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O dia em que fiz as pazes com The Long Dark (ou quase)

The Long Dark

Já tentei dar uma chance a The Long Dark algumas vezes (post aqui). É um belo jogo, imersivo, com um cenário bem construído e jogabilidade realista. A maneira como o personagem maneja um rifle é bem verossímil. Você cansa o braço, se mirar o rifle por muito tempo, a animação de recarga das balas é bem legal e o disparo é realista, sem cursor apontando o alvo. Mesmo a curta distância é difícil acertar.

O realismo está em diversos detalhes deste tipo. Sua velocidade varia de acordo com o tipo de superfície, a temperatura ambiente afeta seriamente a saúde do personagem, suas roupas podem ficar molhadas e, claro, você tem que constantemente cuidar da fome, sede, sono e outros aspectos da saúde. 

É um jogo de sobrevivência completo, incluindo entrar nas casas para coletar coisas, até quebrar móveis para obter lenha. Você pode caçar animais e, em vez de dropar algum loot absurdo, você deve despedaçar o animal com uma faca pra retirar carne, couro e até tripas que podem ser colocadas pra secar e servir de matéria-prima para o crafting. Você pode remendar suas roupas com tecido ou rasgá-las para aproveitar o tecido.

Quanto aos detalhes da saúde, acho que só faltou mesmo aprofundar mais na saúde mental. O personagem fica cansado e com sono e pode desmaiar, mas os danos psicológicos param por aí. Compare-se, por exemplo, com Don't Starve, onde os personagens podem enlouquecer e ter alucinações, e This War of Mine, onde ficam deprimidos, catatônicos e podem até cometer suicídio se sofrem um trauma muito forte.

É até bom que não incluíram coisas desse tipo porque aí já seriam detalhes demais pra gente se preocupar. Do jeito que está, The Long Dark, mesmo no modo mais fácil, é um jogo desafiador. É muito fácil você se dar mal. 

Uma das coisas que mais odeio é ser pego por uma nevasca, quando é impossível acender uma fogueira e a visibilidade é baixa, de modo que fica difícil encontrar algum abrigo. Quando isto acontece, é praticamente uma sentença de morte por hipotermia. 

Mas ok, se você planejar direitinho suas excursões e evitar ficar muito longe de alguma casa, dá pra ir sobrevivendo. É um jogo para ir levando com paciência. Também é possível rushar, se você já está familiarizado com o mapa, mas aí perde a graça de experimentar a lenta e demorada saga de sobrevivência.

Para mim, o que mais estragou essa experiência foi a pequena capacidade do personagem carregar itens. Acho que esse é o elemento mais irritante do jogo. À medida que explora o mapa, você é recompensado encontrando itens bastante úteis, como machado para quebrar móveis, pé de cabra para arrombar armários, serra para quebrar objetos de metal, candeeiro e galões de gasolina para abastecê-lo, facas, abridor de latas, kits de costura, corda, material de pesca, etc, etc. Tem até amolador de faca. Acontece que você não tem capacidade de ficar levando tudo isso.

Seria recompensador se, com o tempo, seu personagem se tornasse mais e mais equipado, apto a realizar várias tarefas com suas ferramentas, mas você tem que constantemente se livrar de itens para aliviar o peso. O peso rapidamente afeta sua velocidade e seu cansaço. Simplesmente não dá pra ser um "zé lootinho", e essa limitação é frustrante para amantes do gênero de sobrevivência, pois lootear e se tornar mais preparado, enchendo a bolsa de itens, é um dos maiores prazeres de quem joga.

Óbvio que esta limitação de peso faz parte do realismo do jogo, mas aí é quando o excesso de realismo acaba estragando o prazer lúdico. A maneira de você manter seus itens é guardando nas casas, mas não é nada prático você ter que retornar a uma casa que deixou lá no começo do mapa só pra pegar algo que precisa no final. Locomoção nesse jogo é algo bem lento, não há veículos, é tudo a pé. 

Não é um jogo que permite você ficar indo e voltando nos lugares. O negócio é explorar um lugar e partir pra sempre, seguir adiante, mas o apertado inventário atrapalha essa estratégia. O pé de cabra, por exemplo, só é útil em uns poucos armários, mas você vai ter que andar sempre com ele, pois não faz sentido deixar a ferramenta em uma casa pra aliviar o peso e voltar lá só pra pegar ela quando encontrar um armário trancado.

Desta forma, você tem que optar: ou ser um jogador muito econômico e que administra os itens paranoicamente, ou tacar o foda-se e levar tudo na bolsa mesmo, mas ser penalizado com o peso, a redução de velocidade, tornando a jornada bem mais demorada.

Experimentei The Long Dark pela primeira vez no PC, um PC modesto e já obsoleto, e de cara constatei como é mal otimizado, pois a queda de FPS era absurda. Ainda assim insisti e achei que era por isso que não gostei do jogo na primeira impressão, porque rodava muito pesado no meu computador. 

Mesmo assim ao longo dos anos tentei de novo uma vez ou outra dar uma jogadinha no mesmo PC, até desistir de vez. Recentemente vi que estava disponível no Game Pass e resolvi dar uma última chance, agora no Xbox, para ver se teria mais prazer em uma plataforma mais otimizada. 

De fato ele roda melhor no Xbox do que no meu velho PC e não tive problemas com desempenho e velocidade dos frames. Mesmo assim, continuei sentindo que, apesar dos bons aspectos, tinha algo que me desanimava: era esse maldito limite de peso.

Acho que o jogo deva ter sim um limite de peso, mas do jeito que está torna a jogabilidade irritante, como já falei. Você está sempre muito lotado e mal consegue levar as ferramentas básicas. Talvez se não fosse por esse detalhe eu até continuava jogando. 

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