Estes dias eu estava revendo Um Tira da Pesada (1984), um grande clássico do cinema de ação dos anos 80, e me vi pensando sobre o abismo que separa o cinema daquela época e o atual na maneira como lidam com a representatividade.
Existe sim uma lacuna na representatividade da ficção ocidental. Com exceção dos gêneros mais fantásticos, onde há elfos, fadas e outras criaturas não humanas, a ficção costuma representar a média da população da região onde a história se passa, seja na aparência, raça, nacionalidade, etc.
Ora, se observarmos os filmes japoneses, é evidente que a maioria dos personagens, especialmente os protagonistas, são japoneses, interpretados por atores japoneses. O mesmo se dá com o cinema indiano, árabe, coreano, russo, etc. É óbvio que no Japão existem estrangeiros e diversas raças, mas convenhamos que proporcionalmente o número é bem pequeno. Na verdade, basta andar na rua e olhar para as pessoas. A grande massa será composta de gente com a peculiar aparência asiática. Aqui ou ali você verá um negro americano, uma loira europeia, até um brasileiro, mas são poucos.
Logo, não é de se esperar que nos filmes japoneses encontremos, por exemplo, um casal de protagonistas feito de um negro e uma loira ocidentais. Não seria verossímil, não seria convincente. Por outro lado, pode haver uma história em que os protagonistas sejam japoneses, mas tenham um vizinho ou colega de trabalho ocidental. Isto soará mais realista e condizente com as estatísticas.
Aqui no Ocidente, por outro lado, esse negócio de representar o comum da população no cinema é mais complicado, pois o Ocidente é extremamente miscigenado. Não há lugar no mundo mais miscigenado do que as Américas e depois a Europa. A Europa tem uma longa história de miscigenação, mas ainda assim é possível notar uma certa prevalência de um tipo padrão de europeu. Você olha para um italiano, um britânico, um escocês, um francês, e você reconhece os traços típicos.
Nas Américas, por outro lado, a diversidade racial é enorme, pois nenhum outro continente recebeu tantos imigrantes de todas as partes do mundo. Você pode andar em uma rua movimentada de Nova Iorque e ver asiáticos, africanos, europeus, russos, australianos, latinos, indígenas, indianos, etc.
Nos países de língua hispânica, existe uma relativa homogeneidade racial formada geralmente de pessoas descendentes da fusão de índios nativos e colonizadores espanhóis, o tipo popularmente conhecido como "latino".
O Canadá por sua vez tem uma predominância de caucasianos de descendência europeia (mas isto está mudando devido ao aumento da imigração). Todos os países, é claro, têm pessoas de diversas raças e vindas de diversas partes do mundo, afinal estamos na era globalizada, mas a maioria dos países mantém uma certa homogeneidade racial que remonta a suas origens étnicas séculos atrás.
Mesmo países extremamente miscigenados, como o Brasil, têm uma certa distribuição de tipos regionais como o carioca, o mineiro, o sulista, o amazonense, o baiano, o cearense. Cada um destes tipos em geral (enfatizo o "em geral") partilha de certos traços fenotípicos em comum.
Em termos mais simples, você irá perceber uma presença maior de brancos descendentes de europeus, particularmente loiros, na região Sul; pessoas com traços indígenas na região Norte; mais caboclos no Nordeste, com uma maior concentração de afrodescendentes na Bahia... Ainda assim, nas ruas do Brasil, em qualquer lugar que você for, verá gente de todo tipo, negros, loiros, asiáticos e diversas categorias de mestiços.
É por isso que a questão da representatividade é bem mais complicada em países como o Brasil e os Estados Unidos. Não vemos ninguém discutindo representatividade no cinema japonês, pedindo mais atores negros ou latinos, porque não faria sentido, não é algo que diz respeito ao grosso da composição racial daquele país. Aqui nas Américas, por outro lado, este assunto são outros quinhentos.
Como representar americanos no cinema? O modelo atual, pejorativamente chamado de woke, tem investido em uma fórmula básica: "precisamos de mais personagens negros, latinos e asiáticos". A maneira como isto vem sendo feito, porém, parece forçada, artificial. Não é convincente e muitas vezes é até confundido como um gesto interesseiro de sinalização de virtude dos progressistas da indústria do entretenimento.
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Olhem como sou uma pessoa evoluída e me preocupa com este pobre negro. |
Isto me lembra a Senhorita Morello, da icônica série Todo Mundo Odeia o Chris (2005-2009). Ela era uma professora que manifestava um racismo condescendente (bom lembrar que a série foi escrita por Chris Rock com base em suas experiências de vida enquanto americano negro), tratando o Chris com uma espécie de pena, como que tentando sinalizar virtude de uma forma bem desastrada e cringe.
É assim que às vezes parece a postura dos studios que escolhem personagens negros, latinos e asiáticos apenas com a intenção de preencher uma cota e provar para a sociedade que estão contribuindo para a representatividade. No fim das contas, a intenção é apenas agradar críticos de cinema ou atingir nichos de mercado, mas como a coisa não soa natural, os tais nichos acabam rejeitando o produto.
Tem acontecido com certa frequência os casos de filmes feitos com personagens asiáticos visando atrair o mercado chinês e que se tornam um tiro pela culatra, recebendo críticas do público chinês ou do governo devido à representação estereotipada e pouco convincente.
Ok a indústria de cinema ser motivada por interesses mercadológicos. É uma indústria, ora bolas. O problema na verdade não é o objetivo capitalista da coisa. O problema parece ser quem está produzindo este material. Parece que muitos diretores e roteiristas deste meio têm algo de Senhorita Morello. São pessoas que querem parecer descoladas, conversar com os jovens, alcançar o povão, mas que vivem em seus castelos dourados, em suas bolhas sociais. São pessoas que não entendem realmente o mundo real.
A maneira como realizam a representatividade parece até robótica. "Vamos colocar 30% de negros aqui, 20% de asiáticos ali". Talvez um bom exemplo desta atitude robótica seja o curioso caso do "race swap" de personagens ruivos.
Ultimamente, algo peculiar tem chamado atenção nas adaptações de quadrinhos para cinema e TV: muitos dos personagens que originalmente eram ruivos nos quadrinhos são representados por atores negros ou de outras etnias não ruivas. Para citar alguns exemplos, temos a Cyclone, a Hawkgirl, a Iris West, Jimmy Olsen (que mudou de nome para James Olsen na série da Supergirl), Wally West, Batwoman, Heimdall, Mary Jane, a Pequena Sereia e vários outros exemplos podem ser encontrados.
É na verdade compreensível que nas adaptações audiovisuais os atores não se pareçam com os personagens dos quadrinhos. De fato, é uma sorte rara encontrar um ator que seja a cara e o focinho de um personagem. O Christopher Reeve é na certa o maior exemplo. Deram a sorte grande em encontrar este ator que realmente parece a versão em carne e osso do desenho dos quadrinhos.
Na maioria dos casos isto não acontece e o público aceita a diferença. Veja-se o Hugh Jackman como Wolverine. Ele não parece o baixinho peludo e marrento dos quadrinhos, mas bastou colocar costeletas e um corte de cabelo levemente parecido (e nem tão fiel assim à cabeleira dos quadrinhos) e o público comprou a ideia.
É esperar demais que os atores de live action sejam idênticos aos personagens do desenho, mesmo porque no desenho pode haver características impossíveis de se encontrar em pessoas reais. Até mesmo a raça original do personagem é um detalhe que pode ser modificado numa boa. A Lana Lang, por exemplo, nos quadrinhos era ruiva, mas na série Smallville foi interpretada pela linda Kristin Kreuk, uma canadense cujo pai tem descendência holandesa e a mãe chinesa, resultando numa peculiar miscigenação.
De toda forma, é uma curiosa coincidência o fato de personagens ruivos serem raros em live actions porque com certa frequência são interpretados por atores não ruivos, principalmente negros. O que poderia explicar esta coincidência? Arrisco a deduzir que isto acontece por motivos práticos: ruivos são raros no mundo. Só não são mais raros que albinos. É difícil achar atores ruivos, a maioria deles deve existir nos países nórdicos e não seria muito prático ficar contratando atores lá do outro lado do oceano e com sotaque estrangeiro toda vez que houver um personagem ruivo dos quadrinhos a ser interpretado.
Óbvio que nos Estados Unidos deve haver atores ruivos, mas convenhamos que a escalação de atores é um processo complexo e no fim das contas, após todo o filtro da seleção, quantos atores ruivos estariam disponíveis no determinado momento e lugar onde um filme ou série será feito?
É compreensível, do ponto de vista logístico, que a indústria cinematográfica tenha dificuldade em usar atores para personagens ruivos, então uma saída fácil é simplesmente o race swap. "Ah, muda aí, ninguém vai notar".
O race swap é bem menos comum em personagens de outras raças e em muitos casos ele é inconcebível porque o personagem possui traços étnicos muito característicos e a mudança causaria estranheza no público, até mesmo ofenderia certos públicos. Isto aconteceu com Ghost in the Shell (2017), pois foi escalada uma atriz caucasiana, a Scarlett Johansson, para encarnar uma personagem supostamente asiática. Digo supostamente, pois a personagem Motoko, do anime de 1995, vive em um mundo futurista e ela própria tem um corpo produzido artificialmente que pode ou não se assemelhar a pessoas asiáticas. Mas enfim, por se tratar de um anime, a adoção de uma atriz caucasiana causou estranheza em uma parte do público.
É difícil um personagem originalmente negro passar por race swap e também personagens loiros costumam continuar loiros nas adaptações. Às vezes o ator contratado nem é loiro, mas basta tingir o cabelo que o loiro está feito. Ocasionalmente, o mesmo é feito com ruivos. Novamente chamamos a Scarlett Johansson. Ela não é ruiva natural, mas interpretou a ruiva Viúva Negra, bastando tingir o cabelo de vermelho ou usar uma peruca.
O caso da Viúva Negra, porém, não esconde o fato de que há uma certa tendência dos studios optarem por contratar atores negros para os personagens ruivos, o que pode revelar uma bizarra estratégia. Uma vez que os studios querem bater suas metas de representatividade, é bem cômodo usar as lacunas dos personagens ruivos para preencher estas vagas. "Já que é tão difícil achar atores ruivos para estes papéis, vamos aproveitar para cumprir aqui nossa cota de representatividade negra".
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Uma das raras personagens ruivas do cinema nos últimos anos. |
Convenhamos que não é tão difícil resolver este "problema dos personagens ruivos", pois de fato basta tingir o cabelo. A garota Murphy, de Interestellar (2014), é interpretada pela Mackenzie Foy, que tem olhos verdes e cabelo castanho, de modo que a atriz teve o cabelo tingido de ruivo para caracterizar a personagem. No livro, publicado depois como adaptação do filme, a personagem é de fato descrita como ruiva de olhos verdes, um detalhe que provavelmente serviu para destacar em Murphy traços peculiares que ela não herdou do pai, mas da mãe, que já faleceu.
A Murphy adulta é interpretada pela Jessica Chastain, uma das raras atrizes naturalmente ruivas de Hollywood. Ou seja, Hollywood tem ruivos naturais à disposição, mas é evidente que são poucos. A Jessica Chastain não pode ser chamada para atuar em todos os papéis femininos de ruivas.
No filme Not Another Happy Ending (2013), a Karen Gillan tingiu o cabelo de vermelhão para interpretar uma protagonista ruiva. Também podemos citar a atriz Amy Adams que com certa frequência atua com cabelos ruivos, o que não é a sua cor natural.
Ou seja, não é que os ruivos tenham sido expurgados do cinema. Nas animações são muito mais frequentes, pois um desenho não tem o problema do cast de atores. Parece mesmo que a maior incidência de substituição de personagens ruivos acontece nas adaptações de quadrinhos.
Há certos casos em que o cabelo vermelho é uma marca muito importante do personagem e aí o cinema se esforça em manter a característica. Foi assim com a Jean Grey, que na primeira versão dos X-Men foi interpretada pela Famke Janssen, que tacou um vermelho acaju no cabelo, depois pela Sophie Turner, que é loira natural e também recorreu ao tingimento. A Feiticeira Escarlate também continuou ruivaça na pele da Elizabeth Olsen (cujo cabelo natural é loiro castanho), afinal ela tem vermelho até no nome e seria uma grande descaracterização mudar a sua cor.
A questão é: embora seja difícil encontrar atores naturalmente ruivos, é relativamente fácil transformar qualquer ator em ruivo por meio da maquiagem, então porque todos os personagens de quadrinhos ruivos não permanecem assim quando adaptados para live action?
Há casos de race swap também em animações, o que descarta a questão da dificuldade em encontrar atores ruivos. Na animação Batman and Superman: Battle of the Super Sons (2022), por exemplo, o Jimmy Olsen, famoso amigo ruivo do Superman, simplesmente aparece negro. O que teria motivado os roteiristas a fazer esta modificação em uma animação?
Eu sei, aqui estou entrando no campo da especulação e apenas tentando enxergar o fenômeno pelos olhos oportunistas de um produtor ou agente de Hollywood. Não descarto a hipótese da coincidência, mas é uma bela de uma coincidência.
Sobre a "questão logística" na escalação de atores, temos aqui no Brasil exemplos curiosos. É evidente que a nossa indústria cinematográfica e televisiva é concentrada na região Sudeste, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro, onde fica a sede da Rede Globo. A maioria dos atores que trabalham para a Globo são pessoas que vivem ali na região Sudeste, alguns vieram de outras partes do país, mas muitos nasceram ali.
Aí temos um filme como O Auto da Compadecida (2000), uma saga folclórica nordestina, de autor nordestino, mas que teve como atores protagonistas o paulista Matheus Nachtergaele e o mineiro Selton Mello, ambos forçando um caricato sotaque nordestino. Nas novelas também é bastante comum haver personagens nordestinos interpretados por atores do Sul-Sudeste que então precisam forçar um sotaque.
É claro que há atores nordestinos, mas a logística da escalação precisa ser prática. Se a novela é feita nos estúdios do Rio de Janeiro, vai procurar atores que no mínimo moram por ali, e ainda tem a coisa do rosto conhecido. Os atores brasileiros mais conhecidos são os rostos que terão preferência na contratação para o papel de protagonista, pois um rosto conhecido atrai mais audiência.
No fim das contas, o fato dos protagonistas do Auto da Compadecida não serem atores nordestinos não incomodou o público e nós, nordestinos (grupo no qual me incluo), curtimos o filme e rimos com as presepadas dos atores sem nos importar com uma representatividade genuína.
Mas voltando ao caso do Tira da Pesada. O filme, que virou uma trilogia, é dos anos 80. Na visão anacrônica dos militantes woke atuais, os anos 80 e 90 eram permeados por racismo e exclusão de minorias no cinema. Olha, racismo e exclusão existiam sim, como ainda hoje existem, mas engana-se quem imagina que não havia representatividade no cinema.
Eddie Murphy foi um sucesso naquelas décadas. Era um dos galãs do cinema de ação. Em todos os seus filmes ele era o protagonista, a estrela, os cinemas lotavam para assistir seus filmes e a TV reprisava seus filmes de novo e de novo, entrando nas casas das famílias de todas as raças e classes sociais.
Eddie Murphy é um exemplo de tantos outros atores negros que tiveram espaço na ficção e que representaram pessoas negras com naturalidade, com sotaque, gírias e piadas que a população negra norte-americana entendia e se identificava. Não soava como representatividade forçada. Eddie Murphy não estava ali porque alguma Senhorita Morello o contratou pra mostrar como ela se importa com os negros. Ele estava ali porque era bom, era divertido, carismático e atraia público, ou seja, dava dinheiro pra indústria.
Naqueles tempos, a luta pelas causas raciais existia, obviamente. Ela existe há décadas, séculos. Só que a indústria cinematográfica não tinha uma cartilha de representatividade muito explícita. A presença de atores de diversas etnias acontecia de uma forma mais espontânea, de modo que acabava naturalmente representando os rostos da população americana. Veja-se a franquia Máquina Mortífera. Aquela delegacia maluca onde trabalhavam Riggs e Murtaugh era frequentada por negros, loiros, latinos, italianos, asiáticos. O cotidiano da vida numa cidade americana era naturalmente ilustrado com atores e figurantes de diversas características.
Hoje em dia os studios gostam de declarar aos quatro ventos o seu interesse na representatividade e é aí que a coisa começa a perder a espontaneidade, pois, a fim de sinalizar virtude, você está dizendo para as pessoas que está montando um elenco de forma a bater certas metas. É um processo quase matemático, robótico. Se bobear já usam até algoritmos pra escalar atores. Isto vai quebrando a mágica do cinema e o resultado final tem um ar de vale da estranheza.
Falando novamente no Japão, a indústria de anime parece uma boa professora sobre como realizar a representatividade de uma maneira espontânea, especialmente em termos de sexualidade. O Japão pode ser considerado um país tradicionalista, com valores conservadores imperando na cultura e costumes nacionais. Uma sexualidade que vá além do clássico casal hétero é incomum nesta cultura, todavia a cultura japonesa também valoriza muito o respeito à privacidade, de modo que ninguém fica se metendo na vida sexual de ninguém.
Na ficção, especialmente nos mangás e animes, existem até categorias específicas para diversos nichos. Ora, se tais categorias existem, significa que, tacitamente, a indústria de entretenimento japonesa admite que existem, no público consumidor, pessoas com diversos interesse sexuais que vão além da chamada heteronormatividade.
Um bom exemplo são os romances yuri e yaoi, que basicamente são histórias em que os protagonistas e mesmo boa parte dos personagens são homossexuais, bissexuais ou andróginos. Aqui no Ocidente, existe uma ênfase muito forte em se fazer uma propaganda e militância das causas sexuais. Artistas, roteiristas e empresas gostam de exibir o quão preocupados são com estas causas, de modo que acaba parecendo mera sinalização de virtude para ganhar biscoitos e se promover. Martin Luther King chamava isso de "tokenismo".
Já a indústria de yaoi e yuri não parece ser assim tão militante. Eles produzem este material simplesmente porque tem pessoas interessadas. Ou seja, o objetivo é agradar o público-alvo pelo conteúdo em si e não pela lição de moral. Nestas histórias, os roteiristas não estão preocupados em panfletar, mas em escrever algo bom de se ler e assistir, criar personagens envolventes, tramas cativantes. O melhor serviço que podem fazer pela comunidade gay é oferecer bom conteúdo e não ficar pagando de Senhorita Morello com um ar de "atenção, pessoas, chegamos aqui para ajudar estes pobres gays que precisam de uma revista pra chamar de sua".
Personagens andróginos, como homens afeminados ou mulheres másculas (femboys e tomboys) existem até nos gêneros mais tradicionais, como o shonen (que é voltado ao público masculino). É o caso, por exemplo, do Orochimaru em Naruto. Aliás, Orochimaru é uma espécie de genderfluid, pois ele ao longo da série vai se mostrando ora masculino ora feminino. E ele não fica pregando sermões sobre quem ele é. Ele simplesmente é.
Talvez o segredo para se fazer uma boa representatividade na ficção seja como a arte de contar uma piada. Você não pode chegar nas pessoas dizendo "atenção, agora vou contar uma piada e vou fazer vocês rirem". A espontaneidade faz parte da arte da piada. Como diz a música: "deixa acontecer naturalmente" ou "narutalmente".