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Matrix e a pixelização do saber

Keanu Reeves as Neo; Matrix (1999)

Um conceito que chamou bastante atenção em Matrix (1999) foi o upload de conhecimento direto no cérebro. Tem aquela cena em que plugam a nuca de Neo em um computador e, após segundos de instalação, ele fala surpreso: "Eu sei kung fu!".

Esta cena foi profética e emblemática, não apenas quanto a um remoto futuro em que vamos literalmente instalar dados no cérebro por meio de algum dispositivo (Neuralink já está aí pavimentando esse caminho), mas também por representar como as novas gerações na era da internet lidariam com o aprendizado.

Estes dias eu estava vendo a animação¹ Pacific Rim: The Black e tem uma garota que entra num jaeger e inicia seu programa de treinamento. Impaciente para chegar logo na parte interessante, ela vai pulando os capítulos da aula virtual, até que chega no fim do tutorial sem ter aprendido nada e, ainda assim, é considerada graduada. Com o tempo, ela acaba aprendendo o que precisa à medida em que a necessidade surge.

Isso ilustra a forma como as gerações pós-internet ou pós-2000 aprendem as coisas. Na era analógica, quando uma pessoa queria aprender algo, ela precisava seguir todas as etapas, o beabá. Se inscrevia em um curso ou lia um livro do início ao fim.

Hoje em dia, quando uma pessoa quer aprender algo, basta buscar no Google ou procurar algum video curto no Youtube. O aprendizado se tornou fragmentado. Você não precisa fazer um curso de eletricista pra aprender a conectar os fios de uma tomada. Você vê um video de 2 minutos mostrando como conectar os fios.

E hoje é assim que se aprendem as coisas, de partícula em partícula, à medida em que surge a necessidade ou interesse. Já vivemos a era da matrix, da instalação de conhecimentos, o que na verdade é algo fascinante. 

Se, por um lado, a civilização tende a nos tornar mais e mais especialistas em certos assuntos, no que diz respeito à vida profissional (se antes havia o médico geral, hoje existe o médico de olhos, o médico de nariz, o médico da pele, etc.), por outro, o conhecimento se tornou mais pulverizado em inúmeras partículas, em pixels, e a internet fez de todos nós generalistas, sabendo um pouquinho de cada coisa. A pixelização do saber.

Notas:

1: Me recuso a chamar de anime, pois, embora tenha traços de anime, não parece ter realmente o estilo ou passar a sensação de ser um anime. Basicamente, a única coisa que tem de animesco são os olhos grandes e os cabelos e formato da cabeça de alguns personagens, mas é uma mistureba, porque outros, especialmente os mais velhos, se parecem com desenhos ocidentais mais recentes, tipo o  Iron Man: Armored Adventures (2008). Creio que a primeira grande experiência de hibridismo de uma animação ocidental com traços de anime foi no clássico Thundercats (1985), o que resultou num desenho bastante agradável de se ver e que até hoje é difícil classificar se é ou não um anime.

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