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Réquiem para o antigo DCU

Justice League

2023 foi o final do chamado antigo DCU (também conhecido como DCEU ou snyderverso), um universo cinematográfico que começou exatamente há 10 anos, em 2013 com o Man of Steel¹.

Zack Snyder começou sua jornada na DC com Watchmen (2009), na mesma época em que Christopher Nolan estava trabalhando na trilogia do Batman. Do lado da Marvel, o MCU estava no comecinho, a partir do primeiro Iron Man (2008) e, quando veio o grande sucesso de The Avengers (2012), a DC se deu conta de que precisava urgentemente começar seu próprio universo cinematográfico.

Alguém precisava liderar este universo. O Nolan era uma opção, já que ele fez um enorme sucesso com o Batman, mas convenhamos que não seria do interesse dele se comprometer a tocar um projeto de dez anos ou mais só voltado a super heróis. Nolan passou o bastão para Snyder.

Ben Affleck, Gal Gadot, Zack Snyder

Só que, sejamos sinceros, por mais nerd de quadrinhos que seja o Snyder, ele também não estava muito a fim de ser o Kevin Feige da DC. Snyder queria fazer seus filmes, quem sabe fechar uma trilogia da Liga da Justiça, e partir para novos projetos. Não estava na agenda dele coordenar todo um universo de personagens.

Ele até tentou apresentar o máximo de personagens possíveis para ir costurando um universo, o que fez de forma meio caótica em Batman vs Superman (2016), apresentando às pressas os membros da Liga que logo em seguida se reuniriam no primeiro e único filme da Liga da Justiça (2017)².

Desta forma, o snyderverso tentou ser tudo em todo lugar ao mesmo tempo. O Superman, que devia ter uma trilogia, em vez disto teve uma trilogia indireta (Man of Steel, Batman vs Superman e Justice League). O Batman nem mesmo teve um primeiro filme solo. Ele já começou com um crossover com Superman e Wonder Woman. 

Batman vs Superman foi uma grande mistureba tentando conectar todas as pontas do novo universo. Por um lado foi um filme do Batman, mas também um filme da morte do Superman e uma prequela da Liga da Justiça. Já era um sinal que o DCU não estava se desenvolvendo no ritmo certo.

Para bagunçar ainda mais, eis que o Justice League passou por uma segunda edição na mão de Joss Whedon, alegadamente devido ao fato do Zack Snyder estar passando por uma tragédia pessoal com a perda da filha, mas a verdade é que os executivos da Warner queriam marvelizar o filme, aí chamaram o Whedon pra dar uma amenizada no tom sombrio do Snyder. O resultado foi um Frankenstein meio Snyder meio Whedon.

O Zack Snyder já tinha estabelecido uma base de fãs, e uma base bem barulhenta, pois os snydetes se movimentaram tanto nas redes sociais que a Warner deu carta branca para Snyder produzir uma edição totalmente autoral, um Snyder cut da Liga da Justiça, filme este que veio em 2021 com nada menos que quatro horas de duração³.

O Snyder cut ao menos serviu como redenção e despedida do Zack Snyder, mas também como o canto do cisne do snyderverso. A esta altura já estava claro que o DCU precisava de um recomeço.

James Gunn and The Suicide Squad cast

Eis que surge o James Gunn. Ele chegou de mansinho com um belo e divertido reboot de Suicide Squad (2021)⁴ que resultou na série do Peacemaker (2022)⁵ e acabou ganhando o cargo de CEO da DC Studios⁶. Sua missão era ser o maestro de um novo DCU. Além disso, ele ficou encarregado de começar este novo universo dirigindo nada menos que um primeiro filme do Superman, a ser lançado em 2025.

2022 e 2023 então foram um longo velório, um limbo, uma despedida do antigo DCU que lançou os filmes que já estavam produzidos e até cancelou um que já estava praticamente pronto, mas parecia tão ruim que nem valia a pena lançar: Batgirl. O fim prematuro da Batgirl foi como a amputação de um membro em um paciente já terminal⁷.

Bom lembrar que, além do James Gunn, teve outra força que se levantou tentando recriar o universo da DC: o The Rock. Ele chegou como quem não quer nada, encarnando o Black Adam (2022)⁸, mas parecia ter a intenção de assumir o DCU a partir dali, criar seu próprio "rockverso". Ele até criou um slogan de sua campanha: "A hierarquia de poder do DCEU está prestes a mudar".

E mudou mesmo, mas não como o The Rock esperava. Black Adam foi mais uma peça na despedida do velho DCU, um tripulante que afundou junto daquele navio. Além disso, o novo chefão da Warner, David Zaslav, já bateu o martelo: James Gunn seria o cabeça da DC.

David Zaslav

Em 2023 o clima de despedida prosseguiu. O Shazam teve seu segundo e último filme, o Besouro Azul teve seu primeiro, único e desimportante filme (apesar das promessas de que ele permanecerá no novo universo, acho bem improvável que ele retorne), o Flash teve seu primeiro e também último filme.

Eu diria até que é emblemático que o filme do Flash tenha vindo já no finalzinho do velho DCU, uma vez que simbolicamente ele é um personagem de transições, de fim e recomeço, como um Hermes a transitar entre mundos e realidades. 

O filme dele teve seus momentos divertidos, além de ter servido também como uma valiosa redenção do Michael Keaton, que guardava certa mágoa do gênero de super heróis desde que perdeu o papel de Batman, mágoa esta que ele externou em Birdman (2014)⁹, mas isso é outra história. O importante é que o retorno do velho Batman do Michael Keaton foi a melhor coisa nesse filme do Flash. Um retorno e uma despedida... ou não, já que uma vez que o Flash apresentou o multiverso, está aberta a porta para futuros crossovers.

Jason Momoa; Aquaman 2 (2023)
"I am Aquaman".

Por fim, para apagar a luz e fechar a porta do velho DCU, temos Aquaman 2 (2023).

O primeiro filme do Aquaman (2018)¹⁰ foi um caso bem peculiar. Foi o maior sucesso de todo o DCU, ultrapassando uma bilheteria de 1 bilhão. E não precisou fazer nada de especial para ser um bom filme. Não tem nenhuma assinatura marcante de diretor, como os longas do Snyder, nenhuma história mirabolante, mas ainda assim conseguiu atingir certo nível épico, apresentando um rico e variegado mundo submarino, muito bem desenvolvido com um CGI decente. De bônus, temos o carisma do Jason Momoa e a perpétua beleza da Nicole Kidman.

Aquaman 2, lançado cinco anos depois, conseguiu ser tão bom quanto o primeiro, adotando um tom ainda mais voltado à aventura, bem estilo anos 90 (eu diria até com algumas cenas meio Indiana Jones em selvas e cavernas). O CGI continuou muito bom, bem melhor que do filme do Flash, aliás, enchendo nossos olhos com toda uma vida submarina, com criaturas e máquinas atlantes.

Este filme não se leva a sério, não tenta agarrar-se à possibilidade de uma sobrevida, como o Black Adam tentou. No final, o Momoa até mesmo quebra a quarta parede e se despede do público com um grito em tom zoeiro. Momoa saiu de boa, despediu-se do papel sem lamentos, afinal ele sabe que algo empolgante o espera no novo DCU: o Lobo.

Arrowverse cast

Em sincronia com o fim do DCU, também temos o fim do arrowverso¹¹, um universo que começou no finalzinho de 2012 e seguiu por uma década ramificando-se numa enormidade de séries. O arrowverso realizou uma proeza que o DCU não conseguiu, ele de fato desenvolveu um rico e interligado mundo com diversos personagens e tramas que se interconectavam em grandes crossovers. 

O arrowverso fez sua parte, fez história no mundo nerd e sempre será lembrado, mas estava na hora de terminar. Seu encerramento em sincronia com o DCU abre espaço para a construção de um mundo totalmente novo e no qual haverá uma interligação planejada entre filmes e séries.

Que venha o novo DCU!

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Notas:












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