Qaligrafia
Séries, livros, games, filmes e eteceteras 🧙‍♂️

A Netflixzação dos games é o futuro

Xbox Game Pass

A Netflix não inventou o streaming de vídeos, mas o estabeleceu no mercado e simplesmente revolucionou o modelo de distribuição de filmes e séries. Este paradigma agora está sendo experimentado no mercado de games e se mostra indubitavelmente promissor. A Netflixzação dos games é o futuro.

Tradicionalmente estamos habituados a comprar os games. É assim desde o tempo do cartucho, passando pelo CD e DVD e agora no formato digital. A indústria de jogos já é mais lucrativa que o cinema e, dada a lei da demanda, pode se dar ao luxo de cobrar caríssimo pelos jogos de maior qualidade, os chamados triple A.

Ora, existem jogos hoje que custam até 500 Reais (claro que em dólar custam bem menos, já que não possuem a pesadíssima carga tributária brasileira) e a média de preço dos triple A está entre 100 e 200 Reais.

Eis que surge então o serviço de assinatura. Tomemos como exemplo o Game Pass do Xbox. Trata-se de uma assinatura mensal de 29 Reais (ou 39 na versão Ultimate que dá direito a multiplayer) que dá acesso livre a um catálogo de 100 jogos, muitos deles triple A

Ou seja, pagando 29 Reais você pode baixar no seu console diversos jogos que, isoladamente, custariam 100, 200 Reais, podendo jogá-los por um mês inteiro e mesmo que resolva jogar por vários meses, ainda compensa continuar pagando as mensalidades. Ao final de um ano de assinatura, você terá gasto cerca de 350 Reais e com certeza desfrutou de dezenas ou até centenas de jogos ao longo desse ano, os quais, se fossem comprados individualmente, somariam uma fortuna de alguns milhares.

Para quem é um gamer rotineiro, jogando todos os dias, com certeza vale a pena assinar o serviço, assim como vale a pena assinar uma Netflix ou Amazon caso você assista séries e filmes com frequência. Aliás, digamos que você queira jogar apenas um Halo 5. O DVD na loja está custando em torno de 50 Reais. Pagando 29 de Game Pass, você tem acesso ao mesmo jogo por um mês, tempo suficiente pra se esbaldar com o jogo. Aí já compensou mais fazer a assinatura do que comprar a mídia. A Master Chief Collection, que contém as edições 1 a 4, custa em torno de 200 Reais e está toda disponível no Game Pass.

Enfim, não há dúvidas de que o custo-benefício do Game Pass é formidável, assim como é o streaming da Netflix ou Amazon Prime. A não ser, é claro, que o catálogo disponível não seja do seu interesse, afinal são apenas 100 jogos (que vão sendo substituídos com o tempo, renovando o catálogo) e pode ser que nenhum deles te agrade. Aí só resta ir atrás dos jogos do seu gosto nas lojas, numa Steam ou Epic e comprar os títulos.

Outro caso é o do valor que você dá a um jogo. Joguinhos indie são uma boa experimentar numa assinatura. Aliás, outra vantagem da assinatura é que você pode sair experimentando os jogos do catálogo sem compromisso. Estão ali disponíveis, por que não dar uma olhada? Mas ocasionalmente surge aquele jogão que você sabe que vai desfrutar por meses, talvez anos, e você quer tê-lo sempre à disposição. Aí é um caso de comprar o título. Todavia, são casos raros.

O fato é que a maioria dos jogos nós jogamos uma vez até zerar (ou até perdemos interesse antes disso) e nunca mais voltamos. A fila anda e o que já foi jogado vira um arquivo morto nas nossas bibliotecas da Steam, da Epic, etc. 

No Game Pass, essa tendência já é natural. Você aproveita o catálogo do mês e mês que vem aparecem coisas novas e assim por diante e não tem problema o jogo não ser "seu". Ele foi alugado. Ou melhor, nem alugado foi, já que você não paga pelo aluguel individual dos títulos. Ele foi disponibilizado em um pacotão de jogos. É como um selfie service que não cobra pelo peso: "pague um preço fixo e coma o quanto quiser".

Apenas as pessoas que têm um grande prazer em colecionar os títulos, como um hobby nerd de montar uma biblioteca, mesmo que digital, vão realmente fazer questão de continuar comprando jogos. A maioria vai se dar por satisfeita em assinar e usufruir o que estiver disponível no catálogo. No fim das contas sai mais barato.

Naturalmente, assim como no streaming de filmes, a tendência é que os serviços de jogos ampliem suas bibliotecas para garantir a fidelização dos assinantes. Fidelização é a palavra-chave aqui.

Já vimos que vale a pena para o jogador assinar. O custo-benefício compensa. Mas e para os desenvolvedores? Por que uma empresa que está vendendo seu jogo a 200 Reais ia querer disponibilizá-lo num serviço de streaming, claramente ganhando uma parcela minúscula de royalties?

A resposta está no fator fidelização e na ampliação da chamada player base, o número de pessoas que vão ter acesso ao produto. Ok, você pode vender seu produto por 200 Reais para 1 milhão de pessoas. Mas que tal disponibilizá-lo no streaming para 100 milhões de pessoas mensalmente? A longo prazo, a empresa sai ganhando porque seu jogo estará com uma clientela fidelizada e em constante expansão.

Na comunidade gamer, poucos são aqueles que têm dinheiro pra gastar em títulos caros. A maioria simplesmente nunca vai comprar um título de 200 Reais. Se, porém, for disponibilizado via assinatura, aquele player que nunca na vida ia comprar o título, agora vai "alugá-lo".

O jogo ganhou mais clientes, expandiu sua player base (sem contar que, no caso de jogos com microtransações, quanto maior a player base, maior a chance de ter gente consumindo as vendas que ocorrem ingame como skins, etc). É disso que se trata o serviço de assinatura. E por isso é o modelo de negócio que vai se tornar o mainstream no futuro próximo.

Em breve Steam, Epic e outras lojas devem lançar serviços de assinatura, o Stadia deu um passo adiante e ofereceu a possibilidade até de rodar o jogo remotamente (mas se adiantaram um pouco no tempo e este tipo de serviço deve demorar mais para se tornar comum e viável). Streaming de games veio para ficar.

Obviamente títulos vão continuar a ser vendidos, assim como hoje ainda se vendem DVDs de filmes, mas será algo mais nichado, voltado para colecionadores, aficionados, nostálgicos ou tiozões que não se modernizam e continuam com velhos hábitos de consumo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário