Qaligrafia
Séries, livros, games, filmes e eteceteras 🧙‍♂️

A humanização do papado em Dois Papas

The Two Popes (2019)

Em toda a história milenar da igreja católica, salvo raras exceções, o papado tem sido um cargo vitalício que só termina com a morte. É um caminho sem volta que faz parte de toda a simbologia da igreja na busca pelo imutável e perpétuo. No nosso século, porém, um papa decidiu renunciar. Assim nos deparamos com a situação em que a igreja passa a ter dois papas vivos.

Dois Papas (2019), dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, dramatiza essa transição. O roteirista, Anthony McCarten, acumula mais uma obra em seu currículo de filmes biográficos, incluindo as biografias de Freddie Mercury (Bohemian Rhapsody, 2018), Churchill (The Darkest Hour, 2017) e Stephen Hawking (The Theory of Everything, 2014).

The Two Popes (2019)

Abordando a relação entre Ratzinger (Papa Bento) e Bergoglio (Papa Francisco), o filme retira deles a aura de santidade e realeza que envolve os papas. Os papas são chamados de "vigários de Deus", representantes diretos do Deus católico, praticamente avatares de Cristo. Em vez disso, vemo-los como humanos, como dois idosos que desenvolvem uma amizade a despeito de suas discordâncias.

Quanto às discordâncias, fica evidente a "polarização" que cada sacerdote representa. Bento XVI era conhecido por ser mais conservador e dogmático, enquanto Francisco é flexível modernoso. Também as personalidades contrastam. Bento é um nerd recluso e tímido, Francisco é um cara do povão, que assiste futebol no bar.

Jonathan Pryce in The Two Popes (2019) and Game of Thrones (2011-2019)

Francisco acaba recebendo mais tempo de tela e de certa forma o filme é mais uma biografia dele e como se tornou papa. Curiosamente, ele foi interpretado por Jonathan Pryce que de certa forma já foi um "papa" em outro papel, como o High Sparrow em Game of Thrones (2011-2019).

Coube ao ilustre Anthony Hopkins o papel de Bento XVI. Também não é a primeira vez que Hopkins interpreta um líder cristão. Em Shadowlands (1993) ele foi o escritor e teólogo C. S. Lewis (ver resenha aqui).

The Two Popes (2019)
Vai uma Fanta aí?

Se por um lado Dois Papas explora a dicotomia destes dois líderes da maior religião do mundo, com suas divergências políticas e até teológicas, talvez a essência esteja na relação de amizade que desenvolvem, o que quebra a barreira sacrossanta dos personagens e os transforma em humanos, dois senhores tendo um bromance, comendo pizza com Fanta ou assistindo à Copa do Mundo no sofá.

The Two Popes (2019)

The Tick, a versão galhofa dos super-heróis

The Tick (2017-2019)

The Tick é um personagem dos quadrinhos criado na década de 80 por Ben Edlund. Teve uma série animada entre 1994 e 1996 e uma live-action produzida pela Fox em 2001 e 2002. Agora ele retornou com um novo show produzido pela Amazon (2018-2019). Nos três casos, Ben Edlund se manteve envolvido como diretor, cuidando de sua própria cria.

The Tick (2001-2002)

A proposta da obra é satirizar o gênero de super-heróis, o que torna este personagem (que já existe há 30 anos) bem atual nestes tempos em que o mercado está saturado de super-heróis. 

A série da Amazon foi cancelada após a segunda temporada e assisti apenas à primeira, quando então eu mesmo "cancelei" ela da minha lista. Não é uma série ruim, ao contrário, cumpre a promessa de zoar com o gênero, contando com personagens caricatos e inusitados, como um homem gigante pelado e um cachorro falante niilista que cita Nietzsche e escreve livros.

The Tick (2017-2019)

Talvez eu tenha ido com a expectativa errada porque imaginava que seria algo com o tom sombrio e violento de The Boys. The Tick é mais contido, tanto no humor quanto na violência. É meio que um Chapolin americano (com anteninhas, mas sem marreta), atrapalhado e bobinho.

The Tick (2017-2019) and Fight Club (1999)
I understood that reference.

O humor da vergonha alheia em The Office

The Office (2005-2013)

The Office (2005-2013) está entre as sitcoms mais populares do mundo, depois de Seinfeld (1989-1998), Friends (1994-2004) e The Big Bang Theory (2007-2019) e é a principal sitcom do subgênero de escritório (falei sobre outras desta categoria em outro post: aqui). A popularidade dessa série se nota na enorme quantidade de memes e gifs que deixou como legado para a internet e foi justamente isso que me estimulou a começar a assistir.

Infelizmente para mim, após os seis primeiros episódios da primeira temporada, ficou claro que não é meu tipo de comédia. The Office é principalmente baseado no humor da vergonha alheia, de momentos constrangedores, algo que não faz muito meu gosto.

De bônus temos os trejeitos dados ao protagonista pelo talento de Steve Carell, mas isso não bastou pra me cativar. Mais uma vez, "o santo não bateu". Aconteceu antes comigo em Arrested Development (resenha aqui) e agora lá se vai outra sitcom de minha lista para o limbo.

The Office (2005-2013)

O Grande Lebowski, o ícone grunge

The Big Lebowski (1998)

O Grande Lebowski (1998) é um daqueles clássicos de Sessão da Tarde que todo mundo já viu, como Curtindo a Vida Adoidado (1986) ou Esqueceram de Mim (1990), mas eu realmente não lembro de ter assistido nos anos 90. Só agora fui conferir na Amazon Prime, vinte anos depois.

Thor Lebowski in Avengers Endgame (2019)

Claro que conhecia bem a figura do the Dude (o Cara), justamente por ser um clássico. Aquele cara cabeludo e barbudo, saindo por aí de chinelo e roupas desleixadas, se tornou uma imagem bem conhecida do sujeito de boa e despreocupado. Recentemente foi feita até uma homenagem ao personagem no Fat Thor, o Thor Lebowski de Vingadores Ultimato (2019).

É, o filme deixou esse legado. Lebowski é um ícone grunge. Quanto ao filme, bom, eu esperava mais. Pra mim não foi algo tão engraçado (a não ser na cena em que o vento joga as cinzas do amigo morto na cara dele, aí sim eu ri bastante, mesmo sendo uma piada previsível) e o the Dude nem parece ser tão carismático assim. Por outro lado, os momentos de viagem psicodélica são bem legais.

Talvez eu tenha perdido o timing. Cheguei no filme 20 anos atrasado. Talvez eu tenha virado um velho rabugento. Ou talvez o filme tenha mesmo envelhecido mal e já não seja tão engraçado. De toda forma, a herança estética permanece. A figura do the Dude é daquelas dignas de cosplay, um símbolo que sobreviverá ao tempo.

The Big Lebowski (1998)

A estética multicolorida de John Wick

John Wick

No geral, os filmes do John Wick não são muito diferentes de qualquer outro do gênero de máfia e ação, mas essa franquia tem alguns ingredientes especiais que tornam a fórmula mais peculiar e interessante.

Pra começar, temos, é claro, a presença do Keanu Reeves, com seu charme mágico e sua verdadeira habilidade em atuar como um ator-dublê, participando intensamente de muitas das cenas de luta, tiro e ação, até mesmo dispensando a ajuda de dublês. Seu desempenho é verdadeiro e natural, de modo que não precisa de muitos malabarismos na direção e truques de corte ou CGI.

Outro elemento de grande importância é o diretor Chad Stahelski que possui uma vastíssima carreira na área de stunt, o trabalho dos dublês, inclusive ele próprio foi dublê do Neo em Matrix lá em 1999 e ao longo dos anos se aprimorou bastante nessa área.

Temos o roteiro que conseguiu criar um personagem mítico e um mundo de fantasia em que a máfia é uma verdadeira sociedade paralela em Nova York e mesmo no mundo. Bom, não que na vida real não seja mais ou menos assim, só que em John Wick existe toda uma cultura da máfia, códigos, até moeda própria, hotéis próprios (os continentals), uma organização que coordena os mendigos de rua e outros párias da sociedade, que funcionam como espiões e se comunicam usando pombos (digamos, uma internet ornitológica).

John Wick (2014)

John Wick (2014)

John Wick (2014)

Por fim, temos a estética. Hoje em dia se tornou uma moda os filmes de ação usarem filtros sombrios e cores nubladas, acinzentadas ou azuladas, criando um mundo monocromático e frio. O primeiro John Wick (2014) até começou assim, mas teve alguns momentos mais coloridos, principalmente nos bares noturnos som seus neons verdes e vermelhos.

John Wick 2 (2017)

O segundo filme (2017) flerta ocasionalmente com tons lilases, desenvolvendo esse ar que se pode chamar de neon noir, mas é no terceiro filme (2019) que as cores se soltam. Não só as cores, mas também os cenários. 

John Wick 3 (2019)

John Wick 3 (2019)

John Wick 3 (2019)

As primeiras duas sequências se passam em ambientes convencionais para filmes de máfia: ora nas ruas, ora em hotéis e bares ou até túneis secretos nestes locais. Já o terceiro longa é bem diversificado. Wick num momento está em Nova York, noutro está em Marrocos, ora nas iluminadas ruas noturnas da cidade, correndo sob a chuva, ora vagando no deserto. Tons de azul, verde, vermelho, lilás e amarelo se alternam nestes cenários.

John Wick 3 (2019)
Luta em uma biblioteca contra um nerd com gigantismo.

Também o combate no terceiro filme se torna muito mais versátil. Vemos John Wick dispondo de uma variedade imensa de armas de fogo, além de facas (tem uma cena em uma loja de armas brancas em que ele arremessa algumas dezenas de facas e até um machado), espadas, e rola até mesmo uma luta em uma biblioteca e claro que ele espanca e mata um cara com um livro. Nada mais digno de quem já matou gente com um lápis.

John Wick 3 (2019)

Esse é o segredo do John Wick, ele é o MacGyver do combate, se virando com o que estiver à disposição. Na distribuição de suas skills, é praticamente bom em tudo: tem uma excelente mira de curta e longa distância, com alta taxa de headshots, sabe lutar com socos e chutes, bem como usar wrestling para derrubar ou imobilizar, domina armas brancas e ainda é bom piloto de carros, motos e sabe cavalgar como um profissional do hipismo.

John Wick 3 (2019), The Good, the Bad and the Ugly (1966)

A cena em que ele entra em uma loja de armas antigas e começa a montar o seu revólver customizado, misturando peças de uma e outra arma, é uma interessante homenagem ao clássico The Good, the Bad and the Ugly (1966), quando Tuco entra em uma loja e faz exatamente o mesmo, montando sua própria arma. Um exemplo do espírito MacGyveriano do personagem.

John Wické um caleidoscópio de habilidades e é justo que seu mundo seja retratado com uma rica paleta de cores.

John Wick 3 (2019)
Note a variedade de cores (até na fumaça) dessa cena.

A fantasia neo noir steampunk de Carnival Row

Carnival Row (2019)

Trolls, faunos, pixies, lobisomens, centauros e outras criaturas se misturam aos humanos nessa fantasia neo noir com ares vitorianos. 

A história se passa na cidade de Carnival Row que vem recebendo imigrantes não-humanos refugiados de uma guerra de modo que a população local agora terá de se adaptar a essa nova realidade.

Cara Delevingne in Carnival Row (2019)

Sobre esse pano de fundo temos o policial Philo (Orlando Bloom) que investiga misteriosos crimes, bem no estilo das histórias de detetive do século XIX, e vive um complicado romance com a fada Vignette (Cara Delevingne).

Carnival Row (2019)

A série é um belo experimento de criação de um mundo fantástico. A estética vitoriana lembra um pouco Penny Dreadful (2014-2016), com o bônus da presença de seres míticos por toda parte, faunos andando nas ruas, fadas nos prostíbulos, bruxas com suas lojinhas de feitiços. 

Orlando Bloom and Cara Delevingne in Carnival Row (2019)

Além da paleta de cores frias que dá o ar neo noir, também há elementos steampunk, como o uso de telégrafos e dirigíveis. É uma elegante mistura de gêneros e estéticas criando uma série até difícil de classificar, meio fantasia, meio policial, meio drama e romance.

Cara Delevingne in Carnival Row (2019)
Cara DeleLINDA.

Netflix vs Prime Video

Netflix vs Prime Video

A Netflix existe desde 1997 (pois é), mas começou a virar uma tradição nos hábitos internéticos das pessoas por volta de 2013-2015, quando investiu pesado em publicidade e na produção de séries originais como House of Cards e Narcos. Com Stranger Things, em 2016, consolidou sua fama como fábrica de séries exclusivas.

Além disso, ampliou o catálogo comprando os direitos de outras tantas séries, das clássicas às mais recentes, bem como filmes, documentários... Enfim, se tornou a grande locadora virtual, a primeira a chegar no topo desse novo mercado e pode-se dizer até que ela tomou o trono do antigo líder de download e reprodução de filmes e séries na internet: a pirataria.

Claro que a pirataria continua a todo vapor e há quem diga que alguns canais e produtoras de filmes até gostam dela porque ajuda a divulgar o material e conquistar fãs que eventualmente acabam pagando pelo conteúdo original.

De toda forma, a Netflix quebrou o "monopólio" da pirataria pelo simples fato de oferecer um serviço satisfatório e com um ótimo custo-benefício, se levarmos em conta que um mês de assinatura dá acesso a filmes e séries a rodo e você pode assistir todos os dias o tanto que seu tempo e seu plano de internet permitirem pelo preço de 1 ida ao cinema. Convenhamos, vale a pena assinar.

Eu cheguei tarde nessa onda. Como muitos brasileiros, desde quando comecei a usar a internet banda larga de 1 Mega, lá por volta de 2008-2010, ocasionalmente me vi baixado algum filme ou série na chamada "Locadora do Paulo Coelho". Não baixava muita coisa, na verdade, justamente porque tive um plano de banda larga bem lixinho por muitos anos, por falta de opção na minha região mesmo.

Em 2017 descobri a Crunchyroll e passei a ver mais animes, agora em um site oficial, longe da pirataria. Via tudo de graça mesmo, pois tudo o que o site exigia era minha paciência pra esperar as propagandas, os chamados ads, que interrompiam os episódios.

Quando eu estava no auge do vício em anime, em 2018, assinei a Crunchyroll por uns meses e aí pude assistir sem interrupções de ads e durante esse tempo nem tive interesse em ver série alguma. Foi somente no final do primeiro semestre de 2019 que finalmente resolvi experimentar a Netflix.

Bom, há alguns anos lembro de ter provado o primeiro mês gratuito, mas na época não me interessei em continuar. Agora em 2019 aderi de vez e criei o hábito de renovar a assinatura mês a mês. E estou satisfeito com o serviço.

Em termos de filmes, a Netflix continua bem devagar. A maioria dos filmes é coisa com mais de 3-5 anos de idade. É bem difícil aparecer algo que foi lançado no ano atual ou passado, a não ser, claro, os filmes originais do site, lançados exclusivamente na plataforma. O Vingadores Guerra Infinita, que é de 2018, até agora não apareceu por lá.

Enfim, o forte da Netflix são as séries. Se você quer ver os filmes do momento, ou aluga em locadoras físicas e digitais (como o Google Play, que tem um aluguel tão caro para lançamentos que chega a valer mais que um ingresso de cinema), ou procura outro streaming mais específico como o Telecine, que nunca assinei, mas me parece que tem uma biblioteca de lançamentos bem atualizada.

E eis que esse ano a Amazon Prime chegou ao Brasil e chegou chutando a porta. Não bastando oferecer o primeiro mês grátis (o que a Netflix também faz), a assinatura está por 9,90, a metade do plano básico da Netflix, uma verdadeira pechincha. Pelo dinheiro de um salgado e um refrigerante você tem um mês inteiro de filmes e séries.

Mesmo satisfeito com a Netflix, resolvi separar um tempo e uns trocados pra experimentar a novidade da Amazon e tive uma agradável surpresa. O troço é realmente de qualidade e um concorrente forte par a a Netflix.

Assim que loguei na página inicial, já encontrei alguns lançamentos de 2019, como Vingadores Ultimato, Capitã Marvel e até John Wick 3. Na Netflix nenhum desses deu as caras até agora. Também já está montando um acervo de séries exclusivas, como a excelente The Boys, e comprou algumas clássicas que não podem faltar num serviço de streaming, como Seinfeld. "Folheando" a biblioteca, o acervo ainda me parece pequeno se comparado ao da Netflix, mas começou bem.

Na qualidade do vídeo a Amazon supera facilmente a Netflix. O plano básico da Netflix (R$ 21,90) oferece uma definição que me parece ser entre 360p e 480p. Quem quiser HD tem que pagar 32,90 e Ultra HD sai por 45,90. A Amazon, no seu plano de 9,90, já oferece três níveis de qualidade, incluindo HD e Ultra HD pra quem quiser, sem aumento de custo. Aí só vai depender da sua velocidade de internet.

Particularmente, não me importo muito em ter a melhor qualidade possível e fico satisfeito com o básico. Foi outro recurso que me chamou mais atenção no Prime: o chamado X-Ray. Trata-se de uma biblioteca vinculada ao banco de dados do IMDb que fornece uma série de informações sobre o filme ou série que você está assistindo, o que é um prato cheio para nerds curiosos.

É uma trivia em tempo real que é atualizada a cada cena. Ou seja, em qualquer momento do vídeo em que você acessar o X-Ray, ele vai mostrar os atores que estão presentes no cenário daquela cena específica, bem como a música que está tocando.

Isso é uma mão na roda pra quem tem essa curiosidade em descobrir músicas novas que por acaso ouviu num vídeo ou identificar alguém do elenco, às vezes até um figurante. Geralmente quando eu precisava fazer isso tinha que ficar fuçando no IMDb e pra descobrir músicas o trabalho era ainda maior, tentando a sorte no Google. Agora está tudo ali, na mesma tela. É um presente para nerds.

Tem ainda outros detalhezinhos que mostram como a Amazon está caprichando no serviço e faz o player de vídeo da Netflix parecer obsoleto: nas configurações de legenda você pode escolher não apenas idiomas, mas até o tamanho e a cor das fontes, um detalhe interessante, pois em alguns videos a fonte inadequada pode ser bem irritante (imagine, por exemplo, uma fonte branca num cenário de neve). Por fim, existe até um sumário organizando o vídeo em cenas, o que ajuda bastante caso você queira rever uma cena específica.

Em outros aspectos, porém, o nível de detalhes é inferior à Netflix. No histórico do que foi assistido na Netflix, é informada a data de cada conteúdo assistido e nas séries são especificados os episódios um a um. No Prime simplesmente aparece o nome da série que você assistiu, sem dar qualquer informação sobre datas e episódios.

Também na página inicial do Prime falta o menu "Continue assistindo" que existe na Netflix e é bem útil quando acompanhamos várias séries e assim a cada dia fica fácil acompanhar os episódios de onde paramos.

Não pretendo deixar a Netflix, pois ainda tem muita coisa lá que quero assistir, mas pelo visto agora vou viver essa bigamia com ela e a Amazon, principalmente com esse convidativo preço de 9,90 que espero que dure pelo menos um ano. Além disso, o Prime oferece uma série de bônus que a Netflix não é capaz de oferecer: o acesso à biblioteca de e-books e músicas da Amazon e frete grátis para as compras no site.

The Boys, super-heróis com sangue, sacanagem e sadismo

The Boys (2019)

Pra quem curte o gênero de super-heróis, mas está de saco cheio do formatinho padrão, da "fórmula Marvel" e do maniqueísmo preto e branco, The Boys é a novidade. Pra começar, os protagonistas nem são superseres, mas humanos normais, uma "rapaziada" meio fora da lei que é revoltada com os super-heróis.

Quanto aos chamados "super", muitos deles não são nada heroicos. Estima-se que haja cerca de 200 mil destes humanos superpoderosos no mundo e uma mega corporação, a Vought, não perdeu a oportunidade de capitalizar, transformar os super em um negócio de segurança privada, até mesmo se metendo em questões militares dos governos.

Tratados como celebridades, os super são arrogantes, egocêntricos e bem escrotos. Parece que quanto mais poderoso é o cara, mais escroto ele é. E aí chegamos nos Sete, o grupo de elite que é uma verdadeira paródia da Liga da Justiça.

The Boys (2019)
The Boys, a rapaziada, uma garota e um dog.

O Homelander é o Superman da equipe, uma versão bem psicopata do Superman, que esquarteja terroristas a sangue frio com seus raios dos olhos e não dá a menor importância à vida de vítimas inocentes que ele ocasionalmente salva só pra fazer marketing. Ele tem uma bizarríssima relação freudiana com sua chefe Madelyn.

A Queen Maeve é como um Mulher Maravilha vivendo à sombra do Homelander e sendo conivente com suas escrotices.

A-Train é o Flash. É o primeiro super apresentado na série, quando na primeira cena ele atropela uma garota acidentalmente, desintegrando a coitada. A reação de total descaso e até deboche do A-Train diante dessa morte já dá o primeiro vislumbre do tipo de pessoa que estes "heróis" são.

The Boys (2019)
The Deep pagando bundinha.

O The Deep é o Aquaman e, assim como o atlante dos Superamigos, é o alvo de piadas do grupo, sendo zoado pelo fato de "conversar com peixes". 

The Boys (2019)
Translucent, o taradão do banheiro.

Translucent, que tem o poder da invisibilidade (e claro tem a tara de espiar as pessoas quando está pelado e invisível ou até visível), não faz referência direta a ninguém da Liga da Justiça (talvez o Marciano, já que este pode ficar invisível) e nem mesmo existe na série em quadrinhos que inspirou a série da Amazon.

The Boys (2019)
Bátima.

Black Noir, um cara caladão, todo vestido de preto, é uma clara referência ao Batman. Por ser reservado, ele acaba sendo o personagem mais legal do grupo, já que não o vemos ser escroto com ninguém. Nos quadrinhos ele é mais poderoso que o Homelander e quem sabe isso seja explorado nas próximas temporadas.

Erin Moriarty as Starlight in The Boys (2019)
A gatinha da Erin Moriarty.

Por fim temos a Starlight que entra por último no grupo e a princípio é a mais ingênua e boazinha, uma garota de origem cristã, sonhadora e com a intenção de usar seu poder para ajudar as pessoas. Logo que entra para os Sete se depara com um ambiente degradado, quando o The Deep a chantageia em troca de sexo oral.

The Boys (2019)

A série em quadrinhos, lançada entre 2006 e 2012, é de autoria de Garth Ennis, mesmo criador de Preacher (que também tem uma série televisiva) e que é conhecido pelo seu humor negro, sexo e violência gratuita. Tudo isso encontramos em The Boys. Há sangue, sacanagem e sadismo, tudo o que não se espera de uma história de super-heróis.

A verdade é que não há heróis nesse mundo. Não há uma clara divisão entre bem e mal. Os super são escrotos, mas os The Boys, o grupo que se opõe aos super e quer expor ao mundo seus erros, também não é feito de gente santa. É a comédia humana em toda sua decadência.

The Boys (2019)
Butcher armado com um super-bebê que atira raios.
The Boys é uma produção da Amazon, fazendo parte dessa nova safra de séries do Prime Video que veio para bater de frente com a Netflix, e veio chutando a porta, sem medo de apostar em conteúdo +18.

The Witcher, o Game of Thrones da Netflix

The Witcher (2019)

Ok, não é justo comparar The Witcher com Game of Thrones, mas tem sido inevitável as pessoas fazerem essa relação, já que GoT consagrou o gênero de fantasia medieval e estabeleceu um paradigma.

Essa comparação, porém, acaba criando falsas expectativas, pois Game of Thrones tem uma proporção muito maior na quantidade de personagens e ambientes e histórias. É muito mais complexo e rico e, convenhamos, é também uma produção mais cara e glamourosa.

The Witcher (2019)

The Witcher é mais simples sim (e não deixa de ser cara, já que cada episódio custou uma média de 10 milhões de dólares), mas essa é a ideia. A série é focada em um protagonista e umas poucas pessoas em torno dele. A vantagem é que o arco de tais personagens recebe mais atenção para se desenvolver.

The Witcher (2019)

Curiosamente, o personagem principal, o "bruxeiro", o "Geraldão" interpretado por Henry Cavill (que caiu como uma luva no papel) é o mais plano. Ele é o típico brucutu caladão e que quase não manifesta emoções. Na verdade essa é a graça do personagem, pois há momentos em que há sutis demonstrações de que por trás da casca grossa há um coração, como no fato dele chamar a Yennefer de Yen, um apelido carinhoso que revela seu apego a ela.

Anya Chalotra as Yennefer in The Witcher (2019)
Mulherão da porra.

Anya Chalotra as Yennefer in The Witcher (2019)

A Yennefer foi a grande figura dessa temporada de estreia. Começando como uma garota miserável, adotada, corcunda e desfigurada, vendida pelo próprio padrasto por menos que o preço de um porco, ela é a pária que fez a si mesma, que superou o próprio destino de desgraça e se tornou poderosa, muito poderosa, além de bela. Vemos todo o processo de aprendizado e sacrifício que leva Yennefer a se transformar de um patinho feio e rejeitado em um mulherão da porra.

A Ciri, por sua vez, segue um caminho inverso. Nascida princesa, vê o seu mundo ser destruído em uma guerra e se torna uma fugitiva, vagando pela terra até que o destino a leve ao encontro do Geralt.

The Witcher (2019)
Na banheira do Gugu.

The Witcher (2019)
O romance desses dois, meio casual, funcionou muito bem na série.

Os produtores da série já disseram ter intenção de fazer muuuitas temporadas, quem sabe até por uma década inteira, pois há muito conteúdo nos livros que baseiam a série. Mesmo assim, não há enchimento de linguiça. O tempo passa rápido nessa temporada e de um episódio para outro os personagens já viveram vários meses ou até anos, pois cada episódio é baseado em um conto diferente da série de livros The Witcher. Essa narração com saltos cronológicos pode confundir um pouco o expectador.

Nos dois últimos episódios, há um salto no tempo de volta ao passado para mostrar a queda do reino de Cintra, atacado por Nilfgaard (não, não é MILFgaard) e então temos um showdown com uma bela batalha de magos encerrando a temporada.

Também merece menção a trilha sonora épica e marcante que é um espetáculo à parte.

The Witcher (2019)

Submerged e outros jogos de exploração

Eis aqui alguns joguinhos que experimentei e que são focados no próprio cenário, ou seja, você deve explorar o ambiente, descobrir coisas, animais, mistérios. Estes jogos costumam ter um clima relaxante, sem combates ou grandes perigos. A diversão está em apreciar os cenários, coletar itens, etc.

Subnautica (2014)

Subnautica (2014) tem um cenário rico e belo, cheio de vida submarina. É preciso um PC robusto para rodar esses gráficos, já no console ele roda tranquilo, embora demore bastante para carregar na inicialização. Do ponto de vista estético, é ótimo, até a qualidade gráfica da água (que se nota na espuma e reflexos da superfície) é de primeira, mas a jogabilidade no início é um pouco desanimadora, pois o inventário e o estoque de oxigênio são bem pequenos e você precisa ficar frequentemente subindo na superfície e voltando à base para esvaziar o inventário. Isso corta o prazer de passar um bom tempo explorando o fundo do mar.

Submerged (2015)

Submerged (2015) é um joguinho de pura exploração em terceira pessoa. Não há combate nem risco de morte ou qualquer perigo. Você é a garotinha Miku e precisa achar suprimentos pra cuidar do seu irmão Taku (é, os nomes não são dos melhores), então você sai num barquinho explorando esse mundo aquático pós-apocalíptico.

Além dos suprimentos, você encontra fragmentos da história do local, observa animais, coleta peças pro barco, etc. Tudo isso rende conquistas e se você for do tipo que gosta de colecionar conquistas (como eu), tem que esmiuçar cada cantinho do mapa. 

Submerged (2015)

Isso pode ser bem entediante para quem espera algum tipo de ação e interação, mas o jogo é de fato voltado para quem gosta especificamente de vasculhar o mapa, tanto que a única ferramenta da personagem é um telescópio que ajuda a spotar, ou seja, identificar e marcar itens no mapa a fim de você ir até lá recolher. Esse telescópio realmente facilita bastante a tarefa de exploração e você deve usar a todo momento dando uma varredura panorâmica pelo cenário.

Não posso dizer que é um jogo supimpa, mas proporciona algumas horas de passeio e pode ser zerado rapidamente, até mesmo numa sentada, se você for direto aos objetivos principais. O grande ponto positivo é a jogabilidade bastante intuitiva. Não é necessário tutorial, a aprendizagem dos movimentos e ações da personagem é instantânea e os locais por onde você deve escalar nos prédios não chegam a ser labirínticos.

Firewatch (2016)

Em Firewatch (2016) a exploração é em primeira pessoa. Você é um guarda florestal na selva de Wyoming e conversa pelo rádio com uma mulher, além de cumprir missões que envolvem explorar o local e desvendar mistérios de modo que uma história vai se desenrolando.

Firewatch (2016)

O cenário florestal é bem agradável. Você atravessa rios, escala montanhas, adentra em cavernas. É um prato cheio para quem curte o gênero. Também existe um elemento de choices matter, de modo que as suas escolhas vão orientando a história e mesmo o relacionamento entre os personagens.

Abzu (2016)

Abzu (2016) apresenta um rico ecossistema submarino e é um jogo de pura exploração, nadando para lá e para cá. Todavia, é pessimamente otimizado e possui uma queda de FPS muito forte, tornando impossível jogar em computadores mais modestos.

Kona (2016)

Kona (2016) possui a exploração mais voltada à investigação de um mistério, pois logo no início seu personagem encontra um cadáver. Então você irá dirigir uma caminhonete na neve, parando em determinados locais e coletando itens, lendo documentos, enfim, investigando.

O jogo é anunciado como sendo do gênero de horror, mas não tem jumpscares nem monstros ou grandes perigos. É algo relativamente tranquilo, dando bastante tempo para você vasculhar as casas e resolver alguns puzzles, mas quando está em ambiente aberto deve ter cuidado com a hipotermia.

Rime (2017)

Rime (2017) tem um visual agradável e uma ambientação de tranquilidade e solitude. É um jogo para momentos em que você quer apenas explorar e resolver uns puzzles, nada de combates ou perigos. Os puzzles são bastante intuitivos, bem como os caminhos que você deve percorrer no mapa. Dependendo do seu estado de espírito, o jogo pode ser relaxante ou entediante.

What Remains of Edith Finch (2017)

Em What Remains of Edith Finch (2017) você faz uma exploração diferente. Não vasculha cavernas, florestas e oceanos, mas uma casa e vai descobrindo histórias, as vidas dos membros da família de Edith, suas histórias pitorescas e muitas vezes trágicas. A casa é ricamente decorada, atulhada de livros e cheia de lembranças. É um jogo com uma proposta bem interessante.

Beasts of Maravilla Island (2021)

Beasts of Maravilla Island (2021) tem uma proposta bem legal pra quem curte exploração, pois o jogo consiste literalmente em explorar um ecossistema de uma ilha, fotografando e catalogando a fauna e flora. Você tem um diário em que vai colecionando as fotos e à medida em que explora também as páginas vão ganhando desenhos e notas escritas pela protagonista.

O que quebra um pouco a graça do jogo é que o visual não é dos melhores. A ideia é você ficar maravilhado com um mundo cheio de criaturas fantásticas, mas os gráficos são meio "massinha de modelar", algo comum em jogos indie.

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