O termo "paparazzo" (plural "paparazzi") se tornou mundialmente conhecido após um evento sinistro. A princesa Lady Diana foi uma das pessoas mais conhecidas e admiradas do século XX. Além de bela, envolveu-se em muitas causas humanitárias, se tornando uma inspiração para muita gente. Casada com o príncipe Charles e depois divorciada, obviamente era alvo constante da perseguição dos fotógrafos de fofocas e celebridades, os paparazzi.
Eis que Diana, já divorciada e namorando um milionário egípcio, passeava de carro na França quando foi perseguida por sete paparazzi em motos. O motorista dela tentou fugir em alta velocidade, o que acabou resultando no acidente automobilístico que matou a princesa mais querida do século XX.
Em todo o mundo as notícias falavam da princesa morta por causa dos paparazzi e foi assim que esta palavra se tornou amplamente conhecida e amaldiçoada. Dez anos depois, outra Lady, a Gaga, lançou seu clipe com a música Paparazzi, em 2008, contando uma história de fama, paixão e tragédia.
Nightcrawler (2014) não é exatamente um filme sobre paparazzi, pelo menos não aqueles que vivem a perseguir celebridades. O protagonista Louis Bloom é um malandro que vive de furtos e um dia se depara com uma cena de acidente e fica encantado com o trabalho do repórter criminal, decidindo no mesmo momento que perseguiria esta carreira.
Bloom é pobre e pouco educado. Provavelmente só cursou o ensino fundamental ou médio, mas, como ele mesmo diz, é um "fast learner" e um autodidata, aprendendo na internet o que quer que seja de seu interesse. Rapidamente ele adquire o know-how básico do trabalho de repórter criminal, ouvindo o rádio da polícia e chegando célere nas cenas de crime para filmar e vender a notícia para uma emissora.
Acontece que, assim como os paparazzi de celebridades, os repórteres criminais estão sempre beirando o limite da privacidade e da ética, sempre em busca de uma notícia quente. Bloom, porém, vai muito além do que é normalmente aceito nesta profissão e logo se torna o queridinho da emissora, pois sempre tem imagens chocantes e que trazem muita audiência.
A forma como o Jake Gyllenhaal interpreta este personagem é o grande brilho do filme. No rosto magro, no olhar ameaçador e os risos falsos de psicopata, ele convence demais no papel. Vemos que Bloom é um monstro que não tem a menor empatia e é obcecado pelo sucesso.
E olha que ele não é exatamente um caso à parte nesta indústria, pois vemos que seu trabalho conta com a admiração e incentivo da emissora, especialmente a diretora Nina, com quem tem um relacionamento bizarro, pois é tóxico da parte dele, mas ao mesmo tempo Nina tem uma admiração doentia e é cúmplice de sua psicopatia.
A performance de Gyllenhaal claramente foi uma das inspirações para o Joker do Joaquin Phoenix. Em ambos os casos, temos um tipo peculiar de personagem que é um estereótipo já estabelecido no cinema americano: o cara branco, pobre, de baixa escolaridade e que tem traços ou mesmo uma completa psicopatia.
Hollywood praticamente transforma certos estereótipos da sociedade americana em um tipo de subgênero na ficção. Criminosos latinos, por exemplo, são geralmente representados como membros da máfia de drogas. Negros são membros de gangues. Já os brancos, ou são violentas famílias de rednecks (vide aqueles caras que capturaram o Jesse Pinkman em Breaking Bad) ou estes tipos de lobo solitário com uma vida de subemprego e um histórico de doenças psicológicas.
É este o caso do Joker (2019) do Joaquin Phoenix, do Taxi Driver (1976) do De Niro, do Rei da Comédia, (1982) também com o De Niro, e igualmente do Nightcrawler (2014).
A tradução para o título em português foi bastante acertada: O Abutre. Afinal, é assim que este personagem se parece, com um abutre a rondar os mortos ou até mesmo esperando numa tocaia até que alguém morra para então alimentar-se das carcaças. Ele representa o repórter sensacionalista que não só está sempre em busca da tragédia, como torce pra que ela aconteça e em alguns casos até contribui para que aconteça.
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