Qaligrafia
Séries, livros, games, filmes e eteceteras 🧙‍♂️

Jupiter Ascending, o grande fiasco das Wachowski

Jupiter Ascending (2015)

Jupiter Ascending (2015)

Os irmãos Wachowski (que depois se tornaram "irmãs") me conquistaram na trilogia Matrix. Até hoje acho que foi a melhor trilogia do século 20, a melhor ficção científica e distopia até então. Os Wachowski se tornaram meus ídolos.

Então veio Cloud Atlas (2012), que não teve o mesmo sucesso nem o mesmo impacto visual, mas também achei uma grande história. Grande demais até. Achei fantástica a ideia de várias histórias paralelas, separadas por séculos e bem interligadas. Foi um roteiro brilhante, embora o resultado na tela seja um pouquinho cansativo. 

Mas tudo bem, é importante ter em mente que Cloud Atlas deve ser visto como um drama, diferente de Matrix que tinha muita ação e kung fu e carros explodindo e ainda assim também usou um roteiro complexo. Matrix foi pop-cult. Cloud Atlas foi apenas cult.

Jupiter Ascending (2015)

Jupiter Ascending (2015)

Quando vi o trailer de Jupiter Ascending em 2014, fiquei bastante empolgado. Imaginei que seria como Matrix, uma distopia retratando um império tecnológico, só que agora muito maior, cósmico. Prometia ser uma space opera épica, um Star Wars com o tom freak das Wachowski... Mas quando assisti bocejei algumas vezes.

O roteiro na verdade mantém a qualidade da dupla, uma história cheia de imaginação e criando uma mitologia própria. Neste caso, a mitologia de que o universo é dominado por uma poderosa dinastia, como uma mega empresa, que semeia humanos nos planetas como se criasse gado para o abate. 

A ideia é mesmo interessante. E ainda aproveitaram para fazer referência a vários mitos nossos, como os vampiros, os reptilianos, os aliens grey, os crop circles... O problema foi a dinâmica do filme. A premissa é boa, mas não a execução. 

Jupiter Ascending (2015)

Tá certo que tinha todo o pacote básico de um filme atraente. Muitas cenas de perseguição e luta, muitas explosões, muitos efeitos especiais mostrando naves gigantescas e planetas. Talvez por isso tenha ficado clichê demais e não surpreendeu.

Tenho impressão que tanto Cloud Atlas quanto Jupiter Ascending ficariam ótimos no formato de série, pois são histórias com muito conteúdo em potencial, que podem ser alongadas e contadas confortavelmente em vários episódios, mas no filme são comprimidas em cerca de duas horas, o que é um dos motivos para a trama ter sido mal desenvolvida.

E alguns detalhes "técnicos" me incomodaram. Se aquela civilização alienígena era tão avançada, por que precisavam extrair material genético dos humanos para criar uma espécie de fonte da juventude? Ok, foi uma forma criativa de remontar ao mito da fonte da juventude, mas eu não conseguia parar de pensar que seria muito mais fácil desenvolver uma engenharia genética que tornasse os corpos deles capazes de se regenerar e viver por milênios sem essa necessidade de tomar um banho de DNA humano. Imagina a logística necessária pra fazer a tal colheita. Tudo isso para encher uns potinhos com suco de gente a fim de manter os aliens da elite saudáveis.

Jupiter Ascending (2015)

Jupiter Ascending (2015)

Aliás, esse tema da colheita humana parece ser uma marca das Wachowski: em Matrix os humanos são cultivados para gerar energia, em Cloud Atlas existem clones que se alimentam de outros clones "reciclados" e agora temos esta colheita cósmica.

Tá eu sei que estes detalhes estão cheios de analogia, inclusive num diálogo o magnata alien Balem fala sobre a pirâmide do poder. Desde Matrix que o assunto da opressão é abordado. Opressão de um governo ditador (Cloud Atlas), de um sistema de controle das mentes (Matrix), de uma corporação capitalista (Jupiter Ascending). Esse lado alegórico dos filmes das Wachowski é muito valioso e é um dos grandes méritos delas. Isso eu não vou negar.

Mila Kunis in Jupiter Ascending (2015)

Outro mérito de Jupiter Ascending é que finalmente temos uma protagonista feminina, maaas... ela não é ainda devidamente independente. Raros são os casos de mulheres à frente de uma história heroica. E neste caso, Jupiter tem um papel bastante passivo. Ela é herdeira do império, mas não é guerreira. Seu papel resume-se a ser perseguida e quem luta por ela são os dois machões, Wise e Stinger (spoiler: o Sean Bean não morre nesse filme). 

De certa forma, Jupiter Ascending parece até uma daquelas novelas eróticas genéricas que sempre têm um machão sem camisa na capa do livro, abraçado com a garota sonhadora com a qual o público leitor deve se identificar. Sabe a Bella, de Crepúsculo, com o lobisomem Jacob? É bem isso a relação de Jupiter e o seu guarda costas que também é uma espécie de homem-lobo alienígena.

Até a trama pode ser resumida como um conto erótico clichê: a garota pobre é visitada por um machão vindo do espaço que revela que ela é a rainha do universo e a protege de uns caras maus. Depois ela vai se casar com o príncipe do universo, mas o machão interrompe a cerimônia, ela monta nas costas dele e vão embora.

Mila Kunis in Jupiter Ascending (2015)
Mila Kunis como sempre linda.

Curiosidades
:

Natalie Portman foi chamada para o papel da protagonista, mas recusou. É o segundo filme das Wachowski que ela recusa, o primeiro foi Cloud Atlas. Em seu lugar entrou Mila Kunis, que se destacara contracenando com Natalie Portman em Cisne Negro (2010).

O complexo roteiro do filme contém mais de 600 páginas.

Jupiter Ascending (2015)

Nenhum comentário:

Postar um comentário