O espaço sideral é um ambiente solitário, extremamente solitário. Viajando pelo espaço, você terá à sua volta incontáveis anos-luz de vazio. Não à toa, é até comum que a ficção espacial adote o tema da solidão ilustrada no isolado astronauta.
É o caso, por exemplo, de Solis¹, cuja solidão está explícita no próprio título do filme. Também temos isto em Approaching the Unknown² e Ad Astra³.
Eis que em Spaceman (2024), este tema da solidão retorna e com um curioso detalhe: o protagonista é interpretado pelo Adam Sandler. Muitos estão acostumados com o lado zoeiro do Adam Sandler, com a comédia debochada e que beira o tal limite do humor, mas não se engane, ele também sabe abraçar o drama e a emoção. Um bom exemplo disso é Reign Over Me (2007)⁴, onde ele encarna um homem quebrado pela tragédia.
O astronauta Jakub Procházka está em uma missão para coletar amostras de uma misteriosa nuvem cósmica nas proximidades de Júpiter. Durante sua viagem, ele tem de lidar com o peso da solidão, agravado pela crise em seu casamento, uma vez que ao partir para o espaço ele deixou na Terra sua esposa grávida, Lenka (Carey Mulligan).
Esta saga adquire um ar kafkiano quando Jakub se depara que uma aranha alienígena gigante que se comunica com ele por telepatia. Após o susto inicial, ele acaba se apegando àquela criatura, à qual dá o apelido de Hanuš (a voz da aranha é interpretada por Paul Dano).
Hanuš revela que é um sobrevivente fugitivo de um planeta distante que foi atacado por invasores de outro mundo. Em sua viagem pelo espaço, ele avistou a Terra e a nave de Jakub e ficou fascinado, dedicando-se a estudar a espécie humana à distância. Ao entrar em contato com Jakub, ficou interessado em suas memórias e dramas pessoais, de modo que Hanuš acabou se tornando uma espécie de confidente, de certa forma um psicanalista e também um amigo em meio àquela solidão cósmica.
Quanto a Lenka, esposa do astronauta, é até compreensível que ela estava magoada com o marido que a deixou num momento delicado de gravidez, mas convenhamos que ela foi bem egoísta nesta história toda. Ora, ela casou-se sabendo que ele era um astronauta, que a qualquer momento poderia sair numa missão de vários meses, além disso, por mais que ela sentisse a falta dele na Terra, ela ainda tinha família e amigos à sua volta, enquanto Jakub ficou com a pior parte, vivenciando o completo isolamento. Custava ela ter um pouco de paciência e compreensão, e esperar o cara voltar da missão? Em vez disso ela se intrigou dele, parou de se comunicar, o que só piorou a depressão do astronauta.
Eis porque o futuro da exploração espacial está destinado aos robôs. Os humanos em geral, salvo exceção dos raros amantes da solitude, não são feitos para o isolamento, não conseguem lidar com isto com facilidade. Exploração espacial necessariamente trará muita solidão e isolamento e astronautas humanos são uma bomba relógio de emoções. A qualquer momento a pessoa pode entrar numa crise emocional que colocará toda a missão em risco.
Mas enfim, assim como Ad Astra, Spaceman não é sobre o espaço, mas sobre laços. O laço de marido e mulher, que se mantém apesar da distância de milhões de quilômetros, e também um laço que transcende a humanidade, uma vez que Jakub se torna o grande amigo de uma aranha alienígena.
Existe, obviamente, a possibilidade da aranha ser apenas um delírio do astronauta, mas prefiro acreditar que ela era real, mesmo porque ela sabia informações sobre a nuvem cósmica que Jakub não tinha conhecimento.
Spaceman é um filme modesto, com um orçamento de apenas 40 milhões de dólares. Não se propõe ser épico e nem mesmo é a melhor atuação do Adam Sandler em um papel dramático, mas vale entrar na prateleira dos filmes espaciais voltados para a solitude.
Notas:
Palavras-chave:
Nenhum comentário:
Postar um comentário