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Outlast ou Por que não gosto de jogos de terror

Outlast (2013)

Joguei uns poucos jogos de terror no estilo FPS, como a série Penumbra (2008). Foi Penumbra que provavelmente popularizou um certo estilo de jogo que depois foi adotado por Outlast (2013). É uma mistura de exploração com sobrevivência baseada em fugir e se esconder.

No caso de Outlast, ao longo da exploração do cenário você vai se deparando com fragmentos de uma história macabra, encontra corpos ou mesmo pessoas vivas, loucos, alguns inofensivos e que não interagem com você, outros te dão uns sustos ocasionais, mas não te machucam e alguns te perseguem e podem te machucar. Enquanto tenta descobrir meios de sair daquele cenário de pesadelo, vai descobrindo documentos que trazem detalhes sobre o que aconteceu ali, mas de vez em quando se depara com alguns caras bem sinistros e tem que fugir e se esconder.

Pois bem, é dessa jogabilidade que não gosto. É de fato um formato bem apropriado para um jogo de terror, pois você é colocado numa posição de fragilidade e sequer pode lutar ou usar armas, sua única opção diante de um inimigo é fugir e se esconder em armários e debaixo de camas, esperando quietinho até que a ameaça se afaste. Isto somado aos momentos de jump scare (quando você toma um susto aleatório por causa de um barulho, da música ou algo aparece na sua frente de surpresa) faz com que o jogador fique imerso numa constante sensação de medo que agrada a quem curte esse tipo de terror. E quem realmente quer ter a experiência de imersão completa deve jogar de madrugada, sozinho e com as luzes apagadas. Aí sim é uma maravilha.

Sempre gostei de filmes e séries de terror. Lembro que assisti A Hora do Pesadelo (1984) quando era bem jovenzinho, com uns 7 ou 8 anos. Tive alucinações quando fui dormir, vendo o teto do quarto afundando e se enchendo de sangue, fiquei realmente assustado, mas não posso dizer que foi traumatizante porque continuei gostando de terror e até depois da adolescência eu curtia o gore pelo puro prazer de ver cabeças rolando e sangue jorrando, tanto que adorava um filme trash e curtia um programa na TV apresentado pelo Zé do Caixão (chamado Cine Trash, inclusive) que só tinha tosqueira de baixo orçamento e muita coisa grotesca.

Aí ao longo da vida adulta meu gosto foi se refinando e já não via mais graça no terror da violência gratuita. Passei a gostar do drama, da tragédia envolvendo os personagens, de perceber seus sentimentos e ter aquela sensação de tristeza ou mesmo de reflexão sobre as dores do mundo que certos filmes de terror mais "cabeça" conseguem produzir. É o caso, por exemplo, de Martyrs (2008) que eu diria ser um filme belo e delicado, mesmo sendo de terror. 

Também incluo nessa galeria do terror cult a controversa trilogia A Centopeia Humana (2009-2015). É uma produção bem ousada, politicamente incorreta, aliás, incorreta em vários aspectos. Às vezes é puro gore, às vezes tem um ar de drama e até de comédia (o terceiro filme é o mais cômico de todos), mas todo o conceito e a forma como é elaborado tem uma ousadia, inteligência e originalidade raras.

Outro nome para essa lista é The Neon Demon (2016), que tem uma elegância estética e até na forma como as cenas de violência são apresentadas. Também poderia citar A Chave Mestra (2005), Lady Vingança (2005), Anticristo (2009), os filmes e a série do Hannibal, A Cela (2000) e a série Penny Dreadful (2014-2019) que tem uma elegância gótica e vitoriana, além de um drama envolvendo os personagens, que fazem dessa série uma obra-prima.

Não que agora eu seja um daqueles hipsters que só curtem filme cabeça. Adoro um terror besteirol, satírico e que brinca com o absurdo, como é o caso de The Cabin in the Woods (2011), Rubber, o Pneu Assassino (2010), Planeta Terror (2007), Vagina Dentada (2007) e Psicopata Americano (2000). Sim, existe um filme sobre um pneu com vida própria e que é assassino e sim, existe um filme sobre uma vagina com dentes!

O que eu nunca gostei foi do terror do susto. Primeiro porque não curto mesmo levar susto. Na verdade nem sou fácil de assustar, dada minha personalidade fleumática. Barulhos repentinos, portas batendo e pratos caindo geralmente não me provocam reação, mas podem me irritar, já que odeio barulhos. Por que eu assistiria algo que me deixasse irritado? Pois bem, é justamente isso que existe nos jogos de terror. Eles tentam assustar, pregar peças, e isso ou me irrita ou me entedia.

Sem contar que a sensação de inutilidade do personagem, que deve se resumir a correr e se esconder, também faz com que eu não curta esse tipo de jogo. Não que eu não goste de todo tipo de jogo de terror, mas sim desse tipo específico que segue o estilo Penumbra-Outlast. Adoro Left 4 Dead 2 (2009), por exemplo, que assusta, mas pelo menos eu posso estourar os miolos dos zumbis, o que sempre é algo divertido.

Enfim, no caso de Outlast e afins, o que não gosto é da jogabilidade, mas o jogo em si é de fato uma grande produção, com cenários bem desenhados e uma história interessante baseada no projeto MKUltra. Outlast daria perfeitamente para virar um bom filme.

Outlast (2013)

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