É difícil um personagem ser ao mesmo tempo delicado e badass de forma convincente. Nos mangás e animes isto é relativamente comum porque tanto a delicadeza e fofura quanto a força e valentia são intrínsecos à estética do desenho. Um bom exemplo é a Rei, de Evangelion. Ela tem uma aparência delicada e um comportamento tímido e até fofo, mas na hora do combate é uma das personagens mais badass da série.
Em live action é bem mais difícil conseguir este efeito porque estamos diante de atores humanos, pessoas reais, e é pouco verossímil uma mesma pessoa combinar força e delicadeza. A Saoirse Ronan é uma atriz bela e que passa essa imagem de fofura e delicadeza, de modo que é difícil imaginar alguém como ela quebrando o pescoço de outra pessoa com as mãos. Essa é a proposta de Hanna (2011).
Hanna é a filha de um agente secreto fugitivo que a criou na selva, isolada do mundo, treinando-a em táticas de luta e sobrevivência para o caso de algum dia a CIA venha atrás deles para fazer queima de arquivo. Além disso, Hanna é fruto de um experimento genético, de modo que ela é uma espécie de super soldado.
Pois é, mas mesmo com esta premissa é difícil a Saoirse Ronan convencer de que é um ser humano letal. Ela é fofa demais pra isso. Não que seja algo impossível. A Scarlett Johansson é um bom exemplo, pois ao longo de sua carreira ela encarnou personagens meigas e delicadas, bem como heroínas de ação. A fofa Chloe Moretz também conseguiu esta proeza de ser badass como a Hit-Girl de Kick-Ass (2010).
O problema de Hanna, porém, não é apenas este vale da estranheza com relação à protagonista. Todos os outros personagens parecem pouco convincentes, inverossímeis, não agem como humanos de verdade.
Cuidado! Esta garota fofa é perigosa. |
Enquanto foge da CIA, Hanna perambula em um deserto até que se depara com um carro de uma família de turistas. Estas pessoas veem uma garota vestida com um estranho uniforme laranja que parece roupa de prisão, vagando no deserto, e agem como se nada de estranho estivesse acontecendo. A garota, Sophie, oferece uma carona e Hanna diz que prefere ir a pé e a reação da menina é "ah tá, ok então".
Quem no meio do deserto rejeitaria uma carona e diria que prefere ir a pé? E quem acharia normal alguém fazer isto?
E ainda fica pior. Depois Sophie flagra Hanna lutando contra uns agentes, metendo a faca neles e tudo. O mínimo que poderíamos esperar é que Sophie ficasse apavorada, em choque diante de uma cena de assassinato tão inesperada. Em vez disso ela só fez uma cara de decepção do tipo "por que você mentiu pra mim e não me contou que era uma super assassina?"
E assim é com o restante do elenco. Os personagens parecem todos robóticos, sem reações humanas. Nada contra personagens robóticos. O Schwarza sempre deu muito certo com este tipo. Mas quando todo mundo no filme é assim, aí perdemos totalmente a imersão.
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