No geral, os filmes do John Wick não são muito diferentes de qualquer outro do gênero de máfia e ação, mas essa franquia tem alguns ingredientes especiais que tornam a fórmula mais peculiar e interessante.
Pra começar, temos, é claro, a presença do Keanu Reeves, com seu charme mágico e sua verdadeira habilidade em atuar como um ator-dublê, participando intensamente de muitas das cenas de luta, tiro e ação, até mesmo dispensando a ajuda de dublês. Seu desempenho é verdadeiro e natural, de modo que não precisa de muitos malabarismos na direção e truques de corte ou CGI.
Outro elemento de grande importância é o diretor Chad Stahelski que possui uma vastíssima carreira na área de stunt, o trabalho dos dublês, inclusive ele próprio foi dublê do Neo em Matrix lá em 1999 e ao longo dos anos se aprimorou bastante nessa área.
Temos o roteiro que conseguiu criar um personagem mítico e um mundo de fantasia em que a máfia é uma verdadeira sociedade paralela em Nova York e mesmo no mundo. Bom, não que na vida real não seja mais ou menos assim, só que em John Wick existe toda uma cultura da máfia, códigos, até moeda própria, hotéis próprios (os continentals), uma organização que coordena os mendigos de rua e outros párias da sociedade, que funcionam como espiões e se comunicam usando pombos (digamos, uma internet ornitológica).
Por fim, temos a estética. Hoje em dia se tornou uma moda os filmes de ação usarem filtros sombrios e cores nubladas, acinzentadas ou azuladas, criando um mundo monocromático e frio. O primeiro John Wick (2014) até começou assim, mas teve alguns momentos mais coloridos, principalmente nos bares noturnos som seus neons verdes e vermelhos.
O segundo filme (2017) flerta ocasionalmente com tons lilases, desenvolvendo esse ar que se pode chamar de neon noir, mas é no terceiro filme (2019) que as cores se soltam. Não só as cores, mas também os cenários.
As primeiras duas sequências se passam em ambientes convencionais para filmes de máfia: ora nas ruas, ora em hotéis e bares ou até túneis secretos nestes locais. Já o terceiro longa é bem diversificado. Wick num momento está em Nova York, noutro está em Marrocos, ora nas iluminadas ruas noturnas da cidade, correndo sob a chuva, ora vagando no deserto. Tons de azul, verde, vermelho, lilás e amarelo se alternam nestes cenários.
Luta em uma biblioteca contra um nerd com gigantismo. |
Também o combate no terceiro filme se torna muito mais versátil. Vemos John Wick dispondo de uma variedade imensa de armas de fogo, além de facas (tem uma cena em uma loja de armas brancas em que ele arremessa algumas dezenas de facas e até um machado), espadas, e rola até mesmo uma luta em uma biblioteca e claro que ele espanca e mata um cara com um livro. Nada mais digno de quem já matou gente com um lápis.
Esse é o segredo do John Wick, ele é o MacGyver do combate, se virando com o que estiver à disposição. Na distribuição de suas skills, é praticamente bom em tudo: tem uma excelente mira de curta e longa distância, com alta taxa de headshots, sabe lutar com socos e chutes, bem como usar wrestling para derrubar ou imobilizar, domina armas brancas e ainda é bom piloto de carros, motos e sabe cavalgar como um profissional do hipismo.
A cena em que ele entra em uma loja de armas antigas e começa a montar o seu revólver customizado, misturando peças de uma e outra arma, é uma interessante homenagem ao clássico The Good, the Bad and the Ugly (1966), quando Tuco entra em uma loja e faz exatamente o mesmo, montando sua própria arma. Um exemplo do espírito MacGyveriano do personagem.
John Wické um caleidoscópio de habilidades e é justo que seu mundo seja retratado com uma rica paleta de cores.
Note a variedade de cores (até na fumaça) dessa cena. |
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