Elon Musk é um sujeito polêmico. Ele gosta de fazer comentários zoeiros no Twitter, já fumou maconha numa entrevista com o Joe Rogan e recentemente anunciou que o nome de sua próxima filha será X Æ A-Xii.
Enfim, ele é um ser humano como qualquer outro, com opiniões políticas e esquisitices que algumas pessoas podem se identificar e outras podem discordar. O que ninguém pode questionar é o fato dele, como empreendedor, pensar grande. Os projetos em que está envolvido prometem nada menos do que moldar toda a vida humana e mesmo extraterrestre no decorrer deste século e até dos vindouros.
Ele fez sua primeira fortuna participando do Paypal no início dos anos 2000, uma empresa que revolucionou os pagamentos digitais. Ao sair do Paypal, ele investiu boa parte de sua fortuna na criação da SpaceX, uma empresa voltada à produção de foguetes.
Pois é, ele aí já estava pensando alto. A navegação espacial surgiu no século XX como um empreendimento governamental e particularmente militar e desde então esse ramo tem sido dominado por instituições públicas como a NASA e a ESA.
Foram vários anos de testes e muito dinheiro torrado até que a SpaceX conseguisse ganhar alguma relevância, quando então fez parcerias com a NASA e em 2012 pela primeira vez enviou um foguete até a estação espacial (ISS), criando um novo paradigma, pois foi a primeira empresa privada a realizar tal proeza.
Nestes 20 anos de existência da SpaceX, Msuk não teve receios de declarar seus grandes planos para o futuro da empresa e seus maiores objetivos consistem em nada menos do que enviar foguetes até a Lua e também Marte. Mais ainda, ele pretende colonizar Marte, ou seja, construir casinhas, habitats e mandar pessoas para viver lá.
Seu projeto mais "pé no chão" é a empresa de carros elétricos Tesla. Adiantando-se ao que inevitavelmente será o padrão das próximas décadas, ele entrou nesse negócio de veículos movidos a eletricidade e tem tido grande sucesso.
Também relacionado ao ramo dos transportes ele tem os projetos Hiperloop, para transporte de alta velocidade, e Boring, para a criação de uma nova via de tráfego urbano por meio de túneis subterrâneos.
Musk atira pra todos os lados. Tem ainda projetos de energia solar, inteligência artificial, internet por meio de uma constelação de milhares de satélites (que já está em processo de implantação) e até vende lança-chamas. Mas existe algo que é bem mais ambicioso que qualquer outra coisa, até mesmo o plano de colonização marciana: a Neuralink.
Neste 28 de Agosto, foi realizado um evento para informar as novidades dessa empresa fundada em 2016. A Neuralink está desenvolvendo um chip implantável no cérebro e que se propõe funcionar como uma interface entre a mente humana e os computadores. Ou seja, por meio desse aparelhinho você vai poder controlar sua TV, seu smartphone, seu video game apenas com os pensamentos.
Parece coisa de filme de ficção científica, mas na verdade é uma tecnologia que vem sendo desenvolvida desde a década de 70 e tem, entre seus expoentes, o brasileiro Miguel Nicolelis, que pesquisa nesta área desde os anos 90.
É a chamada BCI (Brain–computer interface), um dispositivo que de alguma forma tenha contato com o cérebro, transmitindo e recebendo dados. Tal tecnologia já chegou a um ponto em que cobaias humanas com problemas motores, até tetraplegia, conseguem mover um braço robótico enviando comandos diretamente do cérebro para o BCI.
Não é algo que a Neuralink inventou do zero, obviamente, mas a intenção da empresa é levar esse projeto a outro nível, reduzindo o tamanho do BCI, tornando-o praticamente imperceptível, já que tem o tamanho de uma moedinha e será instalado logo abaixo do crânio. Também o objetivo do projeto é baratear e popularizar essa tecnologia, de modo que nas próximas décadas ou anos se torne tão comum quanto um smartphone.
A apresentação do Neuralink no Youtube foi modesta e não teve muita repercussão na grande mídia. Todavia, este evento já pode ser considerado histórico e mais um passo para uma revolução que está por vir.
Foi mostrado o dispositivo, que é bem pequeno, com fios de 4 milímetros que servirão como o canal de informação elétrica entre o chip e o cérebro. Mas calma que ele não dá choques no cérebro. A eletricidade é do mesmo nível daquela que corre entre os neurônios.
A comunicação entre os neurônios funciona assim, por meio de estímulos químicos e elétricos em nível molecular, e é assim que a informação viaja tão rápido pelos seus nervos e você sente uma batida no dedinho do pé em uma fração de segundo.
Ao longo das décadas, as pesquisas têm mapeado as áreas do cérebro e de maneira geral já se sabe bem o que cada parte do seu cérebro pode fazer. Nas camadas mais básicas, por exemplo, temos o chamado "cérebro reptiliano", que, tanto em humanos quanto em sapos ou lagartos exerce as mesmas tarefas básicas de sobrevivência, como gerenciamento de fome, sede, sono, etc.
Logo acima temos o sistema límbico, que é como uma versão evoluída do cérebro reptiliano, pois ele gerencia emoções e até comportamentos sociais, sexuais, etc. Até aí, temos as partes irracionais do cérebro e que servem para manter nosso corpo vivo. Aí os mamíferos desenvolveram uma terceira camada: o córtex. É aí que acontece a verdadeira maravilha.
O córtex (palavra em latim que significa casca) é essa camada mais externa do cérebro e que todos conhecemos pela sua aparência peculiar cheia de sulcos, como uma enorme uva passa ou ameixa. O córtex gerencia a informação recebida pelos nossos cinco sentidos, mas também o raciocínio, a imaginação, os sonhos, a memória e até o sistema motor, os movimentos do nosso corpo.
Os maiores progressos nas pesquisas de BCI têm se voltado ao sistema motor. Basicamente, com um chip em contato com o cérebro por meio de minúsculos fios, é possível enviar sinais elétricos para áreas específicas, bem como receber sinais e interpretar como ordens do cérebro e é assim que um usuário consegue mover um braço robótico com o pensamento.
Desta maneira, o aparelho promete ajudar pessoas que sofreram danos na coluna, por exemplo, e já não conseguem enviar ordens de movimento do cérebro para as pernas ou braços. O chip age como um intermediário.
O objetivo do Neuralink, porém, é ir além disso e servir como uma interface mais ampla para as funções do córtex e o que será possível fazer daqui a alguns anos ou décadas vai parecer coisa de magia ou telepatia.
Com este dispositivo, você poderá navegar na internet, escrever sem precisar de um teclado, e mais adiante podemos estimar que seremos capazes até de receber grandes volumes de dados digitais diretamente na mente, como ouvir música ou até assistir um filme de olhos fechados, como em um sonho.
Parece uma maravilha até aí, mas Musk deixa claro que o propósito é ainda mais ambicioso. Ele fala que um dos grandes problemas deste século será a evolução da Inteligência Artificial. Ela poderá chegar a um ponto tão avançado que irá suplantar a inteligência humana e aí sabe-se lá do que os robôs serão capazes ou como vão lidar conosco quando não formos mais capazes de controlá-los.
Para sobreviver a esse apocalipse das máquinas, Musk considera que a nossa saída é a simbiose, ou seja, desenvolver uma forma de interação direta entre nosso cérebro e os computadores, de modo que possamos nos comunicar "de igual pra igual". Desta forma, a humanidade e a IA passarão a evoluir juntas, em parceria.
O implante do chip deve ser totalmente automatizado, feito por um robô com precisão milimétrica. |
O chip Neuralink então funcionará como uma nova camada acima do córtex, uma camada que não apenas nos permitirá trocar dados com os computadores (e com as outras pessoas numa espécie de internet mental), mas também nos dará novas habilidades, ampliando nossa inteligência de maneiras que só a imaginação pode prever. Será um novo córtex turbinado, um cybercortex.
Isto lembra o clássico cyberpunk Neuromancer, que já em 1984 previu uma espécie de internet psíquica em que as pessoas poderiam viajar diretamente com a mente. Acontece que mesmo com todos os anos de pesquisa, ainda se sabe pouco sobre a linguagem do cérebro.
Ok, são comandos elétricos, mas de que maneira o cérebro gera informação com isto? Como é que um monte de neurônios enviando pulsos elétricos uns para os outros geram imagens e sons na sua cabeça? Como são feitos os pensamentos e sonhos e as palavras? Ainda é tudo um mistério, mas que aos poucos vai sendo desvendado.
Eis o motivo por que o Neuralink é o mais ambicioso dos projetos do Elon Musk, mais ainda do que a ida a Marte. Ele pretende ir onde ninguém jamais esteve: dentro da mente humana.
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