duração e só vai acabar quando passar esse tempo). 

O muro da Inara, além de escudo, tem funções estratégicas de manipular a movimentação do inimigo pelo mapa. O escudo do Fernando, quando numa build full defesa, torna ele bem difícil de matar. O sifão do Terminus também tem uma build que deixa ele praticamente infinito e ele se torna um tank bem irritante para os inimigos, uma esponja de balas. 

A defesa da Yagorath é bem egoísta e protege apenas ela (como o Terminus), mas protege muito bem. Logo, o escudo do Torvald é o pior, comparável apenas ao do Ruckus, mas o Ruckus ainda tem vantagens, pois ele possui cartas de auto-cura bem eficientes.

O Torvald parece mais um tank-suporte, ou melhor, um off-tank. Ele pode dar escudo para outros players, inclusive com alguns bônus como cura, dano ou velocidade. Além disto ajudar o time no quesito proteção, também garante um bom farm de pontos para o Torvald, que pode então comprar itens mais rápido.

A grande prova de que o lugar do Torvald é como off-tank é a sua habilidade de nulificador. É justamente ela que me faz gostar do personagem. O nulificador impede os inimigos de usarem habilidades, além de dar algum dano. Ora, os personagens que mais dependem de habilidades são os flancos e danos. Uma vez que estas habilidades são canceladas, eles perdem bastante seu poder de fogo e sua capacidade estratégica.

Por exemplo, o Torvald pode anular o voo de um Drogoz, o teleporte de um Vatu, os saltos de um Androxus... Inclusive já derrubei alguns destes personagens nos abismos do mapa porque eles estavam lá planando, seguros que iriam atravessar o abismo de boa com as habilidades de locomoção, aí usei o nulificador e foi como cortar as asas deles. Caíram no abismo.

A Evie é provavelmente a personagem que mais depende das habilidades. Ela é um terror quando fica se teleportando e voando. Eis que o Torvald anula isto, cortando a maior vantagem estratégica da Evie que é sua movimentação. A Skie, quando é anulada, não pode ficar invisível, se tornando bastante vulnerável. A Lian não pode ficar spamando todo o kit de danos dela. O Zhin não pode ficar spamando o kit de defesa e furtividade, se tornando vulnerável. Torvald no flanco é um terror para os flancos inimigos.

E é assim que gosto de jogar com o Torvald. Indo com ele junto com os flancos, ele oferece um grande suporte para inutilizar os flancos inimigos e facilitar o trabalho dos flancos aliados (dando escudo para os aliados e nulificando os adversários). 

A função de flanco é talvez a mais estratégica do jogo. É um efeito dominó. Os flancos dão a volta no mapa e matam os suportes que ficam geralmente nos fundos. Uma vez que os suportes estão mortos, todo o time fica sem cura e se torna mais fácil de ser derrubado. É essa a ordem tática recomendável de uma partida: morrem primeiro os suportes, depois os danos e enfim o tank, liberando o ponto para captura.

Há, porém, algo que acontece antes de tudo, numa partida com formação convencional. Se os dois times têm flancos, logo no começo acontece um clash de flancos, um embate entre eles, pois se encontram no meio do caminho enquanto tentam passar em direção aos suportes. O flanco que atravessa esse embate inicial e chega ao suporte é que garante o sucesso da partida. 

É aí que entra o Torvald. Sendo um tank, mas com uma habilidade bastante útil contra flancos, ele tende a vencer esse clash de flancos ou pelo menos atrapalhar bastante o trabalho dos flancos, mantendo o suporte do time em segurança.

Mas a vantagem estratégica do Torvald não se resume ao início da partida. No late game, ele tem uma ult que pode ser bem troll e decisiva. Em momentos de desespero, quando o time inimigo está quase capturando o ponto, esta ult pode ser usada pra limpar o local, mas não é o uso ideal dela. 

O ideal é quando o time inimigo inadvertidamente está de costas para um abismo. Há alguns mapas em que o abismo fica ao lado ou atrás do ponto final de captura, como é o caso da Frog Isle, Jaguar Falls e Serpent Beach. Aí é perfeito para ele utar no finalzinho da partida. É uma questão de sorte, movimentação e o ângulo certo. Se estas condições dão certo, o Torvald estará no spot ideal pra utar e então empurra literalmente para fora do mapa todos que estiverem naquele raio de visão. É uma maneira instantânea de decidir uma partida. 

Só o Terminus tem uma ult de decisão de ponto comparável, mas é bem tosca, pois ele tem que morrer pra usar e como a ult leva um tempo de carregamento, dá tempo para que os inimigos fujam (o que acontece na maioria das vezes). A ult do Torvald, por outro lado, se bem aplicada pega um time inteiro de surpresa.

Além de tudo isso, eu gosto de personagens subestimados, pois são estes que surpreendem. Como a maioria dos players não leva o Torvald a sério, costumam não se equipar contra ele. Ou seja, já observei várias vezes que a equipe adversária nunca comprava resiliência, mesmo tendo um bom Torvald no time oposto. As pessoas acham que não será necessário, subestimam o nulificador. 

É comum comprarem resiliência contra os empurrões da Ash e do Atlas, porque empurrão é algo bem conspícuo, que você sente visivelmente a consequência. Já o nulificador muitos players não entendem direito como ele age ou como ele os prejudica, então acham que não vale a pena gastar pontos se protegendo de um nulificador. Logo, o Torvald geralmente tem o caminho livre pra usar o nulificador sem qualquer resistência.

Esta é a lógica dos personagens subestimados. Você não levanta a guarda contra eles, porque acha que eles não representam uma ameaça, então toma um soco na cara.

Por fim, eu gosto do lore do Torvald. Ele é um intelectual, um cientista e místico daquele mundo, o que o torna bem peculiar em meio a tantos personagens que são guerreiros, assassinos, monstros e demônios. Torvald é só um velho elfo vestido em uma túnica. É o oposto do Khan que está coberto de armadura e tem uma ruidosa arma de fogo. 

Este pacato e culto velhinho está ali no meio da batalha só porque a necessidade o levou até ali e seu interesse continua sendo sempre o conhecimento. Ele é talvez o personagem que tem as falas mais pacatas. Não fica falando "vou te destruir" ou coisas do tipo. Algumas de suas falas que gosto:

No início da partida

"Let's experiment." 
"So much knowledge hidden here, waiting to be discovered!"

Quando ajuda outro player a matar um inimigo (kill assist)

"Two minds are greater than one."
"See what happens when we put our heads together?"

Quando morre ou é derrotado na partida

"I have so much left to learn..."
"I lost, but I learned something!"

Quando vence a partida

"Another victory for science!"

A epidemia de podcasts

Podcast

Sigo algumas centenas de canais no Youtube. A maioria são canais de trailers de filmes, de astronomia, tecnologia, animes e outras nerdices. E também tem uma meia dúzia de canais de podcast. Acontece que, pro algoritmo do Youtube, esta meia dúzia importa mais do que as dezenas de canais de outros assuntos, porque ultimamente essa desgraça enche o meu feed com entrevistas e cortes de entrevistas.

E olha que nem assisto muito podcast e, quando assisto, sequer vejo a entrevista toda, pois convenhamos que estas entrevistas duram horas. Realmente prefiro os cortes, quando o assunto me interessa, mas é algo que vejo esporadicamente, e não todo dia. Mesmo assim, o Youtube insiste em me recomendar mais e mais, como se fosse a coisa mais interessante em meio a todo o conteúdo dos canais que sigo.

Isso mostra como o algoritmo não funciona de forma tão personalizada como é prometido. Sim, o site vai aprendendo seus gostos pessoais, mas em meio a isso ele força conteúdos que nem são tão relevantes pra você, mas são estatísticamente relevantes para um grupo. Ou seja, já que podcast agora é a grande moda do Youtube e toda semana tem gente criando podcast e as lives que mais dão audiência são de podcast, podcast, podcast... Então o Youtube acha que todo mundo vai gostar que ele recomende mais podcast, mais ainda se você for um inscrito.

É por isso que estou pensando em me desisncrever de tudo quando é podcast e torcer pro algoritmo se tocar que eu quero recomendações de outros assuntos. Até os trailers de filmes novos, que é algo que sempre gostei de ficar em dia, mal aparecem no meu feed. Os podcasts zuaram a personalização toda do meu perfil. 

O primeiro podcast que conheci foi o Nerdcast há quase dez anos e por anos a fio venho acompanhando. Já houve época em que eu ouvia religiosamente toda sexta-feira, mas agora só ouço mesmo quando o tema me interessa muito. Também ocasionalmente ouço o MRG. Reconheço que podcast é um formato muito agradável que mistura informação e entretenimento. Mas tudo estraga quando satura.

Na verdade eu espero que todos os novos podcasts que estão surgindo consigam seu espaço. Pensando do ponto de vista de oferta de conteúdo, quanto mais melhor, ainda mais se forem se especializando em nichos. Mas porra, Youtube, eu só quero poder curtir outras coisas. Me recomende raridades, vídeos antigos, pérolas perdidas... 

Eu gostaria que houvesse uma maneira de configurar as escolhas do algoritmo de modo que, em vez dele me mostrar o que está em alta, na moda, o que todo mundo está vendo, me mostrasse algo desconhecido, algo novo, pois é assim que funciona minha mente: quando algo vira moda, perco o interesse.

Roxo

O roxo é a cor da realeza,
da magia e dos mistérios hadeanos.
É uma rara cor na natureza,
a mistura do magenta e do ciano.

Os opostos se encontram neste tom.
Ele tinge o céu na transição de turnos.
É purpúreo o limbo onde então
vivem estes que trafegam entre os mundos.

O vinho violeta dos vampiros e vilões.
O misto de masculino e feminino.
Roxo é ameaçador, mas relaxante,
é tanto infernal quanto é divino.

(24,06,2021)


A mania dos apps

Apps

Já sou um veterano na internet, um véio. Quando comecei, as pessoas ainda falavam em "surfar na internet". Acompanhei a evolução deste universo, as mudanças de paradigmas e as modas, mas tem uma coisa que não consigo aceitar: a nova tendência a chamar sites de "aplicativos" ou "apps".

É como se o conceito de hiperlink, algo que faz parte dos fundamentos mais profundos da internet, estivesse caindo no esquecimento. E a culpa disto é do smartphone.

O que acontece é o seguinte: diferente do PC, onde é fácil guardar sites nos favoritos do navegador, até organizando em pastas e subpastas, no celular isto não é tão prático. Então inventaram os aplicativos específicos para acessar sites. Assim surgiu o app do Facebook, do Twitter, do Instagram, etc.

O objetivo destes apps era, entre outros, garantir que o site adquira um formato adaptado para os celulares, pois certos recursos que funcionam num browser no PC (como plugins e javascript) podem não ser compatíveis no smartphone, aí o app já vem com todo o kit necessário para aquele site específico funcionar.

Além disso, tem a questão da facilidade de acesso. Não é prático para usuários de smartphone ficar salvando sites em favoritos. O app basicamente é um link embedado em uma figurinha clicável, um ícone de atalho que dá acesso a determinado site. 

Assim surgiu a moda dos apps, pois muitos sites, mesmo que sejam capazes de rodar sem problemas num celular, acabam criando seus próprios apps pra oferecer ao público um íconezinho que possa ficar ali visível na tela de aplicativos, fácil de ser acessado. 

E assim, o aplicativo, que nada mais é do que um navegador projetado para acessar um site específico, acabou virando sinônimo de site. O ícone do app, que nada mais é do que um hiperlink para o site, virou sinônimo de site.

Esta mania dos apps acabou também criando em alguns usuários a impressão de que só existe um site se existir um aplicativo para acessá-lo. O smartphone despreza o browser, como Chrome ou Firefox. Nos notebooks e PCs, os browsers continuam reinando como o software mais usado, enquanto nos mobiles as pessoas se acostumaram a só acessar sites por meio dos aplicativos.

Uma consequência curiosa disto é que no smartphone as pessoas acessam uma quantidade bem menor de sites do que no PC, pois se limitam a usar apenas os apps que instalam e não têm o hábito de "navegar", como se faz em um browser, em que você visita diversos sites, clicando nos links e fazendo buscas. 

Não que no smartphone as pessoas não cliquem em links e não sejam direcionadas a um site via browser, mas este hábito é bem mais raro. O smartphone e os apps criam um mundinho internético mais restrito, e, para muitos usuários, este mundo consiste nas redes sociais e aplicativos de mensagem. 

O poder sobre o tempo

The Persistence of Memory; Salvador Dalí.

Nós temos o poder de manipular o tempo. Quando estamos ansiosos, o tempo parece não passar, a vida se torna uma eternidade, um purgatório sem fim. Por outro lado, quando estamos fazendo algo prazeroso, o tempo passa rápido, as horas parecem minutos. A depressão nos faz dar saltos no tempo. Perdemos a noção de quando ou onde estamos. De repente você olha no calendário e já é um dia que você não esperava. Dois, três dias desaparecem da sua cronologia. Existem também os momentos sublimes, quando o prazer ou a paz ou a contemplação é desfrutada de tal forma que o momento se passa em slow motion, o mundo desacelera e aquieta. Por fim, temos o poder de atravessar grandes períodos de tempo através da paciência. A paciência suporta a passagem das eras, dos meses, dos anos, das décadas, e o tempo não a afeta.

(23,06,2021)

Nicolas Cage parte em uma saga para encontrar seu porquinho em Pig

Pig (2021)

Nicolas Cage é um de meus atores preferidos. Tenho até uma tag aqui no blog só pra ele (Nicolas Cage). E o que mais gosto são seus filmes indies, aqueles de baixo orçamento, com histórias estranhas, diretor iniciante e que pouca gente vai assistir. Eis que mais um filme desta categoria está vindo aí e se chama simplesmente Pig (2021).

Pelo trailer não dá pra saber muito sobre a história, mas a impressão que causa é que ele é uma espécie de John Wick do cageverso e que, em vez de ter um doguinho, tem um porquinho.

Só digo uma coisa: este filme promete. O que esse cara vai passar e as loucuras que vai fazer até encontrar seu porquinho desaparecido, é algo que só o Nicolas Cage seria capaz de interpretar.

Pig (2021)

PS: e já tá rolando uma teoria de que o vilão da história será o Kevin Bacon (badumtss).

Apatia

A apatia é um mecanismo de defesa,
é como o casco de uma tartaruga:
insensível em toda sua dureza.
Quem nada sente em nada se machuca.

Não sentindo alegria nem tristeza,
nada consegue nos tirar desse estado
de letargia em que estamos presos.
A apatia é a emoção mais estável.

Não que eu não queira às vezes sentir algo.
Até consigo, com a arte e a poesia.
Os sentimentos aí são simulados. 
São só espectros a dor e a alegria.

Os sentimentos, porém, não são extintos,
mas são guardados dentro de um labirinto.

(21,06,2021)

Habemus He-Man

He-Man meme
HEYYEYAAEYAAAEYAEYAA

Nos anos 80-90, He-Man foi um dos personagens mais importantes da programação infantil de desenhos animados. Ele era uma espécie de Conan alienígena e, assim como os Comandos em Ação, outro sucesso da época, ele rendeu bastante para a indústria de bonecos. Também fazia parte do universo do He-Man a princesa She-Ra, que ganhou sua própria série.

Logo, He-Man faz parte da memória afetiva daquela geração, de uma galera que hoje está com seus 30-50 anos. Os véio paia.

Além da série original de 1983, He-Man teve duas novas séries em 1990 e 2002, além de um live action tosco em 1987, protagonizado por Dolph Lundgren. A She-Ra, por sua vez, teve a série original em 1985 e retornou em um reboot lançado na Netflix em 2018¹.

Este reboot da She-Ra ficou bem legal e rendeu cinco temporadas, mas adotou um estilo bem mais infantil, mais "Cartoon Network", com um traço que lembra algo como Steven Universe. Isto causou estranheza de alguns saudosistas, mas o fato é que o objetivo desta nova série era apresentar She-Ra a um novo público, o que foi feito com sucesso.

Mas a Netflix não é besta nem nada e sempre buscou diversificar seu catálogo para públicos diversos, desde o xóvem aborrescente, até o véio paia. Eis então que foi anunciada uma nova série do He-Man para este ano de 2021 e, pelas imagens do trailer, a estética lembra bastante o desenho clássico dos anos 80, com os melhoramentos dos recursos atuais de animação (pois convenhamos que o desenho original era bem pobrinho e tinha muitos frames reaproveitados).

Ou seja, o novo He-Man² promete agradar a turma da nostalgia, mas creio que também vai conquistar a nova geração, pois o desenho parece realmente bem caprichado, sinal de um trabalho feito com dedicação. E a indústria de bonecos comemora.

He-Man (2021)
Tá saindo da jaula o monstro.

Notas:


Sobre comida indiana, ecletismo e tudo o mais

Indian food

Ultimamente peguei uma mania de almoçar vendo vídeos de comida de rua indiana. Pois é, Jovem Nerd, a tradição de ver nerd player na hora do almoço acabou. O negócio agora é vídeo de indiano.

Tem gente que gosta de zoar estes vídeos, porque tem uns que são meio nojentos, as panelas parecem sujas e já vi um que o cara preparava um chá esmagando canela e outros condimentos no chão com uma pedra. Mas tirando estes casos, a verdade é que muitas destas cenas de lanchonetes e cozinheiros de rua são bem apetitosas.

A primeira impressão que tenho é que a culinária indiana é marcada pelo ecletismo, pela mistureba. Os pratos mais simples e populares, como um caldo, um pastel, um sanduíche, são feitos com uma mistura tão complexa de ingredientes que a gente fica pensando como foi que os caras chegaram a desenvolver esta receita. 

Tudo é feito com uma variedade de verduras, temperos e as doses são generosas. Muito queijo, muito ovo, muita carne, muito molho. Uma coisa é certa: indianos comem bem, comem muito e parece que esta comida não engorda. Bom, com certeza o sanduíche de rua indiano, feito naquela chapa velha respingando molho pra todo lado, é mais nutritivo que um Big Mac.

Foi assim, num momento de lanche enquanto assistia os caras cozinhando, que tive esse insight sobre o zeitgeist cultural indiano. É da natureza deste povo ser heterogêneo, misto, eclético em suas composições. Veja-se o cinema de Bollywood, especialmente o de ação. É uma mistura imensa de efeitos especiais e referências. É arte marcial, é tiro, é bomba, é tanque e helicóptero, tudo ao mesmo tempo.

A música e dança são muito ricas em coreografias e as cenas de dança sempre são cheias, muitas pessoas dançando e fazendo várias coisas ao mesmo tempo, muitas cores nas roupas. A arte é cheia de formas e detalhes, como se vê nas mandalas e na arquitetura. É uma espécie de barroco vitaminado.

A religião, então, é uma das mais complexas da humanidade. O hinduísmo contém uma quantidade impressionante de divindades e personagens míticos, acumulados ao longo de milhares de anos. E é interessante como há espaço no hinduísmo para todos os tipos de alinhamento, algo que a religiosidade maniqueísta ocidental não consegue entender, tanto que os cristãos costumam associar Shiva ao Diabo, uma vez que ele é o deus da morte.

Acontece que no hinduísmo existe esta contemplação heterogênea da realidade, como um molho filosófico agridoce, que mistura adoçantes e temperos picantes na mesma receita. Há espaço para deuses diversos, da morte e da criação, da castidade e da sensualidade.

Falando em comida, Índia e ecletismo, me veio a impressão que o ovo é o mais eclético dos alimentos. Nestas receitas indianas, quase tudo leva ovo. E já parou pra pensar como o ovo é capaz de se transformar de maneiras diversas, dependendo da forma como é preparado?

Um ovo pode ser cozido, frito, mexido, feito como omelete; pode misturar-se a carnes, pães e vegetais; pode ser componente essencial na receita de bolos, pães, doces e salgados; a simples clara pode ser transformada em glacê, em um creme; a gema é usada para dar liga a diversas receitas. 

Há algo de simbólico no ovo. É o início, a condensação da potencialidade de tudo o que pode surgir a partir dele. O ovo é a vida compactada em uma cápsula. É uma pílula de ser vivo.

Mas, enfim, estou devaneando...

A arte da jardinagem

Cuidar de um jardim é uma tarefa relaxante, mas também é mais difícil do que parece. Acaba sendo um treinamento mental, pois é preciso lidar com certos desafios.

Pra cuidar de plantas é preciso ter paciência. Se você planta uma semente num copinho, tem que dedicar cuidados diários durante um mês inteiro, monitorando, regulando o banho de sol, regando. Enfim, após todos estes dias, você tem uma muda pronta para plantar no solo e aí o cuidado está apenas começando, pois a planta nova é muito frágil, pode ser atacada por formigas e outros bichos, pode criar fungos nas folhas, tomar sol demais e ressecar, tomar chuva pesada e quebrar com o impacto das gotas...

E mesmo depois que você cuide da planta por semanas ou meses, ela pode não vingar, murchar ou não se desenvolver o bastante, e aí você terá de começar tudo do zero. Desta forma, você acaba se acostumando às pequenas frustrações, ao fato de que as coisas dão errado com certa frequência e que a melhor atitude é continuar o processo de novo e de novo, pois naturalmente, assim como algumas plantas vão morrer, outras vão viver, crescer e produzir. A recompensa acaba superando a frustração.

A recompensa também é proporcional à dedicação. Plantas reconhecem quando você se dedica a elas, quando está lá regando, podando, adubando. Você tem que comprar equipamentos, suprimentos, dedicar tempo... Mas creio que deve haver também uma dedicação psíquica, pois as plantas sentem as energias ruins das pessoas, sentem quando alguém cuida delas com má vontade e reconhecem gente de "mão ruim". 

Isto é algo da chamada sabedoria popular e que você pode constatar na prática. Tem pessoas que passam mau olhado para as plantas, outras as estragam com o toque das mãos. Você pode dizer que é coincidência, até observar a frequência com que isto acontece com certas pessoas.

Minha historinha com o Windows, do 95 até o 11

Windows versions

Como um véio que sou, tenho uma loonga história com o Windows. A primeira vez que tive contato com o sistema da Microsoft foi na adolescência, quando fiz um curso básico de informática, e na época os computadores daquela escola usavam o dinossaurico Windows 95. Na verdade não tive prática alguma com ele, já que o curso envolvia o MS-DOS que estava integrado no Windows. Pois é, antigamente a gente aprendia a rodar comandos no DOS.

Alguns anos depois, quando comecei a trabalhar como secretário, aí sim passei a lidar com o Windows em si, e é curioso como aprendi intuitivamente a usar o sistema, entendendo as funções dos ícones e fuçando à medida em que usava. Neste período usei o 95 e depois o 98 que não era muito diferente.

A diferença mesmo veio no famoso Windows XP, que só comecei a usar lá por volta de 2003. A interface parecia bem mais bonita e cheia de efeitos em relação ao velho 98 e mesmo assim o XP rodava liso nos hardwares da época. Esta sempre foi uma das qualidades desta versão. Era otimizada, sem contar que tinha a novidade do plug and play, de modo que era bem mais fácil configurar novos aparelhos.

Havia algo no XP que fazia você se acostumar com ele. Até nos dias de hoje eu já me deparei com um caixa de loja usando o XP. Pois é, tem gente que ainda usa um sistema de quase 20 anos!

O Windows XP foi o queridinho de toda uma geração e eu usei por quase uma década inteira, mesmo depois que vieram o malquisto Vista e o Windows 7. O Vista até cheguei a experimentar, mas o troço era tosco mesmo, pesado, parecia ter algo errado com aquela versão. O Vista nunca teve tempo de ganhar adesão e logo foi superado pelo Windows 7.

Demorei um pouquinho pra adotar o Windows 7 (lançado em 2009), talvez por estar habituado com o XP, mas também porque ele era mais pesado (porém não tão bugado quanto o Vista). Só troquei mesmo quando comprei um computador novo, com sua maravilhosa placa de 2 Gb de RAM. Aí o 7 rodou lisinho.

O Windows 7 era bom, mais bonito que o XP, bastante compatível com tudo. Não lembro de ter tido problema algum com ele. Aí veio o Windows 8 que mudou completamente o estilo do sistema.

O Windows 8, lançado em 2012, era pesadão e tinha uma interface inspirada na nova moda dos smartphones. De fato, a ideia era lançar um sistema universal que fosse igual no PC e nos telefones, tanto que logo lançaram o Windows Phone.

Aderi rápido à novidade, afinal a Microsoft oferecia um update gratuito que transformava o Windows 7 no 8 e era uma oportunidade para a galera que usava o famoso CD pirata e agora podia instalar de graça o software original.

Pois é, este foi provavelmente um dos grandes diferenciais e segredos do sucesso do Windows 8-10. Até então, a única forma legal de adquirir um Windows era comprando. Quando você comprava um PC novo, ele vinha com o Windows 98 ou 2000 ou XP instalado e ok, mas se você precisasse formatar, aí teria que arranjar um CD e era bem comum as pessoas fazerem cópias do CD do amigo de um amigo e compartilhar a chave de autenticação. Hoje em dia ninguém precisa mais ficar digitando chave pra instalar um Windows, mas antigamente era o big deal e tinha até site com listas de várias chaves pra você ir tentando até achar uma que não estava expirada.

A Microsoft tentou desde sempre lutar conta a pirataria. Nos updates ela instalava um patchzinho que ficava incomodando o usuário com um popup dizendo que "seu Windows não é original", mas isso não adiantava muito pra convencer as pessoas a comprar um CD. Quem gastava grana mesmo eram as empresas e escolas de informática, pois usar Windows pirata podia dar processinho. 

Até técnicos de informática, que iam na sua casa formatar seu PC, não raro usavam CDs piratas. Nas lan houses, que foram por uma década a forma mais comum de acesso à internet para a população em geral, o pirata era bem comum nas máquinas.

Então com o Windows 8 a Microsoft chutou o balde: ofereceu o update gratuito. E desde então, embora o software ainda seja vendido nas versões Home e Pro, a ISO do Windows está disponível no site da Microsoft pra você baixar e instalar de graça.

Desde 2013, mais ou menos, quando migrei para o Windows 8, nunca precisei comprar o sistema e sempre montei um CD ou pendrive de instalação com a ISO oficial da Microsoft. Também em 2013 eu comprei um Windows Phone, que foi meu primeiro smartphone. Em vez de começar neste mundo do smartphone pelo Android, como a maioria das pessoas, tive uma experiência alternativa nessa tentativa da Microsoft de competir no mercado mobile.

Windows Phone

O Windows Phone era bem agradável de usar e tinha um bom custo-benefício. O hardware parece bastante durável, tanto que até hoje, em 2021, ainda tenho esse aparelho e funciona normalmente, sem travamentos nem nada, diferente de um Android básico que comprei em 2014 e que em 2015 já estava começando a travar. Só mudei pro Android porque a Microsoft desistiu do projeto do Windows Phone, deixando uma turminha viúva, como eu.

Bom, voltando ao Windows 8, a adesão foi rápida por isso, porque passou a ser oferecido de graça. Acabava aí a cultura do CD pirata de uma maneira esperta e pacífica. Mas o Windows 8 era como o Vista, pesadão e bugado, e em vez do clássico Menu Iniciar eles implantaram um sistema de tiles dos aplicativos imitando a interface do smartphone e era uma droga.

O Windows 8.1 melhorou bastante o desempenho, passou a rodar liso, a interface ficou mais bonita e trouxeram de volta o Menu Iniciar. Foi aí que esta versão ganhou a simpatia geral. Uma das principais novidades deste novo Windows, desde o 8, foi o surgimento da Windows Store, criando um ambiente em que você tem acesso a aplicativos (algo que já existe há muito tempo no Linux, como o Gnome Software). 

Também o Painel de Configurações foi outra novidade que foi ganhando corpo e se tornando o substituto do velho Painel de Controle (que ainda existe, mas a tendência é que seus recursos continuem migrando aos poucos para este novo aplicativo).

A Microsoft tem uma cisma com números, de modo que, em vez de lançar o Windows 9, já pulou para o 10, em 2015. Aderi rapidamente, mesmo porque a mudança do 8.1 pro 10 acontecia organizamente por meio de um update. Uma das grandes novidades foi o surgimento de um novo navegador, o Edge, para substituir o eternamente odiado Internet Explorer. Em termos de aparência e recursos, o Windows só melhorou desde o 8 até o 10, mas também foi ficando cada vez mais exigente quanto ao hardware e meu PC na época já sofria com o peso.

Eis que em 2017 resolvi me aventurar pelo Linux, brinquei de provar várias distros, conheci o Ubuntu quando ainda tinha sua interface Unity (que era friendly para usuários habitados com o Windows) e me apaixonei pelo Xubuntu, por sua simplicidade e leveza (até escrevi uns posts sobre Xubuntu aqui, aqui e aqui). 

Nunca tive do que reclamar no Linux e usei por dois anos, mas aí bateu aquele problema bem comum em usuários de Linux que gostam de games: a pouca compatibilidade. Lembro que até conseguia instalar um Runescape usando um launcher compatível com Linux. Cheguei a experimentar um Tibia também. Mas desde que conheci a Steam e comecei a descobrir jogos novos, me deparei com esse problema que muitos deles não rodavam no Linux nem com gambiarra.

Além disso, embora tenha usado bastante o Libre Office, eu sentia falta do Microsoft Office que, convenhamos, é bem mais rico em recursos. A esta altura já estava com um PC novo, ainda modesto, mas com um chip i5 já aguentava bem o Windows 10, então voltei para o velho companheiro de décadas.

Windows 11

Em 2019 eu estava de volta, agora com o Windows 10, e realmente não tenho do que reclamar. Eis que vem aí o Windows 11, que, à primeira vista, me parece mais bonitinho, deram uma atualizada nos ícones e suponho que terá novas features.

Também passei a conhecer o Windows 10 em um formato especial: a versão para Xbox. Em 2020 adquiri um Xbox, que foi então o primeiro console que tive em toda minha vida. Achei curioso como ele basicamente é um Windows 10, só que sem a interface do Desktop. Tem a Windows Store, dá pra navegar no Edge, baixar vários apps pra PC e dá até pra usar teclado e mouse.

Confesso que sinto falta de umas coisinhas simples que havia no Linux, como o recurso nativo de manter uma janela sempre no topo. Por que até hoje a Microsoft não implantou isso? E o Bloco de Notas, que uso bastante, ainda é o mesmo de décadas atrás. Nem mesmo tem o recurso de salvamento automático (que existe em aplicativos semelhantes do Linux, como o Mousepad e o Gedit). Detalhezinhos que eu achava com facilidade no Linux.

Continuo testando distros Linux de vez em quando só pra ver as novidades, mas vou seguir com o Windows. Já passei pela fase clichê de odiar o Windows, chamá-lo de Rwindows, etc. Agora essa revoltinha se foi. 

A verdade é que o Windows é sim um bom sistema, superado pelo Linux especialmente no quesito privacidade, pois a Microsoft de fato colhe muuuitos dados de usuário, assim como as redes sociais, a Google, etc. Isto parece um caminho sem volta, a não ser que você decida viver sem internet.

Não tenho pressa em atualizar para o 11. Deixa acontecer naturalmente. Quando a versão estiver estável e o update disponível pra transformar o Windows 10 em 11, vou fazer a migração, continuando essa longa relação que tenho com o Windows há mais de duas décadas. 

Dormi assistindo Awake

Awake (2021)

Awake (2021) é um daqueles filmes genéricos que a Netflix faz pra preencher o catálogo de originais. A proposta até parece interessante: um "apocalipse de insônia". A ideia é explorar o que pode acontecer com as pessoas se forem privadas de sono por muito tempo. A execução da ideia, porém, foi fraquinha e o resultado é que este filme, que aborda a temática da insônia, na verdade é de dar muito sono pra quem assiste.

Mortal Engines, muita estética, pouca história

Mortal Engines (2018)

Quando surgiu o trailer de Mortal Engines (2018), o filme parecia bem promissor, ainda mais levando o nome de Peter Jackson, que fez um grandioso trabalho de criação de mundo fantástico nos filmes do Senhor dos Anéis.

Esteticamente, o conceito de Mortal Engines é ótimo para o cinema: um mundo apocalíptico em que as nações são enormes cidades ambulantes, tratores gigantes. É uma ideia que lembra Snowpiercer (2013). Uma catástrofe natural impede as pessoas de viverem fixas no solo. Agora que as cidades são máquinas em eterno movimento, os grandes engolem os pequenos, literalmente.

Até aí é tudo interessante, mas a saga dos personagens é insossa, a protagonista não tem carisma e o anti-herói robótico foi feito com o que restou do orçamento pro CGI, além dele ser totalmente sem graça. Nem o Hugo Weaving consegue salvar o vilão e o final da história é claramente uma tentativa de Hollywood agradar o mercado chinês, retratando o líder da nação oriental como o pacificador utópico. Meh.

A egrégora Alice

Alice

Existem estas teorias de que o livro Alice no País das Maravilhas, bem como a sequência Alice Através do Espelho contêm uma série de simbologias ocultistas intencionalmente inseridas pelo autor, Lewis Carroll. Bom, a simbologia pode de fato ser encontrada, mas tenho impressão que o autor não teve intenção nem consciência disto. 

Já descrevi algumas das mensagens simbólicas do livro em outro post¹, mas mudei de opinião quanto à intencionalidade do autor. Alice não é uma figura profundamente planejada por Carroll. A intenção do autor era mais trivial: ele queria inventar uma história cheia de brincadeiras, trocadilhos e principalmente nonsense, apenas para divertir a Alice do mundo real, uma garota filha de seu amigo.

Então, se Carroll não pretendia rechear sua história de elementos ocultos, por que eles estão lá? A resposta está no conceito de egrégora. Um bom exemplo para entender a egrégora é o personagem Coringa². Em termos simples, a egrégora é uma ideia que ganha vida própria e que evolui indepentende da intenção ou vontade de quem a criou originalmente. 

Muitos escritores têm esta sensação de que não têm controle sobre o destino e comportamento de seus personagens, realmente como se eles ganhassem vida própria ao longo da história. Em certos casos, o personagem vai ganhando novas camadas de significado conforme se integra à cultura e à consciência coletiva. Este é o caso de Alice.

O primeiro símbolo oculto presente em Alice é o famoso "buraco do coelho", que com o tempo passou a ser associado à jornada do iniciante rumo ao abismo, às profundezas misteriosas, à aventura do mago na busca por conhecimentos ocultos. 

No filme Matrix, o coelho branco é citado como uma referência à jornada de Neo em direção ao desvendamento da realidade. Seguindo o coelho e mergulhando no buraco, Neo descobriu a Matrix, descobriu que o mundo não era aquilo que parecia ser.

Até no jogo Paladins, temos a personagem Seris que é uma bruxa, tem o poder de ficar desaparecer entrando em outra dimensão e suas falas são cheias de teor místico. Uma de suas falas é "down the rabbit hole we go", que é uma expressão popular já consagrada e que significa justamente a aventura em direção a algo mágico ou fantástico.

Alice, enfim, se tornou uma maga na consciência popular, uma personagem capaz de viajar entre os mundos, mergulhar na profundeza da própria consciência (aquele mundo estranho que ela visita pode representar o seu inconsciente povoado por arquétipos). E isto tudo aconteceu sem que Lewis Carroll sequer tenha planejado, pois Alice ganhou vida própria, se tornou uma entidade que transcendeu a modesta intenção do autor.

Notas:



A efemeridade do poder

Ramsés II

A religião egípcia que chegou até nós preservada nos hieróglifos dos suntuosos templos e palácios, era, obviamente, uma religião estatal, desenvolvida para embasar o governo estabelecido. O faraó era a figura central desta religião e, nesta teologia, a crença na imortalidade parece ter uma relação íntima com o poder: o desejo de ser imortal está ligado ao desejo de governar para sempre.

É uma tentação comum a todos que ocupam algum status de poder. Eles querem que isto dure para sempre. Os faraós queriam ser mumificados e sepultados em pirâmides com seus criados porque desejavam continuar governando, continuar como faraós no além-vida. É a motivação mais vil que pode existir para o desejo de imortalidade, querer eternamente dominar os outros.

Sabemos, porém, que os faraós se foram, as pirâmides viraram túmulos de uma história antiga e de um império que já não existe. Esta é a verdade que os poderosos temem: todo poder um dia termina, todo império caí, todo ditador morre, todo plano se corrompe e desgasta com o tempo. O tempo é o inimigo dos tiranos. A paciência é amiga dos oprimidos. 

Da aceitação da loucura

"Não é sinal de saúde estar bem ajustado a uma sociedade profundamente doente”.
(Krishnamurti)

Dizem que os loucos não costumam saber que são loucos e muitas vezes se irritam se você os chama de loucos. "Eu não sou maluco" é o bordão do maluco. Ser chamado de maluco é recebido como uma ofensa.

Existe, porém, um tesouro para quem atravessa esse vale sombrio da aceitação da loucura. Descobrir-se louco pode ser, para a pessoa habituada a se achar normal, um grande choque, um grande susto ou até decepção e vergonha consigo mesma. Quem ultrapassa essa fronteira da reação negativa, pode encontrar a bem-aventurança e o alívio de aceitar a loucura.

É como a perda da vergonha do corpo que o nudista possui. O nudista transcende a barreira imposta da normalidade e a vergonha que deveria sentir, segundo a norma do pudor. A loucura é uma nudez existencial, é desfazer-se das fantasias da normalidade e enxergar a real aparência do seu espírito.

The Fool

No tarô há duas cartas claramente associadas ao louco: a principal é nada menos do que a primeira carta do baralho, o arcano zero, chamada justamente de O Louco. Nela nota-se um andarilho caminhando feliz em um dia ensolarado, levando apenas uma trouxa. Ele desapegou-se das coisas que o prendiam à normalidade e aventurou-se neste mundo da loucura.

A outra carta é o arcano doze, O Pendurado, ou O Enforcado. Nela o sujeito está pendurado pelo calcanhar, de cabeça para baixo. Ele está experimentando uma nova perspectiva, uma nova maneira de enxergar o mundo, uma inversão de mente. Assim é o louco, enxerga as coisas de outra maneira, uma maneira nova e não convencional.

The Hanged Man

Sob certa perspectiva, o tarot inteiro pode ser lido como a jornada do personagem que surge no primeiro arcano, a jornada do Louco. Neste percurso, ele por se tornar o brilhante Mago, os poderosos Imperador e Imperatriz, o sábio Eremita, o hedonista Diabo, os apaixonados Amantes, até mesmo a santa Temperança. Há um Mundo de possibilidades no caminho do Louco. 

Cartas para Julieta, quando a alma gêmea não é o par romântico

Amanda Seyfried; Letters to Juliet (2010)

Cartas para Julieta (2010) se baseia no fenômero turístico real das "Secretárias de Julieta", um grupo de voluntárias que respondem, na medida do possível, às milhares de cartas deixadas por mulheres em um mural na cidade de Verona, na Itália. É como as cartas para o Papai Noel, só que escritas por adultas, relatando geralmente seus dramas amorosos para a figura abstrata de Julieta.

Aí a protagonista Sophie, interpretada pela Amanda Seyfried, é uma jornalista que conhece as secretárias e até as ajuda com as cartas, de modo que acaba encontrando uma carta escondida no muro há décadas e resolve encontrar a pessoa que escreveu.

Eis que ela consegue entrar em contato com a autora da carta, chamada Claire, que vai até a Itália com o neto pra, com a ajuda de Sophie, tentarem encontrar o cara pra quem ela escreveu a carta no século passado, um tal de Lorenzo Bartolini. 

Aí o trio simplesmente sai pela cidade visitando todos os Lorenzo Bartolini, até finalmente acharem o crush da adolescência de Claire (ela tinha 15 anos). 

O curioso é que, entre todos os Lorenzo que elas encontraram, o verdadeiro era de longe o melhor. Tinha Lorenzo padre, Lorenzo banguela, Lorenzo mulherengo, feio, gagá... Já O Lorenzo crush dela é um coroa enxuto que chega literalmente cavalgando, vive em uma rica fazenda e é um cara intenso e gente boa, enfim, o príncipe encantado (interpretado por Franco Nero, clássico galã do cinema italiano, que foi, por exemplo, o Django, no filme de 1966).

Apesar de parecer um daqueles romances bobinhos e novelescos, o roteiro do filme não é ruim. Há várias histórias bem encadeadas. De um lado tem essa história da busca pelo velho namorado de Claire; tem a aventura pessoal de Sophie, que além de estar fazendo uma matéria interessante para sua carreira e tendo uma oportunidade de se tornar escritora, passa por essa fase de repensar o relacionamento, pois está namorando um cara, Victor, mas acaba se apaixonando pelo neto de Claire, sabe-se lá por quê.

Victor acaba tendo também uma espécie de história de fundo. Ele é muito apaixonado pela culinária, a ponto de acabar dando pouca atenção a Sophie e vive ocupado em suas aventuras gastronômicas.

Aí esse romance de Sophie com o cara, nem lembro o nome dele e prefiro chamar de neto da Claire, é bem besta, mas tinha que acontecer, afinal é um filme de romance e a protagonista tem que terminar beijando o novo boy. Rola até um lance clichê dela ver o cara com uma garota e pensar que é namorada dele, mas depois descobre que é só uma prima e, ufa, então eles podem ficar juntos. Meh.

Letters to Juliet (2010)

Há, porém, um breve momento nessa história toda que teve real profundidade. É contado que a Sophie foi abandonada pelos pais muito cedo, o que obviamente deixou nela um grande vácuo. Em certa ocasião, Claire vai conversar com Sophie e começa a pentear o cabelo dela e Sophie cai no choro. 

Esta cena tem um grande significado, pois o ato de pentear o cabelo claramente remonta a um momento de mãe e filha, momento que Sophie nunca teve, já que foi desprezada pela própria mãe. Claire se tornou para ela esta figura maternal (e ainda vai ser também a sogra-avó). 

Ou seja, apesar de ser um filme de romance, o mais importante não foi Sophie ter conhecido um cara por quem se apaixonou (esse cara é bem chato, inclusive), mas sim a amizade que desenvolveu com Claire. 

Mantém-se aqui a teoria das almas gêmeas que sempre existe em histórias românticas. Duas pessoas estavam destinadas a se encontrarem e as circunstâncias as levaram a isso. Só que aqui as almas não são um casal de namorados e sim uma garota e uma senhora que se torna a mãe que ela nunca teve. 

A aura da beleza

Heather Graham

Há muitos anos, fui atendido em um hospital que era administrado por freiras. De vez em quando eu via passar algumas freiras pelos corredores, mas eis que certo momento apareceu uma senhora, devia ter uns 60-70 anos, que chamou minha atenção porque havia algo nela, uma espécie de beleza incomum.

Fisicamente era uma idosa bem aparentada, mas senti que havia outra camada, como que uma maquiagem invisível que a cobria, uma aura de beleza. Foi uma das pessoas mais belas que já vi na vida.

O que chamamos beleza, de fato, vai muito além do corpo. É uma tolice esse negócio de falar que a beleza tem a ver com as proporções do rosto. Beleza não é matemática, é caótica. Há mil elementos envolvidos. 

Em algumas pessoas os feromônios têm grande papel, em outras as microexpressões, a sutil linguagem corporal, a maneira de sorrir, de olhar, de mover os lábios, também o estado psíquico influi... Nessa freira, não sei exatamente quais destes elementos havia, mas sei que tinha isso que é muito raro eu ver algo igual na maioria das pessoas, esta aura.

O mundo dos encantamentos

Epidemia de dança, 1518

Em 1518, um estranho evento tomou conta das ruas de Estrasburgo, na França: várias pessoas começaram a dançar do nada, e sem música, e este flash mob medieval foi escalando de uma maneira macabra, pois algumas pessoas dançaram até literalmente morrer de exaustão.

Toda informação que absorvemos passa por filtros mentais. O pensamento racional é um dos mais importantes filtros que nos permitem analisar e julgar algo, concluir que algo nos parece certo ou errado, aceitável ou questionável. 

Há, porém, outro filtro que muitas pessoas negligenciam em desenvolver, seja por sequer se darem conta de sua existência e importância, seja por confiarem que a razão lhes basta. É o filtro da resistência a encantamentos. 

O encantamento é um fenômeno que pode se comparar à hipnose (e muitas vezes usa dela como recurso) e consiste em uma espécie de hacking mental, fazendo com que a sua mente abra as portas para informações, estados de espírito, emoções, etc. sem realizar o devido julgamento.

As pessoas em geral costumam ter facilidade em reconhecer um fenômeno de encantamento no exemplo das seitas. Como é possível que uma seita consiga conquistar pessoas mesmo pregando ideias absurdas e que não passariam pelo filtro da razão? Como as pessoas se deixam dominar pelos gurus a ponto de serem abusadas de diversas formas por eles? Concluímos que foi um fenômeno de "lavagem cerebral". Sim, mas esta lavagem cerebral só se deu porque primeiro houve um encantamento que rompeu as defesas da pessoa. É o cavalo entrando pelos portões de Tróia.

Pied Piper

É fácil observar isto em seitas, mas o encantamento também é bastante comum em outros departamentos mais seculares. Roupas, brinquedos, carros, marcas, objetos de consumo são com frequência propagandeados ao público com o auxílio de encantamentos, fazendo com que as pessoas desejem, comprem e divulguem coisas que, se não fosse pelo encanto, sequer teriam interesse (ver o filme Branded; 2012)¹.

Na política o encantamento é tão comum que é trivial. Políticos, ideologias, partidos... todos estão constantemente exercendo essa influência sequestradora da razão, e feita de forma tal que as pessoas acabam acreditando que suas opiniões políticas e aqueles que elas admiram e seguem são fruto da pura análise racional ("eu pensei bastante a respeito e cheguei à conclusão que..."; "eu analisei os argumentos e me pareceram convincentes..."), quando na verdade a razão está sequestrada pelo encanto.

Encantamentos podem enfeitiçar sociedades inteiras, produzir eventos de histeria coletiva, fomentar guerras, surtos de caça às bruxas e cegueira para o óbvio. Um dia, porém, o efeito do encantamento se dissipa e as pessoas, como que acordando de um sonho, ficam sem compreender o que foi tudo aquilo que elas pensaram e fizeram.

1984

Notas:

Sobre dores, zumbidos, a vida e tudo mais

Estes dias tive uma distensão muscular na coxa e é interessante como uma coisa aparentemente tão banal acaba dominando toda sua vida.

O problema foi a localização estratégica. Bem na parte interna da coxa, acabou afetando um músculo muito usado. Esse danado se contrái quando sento, quando levanto, quando ando, quando deito, em resumo, qualquer movimento que eu fizesse, ou mesmo se ficasse sentado ou deitado, doía. Era o músculozinho o dia inteiro me ocupando a atenção.

Já tive algo parecido no trapézio e até uma tendinite no pulso (sim, por digitar demais), mas nenhum destes foi tão incômodo quanto a coxa. O pior de tudo é dormir, ou melhor, tentar dormir. Quando a gente se deita, o peso do corpo é distribuído no tronco e nas pernas. Logo, não importa a posição em que eu tentava dormir, a dor era constante.

Confesso que em certo ponto até passei a gostar daquela sensação de pontada. Era um prazerzinho sadomasoquista que deve ser semelhante ao dos membors da Opus Dei usando o cilício o dia inteiro na coxa pra se penitenciarem.

O curioso na dor é que o que preocupa nela nem é o incômodo. Com o tempo a gente acostuma. Lembro que na época em que fiz radioterapia no tórax, fiquei um ano inteiro sentindo uma pontada no peito. Eram as cicatrizes que a radiação deixou no meu pulmão. E acabei me acostumando com isso, virou uma sensação que eu normalmente ignorava, igual ao som de zumbido que escuto o dia inteiro dentro da cabeça, mas na maior parte do tempo eu ignoro e só volto a escutar quando estou no silêncio total ou quando vou dormir sem o barulho do ventilador.

Até hoje não existe uma explicação definitiva para estes casos de pessoas que escutam um zumbido. Às vezes tenho impressão que é como se eu ouvisse meu próprio cérebro funcionando, como se fosse um dispositivo elétrico, como aquelas antigas TVs de tubo que, se você notar bem, emitem um som constante de zumbido ou chiado enquanto estão ligadas. Será que sou um andróide e não sei? Blade Runner feelings.

Anyway, o que preocupa na dor não é o incômodo, mas o fato de que ela está nos alertando de que algo está errado. Se eu me mexo e sinto dor, a impressão é que estou causando algum dano ao músculo, que vou acabar prolongando o tempo de recuperação. É como se o músculo gritasse comigo: "Não faça isso de novo. Fique quieto!". A dor é o mecanismo de chantagem que o corpo usa para te convencer a não danificá-lo.

Outra coisa chata é que essa distensão afetou o meu andar e eu sempre ando rápido. Simplesmente não sei andar devagar. Agora lá estava eu pateticamente mancando como um zumbi, dando um passo no mesmo tempo em que normalmente daria três ou quatro. Descer um mísero degrau então, que cena cômica.

Nestes quatro dias de recuperação, tentei analgésicos, gel, massageador elétrico e até imposição de mãos (qualquer dia escrevo sobre essa arte misteriosa que é a imposição de mãos, algo que os céticos rejeitarão como pseudociência, mas só quem teve experiências e observou o efeito das mãos até sobre plantas [logo, refutando a teoria de que é um placebo] sabe que há algo influente emanando das mãos). 

Tudo isto deve ter ajudado um pouco, além da melatonina (que tem um papel importantíssimo na regeneração celular), pois, mesmo dormindo mal, tentei dormir o máximo que pude. Mas o que me trazia alívio instantâneo era a compressa gelada. O frio é um anestésico fantástico, parece até que põe as células danificadas pra dormir, acaba com as pontadas, o latejamento, e o efeito pode durar por algumas horas. Me pergunto se as pessoas que vivem em regiões geladas sentem menos dor, afinal estão imersas o dia inteiro em um ambiente anestésico.

Quando a gente começa a se recuperar, vem uma sensação de alegria por coisas triviais que geralmente ignoramos: finalmente ter tido uma noite inteira de sono, finalmente conseguir caminhar, finalmente voltar a ser produtivo e poder fazer coisas simples como sair pra regar as plantas (pois a coxa danificada me incapacitou e afetou toda minha rotina).

Algumas influências da minha adolescência

Recruta Zero

Como a maioria das crianças brasileiras, minha leitura favorita eram os quadrinhos da Turma da Mônica, mas também os da Disney, Tio Patinhas e tal. Só que minha favorita mesmo era a revista do recruta Zero. Talvez me identificasse com o jeito esquisito e distraído dele.

Novos Titãs 91

Foi só aos 11 anos que tive meu primeiro contato com uma HQ de super-heróis (embora já os conhecesse em desenhos e filmes na TV). Lembro demais desta revista, os Novos Titãs, número 91, que li e reli vezes sem conta. O vício foi imediato e desde então passei a poupar trocados do lanche e até do ônibus, voltando a pé para casa e juntando um dinheirinho pra comprar revistas.

Augusto dos Anjos
"Apedreja essa mão vil que te afaga, escarra nessa boca que te beija!"

Na literatura tradicional, creio que meu autor preferido era o Monteiro Lobato, até que na adolescência me deparei com outros autores mais adultos e também mais sombrios, como Augusto dos Anjos, cujo teor mórbido e gótico me fascinou. Também conheci Umberto Eco e O Nome da Rosa me marcou para sempre. Aí depois na vida adulta o leque se expandiu para um caleidoscópio de autores.

Stan Lee

Também não posso deixar de mencionar os roteiristas e desenhistas de quadrinhos que fizeram bastante minha cabeça, a começar do grande Stan Lee, bem como Peter David (que me fez conhecer o gênero cyberpunk na série do Homem-Aranha 2099); o trio Gaiman, Moore e Miller; os caras da Image, como McFarlane e Erik Larsen, que tinham um estilo muito gostoso de desenhar e contar história; e tantos outros nesse universo Marvel-DC...

Por que não mencionar também os animes e tokusatsus? Inclusive as primeiras revistas em quadrinhos que desenhei tinham muito dessa influência, com robôs gigantes e ninjas. Há, porém, outras influências mais incomuns, algumas até de autores que conheci pessoalmente.

Na adolescência eu costumava frequentar após as aulas a casa de um coleguinha que morava próximo à escola. Foi ali que conheci uma figura pitoresca: o intelectual Aldenor Benevides, que era amigo da família do meu coleguinha.

Ele já era um senhor bem idoso na época e parecia saído de uma foto vintage, vestido todo de branco em roupas sociais e com um chapéu que lhe dava um ar de gentleman. Eu achava curioso como todos paravam para ouvir com atenção cada palavra que ele dizia.

Ele teve um passado aventureiro, já viajou o mundo, até que adotou um estilo simples de vida. Era tão modesto que até as roupas que usava eram doações, algumas delas pertenceram a pessoas que já faleceram. Ele não tinha nojinho nem superstição com isso.

Aldenor Benevides

Aposentado, ele empregava o pouco dinheiro que recebia para custear suas frugais despesas básicas e gastava o resto publicando seus livros, que ele muitas vezes distribuía de graça para amigos e conhecidos. Até eu fui agraciado por alguns de seus livretos. Costumava chamar a si mesmo de "O Filósofo do Piripau". Ele foi o primeiro exemplo de self publishing que conheci.  

Lembro de um livreto em que ele contava uma história inteira (era um livretinho de umas 20-30 páginas) em bom português, mas com a proeza de nunca usar qualquer palavra com a letra "a", a letra mais comum da nossa língua. Havia apenas 1 aparição da letra "a" em todo o texto, quando ele mencionava uma árvore "pé de tambor". Até hoje lembro desse detalhe.

Mas ele não fazia só brincadeiras linguísticas. A maioria de seus livros era de ensaios, poesias, pensamentos e ensinamentos espiritualistas (ele era kardecista, mas com influências humanistas e mesmo do catolicismo do Padim Ciço). Mesmo eu, no auge do ateísmo revoltado adolescente, gostava de ler estes textos de teor religioso dele.

Seus livros eram os mais simples possíveis. Ele imprimia em gráficas locais, numa época em que não havia impressão digital, só offset, e os livrinhos eram basicamente feitos da mesma forma que os livretos de cordel, com aquele papel jornal amarelado e uma capa de cartolina, sem cores, apenas tinta preta. Também havia algumas obras mais volumosas e com impressão mais cara, como a biografia do Padre Cícero.

Eu, que na época brincava de confeccionar minhas revistinhas em quadrinhos de forma bem artesanal, via nesse modelo de publicação dele uma inspiração e, de fato, depois de adulto cheguei a imprimir um cordel numa gráfica, com o poema "O Véio e o Toco" (poema que republiquei anos depois na Amazon¹), em parte motivado pelo exemplo dele.

Lacarmélio

Algum tempo depois, conheci em alguma reportagem da TV outra figura curiosa: Lacarmélio. Ele hoje já é um personagem folclórico de Belo Horizonte. Ficou conhecido por ser visto em roupas coloridas vendendo nos semáforos revistas em quadrinhos que ele mesmo desenhou e imprimiu em gráfica local. 

O mercado de quadrinhos é muito seletivo e há poucas oportunidades, mas eis que Lacarmélio criou sua própria oportunidade por meio da auto publicação. Aliás, ele fez só tudo, foi o roteirista, desenhista, editor, bancou a impressão e foi pessoalmente distribuir nas ruas, tendo contato direto com os leitores.

Estes dois ficaram gravados na minha memória como pioneiros do self publishing. Hoje felizmente existe a internet e as opções de auto publicação são inúmeras, desde blogs, redes sociais, até sites de editoras, especialmente a Amazon, pela qual só tenho gratidão, pois foi ali que finalmente encontrei a oportunidade para publicar.

Pedro Bandeira

Como todo cearense, cresci ouvindo muito repente, a poesia cantada e improvisada dos trovadores nordestinos, o primeiro rap do Brasil. Conheci pessoalmente o repentista Pedro Bandeira que quando me via tinha a gentileza de me chamar de "poeta", mesmo eu sendo só uma criança. Ele era uma figura lendária e naturalmente me fez gostar ainda mais de poesia.

Patativa do Assaré

Igualmente é digno mencionar o poeta Patativa do Assaré, que nunca encontrei pessoalmente, mas era um ícone onipresente no Ceará, recitado no rádio, na TV, citado em livros, admirado nas universidades. Era um verdadeiro gênio. Cego, memorizava de cor todos seus inúmeros poemas, se tornando um museu vivo da própria obra.

Arthur Bispo do Rosário

Uma estranha personalidade que também me marcou na adolescência foi um cara desconhecido da maioria dos brasileiros e que nem costuma ser listado entre nossos escritores e artistas: o "louco" Arthur Bispo do Rosário.

Assim como o Lacarmélio, tomei conhecimento dele em alguma reportagem da TV, mas desenvolvi um interesse imediato. Pena que na época não havia internet para que eu procurasse saber mais sobre sua obra. O fato é que ele de alguma forma deixou uma marca em mim, talvez porque ele demonstrava sinais de hipergrafia (falei sobre hipergrafia em outro post²). Ele produzia painéis e bordados cheios de escrituras, algumas indecifráveis. 

Arthur Bispo do Rosário

Arthur Bispo do Rosário

Como uma espécie de concretista (aliás, os concretistas foram outros que fizeram minha cabeça na adolescência), ele usava as palavras como uma forma de decoração de suas obras plásticas. Rosário viveu praticamente a vida inteira internado num tradicional sanatório e era lá que criava seu mundo particular com textos, desenhos e objetos. Parecia um antigo profeta bíblico.

Beakman's World

Falando em loucura, tinha um cara que fazia um estilo cientista louco e que foi o personagem mais nerd que conheci na TV. O programa O Mundo de Beakman, que passava na TV Cultura, me encantava. Era um show de informações diversas, úteis e inúteis, incentivando nas crianças o gosto pela ciência. Sempre gostei e Beakman me fez gostar mais ainda.

Zé do Caixão

Por fim, há ainda outro ser que impressionou a minha mente juvenil: o cineasta Zé do Caixão. Na verdade não lembro se cheguei a assistir a algum filme dele na adolescência, mas ele se tornou minha companhia televisiva no programa Cine Trash, da Bandeirantes. Ele era o apresentador e tinha um estilo totalmente diferente de todos os outros, pois era sinistro e jogava pragas em quem mudasse de canal, sem contar o visual diabólico e as unhas enormes. 

O programa, fazendo jus ao nome, exibia filmes de terror trash, mas bem trash mesmo, filmes indies de baixíssimo orçamento, com muito gore e muito tosqueira. Nossa, eu adorava!

Sempre gostei de terror desde muito cedo. Muuuito cedo. Lembro de ter assistido ao primeiro A Hora do Pesadelo com uns 6 ou 7 anos e obviamente não consegui dormir. A cena em que o jovem Johnny Depp é engolido pela cama que depois espirra todo o sangue me deixou com alucinações quando fui tentar dormir. Pois é, não à toa filme de terror não é classificado para crianças, mas eu assistia mesmo assim.

Enfim, foi essa mistureba que alimentou minha imaginação na mocidade: quadrinhos, animes, cordel, poesia pré-moderna e moderna, espiritualismo, cyberpunk, artistas esquizofrênicos e terror trash.

Notas: