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Smallville, arrowverso e além

DC Comics

A DC tem presença garantida no mundo das série televisivas já há um bom tempo. Quem nunca ouviu falar do Batman de Adam West (cuja série durou de 1966 a 1968) ou da Mulher Maravilha da Lynda Carter (1975-1979)? 

Nos anos 90 teve a série do Flash (1990-1991), de Lois & Clark (1993-1997) e Swamp Thing (1990-1993), que tiveram relativo sucesso. Então veio Smallville.

Lynda Carter, Adam West

Smallville (2001-2011)

Smallville (2001-2011) fez história e foi a mais bem sucedida série da DC de todos os tempos, até então. Afinal, ela durou nada menos que uma década. Eis que, um ano depois do fim de Smallville, a DC não descansou e deu início a um novo universo de séries começando com Arrow (2012-2020), o chamado arrowverso.

Arrow era bem diferente de Smallville, primeiro porque tinha como protagonista um personagem pouco conhecido da DC, o Arqueiro Verde. Não era um Batman, um Superman ou Mulher Maravilha. Além disso, não era um personagem com superpoderes, de modo que a série a princípio se assemelhava mais a um programa policial e de ação do que a algo relacionado a super-heróis.

Só que Arrow conseguiu uma proeza que Smallville não realizou: expandiu-se em um universo compartilhado de programas (na certa também por influência do "efeito Marvel", que estava desenvolvendo seu universo no cinema). Arrow foi uma série generosa que abria espaço para participações especiais de outros personagens da DC, o que acabou transbordando no surgimento de spin-offs.

Arrowverse

Agora o arrowverso já alcançou sua marca de uma década de existência e está claramente em sua fase final. Este universo teve vários crossovers, sendo o maior e mais importante a Crise nas Infinitas Terras, que rolou entre 2019 e 2020. Depois desta grande saga, o arrowverso entrou no seu epílogo com o encerramento de Arrow em 2020.

A primeira série derivada de Arrow foi The Flash, em 2014. Em 2015 o universo se expandiu para o mundo das animações com Vixen e depois com The Ray (2017-2018). Em 2016 ganhou uma série que é um crossover ambulante de personagens, a Legends of Tomorrow.

O personagem Constantine já tinha seu programa solo em 2014, mas este era produzido pela NBC, não pela CW. A série foi cancelada prematuramente, mas o personagem migrou com sucesso para o arrowverso, primeiro aparecendo em Arrow e depois se tornando um dos protagonistas de Legends of Tomorrow.

Outra personagem absorvida pelo arrowverso foi a Supergirl, que começou sua série solo na CBS em 2015, sendo depois transferida para a CW a partir da segunda temporada.

Teve ainda outras séries que surgiram de forma independente, não como spin-offs, e que também acabaram marcando presença no arrowverso, especialmente nos crossovers, como foi o caso de Lucifer (produzida originalmente pela Fox, entre 2016 e 2018, e depois adotada pela Netflix em 2019), Black Lightning (2018-2021), Doom Patrol (2019-) e Swamp Thing (2019), que foi cancelada na primeira temporada, mas teve uma breve menção no crossover da Crise.

A série solo da Batwoman foi uma filha tardia do arrowverso, surgida em 2019 como resultado do crossover da Crise. Também em 2020 temos a Stargirl, que a princípio foi produzida pela DC Universe, mas depois passou para as mãos da CW.

Então começou o fim do arrowverso, ou melhor, da fase liderada pelo Arrow, pois uma nova fase pode estar se iniciando, agora nas mãos do Superman.

Em 2020 o Arrow teve sua última temporada; em 2021 foi a vez de Supergirl, Black Lightning e Lucifer; em 2022 teremos o encerramento de Batwoman e Legends of Tomorrow. Por fim, em 2023 será o fim de The Flash, a série que foi a grande parceira de Arrow ao longo de quase uma década. Se Arrow foi o pai deste grande universo compartilhado de séries, The Flash foi a mãe.

Superman & Lois (2021-)

A última cria do arrowverso é a série Superman & Lois, que teve início em 2021, quando Arrow já havia fechado as portas. Este novo show continua rolando e sem previsão de encerramento. É possível até que uma nova leva de spin-offs comece a surgir a partir daí, de modo que o arrowverso pode se transformar em um supermanverso, já que esta nova fase será liderada por essa série do Superman. Inclusive está programado o lançamento de Gotham Knights para 2023, possivelmente dentro deste mesmo universo, pois será pela CW.

É bom lembrar que nem só de arrowverso viveu a DC nos últimos dez anos. Temos também outras séries que não tiveram laço algum com o universo da CW, como Titans (2018-), produzida originalmente pela DC Universe, que depois se tornou HBO Max; Gotham (2014-2019), pela Fox; Preacher (2016-2019), pela AMC; Powerless (2017), pela NBC; Krypton (2018-2019), pela Syfy; Watchmen (2019), pela HBO; Y: The Last Man (2021), pela FX on Hulu (curiosamente, um canal que pertence à Disney); DMZ (2022), pela HBO; Pennyworth (2019-), pela Epix; Sweet Tooth (2021-), pela Netflix.

iZombie (2015-2019)

iZombie é um caso curioso, pois foi produzida pela CW e teve uma longa vida de 5 temporadas (2015-2019), mas sempre existiu em seu próprio mundo, sem se relacionar com o arrowverso. Em 2022, a CW também lançou Naomi, que foi cancelada no mesmo ano e nem mesmo chegou a ter qualquer relação com o universo Arrow.

Outro caso interessante é The Boys (2019-), que, mesmo sendo baseada em uma revista da DC, é produzida e veiculada com muito sucesso pela Amazon Prime, grande concorrente da HBO/DC. Já está em planejamento um spin-off de The Boys chamado Gen V. Na Netflix teremos Sandman agora em 2022, uma série que promete durar uns bons anos.

Por fim, temos o caso de Peacemaker (2022-), série nascida como um produto do novo serviço de streaming HBO Max, derivada do filme de James Gunn, The Suicide Squad (2021), e que também promete durar várias temporadas e quem sabe até se expandir em seu próprio universo de spin-offs, separado do arrowverso.

Enfim, o fenômeno arrowverso já esfriou e está no seu final, mas a produção de séries da DC segue a todo vapor, ainda mais agora com o surgimento da HBO Max, pois nos próximos anos este streaming vai investir em produções originais para atender a demanda dos assinantes. Acho, porém, improvável que surja novamente algo tão ramificado como foi o arrowverso, envolvendo tantas séries em constantes crossovers. 

Por um lado teremos os resquícios do arrowverso¹ sobrevivendo em Superman & Lois, em Gotham Knights e quem sabe mais algumas séries que surjam daí, por outro teremos o universo próprio de Peacemaker, de The Boys, de Sandman e todo um novo mundo de programas que devem vir pela HBO nos próximos anos.

É possível que o gênero de super-heróis esteja chegando à fase de saturação no cinema, o que significa que em algum momento ele perderá seu trono no reino dos blockbusters para algum outro gênero que se torne o mainstream no entretenimento das telonas (quem sabe um retorno do bom e velho filme de ação, como vemos em Top Gun 2 ou John Wick²). 

No mundo das séries sempre haverá espaço para super heróis, ainda mais agora na era dos streamings, pois séries são o formato ideal de conteúdo para dar volume ao catálogo destes serviços. Elas custam menos do que filmes e oferecem mais horas de audiência. Além disso, enquanto filmes procuram atingir o maior público possível nas salas de cinema, as séries são por natureza nichadas. O nicho nerd sempre vai consumir séries de super heróis, mesmo depois que o grande público normie enjoar deste gênero.

E agora que a DC tem seu próprio serviço de streaming, sua produção de séries está garantida por anos ou até décadas.

Notas:

1: Ok, chega de usar a palavra arrowverso por hoje.

2: John Wick, mesmo tendo já rendido uma trilogia (e com um quarto filme a ser lançado em 2023), não chega a ser um blockbuster e teve uma arrecadação "modesta" se comparada aos filmes da Marvel. Top Gun 2, por sua vez, foi um sucesso fenomenal. Até o momento já arrecadou 1,2 bilhões, o dobro da bilheteria de Thor Love and Thunder. Isto pode já ser um sinal de que o gênero de super-heróis está começando a encontrar concorrentes à altura. 

Os filmes da Marvel têm rendido uma boa grana, mas também são caros de produzir, principalmente por causa do grande volume de efeitos especiais que requerem a contratação de um monte de studios de CGI. Thor Love and Thunder, por exemplo, custou 250 milhões e arrecadou 660 milhões. Um lucro líquido de cerca de 410 milhões. Top Gun 2, por sua vez, teve uma produção mais modesta de 170 milhões, gastando muito menos em CGI e teve um lucro líquido de mais de 1 bilhão!

Ou seja, Top Gun 2 mostrou que é possível fazer bilhão sem investir em uma superprodução e em toda a pirotecnia do CGI. O público curte um bom filme de ação à moda antiga. Do ponto de vista dos investidores e produtores, é um ótimo negócio fazer filmes que lucram mais com menos custo, desafiando o caríssimo modelo Disney/Marvel.

Outro exemplo interessante é o Joker (2019), que custou apenas 70 milhões para ser produzido e arrecadou 1.075 bilhões, tendo portanto um lucro líquido de 1 bilhão. Joker mostrou que mesmo o gênero de quadrinhos no cinema pode ser um grande sucesso sem recorrer à fórmula Disney repleta de CGIs caros.

Na verdade, acho improvável que o gênero esfrie nos próximos anos ou décadas. Não é como o western que teve sua era de ouro e depois praticamente acabou. Filmes de super-heróis têm seu espaço garantido, tanto quanto os de ação, mas talvez o número de blockbusters reduza. A fase 4 da Marvel, por exemplo, foi bem pobrinha se comparada às 3 fases anteriores.

Mas enfim, não dá para prever a longo prazo que rumo este mercado vai tomar, pois ele também depende do potencial criativo dos studios. O gênero pode sempre se reinventar se houver pessoas capazes de fazer isto.

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