Barbie é inegavelmente um fenômeno cultural. Sua linha de bonecas é produzida pela Mattel desde a década de 60 e por setenta anos tem sido o sonho de consumo de muitas meninas e até mulheres adultas.
Sim, sim, hoje em dia tem se falado bastante em quebrar estereótipos, até mesmo no que diz respeito ao tipo de brinquedo adequado para meninos ou meninas, mas é um fato que a Barbie, bem como outras bonecas do tipo, é majoritariamente uma preferência feminina, afinal a sua temática é feminina, o que se destaca até mesmo na cor predominante da marca que é a rosa.
Anyway, hoje em dia bonecas e bonecos têm se tornado brinquedos cada vez mais raros na vida de crianças que agora se divertem mais com celulares, tablets e consoles de video game. De toda forma, Barbie continua relevante, tanto que virou um filme live action e foi um sucesso de bilheteria.
Barbie já teve muitas animações voltadas para o seu nicho específico, mas o live action de 2023 quebrou a barreira e foi assistido por meninas, meninos, homens, mulheres, famílias inteiras, alcançando uma bilheteria de 1,4 bilhão!
Algo curioso no lançamento é que Barbie foi exibido nos cinemas na mesma época que Oppenheimer, do Christopher Nolan. Dois filmes tão distintos. Um com temática lúdica e infantil, o outro totalmente sério e adulto; um com estética colorida, solar, cheia de rosa, o outro sombrio e evocando a morte. Ambos, porém, falam de guerra. Esta rivalidade de ambos os filmes gerou o meme Barbenheimer.
Enquanto Oppenheimer se passa durante a Segunda Guerra Mundial, Barbie narra o conflito, uma verdadeira guerra civil, que estoura no mundo da Barbie, a Barbieland, depois que os Kens que ali vivem tomam consciência de um negócio chamado "patriarcado" e resolvem tomar o poder.
Enquanto isto, a Barbie protagonista, interpretada pela Margot Robbie, vive uma jornada existencial em que ela tem de lidar com uma série de questões envolvendo sua existência como boneca, mas também como mulher, numa espécie de aventura pinóquiesca, em que ela vai descobrindo sua humanidade e o temor da morte, algo que distingue radicalmente bonecos de humanos.
Com roteiro de Greta Gerwig, feminista assumida, e Noah Baumbach, Barbie acaba sendo mais profundo e dando mais pano para manga em discussões ideológicas e filosóficas do que era de se esperar. Muitos esperavam que o filme trataria de feminismo, mas ele foi além disso. Bom lembrar que Greta e Noah são casados e têm filhos, o que torna um tanto irônico eles contarem uma história sobre guerra dos sexos. Ou não. Talvez justamente a vida de casados dê a ambos o "lugar de fala" sobre isto.
É curioso que um filme ambientado em um universo tão infantil acabou tendo camadas muito sérias e adultas. Devido à estética colorida e que replica com maestria um mundo de brinquedo, Barbie pode agradar crianças, mas a trama em si, os diálogos, está tudo repleto de conteúdo para adultos.
Há uma sátira exagerada da sociedade, extrapolando suas características patriarcais. A masculinidade é caricaturizada para parecer patética e expor a insegurança masculina que os homens se esforçam para esconder. Até mesmo a Mattel é alfinetada pela "crítica social foda" do filme, por causa de sua fria ambição capitalista. Hollywood, aliás, adora fazer isto, brincar de criticar o capitalismo e os acionistas, mesmo que ela própria seja uma indústria capitalista.
A camada mais profunda é quando chegamos ao aspecto humano e universal da existência, como o medo da morte, de adoecer, de quebrar. A Barbie deixa de ser só uma boneca no dia em que ela acorda e se depara com estas questões. É o que distingue humanos de bonecas e, mais ainda, humanos de robôs, de máquinas. Nós vivemos com a foice da Morte sobre nossas cabeças.
I'm just Ken! |
A trama principal gira em torno da guerra dos sexos, o conflito de classes primordial que existe desde o início da humanidade. Sendo originalmente um matriarcado, a Barbieland passa por uma insurreição dos Kens que implantam o patriarcado, mas no fim a ordem original é restaurada, com algumas conceções para os coitados dos Kens. E tudo isto narrado em estilo de musical.
Algo irônico na recepção do público é que, ainda que o Ken principal, interpretado pelo Ryan Gosling, seja apresentado como um antagonista da Barbie, quase um vilão, ele acabou sendo muito querido pelo público, justamente por causa do carisma do ator. O Ryan Gosling roubou a cena, os momentos musicais mais memoráveis são dele, como quando performa a música I'm Just Ken. Ryan Ken Gosling virou um meme material que inundou a internet.
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