Vivi os anos 90 assistindo os filmes na TV aberta, como muitos daquela geração. Não havia internet, muito menos serviços de streaming e ocasionalmente a gente ia ao cinema ou alugava fitas VHS nas locadoras, mas a maior parte da nossa experiência com filmes era em casa pela televisão.
No entanto não lembro de ter assistido O Profissional na TV naquela época e só nas décadas seguintes eu teria conhecimento desse filme pela internet, já que se tornou um clássico cult, tanto por ter sido o primeiro trabalho da Natalie Portman, uma atriz bastante admirada, quanto pela temática bem anos 90 de atiradores de aluguel.
Só recentemente finalmente resolvi assistir e riscar da minha enorme lista de filmes que pretendo ver. A primeira impressão foi justamente essa: é a cara dos anos 90. A boa cara, eu diria. O cinema noventista não tinha medo de ser "errado". Na época nem havia esse conceito de errado como hoje em dia em que os produtores são super exigentes para que os filmes sejam family friendly, com o mínimo de sangue, palavrões e armas possível.
Uma cena bem comum nos anos 90 era desses programas de ginástica com umas roupas coloridas e movimentos eróticos que às vezes pareciam bem ridículos. |
Eu chamaria isso de "efeito Disney". Por visar o público infantil e planejar suas produções tendo em mente famílias indo ao cinema, pais levando os filhos, a Disney estabeleceu um paradigma cada vez mais adotado por toda a indústria no sentido de evitar qualquer conteúdo que prejudique a classificação indicativa e receba críticas dos mais moralistas ou politicamente corretos.
É uma postura compreensível, pensando do ponto de vista dos negócios. Ora, se você quer vender algo para o maior número de pessoas possível, deve evitar certos detalhes que afastariam alguns clientes. Claro que ainda hoje existem filmes mais pesados e que ousam na violência, mas fazem isso já visando um público específico e mais de nicho. Tarantino é um grande exemplo. Mas enfim, estou digredindo.
Voltando a O Profissional, ele já começa com algo que hoje jamais se veria num filme convencional: uma criança fumando. Logo em seguida há uma brutal cena de chacina, quando a família da Mathilda (Natalie Mortman) é dizimada por ordem de um policial corrupto que fazia parte do tráfico de drogas.
O policial é interpretado bizarramente por Gary Oldman, tão cheio de trejeitos esquisitos que parece que baixou o Nicolas Cage nele. E é uma das coisas memoráveis desse filme, a sua atuação que virou meme na cena em que ele grita "EVERYONE!!!".
Aliás, o Gary Oldman foi um policial ultra corrupto em O Profissional, mas décadas depois ele se tornaria o Comissário Gordon no Batman do Nolan (2008). No filme do Batman o Duas Caras já dizia: "Ou você morre como herói, ou vive o bastante para se tornar vilão", e essa máxima pode se aplicar a atores e seus papéis. O Michael Keaton, por exemplo, que foi o Batman na juventude (1989), quando velho virou o Duende Verde (2017). Angelina Jolie, que era a Lara Croft (2001), se tornou depois a Malévola (2014). No caso do Gary Oldman, ele fez o caminho inverso, de bandido a mocinho.
Tirando o overacting do Gary Oldman, quem brilha do começo ao fim é a garotinha Natalie Portman que estava inaugurando sua carreira cinematográfica e começou em grande estilo. Ela rouba a cena, atua melhor que todo o elenco, consegue expressar o drama e a tristeza que sua personagem vivia com uma sinceridade impressionante.
Ao sobreviver ao massacre de sua família e se refugiar na casa do vizinho Léon (Jean Reno), Mathilda descobre que ele é matador de aluguel e pede para ser sua aprendiz, visando se vingar pela família. Segue então uma trama de vingança com muito tiro, porrada e principalmente bomba. A fala de Jean Reno é outra das pérolas que essa obra legou à cultura nerd: "This is from Mathilda".
Nenhum comentário:
Postar um comentário