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Galinhas e a natureza da implicância

Pó pô pó

Eu crio algumas galinhas e observando estes bichos pude constatar a existência da pura maldade.

A história é a seguinte. Tenho 3 galinhas garnizés e 3 amarelas portuguesas. As garnizés são pequenas, parecem pintos ainda não totalmente crescidos, enquanto as portuguesas têm o tamanho convencional. Uma das garnizés é bem mansa e não arranja confusão, mas as outras duas são umas capetas. As portuguesas, por sua vez, são todas mansas e sequer usam a superioridade no tamanho para intimidar as menores.

Eu as alimento bem, tanto que estão bem gordas, e elas não têm motivo para brigar por comida, só que estranhamente uma das garnizés tem um comportamento bem egoísta na hora de comer: coloco a comida e elas se juntam pra comer, as portuguesas comem numa boa, sem brigar, duas das garnizés também, mas tem esta terceira que, em vez de simplesmente se concentrar em comer, ela fica tentando enxotar as outras, como que querendo a comida toda pra ela.

O que é curioso nessa situação, é que esta galinha ambiciosa é a mais magra justamente porque ela passa mais tempo brigando com as outras e tentando afastá-las da comida do que comendo. Fica correndo de um lado para o outro, expulsa uma, enquanto outra está comendo, aí vai expulsar a outra e a anterior retorna pra comer. E a tonta fica nesse zigue-zague besta, de modo que perde tempo e, no fim das contas, todas comeram mais que ela.

Pois é, mesmo as galinhas, que têm um cérebro de amendoim, têm nesse pequeno cérebro espaço para abrigar uma personalidade desprezível. Mas ok, talvez você diga que este sentimento de disputa pela comida seja mero reflexo do instinto de sobrevivência e é um sentimento importante na escassez de alimentos, tornando-se desnecessário apenas na abundância da vida doméstica com os humanos.

Maaas tenho outro exemplo mais bizarro. Tem outra garnizé que é até comportada na hora de comer, mas ela tem uma mania de querer bicar a cabeça das portuguesas, só que tem dificuldade em fazer isso por ser baixinha. É até engraçado ver ela pulando, tentando alcançar a cabeça da outra em vão.

Dia desses então vi esta galinha fazendo algo que me pareceu inteligente (e sacana) demais para uma galinha. Ela encontrou alguma coisa comestível no chão e levou para outra galinha que ela costumava bicar. Sim, ela levou a comida com o bico, depositou bem na frente da outra galinha, como se estivesse dando um presente, como se dissesse: "olha o que eu achei, pode comer". 

A portuguesa ingênua então baixou a cabeça pra pegar a comida e nesse momento a baixinha danada deu umas bicadas na cabeça dela. Pois é, ela fez essa cena toda de achar uma comida e levar de presente para a outra, só pra fazer ela baixar a cabeça e ficar vulnerável às bicadas.

Este tipo de coisa me deixa chateado, pois é algo que acontece bastante também nos humanos. A implicância. Quando você insiste em provocar alguém que não te fez nada de mal. Por que diabos aquela galinha quer tanto bicar as outras que são sempre pacíficas? Não há sequer uma provocação da parte delas. É uma implicância gratuita.

Os humanos fazem isto com muito mais engenhosidade e frequência que galinhas. Na internet é muito fácil observar tal comportamento. Não importa qual seja o assunto que você comente na internet, com relativa facilidade você vai se deparar com pessoas aleatórias respondendo com xingamentos gratuitos, provocações, rudeza. Por que é tão difícil para as pessoas manter a conversa em um nível civilizado?

Às vezes tenho até a impressão que este é o comportamento normal e aceitável entre humanos. Inclusive as pessoas adoram assistir a uma discussão ou ver alguém dando uma resposta grosseira. As discussões aos gritos e os tapas na cara nas novelas e reality shows não fazem sucesso à toa.

Talvez eu seja uma anomalia, pois tenho o combo perfeito de características que me fazem não ser rude. Introvertido, reservado, apático e com um certo grau de autismo, eu não tenho interesse em provocar as pessoas, insultando-as, arranjando briga. Se não for pra ter uma interação amistosa com alguém, prefiro não interagir.

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