Comecei a escrever poemas rotineiramente na adolescência. Não, não eram versinhos de amor porque me apaixonei por alguém (ok, alguns eram), mas sim palavras sobre a vida, meus pensamentos, ou simplesmente experimentos verbais, brincadeiras com rimas e ideias.
Foi ali que percebi uma das qualidades da poesia: ela existe como óculos por meio dos quais enxergamos a vida de uma forma peculiar. Fazer poesia é repensar o mundo mais com a imaginação do que com a razão, mais com o sentimento do que com o senso comum. Você recria o mundo ao fazer poesia.
Curiosamente, a palavra grega "poiema" significa justamente "criação". É usada até na Bíblia para afirmar que fomos criados por Deus (αὐτοῦ γάρ ἐσμεν ποίημα - Efésios 2:10).
Naquela época, quando eu estava no ensino médio, acumulei algumas dezenas de páginas com versos, mas eis que um dia fui acometido de um sentimento de efemeridade. Sentei na calçada da escola e comecei a jogar as folhas ao vento. Lembro que um homem que estava passando até colheu uma no chão e seguiu lendo.
Se me arrependo daquele momento de loucura? Um pouco. Não que os poemas que fiz na minha imaturidade fossem lá grande coisa. Guardei alguns na memória e depois reescrevi, mas a maioria simplesmente se foi para sempre.
Aquele gesto de lançar fora meus papéis não foi algo pensado, mas impulsivo. Eu sentia que era o que devia fazer. Talvez fosse uma forma de sacrifício às Musas da inspiração ou a poesia estava querendo me ensinar algo: a efemeridade, a "passageiricidade". Literalmente minhas palavras voaram ao vento.
Toda poesia é efêmera, é fruto de um sentimento momentâneo que vem e passa. Ao escrever e publicar em papel ou na internet, os versos saem de nós e se tornam perpétuos viajantes. E então percebi a qualidade última da poesia: apesar de volátil, ela é eterna. O momento que ela grava fica eternizado.
Assim, a poesia pode ser, entre tantas coisas, uma forma de fotografar para sempre o sentimento de um instante. Sentimentos que escapam de nós, mas permanecem aprisionados em uma eterna efemeridade.
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