Começando pela Branca de Neve em 1937, a Disney estabeleceu uma tradição de produzir filmes de princesas ou protagonistas femininas de contos de fadas. São as famosas "princesas da Disney". Elas existem como arquétipos para a posição da mulher na sociedade ou, em alguns casos, a relação das filhas com seus pais. Este é o caso de Tangled (2010).
Trata-se de uma bem humorada recriação da história da Rapunzel, a garota de longos cabelos que vivia no alto de uma torre. Uma bruxa chamada Gothel descobrira uma flor mágica que a mantinha perpetuamente jovem, até que a flor foi descoberta pelos habitantes de um reino e usada para fazer uma poção a fim de salvar a vida de uma rainha que está grávida.
O resultado é que a criança nasce imbuída das propriedades mágicas da flor e Gothel a sequestra, criando-a como sua filha em estado de constante cárcere privado. Eis aí o arquétipo dessa história. Gothel é uma mãe super controladora, sempre mantendo Rapunzel presa em casa com o argumento de que "o mundo lá fora é perigoso", "eu sou sua mãe e sei o que é melhor pra você". E na verdade Gothel fez isso apenas para usufruir da juventude que a presença de Rapunzel lhe proporcionava.
É uma relação abusiva e vampiresca. Gothel vive a sugar a liberdade e a juventude da Rapunzel, usando o pretexto do amor materno, mantendo a afilhada sob as rédeas de sua personalidade dominadora, criando uma narrativa e uma visão de mundo que ela implanta na mente da inocente jovem.
A saga heroica de Rapunzel, então, consistirá em sair desse estado de vampirismo existencial, quando ela finalmente escapa da torre com ajuda do aventureiro Flynn, podendo conhecer a liberdade e o mundo real.
Vendo desta forma, parece até uma história sombria, mas na verdade o filme tem um ar bem divertido e a Rapunzel é bastante carismática e cheia de vida. Ela é uma personagem solar, que tragicamente tem sua luz sugada pela obscura Gothel, mas nem isso conseguiu apagar a luz da sua personalidade vibrante.
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A simbologia solar da personagem. |
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