Em toda a história milenar da igreja católica, salvo raras exceções, o papado tem sido um cargo vitalício que só termina com a morte. É um caminho sem volta que faz parte de toda a simbologia da igreja na busca pelo imutável e perpétuo. No nosso século, porém, um papa decidiu renunciar. Assim nos deparamos com a situação em que a igreja passa a ter dois papas vivos.
Dois Papas (2019), dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, dramatiza essa transição. O roteirista, Anthony McCarten, acumula mais uma obra em seu currículo de filmes biográficos, incluindo as biografias de Freddie Mercury (Bohemian Rhapsody, 2018), Churchill (The Darkest Hour, 2017) e Stephen Hawking (The Theory of Everything, 2014).
Abordando a relação entre Ratzinger (Papa Bento) e Bergoglio (Papa Francisco), o filme retira deles a aura de santidade e realeza que envolve os papas. Os papas são chamados de "vigários de Deus", representantes diretos do Deus católico, praticamente avatares de Cristo. Em vez disso, vemo-los como humanos, como dois idosos que desenvolvem uma amizade a despeito de suas discordâncias.
Quanto às discordâncias, fica evidente a "polarização" que cada sacerdote representa. Bento XVI era conhecido por ser mais conservador e dogmático, enquanto Francisco é flexível modernoso. Também as personalidades contrastam. Bento é um nerd recluso e tímido, Francisco é um cara do povão, que assiste futebol no bar.
Francisco acaba recebendo mais tempo de tela e de certa forma o filme é mais uma biografia dele e como se tornou papa. Curiosamente, ele foi interpretado por Jonathan Pryce que de certa forma já foi um "papa" em outro papel, como o High Sparrow em Game of Thrones (2011-2019).
Coube ao ilustre Anthony Hopkins o papel de Bento XVI. Também não é a primeira vez que Hopkins interpreta um líder cristão. Em Shadowlands (1993) ele foi o escritor e teólogo C. S. Lewis (ver resenha aqui).
Coube ao ilustre Anthony Hopkins o papel de Bento XVI. Também não é a primeira vez que Hopkins interpreta um líder cristão. Em Shadowlands (1993) ele foi o escritor e teólogo C. S. Lewis (ver resenha aqui).
Vai uma Fanta aí? |
Se por um lado Dois Papas explora a dicotomia destes dois líderes da maior religião do mundo, com suas divergências políticas e até teológicas, talvez a essência esteja na relação de amizade que desenvolvem, o que quebra a barreira sacrossanta dos personagens e os transforma em humanos, dois senhores tendo um bromance, comendo pizza com Fanta ou assistindo à Copa do Mundo no sofá.
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