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Ensaio sobre o racismo

Racismo

Há várias camadas de racismo. A mais simples é feita de preconceitos e estereótipos culturalmente elaborados que todos nós inconscientemente adotamos. É daí que surgem as piadas de português, de japonês, etc. Todas culturas têm isso, é da natureza humana (e provavelmente não só humana) estereotipar o diferente.

Quando um dia tivermos contato com aliens, vamos elaborar estereótipos sobre eles e na certa eles sobre nós. Este tipo de julgamento que as pessoas fazem da raça, espécie, povo e cultura diferentes é natural. Não significa que não deva ser questionado ou superado pela educação. 

Também este tipo de preconceito pode ter vários graus de periculosidade. Há quem considere uma piada de português ou de loira algo inofensivo e é o contexto que vai determinar. A própria loira pode fazer uma piada de si mesma do tipo: "Ah, esqueci a chave. Coisa de loira...". 

Por outro lado, uma cultura ou povo pode nutrir um racismo em nível nacional que escale para estágios absurdos de agressividade, como foi o famigerado caso do nazismo. O nazismo, porém, é um exemplo anômalo nos tempos modernos, pois tratou-se de uma cultura nacional artificialmente construída por meio da educação, de livros, discursos, propaganda. 

Isso é diferente da cultura espontânea que todos os povos produzem e que, na era da civilização, não costuma gerar um racismo nacional tão danoso. A rivalidade entre Brasil e Argentina, por exemplo, é uma construção cultural que foi em grande parte baseada na competição esportiva do futebol e que gera muitas piadas mútuas entre os dois povos, porém não produz guerra nem perseguição ou morte. No fundo ambos sabem que estão apenas provocando uns aos outros com uma brincadeira ácida.

(Obviamente, pode haver casos de agressões trocadas entre brasileiros e argentinos usando esse preconceito como pretexto, mas tais casos isolados se devem principalmente à personalidade dos indivíduos específicos envolvidos em tais agressões, ou seja, pessoas destemperadas, problemáticas e com tendências à psicopatia podem se envolver em discussões deste tipo).

Em eras mais antigas, os povos bárbaros de fato cultivavam valores culturais racistas e xenófobos que chegavam a níveis graves de violência e algumas das guerras da antiguidade se deram simplesmente por este motivo, mas enfim a chamada era da civilização (iniciada com a filosofia grega, expandindo-se com a política romana com o boost da moral judaico-cristã e modernamente reformulada pelo iluminismo) refreou tais barbaridades, embora, ainda hoje, elas existam e resistam em determinados povos.

Então falemos de uma segunda camada de racismo, esta sim mais racional: o racismo ideológico. Diferente do racismo cultural, que é irracional, inconsciente, não intencional, acidental, o ideológico é planejado, pensado, intencional. 

Pessoas se debruçaram sobre o tema e desenvolveram uma visão de mundo, construindo preconceitos com algum propósito, seja depreciar um povo e enaltecer outro, justificar inimizades, castas e status ou mesmo promover o caos social intencionalmente plantando sentimentos racistas nas diversas camadas da sociedade a fim de gerar animosidades e rachar a delicada estrutura da convivência social.

Nesta camada entra o exemplo já citado do nazismo, cujo racismo foi racionalmente construído a fim de favorecer uma agenda política. Outras ideologias e religiões, antigas e modernas, têm seus casos de pensadores, teólogos e políticos que promoveram dolosamente e deliberadamente ideias racistas.

Por fim, existe uma terceira camada, novamente irracional e inconsciente: a da psicopatia pura e simples. Certos indivíduos apresentam comportamentos racistas brutais e injustificáveis. Agridem o alvo de seu ódio racial por mero impulso e sentimentos sombrios sem uma explicação clara. 

Tais pessoas podem ter desenvolvido estes sentimentos como fruto de traumas, educação disfuncional ou problemas neurológicos, cognitivos, afetivos, desenvolvimento sórdido do caráter, etc. É o racismo enquanto loucura.

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