Desde que o Elon Musk comprou o Twitter, ele tem trabalhado em desmontar o sistema de censuras e moderação de conteúdo que havia na plataforma, pois, segundo ele, são um entrave à liberdade de expressão e a um ambiente de discussão pública aberta.
Aqueles que discordam dessa nova proposta afirmam que a rede social pode se tornar um ambiente tóxico, com pessoas cometendo ofensas e crimes à vontade. Bom, não é bem assim, pois é evidente que, mesmo tendo reduzido a moderação, o Twitter permanece com um código de conduta e também não tolerará postagens claramente criminosas, mas o fato é que antes havia uma censura excessiva e muitas vezes enviesada, realizada arbitrariamente pelos funcionários do site.
Por um lado existem usuários que veem mais importância na liberdade de expressão, pois sentem-se incomodados em ter posts censurados ou até contas banidas como uma punição desproporcional a alguma coisa que tenham dito. Por outro, há pessoas que enfatizam mais a necessidade de se sentirem confortáveis no site, sem serem expostas a conteúdo que desperte algum sentimento negativo.
Como balancear as duas coisas? Bom, certamente não é da maneira que o Twitter vinha fazendo, bem como outras redes sociais, assumindo o papel de juiz supremo do conteúdo. Vejamos o caso do ex-presidente Trump. Em janeiro de 2021 aconteceu a invasão do Capitólio dos Estados Unidos, realizada por apoiadores de Trump insatisfeitos com o resultado da eleição. O próprio Trump se manifestou nas redes sociais, orientando seus seguidores a voltarem para casa. O Twitter, porém, julgou arbitrariamente que Trump foi o responsável por incentivar esse evento, banindo-o para sempre da rede social.
Foi, portanto, claramente uma decisão arbitrária e enviesada. Ora, como culpar Trump de incentivar a invasão ao Capitólio se ele mesmo falou que não invadissem? O que ficou claro que é a galera da moderação no Twitter aproveitou a ocasião para se livrar de alguém que não gostavam por motivos políticos. O resultado é que parte dos usuários ficou feliz com o banimento, aqueles que também não gostavam do Trump, mas aqueles que eram favoráveis a ele ficaram insatisfeitos com a decisão.
Creio que uma solução para este tipo de problema é deixar a moderação nas mãos dos usuários por meio de filtros. Sim, já existem filtros nas redes sociais, mas eles podem ser melhores, oferecer mais opções para o usuário final. Em vez da moderação do site aplicar um banimento sumário, poderia se ater a colocar avisos no perfil ou post, como realmente acontece em alguns casos no Twitter. O post ou perfil fica marcado com um aviso de que violou alguma regra, mas se alguma pessoa quiser ver ela pode, ignorando o aviso.
Por padrão, a rede social pode vir com uma série de filtros: de palavrão, de conteúdo sensível, de conteúdo detectado como fake news ou misinformation e até conteúdo político. Caberá ao usuário, fuçando as configurações, liberar os filtros conforme seu interesse.
Na verdade não há nada de novo nessas ideias e é algo que já funciona em muitos sites, mas pode ser aprimorado e substituir o banimento sumário. Se um conteúdo desagrada a metade dos usuários, mas interessa outra metade, por exemplo, um a cena de um filme de terror, banir o material irá satisfazer apenas metade dos usuários. Mais democrático seria simplesmente tornar este material visível apenas a quem tem interesse.
Com a evolução dos algoritmos, provavelmente será assim. Uma vez que a IA conhecerá seus gostos melhor até que seus amigos e parentes, ela intuitivamente vai saber filtrar conteúdos, então a moderação será totalmente voltada aos indivíduos. Isto pode trazer outros problemas, como a consolidação das bolhas de pensamento, já que cada pessoa permanecerá em sua zona de interesses, jamais avançando para a diversidade de pensamento. Mas isto é tema para outro post.
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