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Habemus Bob Iger

Bob Iger

Sai Bob e entra Bob. De novo.

Bob Iger foi o CEO da Disney por 15 anos, acumulando muitos feitos que tornaram a empresa uma gigante do entretenimento. Foi em seu reinado que a Disney comprou a Pixar, Lucasfilm, Marvel e Fox. Em 2020 ele passou o bastão para Bob Chapek, dez anos mais novo, mas parece que o substituto não deu conta do negócio.

Na gestão de Bob Chapek, a Disney lançou seu serviço de streaming e a fase 4 da Marvel, mas o desempenho da empresa só tem piorado, tanto em termos de qualidade, quanto no cumprimento das metas financeiras.

Chapek teve o azar de pegar a empresa logo em fevereiro de 2020, às vésperas do desastre econômico que viria sobre todo o mundo por causa dos lockdowns. Além disso ele se envolveu em politicagem, tentando agradar o governo da Flórida quanto a leis que proibiam ensino de ideologia de gênero nas escolas (visto que a Flórida é um estado majoritariamente conservador) e também tentou se desculpar com a comunidade gay. Resultado: não agradou a ninguém.

Curiosamente, nestes últimos três anos a Disney tem se tornado bastante militante em questões ideológicas progressistas, o que fica explícito até nos filmes e séries. Não dá pra dizer que isto se deve à gestão de Chapek, já que o mesmo fenômeno também ocorreu em outras empresas, como a Warner.

Há quem diga que toda esta onda de filmes, séries e até animações "lacradoras" se intensificou em Hollywood depois do movimento MeeToo e especialmente da denúncia, em 2017, de casos de assédio sexual cometidos pelo produtor Harvey Weinstein.

Isto desencadeou o chamado Weinstein effect, uma bola de neve de denúncias envolvendo outras figuras da indústria de mídia. Sabemos muito bem que este mundo da mídia e das celebridades sempre foi cheio de pobres, mas foi no caso Weinstein que a bolha estourou de vez.

Após isto, a indústria desmoralizada resolveu fazer um mea culpa e, como o cafajeste que volta pra casa com um buquê de flores após uma noite na farra, passou a promover conteúdos cada vez mais militantes do feminismo e causas gay, como que tentando agradar o público progressista e instituições como a GLAAD (Gay & Lesbian Alliance Against Defamation), que passaram a pegar no pé de Hollywood com mais intensidade após 2017.

Acontece que os studios se esforçaram tanto em fazer esta sinalização de virtude, que esqueceram de priorizar a qualidade de seus produtos, pois a verdade é que a grande massa do público, incluindo progressistas, está à procura de entretenimento, de boas histórias, bons personagens, e não algum tipo de lição de moral ou mensagem educativa. Esta fase do cinema focada na lacração foi um desastre de público e bilheteria.


Quem falou abertamente sobre isto foi ninguém menos que Tarantino, em uma entrevista a Bill Maher. Ele disse: "There has become a thing that's gone on it seems like, especially in this last year, where ideology is more important than art. Ideology trumps art. Ideology trumps individual effort. Ideology trumps good. Ideology trumps entertaining".

Bom notar que ambos não são conservadores ou republicanos. Politicamente se localizam mais na centro-esquerda, como a maioria dos profissionais da indústria do cinema e TV americana. Dito isto, percebemos aí como a percepção de que Hollywood se tornou excessivamente paranoica em tentar lacrar é algo que até artistas consagrados da área reconhecem.

O resultado é que muitos destes filmes e séries flopam ou não dão o lucro esperado. Não tem como uma empresa sobreviver por muito tempo acumulando fracassos e em algum momento estes grandes conglomerados iriam começar a admitir isto. Um dos primeiros a repensar esta questão foi a Warner, a partir da entrada do David Zaslav¹. Agora a Disney parece estar também recuando, resetando seu negócio ao trocar o Bob Chapek pelo Bob Iger, uma correção de curso.

Tem ainda outro detalhe: já se mostra no horizonte a crise financeira que deve vir em 2023 e as grandes empresas estão se preparando. Amazon, Facebook, o Twitter do Elon Musk, todos fizeram demissões em massa, pois sabem que ano que vem será preciso cortar custos. É o que o Zaslav tem feito na Warner e provavelmente o Bob Iger fará na Disney, no sentido de otimizar os gastos em material que seja realmente atraente para o grande público. 

É improvável que Bob Iger seja tão radical quanto Zaslav ou que a Disney renuncie à sua agenda ideológica, mas no mínimo eles devem recuar alguns passos, pois na gestão Chapek foram longe demais, longe a ponto de perder público.

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