Elon Musk gosta de brincar no Twitter, mas quando se trata de negócios ele não brinca em serviço. Desde quando concretizou a compra da rede social, dia após dia ele não parou de fazer mudanças, de arrumar a casa.
Ele já chegou demitindo o CEO e alguns altos executivos, dissolveu o board, tornando-se o único gerente da birosca. Agora nesta sexta-feira, dia 04 de novembro, ele foi ainda mais radical e iniciou um processo de demissão sumária de diversos funcionários. A estimativa é que em todo o mundo cerca de 3700 funcionários saiam da empresa, incluindo parte da equipe do escritório aqui do Brasil.
Obviamente essa atitude provocou revolta dos funcionários e da galera que já tem o costume de odiar o bilionário, mas convenhamos que do ponto de vista administrativo ele está fazendo o que deve ser feito. Ora, o Twitter há um bom tempo que estagnou, não alcançando seu verdadeiro potencial.
Estima-se que o Twitter tenha cerca de 430 milhões de usuários (incluindo bots e contas fake). Claro que é um número impressionante, mas isto ainda coloca o site atrás do Pinterest e até do esquecido Snapchat. O verdadeiro potencial do Twitter era estar no mesmo nível de um TikTok (1 bilhão de usuários), um Instagram (1.4 bilhão) ou mesmo do Facebook (2.9 bilhões).
O Elon Musk deve enxergar isso e é óbvio que ele não gastaria 44 bilhões pra comprar um site só para arruiná-lo. Ao contrário, ele vê o potencial e agora está reorganizando, sondando os problemas, o que inclui funcionários que só incharam a empresa. Por exemplo, entre os funcionários demitidos, havia uma galera responsável por fazer a curadoria dos temas que aparecem nos trends ou na página inicial. É o tipo de tarefa que não faz sentido ser operada manualmente em uma rede social.
O que faz o TikTok ser um sucesso, entre outras coisas, é que ele possui um algoritmo muito inteligente e que consegue adaptar-se com rapidez aos gostos e interesses dos usuários, assim oferecendo no feed conteúdos que têm uma grande chance de agradar.
Isto não vinha acontecendo no Twitter justamente porque o conteúdo sugerido possui muita intervenção humana, a tal curadoria. Não tem como um grupinho de funcionários ser mais eficiente que um algoritmo para atender o gosto das pessoas.
Elon Musk também sempre bateu na tecla da liberdade de expressão e na certa uma parte da equipe dispensada era responsável pela monitoria manual do conteúdo postado pelos usuários. Sabemos que esta monitoria pode se tornar enviesada, conforme o julgamento arbitrário e subjetivo das pessoas, e tem resultado em uma experiência ruim para muitos usuários, quando percebem que estão sujeitos a algum tipo de shadowban, tendo a sensação de que estão falando sozinhos na rede social só porque foram barrados por algum censor que não gostou de algo que tuitaram.
Deve haver moderação nas redes sociais, mas que se limite a evidentes violações das leis e dos direitos humanos, que seja uma moderação, digamos, moderada, e não uma vigilância paranoica dos usuários.
Quanto ao corte de funcionários, também pode haver uma motivação mais preditiva. Já tem se falado em uma recessão mundial em 2023. Este tipo de evento não surge do nada. É algo que vai se formando no rumo natural da economia. Há altos e baixos no ritmo do mercado e estamos encaminhando para a fase baixa, que resulta em queda de ações e demissões.
Talvez o Elon Musk esteja se adiantando à crise, enxugando a empresa antes que venha o inverno econômico. De toda forma, mesmo sem crise global, o Twitter em si não estava com um modelo sustentável. Segundo Musk, a empresa estava com um prejuízo de 4 milhões por dia. Enxugar a folha de pagamento é o mínimo que deve ser feito pra resolver isso.
Outras curiosas modificações já foram feitas. Agora você pode rolar pela página inicial do site e ver um feed de conteúdo sem precisar estar logado ou ter uma conta. O Instagram e o Facebook ainda têm esta característica obsoleta do login wall, mas o TikTok e o Youtube são assim: entrou no site ou baixou o app, você já pode ver conteúdo sem sequer logar.
Isto torna o site mais convidativo para quem ainda não tem uma conta e também garante uma maior veiculação de publicidade, afinal a publicidade será vista pelas pessoas independente delas terem uma conta criada.
Outra mudança que está em curso é o plano de cobrar uma assinatura mensal para o usuário que quiser exibir o famoso selinho azul de verificado. Pode parecer uma bobagem, mas este selo é prezado por quem usa o Twitter profissionalmente, jornalistas, influencers, empresas, famosos... Convenhamos que para estas pessoas, pagar uma taxa de 8 dólares por mês não é nada. Para a maioria dos usuários, o selo de verificado não faz diferença.
Assim, o selo se torna parte de um "Twitter pro" ou "Twitter business", que deve ser usado por quem realmente faz grana, marketing ou carreira no site.
Aliás, com a simples mudança do processo de verificação, ele não só encontrou uma forma extra de monetizar o site, como resolveu um estranho e pouco falado problema: o mercado negro da venda de selos. Há denúncias de que os próprios funcionários do Twitter vendiam o selo para quem não tinha a popularidade e reconhecimento necessários, e cobravam caro. Agora essa brincadeira acabou. Mais um motivo para estes funcionários, ou ex-funcionários, odiarem o Elon Musk.
Já há rumores de que o tão esperado botão de editar finalmente será implementado e para uso gratuito. O botão de editar é um exemplo de como o site ficou tão engessado que por anos evitou realizar mudanças básicas.
Há algum tempo foi desenvolvido um recurso chamado Birdwatch, que consiste em um sistema de checagem de fatos e informações baseado em estatística e nos comentários da própria comunidade. É um método que pode ser menos enviesado do que a checagem feita por alguma agência ou um punhado de moderadores. O Birdwatch estava na geladeira e é mais um recurso que o Elon Musk liberou.
Muitas mudanças ainda devem vir e até o momento parece que o Elon Musk só tem tomado decisões acertadas, ainda que algumas sejam severas. O Twitter, pela sua acessibilidade e simplicidade, tem potencial de ser a rede social mais popular do mundo e não duvido que o Elon Musk tenha a ambição de realizar este potencial.
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